Quem diz que o Brasil é o país do bumbum nunca tentou comprar calcinhas GG por aqui. Elas não existem. Invejo a moda da Maria Antionieta que dizia - vejam só! - que quadris largos eram o que toda mulher deveria ter. Até começaram a fabricar portas mais largas para que as damas de alta sociedade pudesses passar com seus enormes vestidos. Eu seria a rainha desse lugar. Todo mundo quereria ser igual a mim. Apontariam com inveja aos meus incríveis contornos. E, é claro, a calçola larga daquela época não me apertaria e eu não me sentiria um catupiri toda vez que tentasse comprar roupa nova.
Fico feliz quando encontro blogs na internet de nerds que dizem que adoram mulheres gordinhas, cheias de gordinhas em poses sensuais sem nada de ridículo, homens que dizem que gostam de carne. Fico feliz que a Dove faça propagandas dizendo que eu devo aceitar meu corpo, que eu sou linda como sou. Meu ex-namorado me achava linda e achava que todas as mulheres deveriam ser como eu. Entou na moda modelos Plus Size. Fico feliz mesmo. Me aceito um pouquinho mais, até fico sem peso na consciência de comer sobremesa todos os dias.
Mas aí eu preciso comprar calcinhas, porque todo mundo precisa. Quando eu era mais nova, fazia questão de tentar comprar calcinhas bonitinhas. Sabe, não precisava ser de renda, podia ser da Puket, mesmo, com bichinhos, acho lindo. Ou daqueles com alças fininhas de cores diferentes. Mas eles não fabricam no meu tamanho. A única calcinha que encontrei que não me apertava nem um pouquinho era da Hering e era enorme. Assim, bem sensual. Tinha uma preta, uma branca e uma bege. Estou cheia de calcinhas beges e brancas, porque é claro que calcinhas grandes não podem ser um pouquinho mais sofisticadinhas. Podia ser azul ou amarelo ou vermelho. Pode até ser rosa. Pode ter fitinhas, até. Eu gosto de fitinhas. Mas, não. Tem que ser de vó. Sempre. Meninas com mais de 90cm de quadril não podem querer ser sensuais jamais.
Engraçado é que da última vez que conversei sobre isso, sobre não ter calcinha GG no Brasil, era com uma mulher grávida. Grávida. Eu não sou obesa. Estou um pouquinho acima do peso, só. Não sou obesa, repito. Não sou. Mas imagino as meninas que sejam. Que calcinhas elas compram? Elas precisam mandar fazer? Elas podem querer ser sensuais também, sem usar uma calcinha teoricamente G que aperte uns 5cm pra dentro do quadril até chegar no osso e doer. Porque é osso, moça, juro, eu não sou tão gorda assim.
Mas aí eu passei um mês e meio nos Estados Unidos. O país inteiro estava em desconto, uma beleza. Inclusive a Victoria's Secret. Sabe, a gente vê os desfiles e tal, vê na internet, vê azamiga comprando aqueles cremes com cheirinho de chiquelete, mas a loja, minhas amigas, é o império do brega. Los Angeles, aliás, é todo muito brega. Mas em especial as calcinhas. Entrei uma vez, cherei os cremes todos um por um pra tentar trazer um mais suavezinho pra mamãe, falhei miseravelmente, e olhei todas as calcinhas. Vai ver era a coleção, a PINK, que remetia a coisas de College, com aquelas letras feias de faculdades americanas e cores fluorescentes. Mas eles estavam vendendo 5 calcinhas por 25 dólares.
Voltei com umas amigas e comprei algumas. De olho, eu era M. M. Ah, o país dos obesos. Eu era M! Eu não era GG, não era a numeração que não é produzida pelas confecções nacionais! Haviam números para meninas maiores que eu! As grávidas e as obesas podem vestir Victoria's Secret se elas quiserem, sendo exatamente iguais às meninas bem mais magras. Esse é o tipo de democracia que os Estados Unidos deveriam impôr nos outros países. Fucei as gavetas todas da loja atrás de modelos aceitáveis, vesti algumas, descartei a maioria e acabei escolhendo 5. Dois são meus favoritos até hoje. Eles parecem shortinhos, bem grossos e ficam até larguinhos. Ambos tem fitinhas. Uma tem até renda. Elas não marcam nada, nada, nada. Parecem que foram feitas para mim. Me sinto livre e feliz e sexy. Sexy com uma calcinha que parece uma cuequinha e que não me aperta nem um pouquinho.
10.12.11
1.12.11
Hedwig
Na semana passada meus cachorros começaram a latir muito no jardim e quando fomos ver o que estava acontecendo, descobrimos que eles não estavam latindo para o nada como de costume: haviam duas corujinhas caídas no chão. Elas eram corujas bebês e estavam aprendendo a voar. Para salvá-las dos cachorros, as levamos para a varanda do segundo andar, esperando que elas fossem voar dali na manhã seguinte. Mas elas não voaram. Ficaram com a gente por uns dois dias, enquanto eu pesquisei o que poderia dar para elas comerem, ficando muito preocupadas delas morrerem de calor, desidratanção, fome ou chuva. Tentei dar peito de peru, frango e carne moída, todos sem sucesso. Pelo menos a água no pires elas estavam bebendo.
Elas tinham muito medo da gente, sempre que chegávamos perto elas arregalavam mais os olhos, esticavam as asas pra se protegerem e faziam barulhinho com o bico, como se quisesse nos morder. Eu tinha medo de chegar mais perto, pegar nelas como no vídeo das corujinhas, mas eu tinha medo delas comerem meu dedo.
Aí uns dois depois começou a chover e, porque a varanda é aberta e costuma alagar, trouxemos as corujas pra baixo, pra elas morarem na nossa churrasqueira, que é perto do lugar onde as encontramos originalmente. Talvez elas morassem por ali e a mamãe coruja conseguiria achá-las. Na manhã seguinte elas não estavam mais lá. Fiquei triste. Não veria mais as corujinhas. Pensei que elas fossem ser minhas pra sempre - imagina que legal, ter duas corujas de estimação?
E então mais tarde eu fui fazer qualquer coisa, olhei pela janela e elas estavam lá, no quintal, sentadinhas na mangueira grande e uma coruja adulta (provavelmente mãe delas), foi até a lâmpada da parede nos observar. Gosto de acreditar que elas vieram nos agradecer por ter cuidado delas esse tempo todo.
Elas tinham muito medo da gente, sempre que chegávamos perto elas arregalavam mais os olhos, esticavam as asas pra se protegerem e faziam barulhinho com o bico, como se quisesse nos morder. Eu tinha medo de chegar mais perto, pegar nelas como no vídeo das corujinhas, mas eu tinha medo delas comerem meu dedo.
Aí uns dois depois começou a chover e, porque a varanda é aberta e costuma alagar, trouxemos as corujas pra baixo, pra elas morarem na nossa churrasqueira, que é perto do lugar onde as encontramos originalmente. Talvez elas morassem por ali e a mamãe coruja conseguiria achá-las. Na manhã seguinte elas não estavam mais lá. Fiquei triste. Não veria mais as corujinhas. Pensei que elas fossem ser minhas pra sempre - imagina que legal, ter duas corujas de estimação?
E então mais tarde eu fui fazer qualquer coisa, olhei pela janela e elas estavam lá, no quintal, sentadinhas na mangueira grande e uma coruja adulta (provavelmente mãe delas), foi até a lâmpada da parede nos observar. Gosto de acreditar que elas vieram nos agradecer por ter cuidado delas esse tempo todo.
26.11.11
A gente finge
Em 2009 ajudei a fazer a arte de um filme com o melhor roteiro do mundo. Dois anos depois, ele está na internet. Que graça têm as coisas fáceis?
19.11.11
Síndrome de Asperger
Eu não gosto de dizer que me considero estranha porque acho isso de uma presunção absurda. Uma vez vi uma entrevista com a Lady Gaga em que ela dizia que ela não é só uma performer louca, que ela é louca daquele jeito mesmo. Sei lá, talvez eu seja muito reclacada, mas eu acho que toda loucura é criada por alguém. Que no fundo somos todos iguais e gostamos das mesmas coisas e dizemos que não, que somos loucos, mesmo que a loucura seja nas coisas que todo mundo faça, como conversar com objetos. Sério, todo mundo que eu conheço briga com a impressora. E não é porque eu faço um curso de humanas numa universidade estadual paulista, onde a proporção de "loucos" é maior que em outros lugares. Aliás, todo mundo que me diz que "é meio louco mesmo" são as pessoas mais comuns do mundo. No máximo usam drogas, que também não é nenhuma loucura. Na sociedade pós-freudiana em que a gente se encontra, as pessoas procuram diagnosticar todas as coisas que fazem. Procrastinação vira DDA, mudanças de humor vira transtorno bipolar, nervosismo vira síndrome do pânico e frescura de não querer misturar tipos de talheres vira TOC. Assim, bem Alienista.
A minha doença é Síndrome de Asperger. Sou dessas pessoas que lê sintoma de doença psiquiátrica e fica tentando se diagnosticar. Já pensei que tivesse DDA, mas quando eu contei pra minha mãe ela riu de mim e disse que eu era preguiçosa mesmo. Depois eu descobri isso de Asperger, que é um tipo de autismo que incluiu ser muito criativo ou muito inteligente. Presunsoso pra caralho, né? Quando eu era criança as professorinhas da escolinha diziam que eu era autista. Diziam pra minha mãe e ela respondeu que eu não era não, que eu conversava com ela. Além disso, eu tenho memórias bem vívidas de conviver com as outras crianças. Eu só era muito insegura e, na maioria das vezes, não gostava delas. Tenho medo de me diagnosticar de verdade algum dia, descobrir que eu realmente tenho alguma coisa, tomar remédio e virar outra pessoas.
A minha doença é Síndrome de Asperger. Sou dessas pessoas que lê sintoma de doença psiquiátrica e fica tentando se diagnosticar. Já pensei que tivesse DDA, mas quando eu contei pra minha mãe ela riu de mim e disse que eu era preguiçosa mesmo. Depois eu descobri isso de Asperger, que é um tipo de autismo que incluiu ser muito criativo ou muito inteligente. Presunsoso pra caralho, né? Quando eu era criança as professorinhas da escolinha diziam que eu era autista. Diziam pra minha mãe e ela respondeu que eu não era não, que eu conversava com ela. Além disso, eu tenho memórias bem vívidas de conviver com as outras crianças. Eu só era muito insegura e, na maioria das vezes, não gostava delas. Tenho medo de me diagnosticar de verdade algum dia, descobrir que eu realmente tenho alguma coisa, tomar remédio e virar outra pessoas.
14.11.11
Nostalgia
Estou com saudade da blogsfera antiga. E dos meninos blogueiros. Eles sumiram todos. E dos blogs aleatórios que escreviam sobre coisas aleatórias, sem "linha editorial". Agora tem até curso de blogueiro, na Escola São Paulo.
Ainda bem que vocês ainda existem, vocês que me visitam com frequência e sabem quem são. Gosto de ler sobre a vida de vocês, sobre o que vocês pensam, sobre as porcarias novas que compraram. E, sim, volta, mundo blogueiro.
Ainda bem que vocês ainda existem, vocês que me visitam com frequência e sabem quem são. Gosto de ler sobre a vida de vocês, sobre o que vocês pensam, sobre as porcarias novas que compraram. E, sim, volta, mundo blogueiro.
11.10.11
Teratologia
Esse semestre eu peguei uma matéria de Fotografia do Século XIX unicamente porque eu sabia que uma grande parte do semestre seria dedicado à teratologia. Também porque eu adoro o século XIX, mas se fosse escolher entre gente deformada e o século das luzes eu certamente escolheria o primeiro. Os politicamente corretos vão me olhar torto, mas como eu sei que ninguém que lê esse blog é policitamente correto, vou continuar essa história.
