26.8.10

"eu tenho que ir embora", ele disse. "então você continua sozinha."

estavam numa roda de umas quatro pessoas, discutindo qualquer coisa, enquanto o casal se acarinhava. enquanto ela procurava a faca na bolsa, ele tirou o pênis das calças. ela delicadamente cortou a glande para si e segurou-o entre as duas mãos fechadas. a cabeça cresceria novamente mais tarde, não era a primeira vez que faziam isso.

sozinha na festa, beatriz andava procurando um local tranqüilo para degustar do pedaço de seu namorado. sentou em um canto iluminado, pensando em seu objetivo. morder, mastigar, engolir.

logo surgiram duas ou três garotas conversando sobre esmaltes e maquiagens. beatriz apertou seu amor dilacerado mais fortemente entre as mãos. não queria que ninguém visse, que ninguém quisesse o que ela tinha. as garotas riam enquanto começavam a pintar as unhas umas das outras. uma delas sugeriu que beatriz fizesse o mesmo. ela olhou as próprias mãos fechadas, com esmaltes descascados e um vermelho-alaranjado desbotado. quis muito retocar as pontas dos dedos.

mas ela não soltaria a carne que protegia nas mãos por nada de mais bonito no mundo.

22.8.10

feminismo

uma vez minha tia me deu um creme maravilhoso da victoria secret de presente de natal. tinha a melhor textura do mundo. dava vontade de se mergulhar no pote, usar tudo de uma vez. ele só tinha um defeito: cheirava fortemente à chiclete. de tutti fruti. daqueles que vêm com figurinha da barbie em volta. e o maldito do cheiro ficava desde a noite anterior, antes de dormir, até a noite seguinte, quando eu tomava banho. eu não queria cheirar a tutti fruti. eu queria cheirar a mim mesma.

essa historinha toda é só um preâmbulo para o que eu realmente queria contar.

de uns tempos pra cá, uns dois meses, parei de depilar as pernas. no começo era pura preguiça, mas depois que os pêlos já ficaram suficientemente longos para que eu começasse a me identificar com uma-daquelas-meninas-da-faculdade-de-artes-que-não-depilam-as-pernas, eu resolvi procurar uma pregorrativa melhor. e eu tinha mesmo. não esixte mesmo uma explicação razoável além do estético e cultural para as mulheres precisarem fazer isso. eu demoro a me incomodar com pêlos e tenho a distinta impressão de que ninguém mais se incomoda com isso. meu namorado, pelo menos, nunca reparava quando eu deixava de depilar e as outras pessoas - bem, elas simplesmente não me importam.

decidi que nunca mais depilaria as pernas, nem para eventos formais em que isso fosse exigido. faria disso um símbolo de protesto. algo que dissesse "se não ME incomoda, também não me importo se faz diferença para outras pessoas".

mas, sabe, é inverno. tem ficado bastante mais quente e seco ultimamente no deserto do interior paulista. pêlos dificultam a aplicação de hidratantes (que eu realmente só uso quando sinto minha pele rachando. e esse inverno tem sido uma dessas épocas.), além de, meu deus!, tornar o simples ato de enxugar as pernas com uma toalha terrivelmente mais penoso.

me depilei mais cedo. só do joelho para baixo.

que feminista de merda que eu sou.