29.11.16

Carregue meu Cadáver - Capítulo 37

Melina tinha bochechas grandes e olhos verdes.

- Você mora com sua mãe? Que fofo! - ela disse, levemente embriagada.

- É ela que mora comigo.

Os dois riram. Antonio indicou o caminho para o seu quarto no porão. Melina tropeçou. Os dois voltaram a rir, mais alto dessa vez. Ele nunca se importava em fazer pouco barulho. Dona Bete nunca tinha reclamado, embora ele soubesse do seu sono leve.

- Tá um cheiro esquisito aqui. - ela disse, logo que entrou no porão - Você tá precisando mesmo de uma mulher, né?

- Tô, sim.

Antonio a puxou pela braço. Mais tarde, ela perceberia a mancha roxa. Ele puxou o cabelo da nuca de Melina, forçando seu rosto para cima. Se beijaram violentamente, um beijo cheio de dentes. Melina gostava de amores brutos. Gostava de sentir o poder apertando seus braços e seus seios, a fúria de ter suas roupas quase rasgadas para fora do corpo, o desejo entre as pernas. Por alguns momentos, se sentia insubstituível, perseguida por um animal morto de fome.

Mas Melina também precisava muito usar o banheiro. Rindo, se desculpou e perguntou onde era. Antonio a abraçou mais forte, acariciou seu sexo para que ela não fosse embora. Mas Melina realmente precisava ir ao banheiro. Tinha ficado tempo demais no bar. Desvencilhou-se de Antonio e se dirigiu para a única outra porta do recinto. Antonio começou a ir atrás dela, rindo. Ela chegou mais rápido e fechou a porta atrás dela.

O cheiro era ainda mais forte dentro do banheiro. Ele realmente precisava que alguém limpasse aquele lugar. Será que ele não tinha mãe?

Melina fez xixi e limpou o lápis do olho que sempre borrava no cantinho. De sutiã, começou a arrumar o cabelo. Percebeu a cortina da banheira. Será que o cheiro vinha de lá?

- Meliii-na!

Desde o bar, Antonio tinha adquirido o costume de chamá-la cantando.

- Por que você tá demorando tanto, Meliii-na?

Melina andou até a cortina. O cheiro era nauseante. Com certeza vinha de lá. Puxou a cortina.

- Meliiii-naaa! Tô aqui de pau duro te esperando, Meliii-naaa!

Melina abriu a porta com força, empurrou Antonio. A adrenalina tinha cancelado o efeito do álcool.

- Tem uma mulher morta na banheira, seu monstro!

Ela correu pelo quarto catando suas roupas pelo chão.

- Ela não tá morta, linda, ela tá só dormindo!

Melina subiu as escadas com passos pesados. Colocou o vestido enquanto andava.

Antonio correu atrás dela, segurou a porta da frente com a mão.

- Fica, Melina. Que isso? Não tem ninguém na banheira!

- Me deixa sair a-go-ra!

- Não grita que você acorda minha mãe.

- Me deixa sair. Eu não vou ser o próximo corpo na sua banheira.

Ela bateu no braço dele, destrancou a porta e saiu.

Na escuridão, Antonio viu que ela discava qualquer coisa no celular. Torceu para ser um táxi, mesmo sabendo que era pouco provável. Pelo menos ele tinha beijado uma menina de olhos verdes.

Voltou para o quarto, entrou no banheiro e viu a cortina escancarada. Ana continuava boiando lá dentro, esquelética, agora sem um dos pés.

- Porra, Ana. - disse Antonio, sem se preocupar em acordar a mãe. - Você sempre estraga tudo.

Esse capítulo faz parte de Carregue meu Cadáver, o livro que estou escrevendo sobre relacionamentos abusivos. Vou postar um capítulo por dia até acabar.
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28.11.16

Carregue meu Cadáver - Capítulo 36

Chorando, Gabriela pegou o telefone da bolsa. Apertou a tela com as mãos tremendo.

– Tia Paulina? Eu sei onde sua filha está.

