25.2.12

Antropofagia

A primeira coisa que se percebia era a piscina vermelha que envolvia a todos. Mergulhados até a cintura, os personagens de longos trajes e máscaras diversas. A figura central, aparentemente uma mulher, com máscara lisa branca com detalhes ao redor dos olhos em negro, mergulhou o dedo indicador na água. O mexeu em movimentos circulares por alguns instantes e, então, submergiu o restante da mão. Puxou um naco de carne para si: esponjoso, cru, sangrando. O sangue escorria pelo braço, para dentro da manga das vestes. Com o outro membro livre, gesticulou grandemente que abrissem os portões.


Do outro lado da porta, a princesa recém-saída do banho, acompanhada pela irmã menor, chegava com ansiedade:

- A rainha pediu que eu a viesse ver.

- Sim, princesa. Pode entrar.

A outra, de pele branquinha, magra, recém-saída da puberdade, de cabelos amarelos e lisos, puxou a toalha em que estava enrolada um pouco mais para cima.

- Eu não deveria estar mais bem-vestida?

- Ela não vai se importar...

A porteira retorceu seu rosto de velha em um sorriso maldoso e estendeu a mão nodoosa para trás de si enquanto os portões se abriam.


Gabrielle, a irmã menor da princesa, andou o mais rápido que pôde para longe dali. Correr levantaria suspeitas. Passou por assassinos e gangues de fuzileiros e grandes trupes criminosas. Precisava de um abraço e alguns instantes para chorar sozinha, mas não em frente a todos estes homens armados. Levantaria suspeitas.

Um lacaio do castelo alcancou a princesinha:

- Não precisa se preocupar, criança. Nada vai acontecer a você.

- Não, - ela disse, enxugando a primeira lágrima do canto dos grandes olhos azuis. - A rainha só se alimenta de primogênitos.