28.7.11

Podre de Rica

E já que eu estava em Los Angeles, resolvi dar uma passeadinha em Beverly Hills, no famoso Rodeo Dr. Eu tinha passado por ele quando estava no ônibus indo ver o Neil Gaiman e depois indo ver o Tim Burton e vi que a rua em questão era beeeem bonitinha. Além disso, queria comprar uma bolsa bem bonita pra minha mãe. Depois falamos disso.



Me vesti com as minhas melhores roupas, coloquei um saltinho super confortável, pra ninguém me expulsar das lojas e fui. É lindo. Lindo, mesmo. Mesmo se você for dessas pessoas que curte coisas simples como o Pelourinho, Ouro Preto e o centro velho, sujo de São Paulo, provavelmente vai gostar. Eu gosto de todas essas coisas. Mas é bem aquilo: só pra olhar. Não é igual na Oscar Freie que até dá pra pensar em alguma peça ou na Champs Elysés que tem Fnac, Sephora e H&M. Aqui tem Tiffany & Co com restaurante pra tomar Breakfast at Tffany's, tem Versace, Prada, Chanel, Louis Vitton e todas as lojas onde nunca vou conseguir comprar nada.




E eu, boba, fui na Chanel ver se eu conseguia comprar uma bolsa pra minha mãe. Tinha gente saindo da loja com sacola na mão. Gente normal, cheio de filho. Então talvez desse. Loja de rico vocês sabem, né?, não tem preço em nada. Tem que perguntar. Fiquei com vergonha, mas ouvi outra mulher perguntando. Um BATOM da Chanel custava $80. A bolsa que ela pediu pra ver custava $7.000. Dava pra comprar um carro pelo mesmo preço. No andar de cima tinha roupa e sapato. Tudo era a cara da minha mãe. Tudo, com apenas uma peça, ia estourar o cartão de crédito dela que eu sempre pensei que fosse infinito. Saí de lá meio triste. Quando eu for rica, mamãe só vai usar Chanel.

Pra me sentir menos mal, entrei numa galeria de arte. Estavam à venda quadros dos "mestres espanhóis": Goya, Miró, Picasso, Dali. O dono da galeria me perguntou o que eu estava fazendo em Los Angeles, da onde eu vinha, quantos anos eu tinha e se eu estava em condições de comprar um quadro, assim, pra minha casa. Quase morri de rir. Fiquei imaginando a Guernica decorando minha sala de jantar.

Engraçado é que a maioria dos quadros em questão eram rascunhos, estudos. Um dos trabalhos do Dali tinha como técnica "mixed media". Olhando com atenção, dava pra perceber que era lápis, tinta guache e caneta hidrocor. Sempre imaginei que os artistas devem morrer de vergonha das pessoas comprando e expondo esses trabalhos inacabados deles. Não o Dali, é claro, ele sabia que era gênio. Os trabalhos mais legais da galeria eram do Goya. Mesmo com carinha de pouca coisa, já não era um rascunhão como os outros trabalhos expostos. E também era infinitamente mais caro. Tinha um do Dali que até dava pra comprar. $4.900, um precinho razoável.



Esse quadro é legal porque tem o elemento do nascimento de Vênus que o Boticcelli, por pudor ou descuido, encarecidamente esqueceu.

26.7.11

Ursinho Puff

Quando eu era bem criança e assistia os desenhos do Ursinho Puff, ele era Puff. Depois, as pessoas começaram a me zoar dizendo que o nome dele era Ursinho Pooh. "Você não é americana? É Pooh!" diziam. E estava em todos os cadernos e estojos e mochilas que o nome era Pooh. Mas, pra mim, que tinha um ursinho em casa, que dormia comigo, ele era Pooh em inglês e Puff em português. Era bem óbvio que todas as coisas tinham nomes diferentes em todas as línguas. Cresci pensando assim.

Da última vez que eu vi um desenho do Ursinho Puff de verdade, eu devia ter uns 7, 8 anos, em VHS, na nossa TVzinha de 20". Eu gostava muito, sempre gostei dos personagens e recentemente eu comprei um caderno brochura com os personagens clássicos na capa só porque era lindo. Queria estar em casa pra fotografar todas essas coisas e mostrar pra vocês.