Gabriela afastou o celular do rosto. Durante o que pareciam horas, a voz de Paulina atravessava o alto falante e ressoava estridentemente pelo quarto. Gabriela se lembrou do motivo de nunca ter passado mais tardes na casa de Ana. 

Gabriela desejou poder passar pelo menos mais uma tarde na casa de Ana.

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25.11.16

Carregue meu Cadáver - Capítulo 35

Antonio gostava que Ana ficasse quietinha enquanto ele fazia o que tinha para fazer. E poderia tirá-la do seu lugar sempre que quisesse. Era maravilhoso. Principalmente agora, que ele estava começando a se cansar dela. Amor, é claro, sempre existia, mas ele começava a se questionar o que mais poderia haver no mundo, além do seu corpinho pequeno. Ele nunca tinha beijado uma mulher de olhos verdes.

Olhou-a dentro da banheira, o rosto virado para baixo, as roupas boianho na superfície do formol. O cheiro. Tinha isso também. Não havia mais perfume que bloqueasse aquele cheiro. Os tornozelos boiavam para fora da água. Ainda macios, as plantas e os dedos permaneciam submersos como a cauda de uma sereia. Apesar de seus muitos defeitos, seu pés eram perfeitos.

Antonio deslizou o dedo indicador pela planta dos pés molhados. Como era bom ter uma namorada desmontável.

Ele voltou para o sofá. Ligou a TV num pornô qualquer. Uma mulher completamente diferente de Ana. Bochechas grandes e olhos verdes. Mais parecida com sua ex-namorada. Gostava dos pés de Ana. Abriu o zíper da calça e se acariciou com os dedos mortos. Viva, Ana sempre reclamava que estava desconfortável. Era muito melhor sem o resto do corpo.

 
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23.11.16

Carregue meu Cadáver - Capítulo 34

– Nossa, filha, que cara é essa?

Até hoje, Gabriela tinha tido bastante sucesso em esconder seus sentimentos quando estava triste. Na verdade era bem simples. Bastava passar silenciosamente pela sala enquanto eles viam TV, como ela fazia todos os dias, entrar no quarto e ficar dentro dele, até que conseguisse fazer o rosto desinchar com água gelada.

Mas hoje foi impossível. Gabriela estava completamente fora de si, além de estar com uma ferida no lugar onde Taís tinha batido sua cabeça na privada. O sangue escorria por trás da orelha e descia pelo seu pescoço, manchando a gola da camiseta azul marinho. Gabriela estava preocupada demais com outras questões para pensar na possibilidade alarmante de uma infecção.

Gabriela olhou para o chão, abriu a porta do quarto e começou a entrar.

– Não é nada, pai.

Então aconteceu alguma coisa que ela jamais previria. Seu pai desligou a televisão.

– É problema de menino, Gabi? Você sabe que pode falar pro seu pai.

Gabriela não sabia. Nunca tinha contado nada íntimo para o pai. Ele nem sabia das recuperações da escola. Ou da sua menstruação. Muito menos sobre meninos.

Ela parou na porta do quarto. Se virou devagar e encarou o pai. Os olhos enrugados a olhavam de volta, com a benevolência de anos de tutela. Próximo, mesmo quando estava distante.

Ela voltou a chorar. O pai levantou do sofá e a abraçou ternamente, acariciando sua cabeça machucada.

– Homem não presta, princesinha. Só eu.

Gabriela finalmente conseguiu se esforçar a falar.

– A Ana morreu, pai. O namorado dela tá carregando ela, como uma boneca. Eu e a Taís… A gente viu os dois no parque de diversões hoje. Foi horrível!

Gabriela ouviu o pai suspirar. Ele a segurou à sua frente.

– Imagina, filha. Você tá vendo coisa onde não tem, não é possível.

Ela sabia, é claro que sabia. Ninguém acreditaria nela.

– Mas eu vi! O braço dela morto no chão! A caveira que sobrou da cara dela! Bichinho saindo da boca! Eu vi!