Eu adoro defeitos congênitos e essas coisas estranhas. Adoro ler a respeito e ver fotos. E quer saber? Todo mundo gosta e acha interessante, mas fica escondendo pra não pegar mal. Coitado do deficiente, né? Ele não pediu pra nascer assim. Mas eu me sinto um pouquinho no direito porque eu sou meio deformada também.
Tenho escoliose. E lordose. Quer dizer, minha coluna é toda torta. Depois descobri que um monte de gente têm essas coisas, mas só eu, besta, fui tentar tratar quando eu era adolescente. Já devo ter falado sobre isso àlguma hora em meados de 2004, 2005.
Enfim. Eu fiz meu coleteà prova de balas endireitador de colunas no AACD em São Paulo. Aquele que faz propaganda na TV com crianças em cadeiras de rodas e com pernas mecânicas. Fui lá algumas vezes, primeiro pra fazer o aparelho e depois para a manutenção enquanto eu ia ficando melhor. E a sala de espera era... Bem, era um show de horrores. Por sorte, havia uma televisão, pra eu poder me distrair um pouquinho das pessoas ao meu redor e evitar ficar encarando. No começo era estranho, mas depois me acostumei.
Uma coisa que eu gostava sobre ir para lá era que eu percebia, mesmo sendo sustentada por ferro dos quadris à base do queixo, era como eu era normal e como meu corpo era perfeito. Como reclamar de ser gordinha era superficial, tendo todos os membros nos lugares certos.
Eu adoro defeitos congênitos e essas coisas estranhas. Adoro ler a respeito e ver fotos. E quer saber? Todo mundo gosta e acha interessante, mas fica escondendo pra não pegar mal. Coitado do deficiente, né? Ele não pediu pra nascer assim. Mas eu me sinto um pouquinho no direito porque eu sou meio deformada também.
Tenho escoliose. E lordose. Quer dizer, minha coluna é toda torta. Depois descobri que um monte de gente têm essas coisas, mas só eu, besta, fui tentar tratar quando eu era adolescente. Já devo ter falado sobre isso àlguma hora em meados de 2004, 2005.
Enfim. Eu fiz meu colete
Uma coisa que eu gostava sobre ir para lá era que eu percebia, mesmo sendo sustentada por ferro dos quadris à base do queixo, era como eu era normal e como meu corpo era perfeito. Como reclamar de ser gordinha era superficial, tendo todos os membros nos lugares certos.
11.9.11
Casa de Fazenda
Eu moro na zona rural do interior paulista. Claro que Campinas, sendo uma cidade relativamente grande, não se compara à zona rural de cidades do interior de verdade de São Paulo ou do interior de Minas, por exemplo. Então eu moro a 20 minutos de carro da Unicamp e a 30 de qualquer lugar. E tem internet e sinal de celular. Coisa que não tem na zona rural de Sorocaba, por exemplo, que é pertinho daqui. Mas mesmo assim, água encanada chegou faz pouco tempo - e não chega na minha casa -, não temos esgoto nem asfalto e só passa ônibus aqui de meia em meia hora, o que já é um avanção perto das 1h10 de intervalo de uns 5 anos atrás. Pelo menos não pagamos IPTU. E, ah, a melhor padaria da região vende pão de manhã e no resto do dia é um botecão. Sem contar que é possível, sim, ficar preso no trânsito atrás de carroças. Isso quando não tem uma boiada atravessando a rua. Sério.
Então, tirando as pessoas de classes mais baixas que moram aqui - justamente por ser bem mais barato que os bairros de classe média alta ao redor -, aqui também se tornou um recanto para professores universitários, aposentados e gente que adora um bom contato com a natureza. Gente bem alternativa, de um modo geral: que curte acordar com os passarinhos e às vezes com galos dos vizinhos, medicina homeopática, ter um pomar gigante com árvores frutíferas e um jardim com ervinhas para o chá caseiro. E tudo isso combina com casas de tijolos à vista, madeira, sapê e vime, um pouco distante do portão da casa, feito de bambu decorado com uma placa de madeira esculpido por fogo com os dizeres "Recanto da Alegria". Uns três ou quatro cachorros vira-latas e pelo menos duas árvores em flor. Isso só à primeira vista.
Pois bem. Há uns anos atrás comecei a acompanhar a construção de uma casinha num terreninho modesto à beira da rua principal do bairro. Demorou um pouco para ficar pronto. Como vocês devem saber, construir casas custa caro. Acho que o que mais tem aqui é gente que juntou todo o dinheiro e disse: "Vamos ter uma fazenda! Nossa casa dos sonhos longe do barulho da cidade!" E, então, depois de construir alguns cômodos, percebem que ficou caro demais. Como aconteceu com meus pais. Mas enfim a construção dessa casinha chegou em algum lugar.
Mas eu achava estranho porque a casa não tinha telhado. Até aí, poderia estar fazendo uma lage ou algo do tipo. Mas aí o dono pintou a casa. Ela é toda branca, mas uma das colunas é azul e a outra, amarela. É tão estranho que eu nem sei descrever. Não há árvores em volta, só mato seco. Olhando por fora, a casa tem dois andares, mas poucos cômodos. E não tem telhado. E poucas janelas. É uma dessas construções modernas com tetos retos que aculumam água quando chove e ficam em bairros modernos de gente rica e moderna que compra carros por mais de 60 mil reais sem nem correr o risco de ficar atolado na lama, nem nas férias. Pela casa dele, fico imaginando que o dono adora tecnologia, deve ter uma TVzona com TV à cabo e wifi pela casa inteira, pra poder cozinhar vendo a receita do IPad. O que um cara desses está fazendo morando aqui? Ou isso ou é um escritório de arquitetura ou advogacacia, uma clínica de dentista ou de estética. Várias coisas que não combinam nada com os arredores.
Olha eu julgando o cara. Vai ver ele só ficou sem dinheiro mesmo e o próximo passo é plantar um pomarzinho de cogumelos comestíveis e colocar uma luneta naquela laje dele, pra poder olhar as estrelas do céu mais impressionante da região.
Então, tirando as pessoas de classes mais baixas que moram aqui - justamente por ser bem mais barato que os bairros de classe média alta ao redor -, aqui também se tornou um recanto para professores universitários, aposentados e gente que adora um bom contato com a natureza. Gente bem alternativa, de um modo geral: que curte acordar com os passarinhos e às vezes com galos dos vizinhos, medicina homeopática, ter um pomar gigante com árvores frutíferas e um jardim com ervinhas para o chá caseiro. E tudo isso combina com casas de tijolos à vista, madeira, sapê e vime, um pouco distante do portão da casa, feito de bambu decorado com uma placa de madeira esculpido por fogo com os dizeres "Recanto da Alegria". Uns três ou quatro cachorros vira-latas e pelo menos duas árvores em flor. Isso só à primeira vista.
Pois bem. Há uns anos atrás comecei a acompanhar a construção de uma casinha num terreninho modesto à beira da rua principal do bairro. Demorou um pouco para ficar pronto. Como vocês devem saber, construir casas custa caro. Acho que o que mais tem aqui é gente que juntou todo o dinheiro e disse: "Vamos ter uma fazenda! Nossa casa dos sonhos longe do barulho da cidade!" E, então, depois de construir alguns cômodos, percebem que ficou caro demais. Como aconteceu com meus pais. Mas enfim a construção dessa casinha chegou em algum lugar.
Mas eu achava estranho porque a casa não tinha telhado. Até aí, poderia estar fazendo uma lage ou algo do tipo. Mas aí o dono pintou a casa. Ela é toda branca, mas uma das colunas é azul e a outra, amarela. É tão estranho que eu nem sei descrever. Não há árvores em volta, só mato seco. Olhando por fora, a casa tem dois andares, mas poucos cômodos. E não tem telhado. E poucas janelas. É uma dessas construções modernas com tetos retos que aculumam água quando chove e ficam em bairros modernos de gente rica e moderna que compra carros por mais de 60 mil reais sem nem correr o risco de ficar atolado na lama, nem nas férias. Pela casa dele, fico imaginando que o dono adora tecnologia, deve ter uma TVzona com TV à cabo e wifi pela casa inteira, pra poder cozinhar vendo a receita do IPad. O que um cara desses está fazendo morando aqui? Ou isso ou é um escritório de arquitetura ou advogacacia, uma clínica de dentista ou de estética. Várias coisas que não combinam nada com os arredores.
Olha eu julgando o cara. Vai ver ele só ficou sem dinheiro mesmo e o próximo passo é plantar um pomarzinho de cogumelos comestíveis e colocar uma luneta naquela laje dele, pra poder olhar as estrelas do céu mais impressionante da região.
6.9.11
Sobre livros antes de dormir
Eu tenho o hábito, desde criança - ou pelo menos depois de Harry Potter -, de sempre ler antes de dormir. Se eu não estiver bem cansada, preciso de alguma historinha pra me colocar pra dormir. Prefiro prosa de ficção, mas pode ser qualquer coisa. Eu não sei quantos livros em média eu leio por ano. Devo contar os textos da faculdade como livros? E se eles tiverem mais de 60 páginas, sem figuras? Quadrinhos contam como livros? Livros teóricos são mais livros que livros de ficção fantástica? E antologias? Preciso lê-los inteiros para serem considerados um livro? E os contos que leio na internet, estes contam como livros?
Enfim. Ler antes de dormir. Nos Estados Unidos eu dividia quarto com mais duas meninas que não gostavam de ler. A chinesa ficava impressionada com como eu gostava dessas coisas de museu e livros e arte. Ela só gostava de ler revistas e se recusou veementemente a me acompanhar nas minhas poucas excursões culturais. E eu achava impossível imaginar a francesa num museu, olhando obras silenciosamente. Ela dizia que só gostava de ler livros sobre o que ela estudava. Mas eu gostava de ler antes de dormir. E lia à luz do celular até meus olhos ficarem cansados ou, às vezes, se eu estava em um pedaço particularmente instigante da história, até depois disso.
E agora eu estou sem ter o que ler. Acho que passei por todas as prosas e todos os quadrinhos interessantes da casa e fui à livraria. Achei um Freud na sessão de livros de bolso da LP&M e resolvi que estou lendo prosa fantástica demais. Além disso, algum professor alguma vez deve ter insinuado que O mal-estar na cultura combinava bem com o curso e eu tinha esbarrado por ele e por Tabu e totem uma dúzia de vezes em referências na minha iniciação científica, então decidi pegar.
Mas, senhoras e senhores, ler teoria de psicanálise antes de dormir não é tão simples quanto parece. Acho que é por isso que as pessoas fazem cursos inteiros de 4 anos para entender o que ele quis dizer. Li umas 4 ou 5 páginas e, depois de constatar que nada daquilo estava se tornando conhecimento na minha cabecinha cansada de antes de dormir, coloquei-o na prateleira do quarto, onde ele será lido, eventualmente, quando eu tiver tempo e disposição para ele.
Enfim. Ler antes de dormir. Nos Estados Unidos eu dividia quarto com mais duas meninas que não gostavam de ler. A chinesa ficava impressionada com como eu gostava dessas coisas de museu e livros e arte. Ela só gostava de ler revistas e se recusou veementemente a me acompanhar nas minhas poucas excursões culturais. E eu achava impossível imaginar a francesa num museu, olhando obras silenciosamente. Ela dizia que só gostava de ler livros sobre o que ela estudava. Mas eu gostava de ler antes de dormir. E lia à luz do celular até meus olhos ficarem cansados ou, às vezes, se eu estava em um pedaço particularmente instigante da história, até depois disso.
