Roberta olhava o casal de trás do balcão da sorveteria. Ela já tinha achado curioso desde que eles chegaram.
Ele a tinha carregado para dentro pela cintura, como se ela fosse uma boneca de cera enorme. Tinha empurrado a cadeira de metal com o pé e ajudou a garota a se sentar. Do balcão, conseguiu ouvi-lo dizer:
– Fique bem, amor, eu já volto.
E então ele foi até o balcão self service, pegou dois potinhos de plástico e começou a se servir.
A garota ficou largada na mesa. Devia estar mesmo muito mal. Quando Roberta tinha cólicas menstruais, tudo que ela queria era um namorado que a levasse na sorveteria e pegasse sorvete para ela. Mas Leandro, aquele vagabundo, nem se dignava a comprar chocolate para ela comer dentro da própria casa. Talvez fosse a hora de repensar esse relacionamento.
Roberta se endireitou na cadeira. Vai querer mais alguma coisa? Uma água? Débito ou crédito? Entregou as colherzinhas de plástico.
O rapaz levou o sorvete até a boca na namorada. Delicado, segurou sua nuca para poder equilibrar-se melhor. Roberta sempre quis um namorado que a desse comida na boca. Mas Leandro, aquele insensível, só tinha feito isso bem no comecinho do namoro.
O sorvete escorreu um pouquinho da boca da moça. Uma linha fininha até o queixo. O rapaz limpou com um guarda-napo de papel tão fino que parecia plástico. Teve que usar vários guarda-napos. Pareceu irritar-se enquanto pegava cada vez mais papéis. Roberta também odiava esses guarda-napos. Ela sempre dizia que se algum tivesse sua própria sorveteria, teria guarda-napos decentes, de papel fofinho e desenhos de azaleias vermelhas.
Roberta observou o rapaz comer seu sorvete também. Era interessante o contraste entre a forma como ele alimentava a namorada, tratando-a como uma xícara de porcelana chinesa, e a voracidade com que consumia sua própria comida. A diferença entre fêmea delicada e macho viril era bastante evidente. Roberta pensou o que mais o rapaz faria com a mesma intensidade. Mas Leandro, aquele brocha, era quase uma menina.
Perdida em seus pensamentos, Roberta não tinha percebido que a garota se curvou para cima da mesa. O rapaz só percebeu quando viu que o sorvete formada uma pequena poça em cima do mármore da mesa. O líquido rosa claro escorria da boca semi-aberta da moça, sujava seu queixo e pingava devagar sobre a mesa. Preguiçosa, ela nem fazia menção de se limpar. Mantinha os braços pendentes ao lado do corpo, como uma múmia.
O rapaz, evidentemente preocupado, juntou ainda mais guarda-napos para limpar a mesa e o rosto da namorada. Quando os guarda-napos de sua própria mesa acabaram, pegou os da mesa vizinha. Tão dedicado! Continuou limpando o rosto da moça.
Quando Roberta deu conta de si, o rapaz tinha aberto a boca da namorada e estava limpando o interior de suas bochechas e sua língua.
Jesus Cristo. Anorexia tem limite.
Esse é o décimo sexto capítulo de Carregue meu Cadáver, o livro que estou escrevendo sobre relacionamentos abusivos. Vou postar um capítulo por dia até acabar.
Adoraria saber sua opinião, então deixe um comentário me dizendo o que achou, divida com quem você acha que vai gostar e me cobre se eu parar de postar.
Obrigada!
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