– Ai, Gabi… Você fica vendo esses filmes de terror e fica cheia das ideias…

– Eu sei o que eu vi!

Gabriela se soltou do pai violentamente e entrou no quarto. Bateu a porta atrás dela. Colocou a cadeira para segurar a maçaneta quando o pai ameaçou entrar.

– Gabriela! Abre essa porta agora!

Gabriela acho melhor tomar um banho antes que sua própria cabeça infeccionasse.
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22.11.16

Carregue meu Cadáver - Capítulo 33

Dona Bete estava lavando a louça do jantar quando ouviu o filho subir as escadas. Geralmente ele subia e sentava no sofá para assistir um filme. Apesar de ele ter sua própria TV no quarto do sótão, Dona Bete tinha comprado a TV grande da sala especialmente para o filho, já que ela mesma só assistia à novela no aparelho do seu quarto. Mas hoje Antonio não ligou a televisão.

Dona Bete ouvir a chave girar na porta da frente.

– Vai sair, filho?

– O André tá dando uma festa. Vou lá na casa dele.

Dona Bete colocou a cabeça para fora da porta da cozinha. A namorada, sempre companheira, não estava com Antonio.

– A Ana não tá aí? Ela não vai com você?

– Ela tá dormindo, mãe. Tá cansada.

Dona Bete saiu da cozinha com as mãos molhadas de sabão e beijou o rosto do filho, com cuidado para não molhar a camisa preta que o rapaz tanto gostava. Desejou que ele tivesse uma boa noite.

Abaixo do assoalho, Ana boiava de barriga para baixo na banheira de formol. Seu olhos leitosos encaravam as possibilidades infinitas que viriam depois do ralo.

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21.11.16

Carregue meu Cadáver - Capítulo 32

– A gente precisa falar pra alguém! Fazer alguma coisa! Qualquer coisa! - disse Taís.

Ela segurava o cabelo de Gabriela para que não caísse dentro do vaso sanitário. Suas mãos tremiam tão violentamente que fazia o topo da cabeça de Gabriela quicar da beirada da porcelana.

– Eu tô dizendo isso há meses - disse Gabriela, baixinho.

Sua voz ecoava do assento e rebatia nas paredes de azulejo como se praguejasse.

Gabriela tirou as mãos da amiga da sua cabeça e se sentou no chão sujo do banheiro público. Respirou profundamente com os braços largados ao longo do corpo. Taís sentou ao seu lado e começou a puxar o próprio cabelo das têmporas.

– Cara, ela tá apodrecendo! Ela tá sem braço! Ela tá sem nariz! Tinha um verminho na boca dela!

Taís gritou por eras, como tinha gritado desde o momento em que Antonio arrastou o corpo de sua amiga de infância para longe delas. Gabriela não conseguia responder. Tentava se concentrar na própria respiração para não colocar os sucos gástricos para fora.

– Como ela se sujeita a isso? - perguntou Taís, quase aos berros.

– Acho que ela não teve escolha… - respondeu Gabriela, olhando para o chão.

Taís finalmente parou de falar. Como ela poderia não se sujeitar? O silêncio encheu o banheiro como uma catedral. Ouvia-se apenas o pingo insistente de uma pia defeituosa, amplificada milhões de vezes pela reverberação da vergonha.

– A gente tem que contar pra alguém.- Taís disse, finalmente, enquanto sentia sua própria pele apodrecer. - Pros pais da Ana, pra polícia, pra delegacia da mulher. Botar na tv, na internet.

– Mas, Taís, quem é que vai acreditar na gente?

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18.11.16

Carregue meu Cadáver - Capítulo 31

Antonio arrastou Ana até atrás da roda gigante. Com uma mão, a segurava pelos ombros, com a outra, segurava seu braço amputado. Ouviu o ruído da borracha arranhando o asfalto da montanha-russa até a roda-gigante. Estava na hora de trocar esses sapatos.

Antonio a apoiou no chão. Ajoelhou-se do lado dela. Odiava ter que estragar suas roupas no chão sujo do parque.