E agora eu estou sem ter o que ler. Acho que passei por todas as prosas e todos os quadrinhos interessantes da casa e fui à livraria. Achei um Freud na sessão de livros de bolso da LP&M e resolvi que estou lendo prosa fantástica demais. Além disso, algum professor alguma vez deve ter insinuado que O mal-estar na cultura combinava bem com o curso e eu tinha esbarrado por ele e por Tabu e totem uma dúzia de vezes em referências na minha iniciação científica, então decidi pegar.
Mas, senhoras e senhores, ler teoria de psicanálise antes de dormir não é tão simples quanto parece. Acho que é por isso que as pessoas fazem cursos inteiros de 4 anos para entender o que ele quis dizer. Li umas 4 ou 5 páginas e, depois de constatar que nada daquilo estava se tornando conhecimento na minha cabecinha cansada de antes de dormir, coloquei-o na prateleira do quarto, onde ele será lido, eventualmente, quando eu tiver tempo e disposição para ele.
19.8.11
16.8.11
Dos Estados Unidos à China
Santa Monica foi o segundo lugar que eu mais gostei de Los Angeles. O primeiro foi a Disney. Depois falo dela. Santa Monica é bem Estados Unidos. Não é o suficiente ter uma praia e umas barracas para comer, como temos no Brasil. É um pier, na verdade. Santa Monica Pier. O pier é um pierzão. Melhor dizendo, um shopping center com mil opções de fast food americano para comer, ambulantes vendendo churros (tchirios, como os norte-americanos falam, que me levou um mês para descobrir o que era), bexigas e óculos de sol a 15 dólares - jurando que tinham proteção contra raios UVA e UVB. Também tinha um parque de diversões, daqueles onde se paga três dólares por brinquedo, dá pra ganhar de urso de pelúcia em jogos de tiro e comprar algodão doce. Um sonhozinho. Depois meu irmão me disse que esse parque apareceu em Dexter e que sempre aparece nos seriados filmados em Los Angeles. O único seriado que eu acompanho atualmente é Big Bang Theory e, mesmo morando em Los Angeles, o grupo de geeks nunca vai à praia, então eu não sabia. E fiquei chocada com a idéia de parque na praia. Também tinha um aquário embaixo do pier e, pasme!, um carrossel dentro de uma sala de madeira - igualzinha às outras lojas do pier -, totalmente secreto. E tem a praia, lógico, com areia meio cinza como as do litoral paulista, àgua polar do pacífico, não tão cheio de americanos brancos/vermelhos e gordos ou de mexicanos quanto já vi em praias do Nordeste no alto verão, gaivotas que voavam bem baixo e provavelmente pegariam comida se eu a oferecesse, mas apenas um chuveirinho para todos os banhistas. Além de ser um grande complexo da diversão, de um jeito nunca antes visto, o mais espantoso foi a reação da amiga que foi comigo.
Meiyu é chinesa. Ela tem a minha idade e estuda Relações Internacionais. Antes de vir para os Estados Unidos, ela estava fazendo um intercâmbio de 6 meses na Inglaterra. A Meiyu me assustou muito sobre a China. Não só pelas coisas que ela falava (Sim, amigos comunistas, a China é uma ditadura violenta e o governo explora e oprime muito os cidadãos. As pessoas precisam casar cedo e levam seus pais para morar com eles porque é impossível manter uma casa sozinho.), mas também pelas forma como ela agia. Ela tinha me dito que não conseguiria morar nos Estados Unidos porque a cultura era muito diferente da chinesa. Todo mundo queria aparecer, todo mundo quer mostrar suas personalidades. Na China, ela me dizia, tudo que as pessoas queriam era se mesclar, chamar o mínimo de atenção possível. Ela me perguntou diversas vezes se ela poderia agir ou se vestir de certa forma sem ser vista de maneira estranha. Ela procurava muito ter as mesmas opiniões que eu, opiniões ocidentais, sobre namoro e virgindade e tudo. E ela enlouqueceu em Santa Monica Beach.
Perguntei se ela já tinha ido a uma praia antes. Ela disse que sim, na China e na Inglaterra, mas eram diferentes de lá. Em Santa Monica, ela podia fazer qualquer coisa que ninguém ia ligar. Ela poderia gritar e fazer castelinho de areia e ficar parada assistindo a areia engolir seus pés e correr pela praia, chutando a água e fotografar as gaivotas e as crianças e tirar foto fingindo que os chinelos eram orelhas de coelhinho que ninguém ia ligar. Ninguém nem ia perceber, absorto em sua própria diversão. E isso era surreal para ela. E absolutamente liberdador. E, para mim, mesmo acostumada com Campinas onde todo mundo comenta sua meia-calça rasgada, o fato de você ter parado de depilar as pernas ou ter trocado seu emprego/faculdade por algo que renderia muito menos, essa foi a experiência mais assustadora e sufocante da viagem inteira.
Meiyu é chinesa. Ela tem a minha idade e estuda Relações Internacionais. Antes de vir para os Estados Unidos, ela estava fazendo um intercâmbio de 6 meses na Inglaterra. A Meiyu me assustou muito sobre a China. Não só pelas coisas que ela falava (Sim, amigos comunistas, a China é uma ditadura violenta e o governo explora e oprime muito os cidadãos. As pessoas precisam casar cedo e levam seus pais para morar com eles porque é impossível manter uma casa sozinho.), mas também pelas forma como ela agia. Ela tinha me dito que não conseguiria morar nos Estados Unidos porque a cultura era muito diferente da chinesa. Todo mundo queria aparecer, todo mundo quer mostrar suas personalidades. Na China, ela me dizia, tudo que as pessoas queriam era se mesclar, chamar o mínimo de atenção possível. Ela me perguntou diversas vezes se ela poderia agir ou se vestir de certa forma sem ser vista de maneira estranha. Ela procurava muito ter as mesmas opiniões que eu, opiniões ocidentais, sobre namoro e virgindade e tudo. E ela enlouqueceu em Santa Monica Beach.
Perguntei se ela já tinha ido a uma praia antes. Ela disse que sim, na China e na Inglaterra, mas eram diferentes de lá. Em Santa Monica, ela podia fazer qualquer coisa que ninguém ia ligar. Ela poderia gritar e fazer castelinho de areia e ficar parada assistindo a areia engolir seus pés e correr pela praia, chutando a água e fotografar as gaivotas e as crianças e tirar foto fingindo que os chinelos eram orelhas de coelhinho que ninguém ia ligar. Ninguém nem ia perceber, absorto em sua própria diversão. E isso era surreal para ela. E absolutamente liberdador. E, para mim, mesmo acostumada com Campinas onde todo mundo comenta sua meia-calça rasgada, o fato de você ter parado de depilar as pernas ou ter trocado seu emprego/faculdade por algo que renderia muito menos, essa foi a experiência mais assustadora e sufocante da viagem inteira.
28.7.11
Podre de Rica
E já que eu estava em Los Angeles, resolvi dar uma passeadinha em Beverly Hills, no famoso Rodeo Dr. Eu tinha passado por ele quando estava no ônibus indo ver o Neil Gaiman e depois indo ver o Tim Burton e vi que a rua em questão era beeeem bonitinha. Além disso, queria comprar uma bolsa bem bonita pra minha mãe. Depois falamos disso.
Me vesti com as minhas melhores roupas, coloquei um saltinho super confortável, pra ninguém me expulsar das lojas e fui. É lindo. Lindo, mesmo. Mesmo se você for dessas pessoas que curte coisas simples como o Pelourinho, Ouro Preto e o centro velho, sujo de São Paulo, provavelmente vai gostar. Eu gosto de todas essas coisas. Mas é bem aquilo: só pra olhar. Não é igual na Oscar Freie que até dá pra pensar em alguma peça ou na Champs Elysés que tem Fnac, Sephora e H&M. Aqui tem Tiffany & Co com restaurante pra tomar Breakfast at Tffany's, tem Versace, Prada, Chanel, Louis Vitton e todas as lojas onde nunca vou conseguir comprar nada.
E eu, boba, fui na Chanel ver se eu conseguia comprar uma bolsa pra minha mãe. Tinha gente saindo da loja com sacola na mão. Gente normal, cheio de filho. Então talvez desse. Loja de rico vocês sabem, né?, não tem preço em nada. Tem que perguntar. Fiquei com vergonha, mas ouvi outra mulher perguntando. Um BATOM da Chanel custava $80. A bolsa que ela pediu pra ver custava $7.000. Dava pra comprar um carro pelo mesmo preço. No andar de cima tinha roupa e sapato. Tudo era a cara da minha mãe. Tudo, com apenas uma peça, ia estourar o cartão de crédito dela que eu sempre pensei que fosse infinito. Saí de lá meio triste. Quando eu for rica, mamãe só vai usar Chanel.
Pra me sentir menos mal, entrei numa galeria de arte. Estavam à venda quadros dos "mestres espanhóis": Goya, Miró, Picasso, Dali. O dono da galeria me perguntou o que eu estava fazendo em Los Angeles, da onde eu vinha, quantos anos eu tinha e se eu estava em condições de comprar um quadro, assim, pra minha casa. Quase morri de rir. Fiquei imaginando a Guernica decorando minha sala de jantar.
Engraçado é que a maioria dos quadros em questão eram rascunhos, estudos. Um dos trabalhos do Dali tinha como técnica "mixed media". Olhando com atenção, dava pra perceber que era lápis, tinta guache e caneta hidrocor. Sempre imaginei que os artistas devem morrer de vergonha das pessoas comprando e expondo esses trabalhos inacabados deles. Não o Dali, é claro, ele sabia que era gênio. Os trabalhos mais legais da galeria eram do Goya. Mesmo com carinha de pouca coisa, já não era um rascunhão como os outros trabalhos expostos. E também era infinitamente mais caro. Tinha um do Dali que até dava pra comprar. $4.900, um precinho razoável.
Esse quadro é legal porque tem o elemento do nascimento de Vênus que o Boticcelli, por pudor ou descuido, encarecidamente esqueceu.
Me vesti com as minhas melhores roupas, coloquei um saltinho super confortável, pra ninguém me expulsar das lojas e fui. É lindo. Lindo, mesmo. Mesmo se você for dessas pessoas que curte coisas simples como o Pelourinho, Ouro Preto e o centro velho, sujo de São Paulo, provavelmente vai gostar. Eu gosto de todas essas coisas. Mas é bem aquilo: só pra olhar. Não é igual na Oscar Freie que até dá pra pensar em alguma peça ou na Champs Elysés que tem Fnac, Sephora e H&M. Aqui tem Tiffany & Co com restaurante pra tomar Breakfast at Tffany's, tem Versace, Prada, Chanel, Louis Vitton e todas as lojas onde nunca vou conseguir comprar nada.
E eu, boba, fui na Chanel ver se eu conseguia comprar uma bolsa pra minha mãe. Tinha gente saindo da loja com sacola na mão. Gente normal, cheio de filho. Então talvez desse. Loja de rico vocês sabem, né?, não tem preço em nada. Tem que perguntar. Fiquei com vergonha, mas ouvi outra mulher perguntando. Um BATOM da Chanel custava $80. A bolsa que ela pediu pra ver custava $7.000. Dava pra comprar um carro pelo mesmo preço. No andar de cima tinha roupa e sapato. Tudo era a cara da minha mãe. Tudo, com apenas uma peça, ia estourar o cartão de crédito dela que eu sempre pensei que fosse infinito. Saí de lá meio triste. Quando eu for rica, mamãe só vai usar Chanel.
