23.11.16

Carregue meu Cadáver - Capítulo 34

– Nossa, filha, que cara é essa?

Até hoje, Gabriela tinha tido bastante sucesso em esconder seus sentimentos quando estava triste. Na verdade era bem simples. Bastava passar silenciosamente pela sala enquanto eles viam TV, como ela fazia todos os dias, entrar no quarto e ficar dentro dele, até que conseguisse fazer o rosto desinchar com água gelada.

Mas hoje foi impossível. Gabriela estava completamente fora de si, além de estar com uma ferida no lugar onde Taís tinha batido sua cabeça na privada. O sangue escorria por trás da orelha e descia pelo seu pescoço, manchando a gola da camiseta azul marinho. Gabriela estava preocupada demais com outras questões para pensar na possibilidade alarmante de uma infecção.

Gabriela olhou para o chão, abriu a porta do quarto e começou a entrar.

– Não é nada, pai.

Então aconteceu alguma coisa que ela jamais previria. Seu pai desligou a televisão.

– É problema de menino, Gabi? Você sabe que pode falar pro seu pai.

Gabriela não sabia. Nunca tinha contado nada íntimo para o pai. Ele nem sabia das recuperações da escola. Ou da sua menstruação. Muito menos sobre meninos.

Ela parou na porta do quarto. Se virou devagar e encarou o pai. Os olhos enrugados a olhavam de volta, com a benevolência de anos de tutela. Próximo, mesmo quando estava distante.

Ela voltou a chorar. O pai levantou do sofá e a abraçou ternamente, acariciando sua cabeça machucada.

– Homem não presta, princesinha. Só eu.

Gabriela finalmente conseguiu se esforçar a falar.

– A Ana morreu, pai. O namorado dela tá carregando ela, como uma boneca. Eu e a Taís… A gente viu os dois no parque de diversões hoje. Foi horrível!

Gabriela ouviu o pai suspirar. Ele a segurou à sua frente.

– Imagina, filha. Você tá vendo coisa onde não tem, não é possível.

Ela sabia, é claro que sabia. Ninguém acreditaria nela.

– Mas eu vi! O braço dela morto no chão! A caveira que sobrou da cara dela! Bichinho saindo da boca! Eu vi!

– Ai, Gabi… Você fica vendo esses filmes de terror e fica cheia das ideias…

– Eu sei o que eu vi!

Gabriela se soltou do pai violentamente e entrou no quarto. Bateu a porta atrás dela. Colocou a cadeira para segurar a maçaneta quando o pai ameaçou entrar.

– Gabriela! Abre essa porta agora!

Gabriela acho melhor tomar um banho antes que sua própria cabeça infeccionasse.
Esse capítulo faz parte de Carregue meu Cadáver, o livro que estou escrevendo sobre relacionamentos abusivos. Vou postar um capítulo por dia até acabar.
Adoraria saber sua opinião, então deixe um comentário me dizendo o que achou, divida com quem você acha que vai gostar e me cobre se eu parar de postar.

Obrigada!

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