– Você tá tão diferente ultimamente, Ana.

Antonio levantou a manga da camiseta e começou a encaixar o braço de volta ao ombro.

– Não sei se tá dando certo. Faz tanto tempo que a gente não faz nada interessante junto. Você tá parecendo só uma dondoca que vive em função de mim. Nem desenha ou escreve mais. Eu te incentivei tanto.

A cabeça de Ana balançava suavemente sobre seu peito enquanto Antonio encaixava o braço violentamente embaixo do ombro. Uma formiga solitária se aventurou a subir na perna de Ana. Aos poucos, suas amigas se juntavam a ela.

Antonio tirou a fita isolante de dentro da bolsa de Ana. Ele gostava de usar a bolsa da namorada para colocar suas próprias coisas. Afinal, de peso, já carregava Ana.

Antonio segurou o braço na posição correta e apoiou o busto de Ana com o joelho. Segurou o pulso com os dentes e com as duas mãos livres, colou o braço no lugar com fita isolante. Não havia nada no mundo que fita isolante não pudesse consertar.

– Ei, moleque! Tá fazendo o que, escondido aí?

Antonio viu o segurança do parque caminhando rápido em sua direção. Ele nem sabia que haviam seguranças em parques de diversão.

– Me ajuda, Ana - ele sussurrou - Você nunca faz nada.

Antonio pegou o braço recentemente ligado ao corpo e fez Ana acenar para o guarda.

– Tá tudo bem, moço! - disse Antonio - Minha namorada tava passando meio mal e precisava sentar, mas agora ela tá bem. Já vamos sair.

– Então sai rápido. Não pode juntar um que junta quinhentos e todo mundo acha que pode sentar no chão.

Antonio acenou novamente enquanto viu o guarda se afastar. Ele se espantou com a quantidade de formigas que agora cobriam as duas pernas de Ana. Levantou a namorada e a chacoalhou. As formigas caíam como granulado de um brigadeiro ressecado.

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17.11.16

Carregue meu Cadáver - Capítulo 30

– Taís, né? - disse Antonio.

Taís tinha visto Antonio uma única vez, mas era impossível esquecer dele. Os olhos presunçosos, o sorriso mal-humorado, a roupa que nunca parecia cair muito bem. Antonio andava aos trancos e segurava Ana pelos ombros, forçando seu peso para baixo. Seus pés arrastavam-se no chão, as pontas dos sapatos carcomidas pelo asfalto. Parecia que Ana tinha sido arrastada assim pelo menos uma centena de vezes. Taís não soube como reagir.

– Gabi, né? - Antonio sorriu e enquanto se virava para Gabriela.

Gabriela limpou o rosto, mas não conseguia parar de chorar. Ela não conseguia tirar os olhos do braço decepado no chão. Não conseguia entender como não sangrava. Parecia um galho seco, prestes a cair da árvore há semanas. Como era possível?

Gabriela viu os dedos gordos de homem desengonçado pegar o braço do chão. Ela acompanhou o membro morto com os olhos.

– O q-que você vai fazer com isso? - balbuciou Gabriela.

– O quê? - Antonio sorriu. Escondeu o braço atrás das costas. - Não há nada aqui.

A cabeça de Ana pendia para frente, todo o seu cabelo cobrindo sua cabeça. Dava para ver o escalpo encouraçado debaixo dos fios ralos.

– Por que ela tá sem braço, Antonio? - perguntou Taís devagar.

– Ah, a Ana tá sempre perdendo as coisas. Sorte que eu tô aqui pra achar, né?

Ele deu uma risadinha. As duas meninas estremeceram.

– Bom, foi ótimo ver vocês. A Ana tá morrendo de saudade, ela sempre fala de vocês.

– Ela tá b-bem aqui. – disse Gabriela.

– Por que você não fala com elas, Ana? - disse Antonio.