Pra me sentir menos mal, entrei numa galeria de arte. Estavam à venda quadros dos "mestres espanhóis": Goya, Miró, Picasso, Dali. O dono da galeria me perguntou o que eu estava fazendo em Los Angeles, da onde eu vinha, quantos anos eu tinha e se eu estava em condições de comprar um quadro, assim, pra minha casa. Quase morri de rir. Fiquei imaginando a Guernica decorando minha sala de jantar.
Engraçado é que a maioria dos quadros em questão eram rascunhos, estudos. Um dos trabalhos do Dali tinha como técnica "mixed media". Olhando com atenção, dava pra perceber que era lápis, tinta guache e caneta hidrocor. Sempre imaginei que os artistas devem morrer de vergonha das pessoas comprando e expondo esses trabalhos inacabados deles. Não o Dali, é claro, ele sabia que era gênio. Os trabalhos mais legais da galeria eram do Goya. Mesmo com carinha de pouca coisa, já não era um rascunhão como os outros trabalhos expostos. E também era infinitamente mais caro. Tinha um do Dali que até dava pra comprar. $4.900, um precinho razoável.
Esse quadro é legal porque tem o elemento do nascimento de Vênus que o Boticcelli, por pudor ou descuido, encarecidamente esqueceu.
26.7.11
Ursinho Puff
Quando eu era bem criança e assistia os desenhos do Ursinho Puff, ele era Puff. Depois, as pessoas começaram a me zoar dizendo que o nome dele era Ursinho Pooh. "Você não é americana? É Pooh!" diziam. E estava em todos os cadernos e estojos e mochilas que o nome era Pooh. Mas, pra mim, que tinha um ursinho em casa, que dormia comigo, ele era Pooh em inglês e Puff em português. Era bem óbvio que todas as coisas tinham nomes diferentes em todas as línguas. Cresci pensando assim.
Da última vez que eu vi um desenho do Ursinho Puff de verdade, eu devia ter uns 7, 8 anos, em VHS, na nossa TVzinha de 20". Eu gostava muito, sempre gostei dos personagens e recentemente eu comprei um caderno brochura com os personagens clássicos na capa só porque era lindo. Queria estar em casa pra fotografar todas essas coisas e mostrar pra vocês.
Enfim, eu nem sabia que a Disney estava fazendo um filme novo do Pooh. Descobri quando cheguei aqui, nessa cidade que anuncia filme como se anunciam roupas no Brasil. (prefiro aqui. também anunciam exposições e espetáculos de cinema e séries de tv.) Vi o cartaz num ônibus e achei lindo, mas fiquei com medo de ver. A Disney anda estragando tudo em que toca, não poderia ser bom. Até que meu professor de Disney falou pra gente ir ver. O filme, coitadinho, ia estreiar junto com Harry Potter, mas aparentemente ele era um filminho charmoso e bem animadinho. Então resolvi ver.
Vou logo avisando que não é um filme pra qualquer um. Ele parece direcionado pra crianças bem pequenas ou para pessoas que amam animação. Acho que até aquelas apaixonadas pelo personagem vão ficar um pouco decepcionadas. Em tempos de Crepúsculo, Avatar e Shrek, não sei se uma criança de 8, 9 anos iria se interessar por uma história tão simples como essa. O enredo, em que a trupe de animais de pelúcia no bosque procuram pelo rabo do Bisonho, não é das mais emocionantes, mas tem umas partes ótimas, como quando eles tentam colocar várias coisas no lugar do rabo do Bisonho. E eu adoro o Bisonho. Dá vontade de abraçá-lo o filme inteiro, pegar no colo e dizer que vai ficar tudo bem. Ele é o Marvin dos desenhos animados.
Mas é bem lindinho e tem um quêzinho de vanguarda, mesmo sendo bem fiel ao estilo original, dos anos 60, 70, em que os personagens vivem dentro de um livro, interagem com as letras e com as páginas. Ele é todo em 2D, tirando o comecinho e o finalzinho do filme que são em live-action, como no desenho original. Há uma sequência inteira sobre mel, muito, muito bonita - e que, de quebra, dá muita fome. E, minha parte preferida, tem um pedaço do filme que é todo animado em giz de cera. Um joiazinha. É lindo, lindo. Acho que as pessoas que se acostumaram aos filmes da Pixar e da Dreamworks podem apreciar bastante a diferença.
A única coisa que eu não gostei foi que os personagens parecem muito computadorizados. Os fundos são todos feitos à mão, mas o Pooh, o Cristopher Robin e os demais personagens têm uma carinha de pintados em flash/cartoon network que dá até pena. Destoa muito. Foi uma coisa que me incomodou bastante.
De qualquer forma, como não amar um filme que tem um cartaz lindinho desse?
Ah, se alguém for ver, fique até o final dos créditos. É a melhor parte. E, especialmente para a Irena Freitas, a música dos créditos é da Zooey Deschannel.
E, pra todo mundo se sentir muito velho e nostálgico (fizeram de propósito, não é possível), o trailer:
Da última vez que eu vi um desenho do Ursinho Puff de verdade, eu devia ter uns 7, 8 anos, em VHS, na nossa TVzinha de 20". Eu gostava muito, sempre gostei dos personagens e recentemente eu comprei um caderno brochura com os personagens clássicos na capa só porque era lindo. Queria estar em casa pra fotografar todas essas coisas e mostrar pra vocês.
Enfim, eu nem sabia que a Disney estava fazendo um filme novo do Pooh. Descobri quando cheguei aqui, nessa cidade que anuncia filme como se anunciam roupas no Brasil. (prefiro aqui. também anunciam exposições e espetáculos de cinema e séries de tv.) Vi o cartaz num ônibus e achei lindo, mas fiquei com medo de ver. A Disney anda estragando tudo em que toca, não poderia ser bom. Até que meu professor de Disney falou pra gente ir ver. O filme, coitadinho, ia estreiar junto com Harry Potter, mas aparentemente ele era um filminho charmoso e bem animadinho. Então resolvi ver.
Vou logo avisando que não é um filme pra qualquer um. Ele parece direcionado pra crianças bem pequenas ou para pessoas que amam animação. Acho que até aquelas apaixonadas pelo personagem vão ficar um pouco decepcionadas. Em tempos de Crepúsculo, Avatar e Shrek, não sei se uma criança de 8, 9 anos iria se interessar por uma história tão simples como essa. O enredo, em que a trupe de animais de pelúcia no bosque procuram pelo rabo do Bisonho, não é das mais emocionantes, mas tem umas partes ótimas, como quando eles tentam colocar várias coisas no lugar do rabo do Bisonho. E eu adoro o Bisonho. Dá vontade de abraçá-lo o filme inteiro, pegar no colo e dizer que vai ficar tudo bem. Ele é o Marvin dos desenhos animados.
Mas é bem lindinho e tem um quêzinho de vanguarda, mesmo sendo bem fiel ao estilo original, dos anos 60, 70, em que os personagens vivem dentro de um livro, interagem com as letras e com as páginas. Ele é todo em 2D, tirando o comecinho e o finalzinho do filme que são em live-action, como no desenho original. Há uma sequência inteira sobre mel, muito, muito bonita - e que, de quebra, dá muita fome. E, minha parte preferida, tem um pedaço do filme que é todo animado em giz de cera. Um joiazinha. É lindo, lindo. Acho que as pessoas que se acostumaram aos filmes da Pixar e da Dreamworks podem apreciar bastante a diferença.
A única coisa que eu não gostei foi que os personagens parecem muito computadorizados. Os fundos são todos feitos à mão, mas o Pooh, o Cristopher Robin e os demais personagens têm uma carinha de pintados em flash/cartoon network que dá até pena. Destoa muito. Foi uma coisa que me incomodou bastante.
De qualquer forma, como não amar um filme que tem um cartaz lindinho desse?
Ah, se alguém for ver, fique até o final dos créditos. É a melhor parte. E, especialmente para a Irena Freitas, a música dos créditos é da Zooey Deschannel.
E, pra todo mundo se sentir muito velho e nostálgico (fizeram de propósito, não é possível), o trailer:
7.7.11
Uma história de amor com a literatura
A pedidos, vou contar do dia que eu vi o Neil Gaiman. E já aviso que esse vai ser um post bem grande. Mas a história começa muito antes disso. Começa quando eu ainda estava no Brasil. Eu estava em casa, feliz e sorrindente, quando, lendo o blog maravilhoso do Neil Gaiman, descubro que ele ia fazer uma book tour comemorando os 10 anos de publicação de Deuses Americanos. E um dos eventos seria em Los Angeles - em um dos dias que eu estaria aqui! Tentei comprar, mas eles não aceitaram meu endereço do Brasil. Desisti de ir, o Neil sendo um autor muito popular e obviamente os ingressos acabariam antes de eu chegar em LA (uma semana antes do evento) e poder comprar com meu endereço daqui. Mas aí quando eu cheguei, vi que esse era o único lugar que ainda tinham ingressos sobrando. Comprei imediatamente.
Antes de continuar a história, quero fazer um pequeno adendo. Conheci Neil Gaiman numa época que eu estava lendo quadrinhos e fiquei sabendo que Sandman era um clássico e tinha que ler e que era a melhor história em quadrinhos do mundo. Além disso, eu gostava de Enter Sandman, do Metalica. Meu irmão acabou comprando o primeiro arco, Prelúdios e Noturnos, daquele de capa dura da Conrad, e me deu pra ler. Me apaixonei. Me identifiquei muito. Ele escrevia histórias de terror com um quê de gótico, mas muito, muito amor. Era exatamente o que eu queria escrever, o que eu sempre tentei fazer. Comprei outros Sandmans, mas não consegui completar a coleção por ser muito caro. Um dia postei uma transcrição de uma das histórias que eu mais gostava e acabei descobrindo pela internet mais amigos que gostavam. E eu também fui achando outras obras, outros livros do Neil na internet pra ler. E me apaixonei ainda mais pelas suas prosas de narrativas fantásticas, cheias de descrições delicadas, do jeito que eu sempre quis escrever. Até que um desses amigos, o Gabriel, me indicou Deuses Americanos. E eu fui atrás.
E foi o melhor livro que já li na vida. Baixei o .pdf de 700 páginas, no cursinho, e li na tela brilhante do computador em uma semana, atropelando os módulos do Anglo porque queria voltar a ler. É impressionante a história da rivalidade entre os deuses da antiquidade e os deuses do mundo moderno. E todas as religiões convivendo juntas, achando cada um o seu espacinho no coração das pessoas dos Estados Unidos. E foi tão significativo pra mim que, depois de anos achando a igreja um lugar meio sem graça, meio hipócrita, sem conseguir me identificar direito com aquelas doutrinas, aquelas pessoas, só indo porque minha mãe obrigava, eu finalmente resolvi parar de ir. Porque se eu acreditasse em só um deus, eu estaria negando todos os outros. E eles existem, na cabeça das pessoas. E se as coisas existem na cabeça das pessoas, já nos ensinou Dumbledore, é claro que são reais.
E então, 5 anos depois, estava eu em um ônibus na ensolarada Los Angeles, indo para Beverly Hills ver o homem que eu agora seguia até no twitter. O ponto em que desci era bem em frente ao teatro e eu sabia especialmente que era ali porque tinha uma fila que virava o quarteirão indo ver o Deus do Rock da Literatura. Entrei na fila esperando pra recolher meu ingresso (sim, tinha que retirar na porta) e atrás de mim estavam duas senhoras. Falei pra elas: "Parece que estamos num show de rock." E uma delas respondeu: "Sim, ele é um deus do rock. Bem, não pra gente que o conhece há 20 anos..." e então eu percebi que atrás de mim estavam amigas pessoais dele. Gente que ia tomar chá da tarde e jogar baralho com um dos meus maiores ídolos. Depois as ouvi dizendo que a Amanda Palmer (que é quem eu quero ser quando eu crescer) era uma "sweet girl". Esse é o blog de uma delas, falando sobre o evento. Tem fotos boas. Não pedi pra me levarem no backstage, nem nada, porque sou legal, não queria atrapalhar e idiota.