Enfim, eu nem sabia que a Disney estava fazendo um filme novo do Pooh. Descobri quando cheguei aqui, nessa cidade que anuncia filme como se anunciam roupas no Brasil. (prefiro aqui. também anunciam exposições e espetáculos de cinema e séries de tv.) Vi o cartaz num ônibus e achei lindo, mas fiquei com medo de ver. A Disney anda estragando tudo em que toca, não poderia ser bom. Até que meu professor de Disney falou pra gente ir ver. O filme, coitadinho, ia estreiar junto com Harry Potter, mas aparentemente ele era um filminho charmoso e bem animadinho. Então resolvi ver.

Vou logo avisando que não é um filme pra qualquer um. Ele parece direcionado pra crianças bem pequenas ou para pessoas que amam animação. Acho que até aquelas apaixonadas pelo personagem vão ficar um pouco decepcionadas. Em tempos de Crepúsculo, Avatar e Shrek, não sei se uma criança de 8, 9 anos iria se interessar por uma história tão simples como essa. O enredo, em que a trupe de animais de pelúcia no bosque procuram pelo rabo do Bisonho, não é das mais emocionantes, mas tem umas partes ótimas, como quando eles tentam colocar várias coisas no lugar do rabo do Bisonho. E eu adoro o Bisonho. Dá vontade de abraçá-lo o filme inteiro, pegar no colo e dizer que vai ficar tudo bem. Ele é o Marvin dos desenhos animados.

Mas é bem lindinho e tem um quêzinho de vanguarda, mesmo sendo bem fiel ao estilo original, dos anos 60, 70, em que os personagens vivem dentro de um livro, interagem com as letras e com as páginas. Ele é todo em 2D, tirando o comecinho e o finalzinho do filme que são em live-action, como no desenho original. Há uma sequência inteira sobre mel, muito, muito bonita - e que, de quebra, dá muita fome. E, minha parte preferida, tem um pedaço do filme que é todo animado em giz de cera. Um joiazinha. É lindo, lindo. Acho que as pessoas que se acostumaram aos filmes da Pixar e da Dreamworks podem apreciar bastante a diferença.

A única coisa que eu não gostei foi que os personagens parecem muito computadorizados. Os fundos são todos feitos à mão, mas o Pooh, o Cristopher Robin e os demais personagens têm uma carinha de pintados em flash/cartoon network que dá até pena. Destoa muito. Foi uma coisa que me incomodou bastante.

De qualquer forma, como não amar um filme que tem um cartaz lindinho desse?


Ah, se alguém for ver, fique até o final dos créditos. É a melhor parte. E, especialmente para a Irena Freitas, a música dos créditos é da Zooey Deschannel.

E, pra todo mundo se sentir muito velho e nostálgico (fizeram de propósito, não é possível), o trailer:

7.7.11

Uma história de amor com a literatura

A pedidos, vou contar do dia que eu vi o Neil Gaiman. E já aviso que esse vai ser um post bem grande. Mas a história começa muito antes disso. Começa quando eu ainda estava no Brasil. Eu estava em casa, feliz e sorrindente, quando, lendo o blog maravilhoso do Neil Gaiman, descubro que ele ia fazer uma book tour comemorando os 10 anos de publicação de Deuses Americanos. E um dos eventos seria em Los Angeles - em um dos dias que eu estaria aqui! Tentei comprar, mas eles não aceitaram meu endereço do Brasil. Desisti de ir, o Neil sendo um autor muito popular e obviamente os ingressos acabariam antes de eu chegar em LA (uma semana antes do evento) e poder comprar com meu endereço daqui. Mas aí quando eu cheguei, vi que esse era o único lugar que ainda tinham ingressos sobrando. Comprei imediatamente.

