18.10.16

Carregue meu Cadáver - Capítulo 16

Taís encheu dois copos de suco de laranja em cima da mesa da cozinha. Uma gota de suco respingou em cima do livro de biologia aberto no capítulo sobre parasitologia. Taís não se deu ao trabalho de limpar o livro, havia coisas mais importantes para resolver.

– Tá com fome? Tem essas bolachinhas que minha mãe ganhou de um cliente, pode pegar. Acho que é importado.

Gabriela esticou a mão para o vidro no centro da mesa. Os biscoitos amanteigados eram branquinhos e macios como os que sua tia-avó Margaret fazia antes de morrer. Gabriela segurou o biscoito e ficou olhando para ele.

– Aconteceu uma coisa estranha no sábado.

– Deixa eu pegar um pratinho pra você. Aí você pode passar doce de leite na bolacha.

– A mãe da Ana me ligou. Ela queria saber se ela tava na minha casa.

Taís parou no meio da sala segurando os pratos de sobremesa brancos com estampas de andorinha.

– A Ana não tá na casa dela?

– Foi o que a mãe dela me disse.

Taís voltou a andar, colocou um prato à frente da amiga e outro em frente à cadeira vazia ao seu lado. Abriu o armário para pegar doce de leite.

– Ela deve estar na casa do namorado, né? Ela sempre tá lá.

– Foi o que eu disse.

Gabriela colocou o biscoito amanteigado na boca. O cliente da mãe de Taís provavelmente os trouxe do leste europeu.

– Mas faz tempo? – disse Taís. – A tia Paulina é tão egocêntrica que é capaz da Ana ter sumido há meses e ela nem ter percebido.

– Eu não sei. Ela não me falou. Acho estranho a Ana não ter me falado nada.

– Faz quanto tempo que ela não te fala nada?

O biscoito pesou no estômago de Gabriela. A última vez que recebeu qualquer mensagem da amiga já havia algum tempo. A festa da Ariane tinha sido no último fim de semana, quando ela passou o tempo lendo e jogando videogame com o meio-irmão.

– Taís, acho que precisamos fazer alguma coisa.

– O pior que pode ter acontecido foi que a Ana fugiu de casa pra ficar longe da mãe louca dela.

Taís puxou o livro grosso de biologia para mais perto. Usou a prova do dia seguinte para disfarçar a incerteza que ela própria sentia.
Esse é o décimo sexto capítulo de Carregue meu Cadáver, o livro que estou escrevendo sobre relacionamentos abusivos. Vou postar um capítulo por dia até acabar.

Adoraria saber sua opinião, então deixe um comentário me dizendo o que achou, divida com quem você acha que vai gostar e me cobre se eu parar de postar.

Obrigada!

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