Esperei uma hora na fila até pegar meu ingresso e entrar no teatro. Era um dos teatros mais chiques que eu lembro de ter estado. Com bar servindo coquetéis, a água mais cara da minha vida, decoração kitsch nas paredes, cortinas roxas de veludo enormes no palco e 1800 cadeiras vermelhas também de veludo. Estava na fila P, mas pelo menos era no corredor, então não tinha nenhuma cabeça na minha frente. O evento demorou pra começar porque ainda tinham pessoas comprando ingressos na porta, mas não foi necessário que ninguém sentasse no chão. Enquanto isso eu lia meu Deuses Americanos (finalmente em papel!) na edição de aniversário de 10 anos, autografada, que comprei junto com o convite.
E então começou. E foi maravilhoso. Eu já tinha visto entrevistas no youtube do neil e até já tinha ouvido um podcast com entrevista sua, mas vê-lo ao vivo foi... Ele é tão inteligente e engraçado e culto e tem a voz mais sexy, com aquele sotaque britânico e arrastando as palavras no final das frases. Ele é exatamente o que escreve: parece gótico, mas é de uma delicadeza e um amor incrível. Até quando ele reclama de alguma coisa, faz isso com uma graça... E ele tem mãos bonitas. Ele falou do livro e da série da HBO e de apadtações e de Dr Who e da sua adolescência e de religião e da Wikipédia e da vida. E fizeram uma leitura em voz alta de uma das minha partes preferidas do livro, que se passa aqui em Los Angeles. E foi maravilhoso e engraçado e eu sou uma pessoa muito feliz que se repete de embriaguez e satisfação.
E na volta pra casa me perdi numa cidade grande e nova, à meia-noite, sem celular, nem número nenhum pra ligar. E com fome desde que o evento começou. Mas eventualmente consegui um Subway 24 horas e consegui voltar pra casa. Pelo menos eu tinha um livro muito grande pra bater em alguém que eventualmente quisesse me incomodar. Mas tirando isso, foi ótimo.
E vou postar alguma fotos pra compensar o texto gigantesco.
Antes de continuar a história, quero fazer um pequeno adendo. Conheci Neil Gaiman numa época que eu estava lendo quadrinhos e fiquei sabendo que Sandman era um clássico e tinha que ler e que era a melhor história em quadrinhos do mundo. Além disso, eu gostava de Enter Sandman, do Metalica. Meu irmão acabou comprando o primeiro arco, Prelúdios e Noturnos, daquele de capa dura da Conrad, e me deu pra ler. Me apaixonei. Me identifiquei muito. Ele escrevia histórias de terror com um quê de gótico, mas muito, muito amor. Era exatamente o que eu queria escrever, o que eu sempre tentei fazer. Comprei outros Sandmans, mas não consegui completar a coleção por ser muito caro. Um dia postei uma transcrição de uma das histórias que eu mais gostava e acabei descobrindo pela internet mais amigos que gostavam. E eu também fui achando outras obras, outros livros do Neil na internet pra ler. E me apaixonei ainda mais pelas suas prosas de narrativas fantásticas, cheias de descrições delicadas, do jeito que eu sempre quis escrever. Até que um desses amigos, o Gabriel, me indicou Deuses Americanos. E eu fui atrás.
E foi o melhor livro que já li na vida. Baixei o .pdf de 700 páginas, no cursinho, e li na tela brilhante do computador em uma semana, atropelando os módulos do Anglo porque queria voltar a ler. É impressionante a história da rivalidade entre os deuses da antiquidade e os deuses do mundo moderno. E todas as religiões convivendo juntas, achando cada um o seu espacinho no coração das pessoas dos Estados Unidos. E foi tão significativo pra mim que, depois de anos achando a igreja um lugar meio sem graça, meio hipócrita, sem conseguir me identificar direito com aquelas doutrinas, aquelas pessoas, só indo porque minha mãe obrigava, eu finalmente resolvi parar de ir. Porque se eu acreditasse em só um deus, eu estaria negando todos os outros. E eles existem, na cabeça das pessoas. E se as coisas existem na cabeça das pessoas, já nos ensinou Dumbledore, é claro que são reais.
E então, 5 anos depois, estava eu em um ônibus na ensolarada Los Angeles, indo para Beverly Hills ver o homem que eu agora seguia até no twitter. O ponto em que desci era bem em frente ao teatro e eu sabia especialmente que era ali porque tinha uma fila que virava o quarteirão indo ver o Deus do Rock da Literatura. Entrei na fila esperando pra recolher meu ingresso (sim, tinha que retirar na porta) e atrás de mim estavam duas senhoras. Falei pra elas: "Parece que estamos num show de rock." E uma delas respondeu: "Sim, ele é um deus do rock. Bem, não pra gente que o conhece há 20 anos..." e então eu percebi que atrás de mim estavam amigas pessoais dele. Gente que ia tomar chá da tarde e jogar baralho com um dos meus maiores ídolos. Depois as ouvi dizendo que a Amanda Palmer (que é quem eu quero ser quando eu crescer) era uma "sweet girl". Esse é o blog de uma delas, falando sobre o evento. Tem fotos boas. Não pedi pra me levarem no backstage, nem nada, porque sou legal, não queria atrapalhar e idiota.
Esperei uma hora na fila até pegar meu ingresso e entrar no teatro. Era um dos teatros mais chiques que eu lembro de ter estado. Com bar servindo coquetéis, a água mais cara da minha vida, decoração kitsch nas paredes, cortinas roxas de veludo enormes no palco e 1800 cadeiras vermelhas também de veludo. Estava na fila P, mas pelo menos era no corredor, então não tinha nenhuma cabeça na minha frente. O evento demorou pra começar porque ainda tinham pessoas comprando ingressos na porta, mas não foi necessário que ninguém sentasse no chão. Enquanto isso eu lia meu Deuses Americanos (finalmente em papel!) na edição de aniversário de 10 anos, autografada, que comprei junto com o convite.
E então começou. E foi maravilhoso. Eu já tinha visto entrevistas no youtube do neil e até já tinha ouvido um podcast com entrevista sua, mas vê-lo ao vivo foi... Ele é tão inteligente e engraçado e culto e tem a voz mais sexy, com aquele sotaque britânico e arrastando as palavras no final das frases. Ele é exatamente o que escreve: parece gótico, mas é de uma delicadeza e um amor incrível. Até quando ele reclama de alguma coisa, faz isso com uma graça... E ele tem mãos bonitas. Ele falou do livro e da série da HBO e de apadtações e de Dr Who e da sua adolescência e de religião e da Wikipédia e da vida. E fizeram uma leitura em voz alta de uma das minha partes preferidas do livro, que se passa aqui em Los Angeles. E foi maravilhoso e engraçado e eu sou uma pessoa muito feliz que se repete de embriaguez e satisfação.
E na volta pra casa me perdi numa cidade grande e nova, à meia-noite, sem celular, nem número nenhum pra ligar. E com fome desde que o evento começou. Mas eventualmente consegui um Subway 24 horas e consegui voltar pra casa. Pelo menos eu tinha um livro muito grande pra bater em alguém que eventualmente quisesse me incomodar. Mas tirando isso, foi ótimo.
E vou postar alguma fotos pra compensar o texto gigantesco.
4.7.11
Sobre Arte
Sabendo que a exposição do Tim Burton ia ser no LACMA, resolvi pesquisar o museu pra ver o que mais tinha de legal lá. Descobri que ele é tipo o Louvre de Los Angeles: um museu gigantesco, mas, diferentemente do Louvre, tinha um pouquinho de tudo. Me programei pra passar a tarde toda lá porque, vocês sabem, eu adoro museus e, sobretudo, adoro arte.
Cheguei e me deparei com uma fila imensa, de meia hora, já que, aparentemente, o Tim Burton realmente é um diretor muito popular e todo mundo queria ver a exposição dele. Era 2h30. Me colocaram na exposição Tim Burtoniana das 5h00. Quando você é assim meio indie, como eu, é meio chato descobrir que seu maior ídolo cinematográfico é tão popular. Não que eu já não soubesse disso. Enfim. Eu ainda tinha duas horas e meia pra olhar todo o resto do museu. Peguei o mapa e eis que vejo que o quadro do Magritte, aquele do cachimbo, ficava ali!
Rodei todo o andar da arte moderna, passando por Pollock, Picasso, Man Ray, Mondrian, aqueles quadros horrorosos de quadrados e listras e mais um monte de obras legais e chatas, pais e filhos rindo e apontando pra órgãos sexuais de quadros e nada de Magritte!
Resolvi perguntar pra uma daquelas moças que ajudam pessoas perdidas nos museus: segurei o mapa e mostrei o quadro que eu queria ver (porque eu esqueci o nome do pintor, sempre confundindo-o com o Matisse, que eu odeio; e porque eu não lembrava como dizia cachimbo em inglês). A moça sabia onde ficava e me levou até a única sala que eu não tinha entrado. Ficou me explicando o sentido do quadro, que eu já tinha estudado em umas três matérias diferentes da faculdade, e me contando da exposição dele que o museu teve há uns tempos atrás. E eu só queria que ela me deixasse sozinha pra eu poder tirar minha foto idiota.
Sim, senhoras e senhores: a foto idiota. Eu odeio gente que tira foto com quadro. Colocam no Facebook "Eu e Picasso", porque é o único artista que conhecem. Odeio mais quem tira foto do quadro pra mostrar pros parentes o quadro que viu no museu. Anota o nome. Tem tudo na internet, garanto. Em qualidade bem melhor que seu iphone nessa luz mais ou menos de museu vai conseguir capturar. Acho falta de respeito com a obra. Só pode se for fazer piada com a obra. Ou citação. Ou os dois juntos, assim, bem artístico. Mas, mesmo que for citação ou (principalmente) se for piada, quase sempre continua sendo uma foto idiota.
Mas, sabem, passei uns bons 3 semestres da minha vida estudando esse quadro em especial do Magritte. Eu o acho quase ou mais foda que o próprio Dali e de todos os modernistas ele só perde pro Man Ray (porque o Man Ray fez tudo). E, além disso, eu precisava mostrar pra todos os meus coleguinhas que estudaram o mesmo quadro comigo que eu vi o bendito quadro, ao vivo.
Então eu fiz isso:
A idéia era fazer mais cara de feliz, mas tinha muita gente na sala e eu fiquei com vergonha. Tenho certeza que o pintor aprovaria.
obs.: Sim, leitores! Estou em Los Angeles! Em breve sai um post sobre Hollywood.
Cheguei e me deparei com uma fila imensa, de meia hora, já que, aparentemente, o Tim Burton realmente é um diretor muito popular e todo mundo queria ver a exposição dele. Era 2h30. Me colocaram na exposição Tim Burtoniana das 5h00. Quando você é assim meio indie, como eu, é meio chato descobrir que seu maior ídolo cinematográfico é tão popular. Não que eu já não soubesse disso. Enfim. Eu ainda tinha duas horas e meia pra olhar todo o resto do museu. Peguei o mapa e eis que vejo que o quadro do Magritte, aquele do cachimbo, ficava ali!
Rodei todo o andar da arte moderna, passando por Pollock, Picasso, Man Ray, Mondrian, aqueles quadros horrorosos de quadrados e listras e mais um monte de obras legais e chatas, pais e filhos rindo e apontando pra órgãos sexuais de quadros e nada de Magritte!
