29.12.07

H

oje eu fiz algo que eu pensei que nunca faria. Me sinto realizada, limpa e de bem comigo mesma. Ainda não acabei, mas já dei uma geral no que precisava ser feito.

Senhoras e senhores: hoje limpei meu quarto!

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E meus pais resolveram comprar uma impressora, com scanner, xerox e todas essas coisas bonitinhas. Ele acabou vindo sem tinta. Também não temos papel nem o cabo USB necessário para ligá-lo no PC, mas - hey! - eu tenho uma impressora agora!! Como estou feliz, alegre e saltitante. \o/
Baratas impedem o melhor andamento da sociedade.

É só eu, ou, em aparencendo uma, o rumo dos eventos é totalmente alterado?

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Layout novo. Gostaram, gostaram?

23.12.07

Bom, gente. Eu não vou escrever muito porque estou na casa da minha tia e - além eu achar que seja falta de educação abandonar a família pra postar no blog, principalmente na véspera do Natal - o teclado aqui é horrível (é todo dura e os acentos ficam em lugares estranhos).

Entããão... Pra quem é Cristão ou adepto do consumismo: Feliz Natal! Pra quem for judeu: Feliz Chanukah. E pra quem for pagão: Boa Festa das Luzes!

20.12.07

Não estava funcionando direito.

Primeiro passaram o anti-vírus. Depois checaram se o problema era de software. Viram que todos os programas estavam instalados direito. Resolveram abrir o CPU. Checaram todas as conexões, vendo se nada estava fora do lugar. Limparam por dentro. Ligaram novamente, na esperança de que fosse funcionar.

O problema era que não era uma máquina. Era um homem. E as conexões internas de um ser humano são bem mais complicadas que as de uma máquina.

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Congratulem-me. Pensei nisso durante o vestibular.

E mais: eu não entendo nada de informática.

16.12.07

Então eu vi A Lenda de Beowulf ontem. E na cena que aparece a Anjelina Jolie pelada, coberta de uma coisa amarela (cobertura de caramelo - heh), meu amigo - aparentemente heterossexual - virou pra mim e disse:

- Viu? Ela é estranha!

Estranho é ele!


Bizarro mesmo é que todos os personagens do filme (que é uma animação digital) têm cara de desenho animado, no maior estilo Shrek, menos a Angelina Jolie, que tem cara dela mesma, bem perfeitamente. É estranho. Meu cunhado disse que é porque a gente já é acostumado a vê-la de photoshop, então não fez diferença. Se me dissessem que ela é um robô, eu provavelmente não acharia estranho. Ficaria decepcionada, mas não acharia tão improvável.

Aliás, Beowulf é um filme legal. Eu esperava mais dele, considerando que o roteiro é do Niel Gaiman (aka deus). Maaas, em todo caso, é um desenho bem feito (NÃO leve seu sobrinho pra ver, não é pra crianças), a história é interessante e os caras cantam umas musiquinhas muito legais!!

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A propósito: pra quem lê meu perfil diariamente, deve ter percebido que minha idade mudou. Isso significa que eu fiz aniversário. Aguardo cartas, presentes e outros mimos. Obrigada desde já!

6.12.07

Então ontem (quarta-feira) teve churrasco do cursinho. E teve pagode ao vivo, pessoas bêbadas, pessoas seriamente machucadas, pessoas que não via há um tempinho, fotos, truco, pessoas violentas jogando truco, presença de professores, narguille, futebol, piscina e outras coisas das quais não sou muito adepta (Eu sou meio anti-social. Não nasci pra diversão com a galera).

Em todo caso, uma meia hora depois de um dos professores chegarem, ele já estava caindo de bêbado. E ele daria nossa primeira aula do dia seguinte. E nós, alunos malandros que somos, resolvemos o deixar ainda MAIS bêbado para que ele não aparecesse na manhã seguinte. *Insira risada maléfica aqui*

Acontece que hoje cedo metade da sala faltou, a outra metade estava dormindo na aula e o professor teoricamente de ressaca estava muito desperto, como se nada tivesse acontecido. Deus castiga, viu...

