Santa Monica foi o segundo lugar que eu mais gostei de Los Angeles. O primeiro foi a Disney. Depois falo dela. Santa Monica é bem Estados Unidos. Não é o suficiente ter uma praia e umas barracas para comer, como temos no Brasil. É um pier, na verdade. Santa Monica Pier. O pier é um pierzão. Melhor dizendo, um shopping center com mil opções de fast food americano para comer, ambulantes vendendo churros (tchirios, como os norte-americanos falam, que me levou um mês para descobrir o que era), bexigas e óculos de sol a 15 dólares - jurando que tinham proteção contra raios UVA e UVB. Também tinha um parque de diversões, daqueles onde se paga três dólares por brinquedo, dá pra ganhar de urso de pelúcia em jogos de tiro e comprar algodão doce. Um sonhozinho. Depois meu irmão me disse que esse parque apareceu em Dexter e que sempre aparece nos seriados filmados em Los Angeles. O único seriado que eu acompanho atualmente é Big Bang Theory e, mesmo morando em Los Angeles, o grupo de geeks nunca vai à praia, então eu não sabia. E fiquei chocada com a idéia de parque na praia. Também tinha um aquário embaixo do pier e, pasme!, um carrossel dentro de uma sala de madeira - igualzinha às outras lojas do pier -, totalmente secreto. E tem a praia, lógico, com areia meio cinza como as do litoral paulista, àgua polar do pacífico, não tão cheio de americanos brancos/vermelhos e gordos ou de mexicanos quanto já vi em praias do Nordeste no alto verão, gaivotas que voavam bem baixo e provavelmente pegariam comida se eu a oferecesse, mas apenas um chuveirinho para todos os banhistas. Além de ser um grande complexo da diversão, de um jeito nunca antes visto, o mais espantoso foi a reação da amiga que foi comigo.
Meiyu é chinesa. Ela tem a minha idade e estuda Relações Internacionais. Antes de vir para os Estados Unidos, ela estava fazendo um intercâmbio de 6 meses na Inglaterra. A Meiyu me assustou muito sobre a China. Não só pelas coisas que ela falava (Sim, amigos comunistas, a China é uma ditadura violenta e o governo explora e oprime muito os cidadãos. As pessoas precisam casar cedo e levam seus pais para morar com eles porque é impossível manter uma casa sozinho.), mas também pelas forma como ela agia. Ela tinha me dito que não conseguiria morar nos Estados Unidos porque a cultura era muito diferente da chinesa. Todo mundo queria aparecer, todo mundo quer mostrar suas personalidades. Na China, ela me dizia, tudo que as pessoas queriam era se mesclar, chamar o mínimo de atenção possível. Ela me perguntou diversas vezes se ela poderia agir ou se vestir de certa forma sem ser vista de maneira estranha. Ela procurava muito ter as mesmas opiniões que eu, opiniões ocidentais, sobre namoro e virgindade e tudo. E ela enlouqueceu em Santa Monica Beach.
Perguntei se ela já tinha ido a uma praia antes. Ela disse que sim, na China e na Inglaterra, mas eram diferentes de lá. Em Santa Monica, ela podia fazer qualquer coisa que ninguém ia ligar. Ela poderia gritar e fazer castelinho de areia e ficar parada assistindo a areia engolir seus pés e correr pela praia, chutando a água e fotografar as gaivotas e as crianças e tirar foto fingindo que os chinelos eram orelhas de coelhinho que ninguém ia ligar. Ninguém nem ia perceber, absorto em sua própria diversão. E isso era surreal para ela. E absolutamente liberdador. E, para mim, mesmo acostumada com Campinas onde todo mundo comenta sua meia-calça rasgada, o fato de você ter parado de depilar as pernas ou ter trocado seu emprego/faculdade por algo que renderia muito menos, essa foi a experiência mais assustadora e sufocante da viagem inteira.
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