Resolvi perguntar pra uma daquelas moças que ajudam pessoas perdidas nos museus: segurei o mapa e mostrei o quadro que eu queria ver (porque eu esqueci o nome do pintor, sempre confundindo-o com o Matisse, que eu odeio; e porque eu não lembrava como dizia cachimbo em inglês). A moça sabia onde ficava e me levou até a única sala que eu não tinha entrado. Ficou me explicando o sentido do quadro, que eu já tinha estudado em umas três matérias diferentes da faculdade, e me contando da exposição dele que o museu teve há uns tempos atrás. E eu só queria que ela me deixasse sozinha pra eu poder tirar minha foto idiota.
Sim, senhoras e senhores: a foto idiota. Eu odeio gente que tira foto com quadro. Colocam no Facebook "Eu e Picasso", porque é o único artista que conhecem. Odeio mais quem tira foto do quadro pra mostrar pros parentes o quadro que viu no museu. Anota o nome. Tem tudo na internet, garanto. Em qualidade bem melhor que seu iphone nessa luz mais ou menos de museu vai conseguir capturar. Acho falta de respeito com a obra. Só pode se for fazer piada com a obra. Ou citação. Ou os dois juntos, assim, bem artístico. Mas, mesmo que for citação ou (principalmente) se for piada, quase sempre continua sendo uma foto idiota.
Mas, sabem, passei uns bons 3 semestres da minha vida estudando esse quadro em especial do Magritte. Eu o acho quase ou mais foda que o próprio Dali e de todos os modernistas ele só perde pro Man Ray (porque o Man Ray fez tudo). E, além disso, eu precisava mostrar pra todos os meus coleguinhas que estudaram o mesmo quadro comigo que eu vi o bendito quadro, ao vivo.
Então eu fiz isso:
A idéia era fazer mais cara de feliz, mas tinha muita gente na sala e eu fiquei com vergonha. Tenho certeza que o pintor aprovaria.
obs.: Sim, leitores! Estou em Los Angeles! Em breve sai um post sobre Hollywood.
30.6.11
Hollywood
Hollywood Bulevard, amigos, parece a 25 de março. Deborah inspira a fumaça da ponta da cigarrilha, olha, por baixo dos óculos de meia lua, para seus arredores e expira devagar, desprezando tudo ao seu redor. Mas é sério, acho que a maior característica de Hollywood Bulevard é ser o reino do kitsch e do piegas. Assim, bem cinema, mesmo. Aquilo que, de longe, por trás da lentes, na tela, parece lindo. Mas aí quando vc vai olhar o figurino ao vivo, sempre parece ter glitter demais. E nada no mundo deve ter glitter. Nem um pouquinho. Mas é legal, justmente por ser assim, tão brega. Tem que entrar na brincadeira. Achar as estrelas no chão, ver as coisas bregas dos giftshops caríssimos - e procurar pelas mesmas coisas em outros bairros menos badalados -, olhar os cinemas pisca-piscantes e tirar foto das celebridades em cosplays ruins na frente do Kodak Theater. Que, nas noites que não tem Oscar, é simplesmente um shoppingzão gigante, com todas as lojas do mundo e balcãozinhos de onde as pessoas tiram fotos da plaquinha de Hollywood. Da distância, a placa fica imperceptível na câmera e é necessário procurar por alguns minutos até achá-la ao vivo, mas olhando lá de cima é realmente muito legal. Você finalmente sente que está em Los Angeles e é por isso que todas aquelas pessoas estão falando inglês com você.
E eu tirei algumas fotos, mas não muitas porque, vocês já devem ter percebido, não é o lugar mais fotogênico do mundo. Cliquem na primeira imagem pra ver a plaquinha.
E eu tirei algumas fotos, mas não muitas porque, vocês já devem ter percebido, não é o lugar mais fotogênico do mundo. Cliquem na primeira imagem pra ver a plaquinha.
21.6.11
Sobre lojas
Se eu não fosse seja lá o que eu sou hoje, eu teria uma empresinha. Empresinha querendo dizer uma lojinha. Tipo uma livraria. Ou uma papelaria. Ou uma loja de coisas crafts e material de arte, cheio de botões, tintas que não sei usar e giz papel. Ah, e papel colorido. Por toda a loja, de todos os tipos. E canetas bonitas e lápis com penduricalhos bonitos e inúteis. E aqueles clipes gigantes que custam caro e nunca realmente usamos. E daqueles durex coloridos. Porque toda boa papelaria/loja de crafts é recheada de coisas bonitas e inúteis.
Acho que o que eu mais queria ter era um bom sebo. Cheio de livos interessantes com capas bonitas. E livros de arte que não custam 500 reais. E quadrinhos, um montão deles. E livros raros. E aqueles bem velhos que cheiram bem. E aqueles que têm cartas de amor no meio. Eu deixaria as cartas de amor no meio como brinde. Acho bonito, declarações e dedicatórias pra pessoas estranhas e antigas, das quais sabemos apenas o nome e quiçá a data.
Mas uma coisa que eu sempre pensei em ter, no tempo que eu sonhava em ser cineasta, era abrir um cinema. Daqueles meio cineclube, no meio da rua, fora de shoppings center, que passaria filmes fora do circuito comercial e filmes antigos, à minha escolha e à escolha dos clientes, que sempre chegariam pedindo filmes antigos de países distantes e que eu conheceria pelo nome. E meu cinema teria uma exposição de cartazes de filmes diferentes. E teria cadeiras de tecido vermelho, porque todo bom cinema tem cadeiras de tecido vermelho. E pipoca doce, claro.
Acho que o que eu mais queria ter era um bom sebo. Cheio de livos interessantes com capas bonitas. E livros de arte que não custam 500 reais. E quadrinhos, um montão deles. E livros raros. E aqueles bem velhos que cheiram bem. E aqueles que têm cartas de amor no meio. Eu deixaria as cartas de amor no meio como brinde. Acho bonito, declarações e dedicatórias pra pessoas estranhas e antigas, das quais sabemos apenas o nome e quiçá a data.
Mas uma coisa que eu sempre pensei em ter, no tempo que eu sonhava em ser cineasta, era abrir um cinema. Daqueles meio cineclube, no meio da rua, fora de shoppings center, que passaria filmes fora do circuito comercial e filmes antigos, à minha escolha e à escolha dos clientes, que sempre chegariam pedindo filmes antigos de países distantes e que eu conheceria pelo nome. E meu cinema teria uma exposição de cartazes de filmes diferentes. E teria cadeiras de tecido vermelho, porque todo bom cinema tem cadeiras de tecido vermelho. E pipoca doce, claro.
11.6.11
Virando adulto
A coisa mais importante, acho, é achar o que você quer fazer. Você. Não seus amigos, seu namorado, sua família. Achar alguma coisa que você acha que faz relativamente bem e que gosta de fazer. É um caminho longo, tortuoso, cheio de voltas, tropeços, tombos, quedas de prédios altíssimos, dor, lágrimas e suor. Pare de tentar ser seu amigo mais talentoso ou tudo que seus pais queriam ou aquele blogueiro que você mais gosta. É importante perceber que somos todos diferentes e fazemos coisas diferentes. E que você ainda vai descobrir algo que gosta de estudar e que gosta de fazer, diferente de todo mundo. E vai conseguir que alguém te pague por isso - porque pagar o aluguel, o capuccino do lugar onde você rouba o wifi, comprar lentes novas pra câmera e livros novos e viajar pra Istambul ou mesmo pra Ouro Preto são coisas necessárias.
Mas antes de viajar o mundo e redecorar a casa do jeito que você sempre quis, tem que haver dinheiro. E é necessário um emprego que te faça feliz. Você passa um terço da sua vida fazendo isso. Então faça direito.
----
E eis o projeto que me fez tão feliz. Espero que gostem. (Não tem som.)
Mas antes de viajar o mundo e redecorar a casa do jeito que você sempre quis, tem que haver dinheiro. E é necessário um emprego que te faça feliz. Você passa um terço da sua vida fazendo isso. Então faça direito.
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E eis o projeto que me fez tão feliz. Espero que gostem. (Não tem som.)
29.4.11
Sobre animação
Eu adoro desenhos animados. 2D e stop-motion, de preferência, tendo sido criada assistindo aos filmes da Disney. Aí eu resolvi que queria virar animadora profissionalmente. E aí caiu na minha mão de fazer a abertura para um projeto de conclusão de curso de televisão e eu inventei de animar - no Photoshop, já que tenho um tablet, mas não uma mesa de animação (daquelas de madeira, inclinadas, com lâmpada embaixo, pra poder ver o desenho anterior).
Tendo assistido ao making-of que passava depois do filme no VHS da Branca de Neve e de outros clássicos, eu aprendi que pra fazer um desenho bem legal vc tinha que desenhar o cenário em uma folha, e cada personagem que se mexia em folhas separadas, pra facilitar o trabalho. Lendo livros a respeito, aprendi que se anima cada parte do corpo do personagem de uma vez e que, principalmente, se você não quer ter trabalho, nem comece a animar. Quer dizer, é difícil o suficiente, né?
Mas não, você fez aula de história do cinema I e II, fez de edição, aprendeu tudo sobre movimentos de câmera e enquadramento, tem zilhões de filmes bacanas no repertório e não consegue fazer uma cena com planos parados. Travelling é seu nome do meio. Os personagens precisam dançar ENQUANTO a câmera se aproxima. O olhar do expectador precisa passear pela mesa de buraco.
E sabe a píor parte? A pior parte é que quem escreveu o roteiro foi você mesmo. E enquanto isso, você não consegue fazer uma linha reta com o tablet.
Ainda temos um mês. E 360 quadros pra fazer.
Tendo assistido ao making-of que passava depois do filme no VHS da Branca de Neve e de outros clássicos, eu aprendi que pra fazer um desenho bem legal vc tinha que desenhar o cenário em uma folha, e cada personagem que se mexia em folhas separadas, pra facilitar o trabalho. Lendo livros a respeito, aprendi que se anima cada parte do corpo do personagem de uma vez e que, principalmente, se você não quer ter trabalho, nem comece a animar. Quer dizer, é difícil o suficiente, né?
Mas não, você fez aula de história do cinema I e II, fez de edição, aprendeu tudo sobre movimentos de câmera e enquadramento, tem zilhões de filmes bacanas no repertório e não consegue fazer uma cena com planos parados. Travelling é seu nome do meio. Os personagens precisam dançar ENQUANTO a câmera se aproxima. O olhar do expectador precisa passear pela mesa de buraco.
E sabe a píor parte? A pior parte é que quem escreveu o roteiro foi você mesmo. E enquanto isso, você não consegue fazer uma linha reta com o tablet.
Ainda temos um mês. E 360 quadros pra fazer.
23.4.11
Futebol
Uma das coisas que eu acho mais fascinante no universo masculino é a atitude em relação ao futebol. Claro que não se trata exclusivamente de um problema do sexo oposto, mas eu conheço um número significativamente maior de homens apaixonados por esporte que mulheres. Os motivos sociológicos disso me ultrapassam, mas isso não importa, não por enquanto. Parece que o esporte é para os homens o que a moda é para as mulheres (salvos as devidas proporções): ambos são de uma importância intangível para o outro.
Me espanto com discussões calorosas em mesas de bar ou mesmo em sofás domésticos sobre as posições dos jogadores em campo, as mesas redondas no rádio e na televisão, a quantidade de programas dedicadas exclusivamente a isso em todos os canais de televisão aberta, os canais inteiros na tv fechada apenas sobre este único assunto. Me impressiona a ferocidade dos assuntos comentados, as certezas absolutas, o tempo e, principalmente, o dinheiro dedicado a isso. Tudo isso faz parecer que futebol, em especial, é o assunto mais importante do mundo. Supera a política externa norte-americana, as crises politico-sociais dos países árabes, a economia brasileira e todos os desastres naturais do Japão.