Antonio puxou a cabeça de Ana para trás. Um verme deslizou da sua boca meio aberta. Uma pálpebra estava fechada, a outra só abria até a metade, mostrando uma íris leitosa. No lugar do nariz estavam apenas dois buracos.

Gabriela parou imediatamente de chorar. Taís não conseguiu sequer se mover.

– Acho que ela não quer falar com vocês. - disse Antonio. – E, vocês sabem, eu nunca forço a Ana a fazer nada que ela não queira. Bom dia, meninas, agora nós vamos na roda gigante.

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16.11.16

Carregue meu Cadáver - Capítulo 29

Antonio odiava mulheres histéricas. O cara do banco de trás precisava controlar sua mulher nervosinha. Por sorte, Ana não fazia isso mais.

– Se divertiu, amor? - ele disse para Ana.

O silêncio que o recebeu deu-lhe o conscentimento esperado.

Foi só quando ele já tinha descido do carrinho e estava descendo a escada de madeira do brinquedo que percebeu que Ana estava sem um dos braços.

Seu sangue ferveu. Finalmente entendeu por que aquela menina estava gritando. Ele precisava recuperar o braço ou descobririam tudo. Todo o seu esforço teria sido em vão.

Foi fácil encontrar seu membro perdido. Bastou seguir os gritos. Antonio sabia que era só chegar, pegar o braço do chão, dizer que estava tudo bem e estaria tudo bem. Tinha aprendido com o pai. Qualquer bizarrice podia ser consertada com um homem dizendo que ficaria tudo bem.

Antonio achou a menina histérica e o cara que, com razão, a estava despistando a alguns metros da montanha russa. Localizou o braço no chão. Ele correu para perto do braço o mais rápido que pôde, sendo atrasado pelo peso que era ter que carregar Ana.

Haviam duas meninas em volta do braço. Uma era pequenininha, ruiva e usava um óculos de armação grossa. Ela chorava como se tivesse tido a anunciação de sua própria morte. A outra era mais gordinha e usava roupas de menino. Ela parecia estranhamente calma e estava agachada, esticando a própria mão na diração do braço arrancado. Próximo às meninas, um algodão doce cor de rosa comido pela metade estava rolando livremente com o vento. Grudava aos pouquinhos enquanto derretia e juntava um exército de formigas ao seu redor.

Antonio se lembrou de todas as mensagens de texto, de todas as ligações, de todas as notificação da internet. Ainda bem que ele era muito mais inteligente que elas duas.



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11.11.16

Carregue meu Cadáver - Capítulo 28

A fila para a montanha russa não estava tão longa. Umas vinte pessoas. Dava para entrar e sair do brinquedo quase imediatamente se você quisesse, se não tivesse vertigem ou labirintite demais.

– Será que é seguro? – disse Gabriela.

– A ideia foi sua de vir aqui. Agora precisamos ir.

Gabriela não sabia porque andava de montanha-russa. Morria de medo de altura, mas gostava da sensação do corpo rodando em velocidades muito altas dentro de um carrinho pouco seguro. A adrenalina era viciante. Mas ela só conseguia andar de olhos fechados, com a cabeça apoiada na trava, como se fosse o bastião de sua preservação.

– Come mais, Gabi. Aí a gente não tem que jogar fora.

Gabriela colheu um tufo de algodão doce. O doce ainda estava na metade enquanto as meninas esperavam na fila. Gabriela gostava de colocar a espuma cor de rosa na boca e esperar que ele derretesse devagar. Fazer isso com pressa tirava metade da graça do ritual.

– PODRE, SAAAAMIIII! Ela tá toda podreeee!

O casal cheirava a restos de refeições mal digeridas enquanto saía da montanha-russa. O garoto ia na frente com sua camiseta pingando a vômito e expressão de cansaço. Logo atrás dele, a menina completamente fora de si ainda limpava a própria boca e tentava acompanhar os passos largos do rapaz fugia de sua compainha.

– Tem razão, Gabi, acho que a montanha-russa tá podre.

