7.6.13

Interrupção

Nunca quis ter filhos. Sempre imaginei uma vida meio solitária, com livros, projetos artísticos ou acadêmicos, viagens a lugares maravilhosos e amigos antigos e novos. Talvez seja minha irresponsabilidade e minha juventude dizendo isso. Talvez em alguns anos eu sinta muita falta de alguém para cuidar de mim e do meu legado.

Não gosto muito de crianças. Não sei o que as pessoas vêem em bebês com menos de 2 anos. E depois dos 2 anos, quando eles começam a correr e pegar e jogar as coisas e a falar e falar e falar, se tornam ainda mais irritantes. Não sei lidar com crianças. Tenho nojo de trocar fralda e de limpar regurgitações. Mas só tenho 24 anos. Talvez quando tiver 30 eu mude de idéia.

Eu tive a sorte de nunca ter engravidado sem querer, nem ter atrasado muito a menstruação e ficado desesperada. Mas eu tive um namorado que quis muito ter filhos. E isso era um problema sério entre a gente. Ficava imaginando cenários fictícios de um futuro não muito distante, onde nosso suposto futuro filho se rebelasse e eu jogaria na cara do outro que era culpa dele, que eu nunca quis ter filhos, mesmo.

Fico imaginando o que aconteceria na minha vida se eu engravidar agora. Agora, aos 24 anos, sem namorado, sem emprego, sem bolsa de estudos, morando de favor na casa de uma tia. Teria que arrumar um emprego, largar o mestrado, desistir de viajar pelo mundo dividindo quartos com mais 7 estranhos de países diferentes. Teria uma responsabilidade enorme pelo resto da minha vida. Não dá pra doar um filho pra outra pessoa porque você vai se mudar pra um apartamento menor e não tem espaço pra ele. Não dá pra deixar num hotel enquanto você viaja por uma semana. Não dá pra contratar adestrador. Não dá pra devolver caso vocês não se dêem bem. 

Sempre penso nisso. E se eu não gostar do meu filho? E se eu deixar de fazer um monte de coisa legal por alguém que eu não gosto? Que só está na minha vida pela impossibilidade absoluta de sair dela? Como eu vou cuidar de outra pessoa se eu nem sei cuidar de mim?

Não é uma questão apenas de estupro ou de falta de condições materiais ou psicológicas. O que as pessoas precisam entender é que para muitas mulheres um feto não é uma criança fofinha. É uma ameaça.