O melhor, na verdade, é o descaso dos jogadores, técnicos, presidentes de clubes em relação ao próprio time. Os jogadores mudam a cada ano, indo para onde lhes pagam mais, como se fosse só outro emprego, escalações para clubes maiores, mais importantes e, claro, com salários mais formosos. Paixão é pelo lado dos torcedores, pelos comentaristas incansáveis. Torcem por um brasão, apenas por um símbolo, enquanto carregam todo o sofrimento de uma equipe inteira nas costas.
Me espanto com discussões calorosas em mesas de bar ou mesmo em sofás domésticos sobre as posições dos jogadores em campo, as mesas redondas no rádio e na televisão, a quantidade de programas dedicadas exclusivamente a isso em todos os canais de televisão aberta, os canais inteiros na tv fechada apenas sobre este único assunto. Me impressiona a ferocidade dos assuntos comentados, as certezas absolutas, o tempo e, principalmente, o dinheiro dedicado a isso. Tudo isso faz parecer que futebol, em especial, é o assunto mais importante do mundo. Supera a política externa norte-americana, as crises politico-sociais dos países árabes, a economia brasileira e todos os desastres naturais do Japão.
O melhor, na verdade, é o descaso dos jogadores, técnicos, presidentes de clubes em relação ao próprio time. Os jogadores mudam a cada ano, indo para onde lhes pagam mais, como se fosse só outro emprego, escalações para clubes maiores, mais importantes e, claro, com salários mais formosos. Paixão é pelo lado dos torcedores, pelos comentaristas incansáveis. Torcem por um brasão, apenas por um símbolo, enquanto carregam todo o sofrimento de uma equipe inteira nas costas.
15.4.11
Sobre coleções
Eu sou uma pessoa muito prática, ao contrário do que tudo indicaria. Acho que as únicas coisas inúteis que deveríamos cultivar são as histórias - e nem elas considero inúteis. Daí tenho horror a arte só para ser bonitinha, a peças de roupa que só servem de adereço e demais tranqueiras que poluem o ambiente. Decoração é válido, mas só se tiver valores sentimentais. Minha mãe e minha irmã, por outro lado, virginianas, são pessoas bem apegadas às coisas e guardam todas as bugigangas como lembrancinhas de todas as coisas do mundo. Aí, por algum motivo, aprendi que era certo guardar as coisas. E comecei a guardar, mesmo sem querer muito, agendas de outros ano, cartazes de exposições em que eu fui, convites de coisas, aqueles cartões postais com propagandas bacanas, agendas antigas, tudo.
Tive uma coleção bem grande de entradas de cinema. Eu gostava bastante, mas parei de juntar de uns anos pra cá quando começaram a imprimi-los em rolo de papel de recibo de cartão de crédito, o que faz com que a tinta saia com facilidade e percamos a recordação de qual ingresso é de que filme, tirando totalmente o sentido deles. Maldita modernidade.
Já colecionei ímãs, papel de fichário, papel de carta, adesivos, chaveiros, coisas de girafas, tive compulsão por brincos, esmaltes, essas coisas pequenas e baratas que usamos uma única vez. Mas parei. Chega uma hora que perde o sentido. Mais fácil só consumir o que se gosta e o que se vai usar em vez de só ir tentando juntar mais e mais coisas.
"O DVD é bom?"
"Não, só comprei pra completar a coleção."
Capitalismo selvagem. A parte boa de juntar coisa inútil é depois poder jogar tudo fora. E eu adoro jogar coisas fora.
Tive uma coleção bem grande de entradas de cinema. Eu gostava bastante, mas parei de juntar de uns anos pra cá quando começaram a imprimi-los em rolo de papel de recibo de cartão de crédito, o que faz com que a tinta saia com facilidade e percamos a recordação de qual ingresso é de que filme, tirando totalmente o sentido deles. Maldita modernidade.
Já colecionei ímãs, papel de fichário, papel de carta, adesivos, chaveiros, coisas de girafas, tive compulsão por brincos, esmaltes, essas coisas pequenas e baratas que usamos uma única vez. Mas parei. Chega uma hora que perde o sentido. Mais fácil só consumir o que se gosta e o que se vai usar em vez de só ir tentando juntar mais e mais coisas.
"O DVD é bom?"
"Não, só comprei pra completar a coleção."
Capitalismo selvagem. A parte boa de juntar coisa inútil é depois poder jogar tudo fora. E eu adoro jogar coisas fora.
2.4.11
Havia uma ruína no meu bairro da qual eu gostava muito. Eram os escombros de uma antiga fábrica de qualquer coisa, abandonada há anos. Haviam buracos nas paredes, em certos lugares não havia mais nem sinal do telhado, estava sujo e havia mofo nas paredes. A vegetação crescia solta por onde havia espaço, conquistando novamente o seu lugar, depois de perdê-lo, em outro tempo, para os homens e seu mundo de concreto. Era maravilhoso. Apesar de despedaçado, parecia um símbolo de resistência à chuva, ao vento, ao tempo. Era como um corpo, resistindo para manter-se em pé apesar das adversidades.
Resolvi fotografá-lo em um dia de sol em meio a semanas de muita chuva. Dei sorte por encontrar o céu aberto, perfeito para cores bonitas. Fotografei minha musa, com um filme de 36 poses coloridas e uma câmera analógica da universidade. Gostei de algumas fotos, outras não.
Um mês depois, descobri que finalmente o homem e seu mundo de concreto venceu. Derrubaram tudo que tinha sobrado da construção. Agora só há um grande terreno baldio, onde nem a grama sobrevive. Me entristeci, mas sinto que isso serve para deixar minhas fotografias - e aquele momento - muito mais especiais.
Resolvi fotografá-lo em um dia de sol em meio a semanas de muita chuva. Dei sorte por encontrar o céu aberto, perfeito para cores bonitas. Fotografei minha musa, com um filme de 36 poses coloridas e uma câmera analógica da universidade. Gostei de algumas fotos, outras não.
Um mês depois, descobri que finalmente o homem e seu mundo de concreto venceu. Derrubaram tudo que tinha sobrado da construção. Agora só há um grande terreno baldio, onde nem a grama sobrevive. Me entristeci, mas sinto que isso serve para deixar minhas fotografias - e aquele momento - muito mais especiais.
17.3.11
memórias do deserto
Eu fiquei um mês inteiro sem postar e nem contei o motivo. Quem me acompanha no flickr deve ter percebido um álbum inteiro de Israel. Isso não é um guiazinho de como ficar lá. Eu só passei 10 dias, em uma viagem em grupo, tombando de cidade em cidade, ficando alguns dias em cada um. Eu resolvi escrever isso porque muita gente têm muitas opiniões sobre lá, mas não faz idéia de como as pessoas vivem ou de como realmente é.
É muito caro viajar pro Oriente Médio. É longe e o vôo leva 14 horas. Eu fui com um grupo de jovens judeus. Judaísmo é quase a maçonaria, então tem uns esquemas de ajuda mútua muito interessantes. Pra mim, filha de um judeu, a viagem saiu de graça. Se você tem entre 18 e 26 anos, também é judeu, tem parentes judeus ou é muito bom em fingir tudo isso, vá também. Eu super recomendo. Como a viagem toda foi gratuita, eu não sei dizer sobre transporte público ou sobre onde ficar, pra quem quer ir por conta. Mas a boa notícia é que o shekel (moeda de lá) vale 0,47 reais, então tudo (menos comida) fica incrivelmente barato. O que também é uma coisa ruim, faz você gastar bem mais, já que tudo vale a pena.
A grande vantagem de Israel é que é um país muito, muito pequeno. Então em pouco tempo dá pra andar por todo ele. E é legal andar por tudo. Você vê desertos, vê plantações no meio do deserto, vê cidades árabes, cidades judias, a Faixa de Gaza, zilhões de igrejas antigas, o Muro das Lamentações e pedras, muitas pedras. O país todo não é uma grande ruína, mas é legal porque em todo canto há resquícios históricos impressionantes: construções romanas, muralhas dos cruzadas, muralhas napoleônicas (sim!) e, mais recentemente, buracos de bala de todas as guerras e intifadas. Se você gosta de pedras e ruínas, é o lugar mais legal do mundo.
De maneira geral, é um lugar maravilhoso. As pessoas vivem bem, a cultura é ótima, há realmente uma mistura grande com os árabes (as origens são praticamente as mesmas), todo mundo é bonito, as cidades são bem limpas e lindas, cheias de construções de pedra, come-se bem - apesar de ser caro -, a cerveja local é boa, o deserto é fantástico, andar de camelo é muito divertido, o mar morto é muito mais legal do que dizem e tem bijuterias lindas, lenços maravilhosos, roupas diferentes e os melhores cremes do mundo (sem cheiro!) por quase nada. Além disso, acho que todo mundo alguma vez na vida tem que conhecer Jerusalém.
Mas aí tem o outro lado. Há militares armados em todos os lugares e grupos de turistas com mais de 10 pessoas precisam ter um segurança armado junto. E aí você lembra que o único motivo de você estar lá, ouvindo hebraico na rua e comendo seu falafel feliz é porque tem um monte de gente presa do outro lado do muro, não tendo as mesmas oportunidades. E pensa em todas as pessoas que morreram pra defender no que acreditam e em como muitos deles eram tão jovens. E tudo isso está presente no ar, independente de onde você estiver. E pesa. E oprime de um jeito inimaginável.
Eu fiquei um mês inteiro sem postar e nem contei o motivo. Quem me acompanha no flickr deve ter percebido um álbum inteiro de Israel. Isso não é um guiazinho de como ficar lá. Eu só passei 10 dias, em uma viagem em grupo, tombando de cidade em cidade, ficando alguns dias em cada um. Eu resolvi escrever isso porque muita gente têm muitas opiniões sobre lá, mas não faz idéia de como as pessoas vivem ou de como realmente é.
É muito caro viajar pro Oriente Médio. É longe e o vôo leva 14 horas. Eu fui com um grupo de jovens judeus. Judaísmo é quase a maçonaria, então tem uns esquemas de ajuda mútua muito interessantes. Pra mim, filha de um judeu, a viagem saiu de graça. Se você tem entre 18 e 26 anos, também é judeu, tem parentes judeus ou é muito bom em fingir tudo isso, vá também. Eu super recomendo. Como a viagem toda foi gratuita, eu não sei dizer sobre transporte público ou sobre onde ficar, pra quem quer ir por conta. Mas a boa notícia é que o shekel (moeda de lá) vale 0,47 reais, então tudo (menos comida) fica incrivelmente barato. O que também é uma coisa ruim, faz você gastar bem mais, já que tudo vale a pena.
A grande vantagem de Israel é que é um país muito, muito pequeno. Então em pouco tempo dá pra andar por todo ele. E é legal andar por tudo. Você vê desertos, vê plantações no meio do deserto, vê cidades árabes, cidades judias, a Faixa de Gaza, zilhões de igrejas antigas, o Muro das Lamentações e pedras, muitas pedras. O país todo não é uma grande ruína, mas é legal porque em todo canto há resquícios históricos impressionantes: construções romanas, muralhas dos cruzadas, muralhas napoleônicas (sim!) e, mais recentemente, buracos de bala de todas as guerras e intifadas. Se você gosta de pedras e ruínas, é o lugar mais legal do mundo.
De maneira geral, é um lugar maravilhoso. As pessoas vivem bem, a cultura é ótima, há realmente uma mistura grande com os árabes (as origens são praticamente as mesmas), todo mundo é bonito, as cidades são bem limpas e lindas, cheias de construções de pedra, come-se bem - apesar de ser caro -, a cerveja local é boa, o deserto é fantástico, andar de camelo é muito divertido, o mar morto é muito mais legal do que dizem e tem bijuterias lindas, lenços maravilhosos, roupas diferentes e os melhores cremes do mundo (sem cheiro!) por quase nada. Além disso, acho que todo mundo alguma vez na vida tem que conhecer Jerusalém.