Enjoada, Gabriela cogitou jogar fora o resto do algodão doce, por mais que não se classificasse exatamente como comida. Taís começou a indicar o caminho para fora do labirinto da fila. Talvez fosse melhor andar de carrinho bate-bate ou um brinquedo menos perigoso.

Gabriela sentiu a sombra se formar acima delas antes de ouvir o baque seco no chão.

– Mas nem é dia das bruxas…

Gabriela nunca tinha ido a um funeral. Taís só tinha visto cadáveres em filmes de terror. Mas, naquele momento, ambas tinhas certeza de que o braço quase sem carne com pele amarelada e descascada era terrivelmente real. O braço era quase do tamanho dos braços de cada uma delas. No dedo anelar, um anel de plástico barato pintado de prateado. Elas nunca se esqueceriam do cheiro.

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Carregue meu Cadáver - Capítulo 27

Samuel sentia as rodas do carrinho rasparem nos trilhos de metal enquanto subiam a primeira rampa lentamente. Vias as cabeças do casal a sua frente emolduradas no céu claro sem núvens. O carrinho chegou ao topo da subida e manteve-se imóvel por alguns segundos. Dava para ver todo o parque. Talvez até mesmo toda a cidade. Sentiu Jéssica segurar sua mão. Samuel lembrou-se do ressentimento que começava a sentir por ela. Ela andava tão difícil ultimamente. Apesar de tudo, ela continuava quentinha.

O carrinho se soltou e desceu com um único ímpeto. Samuel levantou as mãos. Samuel viu o casal da frente levantar as mãos também. O carrinho ganhava cada vez mais velocidade. Samuel sentia o carrinho pular a cada trilho. Samuel viu os braços da menina a sua frente dançarem violentamente. Samuel sentiu seu corpo espremido pela força gravitacional enquanto o carrinho se preparava para virar de ponta-cabeça. Samuel viu o braço esquerdo da garota pular do seu corpo como um galho seco. Samuel sentiu o peso do seu corpo voltar à direção normal enquanto o carrinho desacelerava. Samuel sentiu o vômito quente de Jéssica em seu colo. Samuel ouviu Jéssica gritar de algum lugar fora de seu alcance.

– Ela tá podre, Sami! Podre e se desfazendo!

Samuel sentiu seu ressentimento por Jéssica aumentar, enquanto ela gritava em sua orelha e limpava o vômito da própria boca.

Esse capítulo faz parte de Carregue meu Cadáver, o livro que estou escrevendo sobre relacionamentos abusivos. Vou postar um capítulo por dia até acabar.

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Carregue meu Cadáver - Capítulo 26


Taís adorava ver o algodão doce ser feito. O açúcar se juntando em volta do palito como uma núvem colorida antes da chuva.

– Vou filmar pra pôr na internet - disse Gabriela.

– Só tô fazendo essa gordice porque você insistiu muito. Não me marca. - disse Taís, os braços cruzados em cima dos seios.

– Ai, sua idiota, para de fingir que você não quer.

– Só come desse jeito porque você é magra.

– Depois come metade do meu. Aí fica assim, amarga.

Taís odiava comer na frente dos outros. Sempre tinha a certeza de que todo mundo a seu redor estava a julgando pelo seu peso. Toda semana ela prometia para si mesma que começaria a dieta na segunda. Domingo era sempre o dia dos doces.

Gabriela simplesmente adorava comer, mas se ressentia de nunca conseguir ganhar mais massa. Também se ressentia de sempre ter que dividir comida com Taís, que se negava a comprar seus próprios doces. Sua mesada, afinal, não crescia em árvores.

– Obrigada, tio - disse Gabriela. - Que coisa, Taís. Pega logo. Para de olhar meu algodão doce com cara de morta de fome.

Taís lambeu o açúcar derretido dos dedos.

– Vamos indo pra montanha-russa, então.

Esse capítulo faz parte de Carregue meu Cadáver, o livro que estou escrevendo sobre relacionamentos abusivos. Vou postar um capítulo por dia até acabar.

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