10.12.11

Prêt-à-porter

Quem diz que o Brasil é o país do bumbum nunca tentou comprar calcinhas GG por aqui. Elas não existem. Invejo a moda da Maria Antionieta que dizia - vejam só! - que quadris largos eram o que toda mulher deveria ter. Até começaram a fabricar portas mais largas para que as damas de alta sociedade pudesses passar com seus enormes vestidos. Eu seria a rainha desse lugar. Todo mundo quereria ser igual a mim. Apontariam com inveja aos meus incríveis contornos. E, é claro, a calçola larga daquela época não me apertaria e eu não me sentiria um catupiri toda vez que tentasse comprar roupa nova.

Fico feliz quando encontro blogs na internet de nerds que dizem que adoram mulheres gordinhas, cheias de gordinhas em poses sensuais sem nada de ridículo, homens que dizem que gostam de carne. Fico feliz que a Dove faça propagandas dizendo que eu devo aceitar meu corpo, que eu sou linda como sou. Meu ex-namorado me achava linda e achava que todas as mulheres deveriam ser como eu. Entou na moda modelos Plus Size. Fico feliz mesmo. Me aceito um pouquinho mais, até fico sem peso na consciência de comer sobremesa todos os dias.

Mas aí eu preciso comprar calcinhas, porque todo mundo precisa. Quando eu era mais nova, fazia questão de tentar comprar calcinhas bonitinhas. Sabe, não precisava ser de renda, podia ser da Puket, mesmo, com bichinhos, acho lindo. Ou daqueles com alças fininhas de cores diferentes. Mas eles não fabricam no meu tamanho. A única calcinha que encontrei que não me apertava nem um pouquinho era da Hering e era enorme. Assim, bem sensual. Tinha uma preta, uma branca e uma bege. Estou cheia de calcinhas beges e brancas, porque é claro que calcinhas grandes não podem ser um pouquinho mais sofisticadinhas. Podia ser azul ou amarelo ou vermelho. Pode até ser rosa. Pode ter fitinhas, até. Eu gosto de fitinhas. Mas, não. Tem que ser de vó. Sempre. Meninas com mais de 90cm de quadril não podem querer ser sensuais jamais.

Engraçado é que da última vez que conversei sobre isso, sobre não ter calcinha GG no Brasil, era com uma mulher grávida. Grávida. Eu não sou obesa. Estou um pouquinho acima do peso, só. Não sou obesa, repito. Não sou. Mas imagino as meninas que sejam. Que calcinhas elas compram? Elas precisam mandar fazer? Elas podem querer ser sensuais também, sem usar uma calcinha teoricamente G que aperte uns 5cm pra dentro do quadril até chegar no osso e doer. Porque é osso, moça, juro, eu não sou tão gorda assim.

Mas aí eu passei um mês e meio nos Estados Unidos. O país inteiro estava em desconto, uma beleza. Inclusive a Victoria's Secret. Sabe, a gente vê os desfiles e tal, vê na internet, vê azamiga comprando aqueles cremes com cheirinho de chiquelete, mas a loja, minhas amigas, é o império do brega. Los Angeles, aliás, é todo muito brega. Mas em especial as calcinhas. Entrei uma vez, cherei os cremes todos um por um pra tentar trazer um mais suavezinho pra mamãe, falhei miseravelmente, e olhei todas as calcinhas. Vai ver era a coleção, a PINK, que remetia a coisas de College, com aquelas letras feias de faculdades americanas e cores fluorescentes. Mas eles estavam vendendo 5 calcinhas por 25 dólares.

Voltei com umas amigas e comprei algumas. De olho, eu era M. M. Ah, o país dos obesos. Eu era M! Eu não era GG, não era a numeração que não é produzida pelas confecções nacionais! Haviam números para meninas maiores que eu! As grávidas e as obesas podem vestir Victoria's Secret se elas quiserem, sendo exatamente iguais às meninas bem mais magras. Esse é o tipo de democracia que os Estados Unidos deveriam impôr nos outros países. Fucei as gavetas todas da loja atrás de modelos aceitáveis, vesti algumas, descartei a maioria e acabei escolhendo 5. Dois são meus favoritos até hoje. Eles parecem shortinhos, bem grossos e ficam até larguinhos. Ambos tem fitinhas. Uma tem até renda. Elas não marcam nada, nada, nada. Parecem que foram feitas para mim. Me sinto livre e feliz e sexy. Sexy com uma calcinha que parece uma cuequinha e que não me aperta nem um pouquinho.

1.12.11

Hedwig

Na semana passada meus cachorros começaram a latir muito no jardim e quando fomos ver o que estava acontecendo, descobrimos que eles não estavam latindo para o nada como de costume: haviam duas corujinhas caídas no chão. Elas eram corujas bebês e estavam aprendendo a voar. Para salvá-las dos cachorros, as levamos para a varanda do segundo andar, esperando que elas fossem voar dali na manhã seguinte. Mas elas não voaram. Ficaram com a gente por uns dois dias, enquanto eu pesquisei o que poderia dar para elas comerem, ficando muito preocupadas delas morrerem de calor, desidratanção, fome ou chuva. Tentei dar peito de peru, frango e carne moída, todos sem sucesso. Pelo menos a água no pires elas estavam bebendo.

Elas tinham muito medo da gente, sempre que chegávamos perto elas arregalavam mais os olhos, esticavam as asas pra se protegerem e faziam barulhinho com o bico, como se quisesse nos morder. Eu tinha medo de chegar mais perto, pegar nelas como no vídeo das corujinhas, mas eu tinha medo delas comerem meu dedo.

Aí uns dois depois começou a chover e, porque a varanda é aberta e costuma alagar, trouxemos as corujas pra baixo, pra elas morarem na nossa churrasqueira, que é perto do lugar onde as encontramos originalmente. Talvez elas morassem por ali e a mamãe coruja conseguiria achá-las. Na manhã seguinte elas não estavam mais lá. Fiquei triste. Não veria mais as corujinhas. Pensei que elas fossem ser minhas pra sempre - imagina que legal, ter duas corujas de estimação?

E então mais tarde eu fui fazer qualquer coisa, olhei pela janela e elas estavam lá, no quintal, sentadinhas na mangueira grande e uma coruja adulta (provavelmente mãe delas), foi até a lâmpada da parede nos observar. Gosto de acreditar que elas vieram nos agradecer por ter cuidado delas esse tempo todo.