Mas aí tem o outro lado. Há militares armados em todos os lugares e grupos de turistas com mais de 10 pessoas precisam ter um segurança armado junto. E aí você lembra que o único motivo de você estar lá, ouvindo hebraico na rua e comendo seu falafel feliz é porque tem um monte de gente presa do outro lado do muro, não tendo as mesmas oportunidades. E pensa em todas as pessoas que morreram pra defender no que acreditam e em como muitos deles eram tão jovens. E tudo isso está presente no ar, independente de onde você estiver. E pesa. E oprime de um jeito inimaginável.
13.3.11
A Nina, cujo maravilhoso blog de prosa triste recomendo, em passou um meme. E, pela primeira vez em muito tempo, trata-se de um meme muito interessante. Diz ela que era um questionário do Proust.
Vamos a ele:
1. Qual é para você o cúmulo da miséria?
Fotografar-se sorrindo em frente à Faixa de Gaza (realmente vi acontecer, quase morri de desilusão humana) ou qualquer outra exploração de sofrimento, principalmente na tv.
2. Onde gostaria de viver?
Em um apartamento pequeno, com janelas grandes, onde entrasse muita luz de dia e de onde pudesse olhar para a cidade à noite, próximo a uma livraria, uma padaria, uma farmácia e um ponto de metrô.
3. Qual seu ideal de felicidade terrestre?
Poder viver do que se ama e com quem se ama de verdade.
4. Quais as faltas que merecem sua indulgência?
Todas as que já cometi.
5. Que qualidade prefere no homem?
A firmeza.
6. Que qualidade prefere na mulher?
Parece machista, mas a graça, como quando falamos de uma bailarina.
7. Por qual personagem da literatura se apaixonaria?
Um dos gêmeos Weasley, provavelmente o Jorge.
8. Seu palavrão preferido?
Porra. É quase um ponto de exclamação.
9. Qual seria para você a maior desgraça?
Morrer sem ter criado nada.
10. Como gostaria de morrer?
Sendo amada.
Vamos a ele:
1. Qual é para você o cúmulo da miséria?
Fotografar-se sorrindo em frente à Faixa de Gaza (realmente vi acontecer, quase morri de desilusão humana) ou qualquer outra exploração de sofrimento, principalmente na tv.
2. Onde gostaria de viver?
Em um apartamento pequeno, com janelas grandes, onde entrasse muita luz de dia e de onde pudesse olhar para a cidade à noite, próximo a uma livraria, uma padaria, uma farmácia e um ponto de metrô.
3. Qual seu ideal de felicidade terrestre?
Poder viver do que se ama e com quem se ama de verdade.
4. Quais as faltas que merecem sua indulgência?
Todas as que já cometi.
5. Que qualidade prefere no homem?
A firmeza.
6. Que qualidade prefere na mulher?
Parece machista, mas a graça, como quando falamos de uma bailarina.
7. Por qual personagem da literatura se apaixonaria?
Um dos gêmeos Weasley, provavelmente o Jorge.
8. Seu palavrão preferido?
Porra. É quase um ponto de exclamação.
9. Qual seria para você a maior desgraça?
Morrer sem ter criado nada.
10. Como gostaria de morrer?
Sendo amada.
12.3.11
26.2.11
Pra compensar a falta de posts, um bem grandão. E em inglês.
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The world ended yesterday. God must have remade the earth while we slept for it was impossible for anything to have survived the storm. Recreated, the city was badly made. The were hardly any trees standing and most of the buildings were broken. Timothy, the crazy man, said that this was Earth's reaction for the way we were badly treating it. He said there were too many dirty factories and too many oil carridges. But I am skeptic. I know it was God, punishing us for our filthy habits, for trying to imitate his creations in our mecanical way: cinemaskopes and photography and trying to create life. But why then did God leave my laboratory intact? It was I, after all, who was trying to create the most perfect flower. The flower beautiful enough for my bride's bouquet - splendid as her perfect blue eyes. I knew this would happen, the punishment, but I believed in forgiveness, for it was soulfully for love.
Pergaps I was right all along. Perhaps He is more angry with some other inventor in the land.
I decided to search everywhere for some source of evilness desguised as science. I knew of most the other alchemist of the town. Damien did his best to turn iron into gold, but the best he got was melted iron. He made his melted iron into utensils of all sorts and sold them to people who couldn't. I guess he really did manage to turn it into gold. Nevertheless, he continues to try his original endeavor. I don't believe God would be angry with a merchant. Tristan was strugglind against Death. He did what he could to discover imortality. The most he got was making a frog stir after it was already cold. God would never destroy all of us because of such failure. Tulip, who besides his name was truely a man, spent the most of his days trying to decifer old indian parchments. No one knew whether he is accomplishing his deed or not, I knew I must begin searching at Tulip.
Reaching his study room, I felt he had something to hide.
"You have survived the storm, I see," I said to him, walking through the wreck of his house.
"Yes," he answered me, stashing his papers away into the open drawers of his old wooden desk.
"What are you doing here, Andrew?" he asked me, on a manner that was not very polite.
"I think the Lord is punishing us," I said, recovering myself of his previous assault.
"What can he possibly be punishing us for, you fool?" he spat coarsely.
"For creating," I said, defending my theory. "Only the Lord can create life and modify it."
"It was only a storm," he said, now more quietly. "There is no rath of god in the weather."
"Is that what the indians tell you?" I was violent now. I was certain of being right. I must prove myself to this liar.
"The indians tell me to create. They say there is no god. Only man, women and nature. They say we are part of nature, that we are nothing above it."
"No God!" I must have screamed, he made me so angry. "How can you say there is no God? Are you mad?!"
He chuckled lightly, the kind of laugh that absolutely does not fit this scenario. He smiled at my shock and said, softly:
"Come, I will show you what god has not done."
He moved his desk revealing a trap door that led to the basement. It smelled strongly of formaldehyde even before we took the stairs. Tulip lit a candle and gave it to me. He lit another one for himself and bid me down the steps. The stench of dead bodies only grew stronger, as did my fear of finding out what indeed had caused the storm.
As we walked down, the yellow light of the candel revealed tanks of water containing some form of dead animal. I couldn't make out exactly what it was. Upon reaching the bottommost step, I saw the worst.
It was a bed, simply, with a boy lying on it. He was no older than twelve. At least it looked like a boy, but there was a huge cut with stiches on it where his sex should have been. And then I realised with horror what the things in the tanks were.
"Why are you castrating such young boys?" I asked furiously, unable to accept any answer.
"This in not a boy. She was never a boy, she was only born with the body of a boy, but she is really a girl."
I was startelled. This was the least possible reply I could expect. I could say nothing.
"You see? Your god made this child wrong. I must fix her."
I knew there was nothing wrong with his body. If there was anything to fix, it was his mind. Wasn't psicology such a great art to cure these things? The ridiculous suggestion made me even more angry.
"How dare you! How dare you change what God created! People cannot choose if they want to be man or woman, that is chosen for them and must not change! God has a plan for each of us in our own sex!"
"God doesn't exist," he answered quietly. "And people have the right to choose."
No, I thought, they didn't.
I knew God wanted me to destroy this man. I wandered how many other young boys had been sacrificed by this man.
It felt like rain again when I left the house. The open sky smelled moist and I could almost feel the first drop. It would clean me from the formoldehyde I had thrown Tulip and his horrid sexless creature into. I knew God would never punish me for punishing a heretic.
The world ended yesterday. God must have remade the earth while we slept for it was impossible for anything to have survived the storm. Recreated, the city was badly made. The were hardly any trees standing and most of the buildings were broken. Timothy, the crazy man, said that this was Earth's reaction for the way we were badly treating it. He said there were too many dirty factories and too many oil carridges. But I am skeptic. I know it was God, punishing us for our filthy habits, for trying to imitate his creations in our mecanical way: cinemaskopes and photography and trying to create life. But why then did God leave my laboratory intact? It was I, after all, who was trying to create the most perfect flower. The flower beautiful enough for my bride's bouquet - splendid as her perfect blue eyes. I knew this would happen, the punishment, but I believed in forgiveness, for it was soulfully for love.
Pergaps I was right all along. Perhaps He is more angry with some other inventor in the land.
I decided to search everywhere for some source of evilness desguised as science. I knew of most the other alchemist of the town. Damien did his best to turn iron into gold, but the best he got was melted iron. He made his melted iron into utensils of all sorts and sold them to people who couldn't. I guess he really did manage to turn it into gold. Nevertheless, he continues to try his original endeavor. I don't believe God would be angry with a merchant. Tristan was strugglind against Death. He did what he could to discover imortality. The most he got was making a frog stir after it was already cold. God would never destroy all of us because of such failure. Tulip, who besides his name was truely a man, spent the most of his days trying to decifer old indian parchments. No one knew whether he is accomplishing his deed or not, I knew I must begin searching at Tulip.
Reaching his study room, I felt he had something to hide.
"You have survived the storm, I see," I said to him, walking through the wreck of his house.
"Yes," he answered me, stashing his papers away into the open drawers of his old wooden desk.
"What are you doing here, Andrew?" he asked me, on a manner that was not very polite.
"I think the Lord is punishing us," I said, recovering myself of his previous assault.
"What can he possibly be punishing us for, you fool?" he spat coarsely.
"For creating," I said, defending my theory. "Only the Lord can create life and modify it."
"It was only a storm," he said, now more quietly. "There is no rath of god in the weather."
"Is that what the indians tell you?" I was violent now. I was certain of being right. I must prove myself to this liar.
"The indians tell me to create. They say there is no god. Only man, women and nature. They say we are part of nature, that we are nothing above it."
"No God!" I must have screamed, he made me so angry. "How can you say there is no God? Are you mad?!"
He chuckled lightly, the kind of laugh that absolutely does not fit this scenario. He smiled at my shock and said, softly:
"Come, I will show you what god has not done."
He moved his desk revealing a trap door that led to the basement. It smelled strongly of formaldehyde even before we took the stairs. Tulip lit a candle and gave it to me. He lit another one for himself and bid me down the steps. The stench of dead bodies only grew stronger, as did my fear of finding out what indeed had caused the storm.
As we walked down, the yellow light of the candel revealed tanks of water containing some form of dead animal. I couldn't make out exactly what it was. Upon reaching the bottommost step, I saw the worst.
It was a bed, simply, with a boy lying on it. He was no older than twelve. At least it looked like a boy, but there was a huge cut with stiches on it where his sex should have been. And then I realised with horror what the things in the tanks were.
"Why are you castrating such young boys?" I asked furiously, unable to accept any answer.
"This in not a boy. She was never a boy, she was only born with the body of a boy, but she is really a girl."
I was startelled. This was the least possible reply I could expect. I could say nothing.
"You see? Your god made this child wrong. I must fix her."
I knew there was nothing wrong with his body. If there was anything to fix, it was his mind. Wasn't psicology such a great art to cure these things? The ridiculous suggestion made me even more angry.
"How dare you! How dare you change what God created! People cannot choose if they want to be man or woman, that is chosen for them and must not change! God has a plan for each of us in our own sex!"
"God doesn't exist," he answered quietly. "And people have the right to choose."
No, I thought, they didn't.
I knew God wanted me to destroy this man. I wandered how many other young boys had been sacrificed by this man.
It felt like rain again when I left the house. The open sky smelled moist and I could almost feel the first drop. It would clean me from the formoldehyde I had thrown Tulip and his horrid sexless creature into. I knew God would never punish me for punishing a heretic.
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