30.7.15

Remédios

Esqueci meus remédios por alguns dias. Fui para a casa dos meus pais - para o interior de mim - por alguns dias. Esqueci meus remédios. No primeiro dia tentei me manter calma, me convenci de que não estava dependente deles, que poderia seguir normalmente. 

No meu quarto antigo, nada me pertence. Sobraram apenas as lembranças de mim que não quero mais lembrar. Um lugar que não me pertence mais. Meu quarto antigo se tornou um depósito cor de rosa de personalidades de que não sinto falta e de memórias distorcidas. Confrontei meus pais sobre uma das memórias que mais me machucava. Por que eles me tiraram da escola que mais gostei na vida para me colocarem na escola onde até os professores caçoavam de mim? Mas não, isso nunca aconteceu. Eu é que estava lembrando ao contrário. O que mais eu estou lembrando ao contrário? Será que minhas memórias e minhas preocupações existem de verdade? Estou me tornando a caricatura do que sempre achei que achassem de mim? Alguém mais se importa?

No quarto dia eu sangrei. Não estava preparada para isso. Isso explica as dúvidas, as lágrimas fora de hora e a enxaqueca dos dias anteriores.

Estou sempre exagerando as coisas. Leio os sinais do corpo como símbolos do meu fracasso. 

Mas a falência do corpo não é o fracasso de quem somos? Não é isso que somos? Ciborgues movidos a compostos químicos que tomamos para nos mantermos equilibrados?