Antes de continuar a história, quero fazer um pequeno adendo. Conheci Neil Gaiman numa época que eu estava lendo quadrinhos e fiquei sabendo que Sandman era um clássico e tinha que ler e que era a melhor história em quadrinhos do mundo. Além disso, eu gostava de Enter Sandman, do Metalica. Meu irmão acabou comprando o primeiro arco, Prelúdios e Noturnos, daquele de capa dura da Conrad, e me deu pra ler. Me apaixonei. Me identifiquei muito. Ele escrevia histórias de terror com um quê de gótico, mas muito, muito amor. Era exatamente o que eu queria escrever, o que eu sempre tentei fazer. Comprei outros Sandmans, mas não consegui completar a coleção por ser muito caro. Um dia postei uma transcrição de uma das histórias que eu mais gostava e acabei descobrindo pela internet mais amigos que gostavam. E eu também fui achando outras obras, outros livros do Neil na internet pra ler. E me apaixonei ainda mais pelas suas prosas de narrativas fantásticas, cheias de descrições delicadas, do jeito que eu sempre quis escrever. Até que um desses amigos, o Gabriel, me indicou Deuses Americanos. E eu fui atrás.

E foi o melhor livro que já li na vida. Baixei o .pdf de 700 páginas, no cursinho, e li na tela brilhante do computador em uma semana, atropelando os módulos do Anglo porque queria voltar a ler. É impressionante a história da rivalidade entre os deuses da antiquidade e os deuses do mundo moderno. E todas as religiões convivendo juntas, achando cada um o seu espacinho no coração das pessoas dos Estados Unidos. E foi tão significativo pra mim que, depois de anos achando a igreja um lugar meio sem graça, meio hipócrita, sem conseguir me identificar direito com aquelas doutrinas, aquelas pessoas, só indo porque minha mãe obrigava, eu finalmente resolvi parar de ir. Porque se eu acreditasse em só um deus, eu estaria negando todos os outros. E eles existem, na cabeça das pessoas. E se as coisas existem na cabeça das pessoas, já nos ensinou Dumbledore, é claro que são reais.

E então, 5 anos depois, estava eu em um ônibus na ensolarada Los Angeles, indo para Beverly Hills ver o homem que eu agora seguia até no twitter. O ponto em que desci era bem em frente ao teatro e eu sabia especialmente que era ali porque tinha uma fila que virava o quarteirão indo ver o Deus do Rock da Literatura. Entrei na fila esperando pra recolher meu ingresso (sim, tinha que retirar na porta) e atrás de mim estavam duas senhoras. Falei pra elas: "Parece que estamos num show de rock." E uma delas respondeu: "Sim, ele é um deus do rock. Bem, não pra gente que o conhece há 20 anos..." e então eu percebi que atrás de mim estavam amigas pessoais dele. Gente que ia tomar chá da tarde e jogar baralho com um dos meus maiores ídolos. Depois as ouvi dizendo que a Amanda Palmer (que é quem eu quero ser quando eu crescer) era uma "sweet girl". Esse é o blog de uma delas, falando sobre o evento. Tem fotos boas. Não pedi pra me levarem no backstage, nem nada, porque sou legal, não queria atrapalhar e idiota.

Esperei uma hora na fila até pegar meu ingresso e entrar no teatro. Era um dos teatros mais chiques que eu lembro de ter estado. Com bar servindo coquetéis, a água mais cara da minha vida, decoração kitsch nas paredes, cortinas roxas de veludo enormes no palco e 1800 cadeiras vermelhas também de veludo. Estava na fila P, mas pelo menos era no corredor, então não tinha nenhuma cabeça na minha frente. O evento demorou pra começar porque ainda tinham pessoas comprando ingressos na porta, mas não foi necessário que ninguém sentasse no chão. Enquanto isso eu lia meu Deuses Americanos (finalmente em papel!) na edição de aniversário de 10 anos, autografada, que comprei junto com o convite.

E então começou. E foi maravilhoso. Eu já tinha visto entrevistas no youtube do neil e até já tinha ouvido um podcast com entrevista sua, mas vê-lo ao vivo foi... Ele é tão inteligente e engraçado e culto e tem a voz mais sexy, com aquele sotaque britânico e arrastando as palavras no final das frases. Ele é exatamente o que escreve: parece gótico, mas é de uma delicadeza e um amor incrível. Até quando ele reclama de alguma coisa, faz isso com uma graça... E ele tem mãos bonitas. Ele falou do livro e da série da HBO e de apadtações e de Dr Who e da sua adolescência e de religião e da Wikipédia e da vida. E fizeram uma leitura em voz alta de uma das minha partes preferidas do livro, que se passa aqui em Los Angeles. E foi maravilhoso e engraçado e eu sou uma pessoa muito feliz que se repete de embriaguez e satisfação.

E na volta pra casa me perdi numa cidade grande e nova, à meia-noite, sem celular, nem número nenhum pra ligar. E com fome desde que o evento começou. Mas eventualmente consegui um Subway 24 horas e consegui voltar pra casa. Pelo menos eu tinha um livro muito grande pra bater em alguém que eventualmente quisesse me incomodar. Mas tirando isso, foi ótimo.

E vou postar alguma fotos pra compensar o texto gigantesco.





4.7.11

Sobre Arte

Sabendo que a exposição do Tim Burton ia ser no LACMA, resolvi pesquisar o museu pra ver o que mais tinha de legal lá. Descobri que ele é tipo o Louvre de Los Angeles: um museu gigantesco, mas, diferentemente do Louvre, tinha um pouquinho de tudo. Me programei pra passar a tarde toda lá porque, vocês sabem, eu adoro museus e, sobretudo, adoro arte.

Cheguei e me deparei com uma fila imensa, de meia hora, já que, aparentemente, o Tim Burton realmente é um diretor muito popular e todo mundo queria ver a exposição dele. Era 2h30. Me colocaram na exposição Tim Burtoniana das 5h00. Quando você é assim meio indie, como eu, é meio chato descobrir que seu maior ídolo cinematográfico é tão popular. Não que eu já não soubesse disso. Enfim. Eu ainda tinha duas horas e meia pra olhar todo o resto do museu. Peguei o mapa e eis que vejo que o quadro do Magritte, aquele do cachimbo, ficava ali!

Rodei todo o andar da arte moderna, passando por Pollock, Picasso, Man Ray, Mondrian, aqueles quadros horrorosos de quadrados e listras e mais um monte de obras legais e chatas, pais e filhos rindo e apontando pra órgãos sexuais de quadros e nada de Magritte!

Resolvi perguntar pra uma daquelas moças que ajudam pessoas perdidas nos museus: segurei o mapa e mostrei o quadro que eu queria ver (porque eu esqueci o nome do pintor, sempre confundindo-o com o Matisse, que eu odeio; e porque eu não lembrava como dizia cachimbo em inglês). A moça sabia onde ficava e me levou até a única sala que eu não tinha entrado. Ficou me explicando o sentido do quadro, que eu já tinha estudado em umas três matérias diferentes da faculdade, e me contando da exposição dele que o museu teve há uns tempos atrás. E eu só queria que ela me deixasse sozinha pra eu poder tirar minha foto idiota.

Sim, senhoras e senhores: a foto idiota. Eu odeio gente que tira foto com quadro. Colocam no Facebook "Eu e Picasso", porque é o único artista que conhecem. Odeio mais quem tira foto do quadro pra mostrar pros parentes o quadro que viu no museu. Anota o nome. Tem tudo na internet, garanto. Em qualidade bem melhor que seu iphone nessa luz mais ou menos de museu vai conseguir capturar. Acho falta de respeito com a obra. Só pode se for fazer piada com a obra. Ou citação. Ou os dois juntos, assim, bem artístico. Mas, mesmo que for citação ou (principalmente) se for piada, quase sempre continua sendo uma foto idiota.

Mas, sabem, passei uns bons 3 semestres da minha vida estudando esse quadro em especial do Magritte. Eu o acho quase ou mais foda que o próprio Dali e de todos os modernistas ele só perde pro Man Ray (porque o Man Ray fez tudo). E, além disso, eu precisava mostrar pra todos os meus coleguinhas que estudaram o mesmo quadro comigo que eu vi o bendito quadro, ao vivo.

Então eu fiz isso:



A idéia era fazer mais cara de feliz, mas tinha muita gente na sala e eu fiquei com vergonha. Tenho certeza que o pintor aprovaria.


obs.: Sim, leitores! Estou em Los Angeles! Em breve sai um post sobre Hollywood.