30.11.07

Tem coisas na vida que a gente descobre e mudam o sentido de absolutamente tudo. Tudo mesmo. Esses dias eu estava conversando no cursinho, com o Coelho Branco do Alice no País das Maravilhas nas mãos quando me deram a informação bombástica:

LOL significa Laughing Out Loud¹.

Meu mundo parou. E não adiantava o Coelho me dizer que tinha pressa.

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¹rindo em voz alta (a tradução fica horrível, mas ao pé da letra é isso mesmo)

27.11.07

Hoje a aula começava mais tarde. Então eu acordei uma hora mais tarde, saí de casa uma hora mais tarde... E aí tudo começou a dar errado. O combustível entrou pra reserva, tinha uma fila gigaaante no posto (há dois minutos do cursinho, diga-se de passagem), passamos 20 minutos só na fila e quando finalmente chegamos ao cursinho...

...uma menina cega estava atravessando a rua.

E tivemos que esperá-la passar, claro, no cruzamento, na freeeente da entrada do cursinho.

Eu nunca vejo pessoas cegas em Campinas. Sempre tem uma primeira vez, né? E que primeira vez mais inoportuna...

Obs: Claro que perdi a aula.

21.11.07

Uma noite dessas eu vi um vagalume no meu quarto. Até agora não sei se realmente aconteceu ou se eu estava sonhando ou vendo coisas.

Aí eu liguei a luz.

O suposto vagalume era um insetão feioso.

Impressionante como as coisas são mais bonitas no escuro.

15.11.07

Ano passado foi o medo de fracassar. Fracassar por mim mesma onde eu achava que era minha única habilidade. Depois que não passei, pensei em todo mundo que decepcionei: professores, amigos, pais, irmãos... Era mais uma coisa para os outros do que pra mim. Olhando para trás, acredito que foi bom eu não ter passado, ou teria me tornado insuportavelmente arrogante. Agradeço às minhas falhas por isso.

Este ano, quando penso no cursinho, no quanto eu tive que estudar, na dor de deixar de fazer muita coisa - na verdade não mudou muito dos últimos anos para cá, eu nunca fiz nada mesmo -, de ter que deixar tudo para o ano que vem, sobrepõem-se os fatos de eu ter aprendido muito, ter conhecido pessoas excelentes e, principalmente, ter baixado a minha bola, reconhecendo que há pessoas mais inteligentes que eu. O ano foi bom.

Mas na boca da garganta fica guardada uma angústia que não quer sair. Ela surgiu há uma meia hora e resolveu ficar.

Esse ano é o medo de ter que repetir o cursinho ano que vem. É bom uma vez, mas duas é demais. Medo de decepcionar, novamente. Medo de estagnar. Para sempre. Medo de seguir sozinha.

Pensei em chorar até que ela passasse ou estudar para esquecer que existia. Até domingo vai passar - tem que passar. Mas é bem mais provável que até lá as coisas só piorem.

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Vestibular da UNICAMP domingo agora, gente. 40 candidatos por vaga. Torçam por mim :]

31.10.07

Eu tive meu momento Alex Delarge hoje. Meu professor de história passou um filme sobre a ascensão de Hitler e, numa cena onde os alemães estavam felizes com o Führer, começou a tocar Primavera do Vivaldi. Quase comecei a gritar que aquilo era um pecado.

26.10.07

A Estranha História dos Carneiros


Todo mundo tem uma história estranha envolvendo animais de fazenda. Não, não esse tipo de história, seu pervertido. Pelo menos não aqui. ainda.

Durante a maior parte da minha infância, minha tia teve uma fazenda. No início era uma fazenda mesmo, com animais, pomar e toda aquela pompa toda. Ao passar do tempo, ele foi se tornando um minifúndio improdutivo - mas isso não vem ao caso. Era bem longe da minha casa (18 horas de ônibus), mas meus irmãos e eu íamos para lá em praticamente todas as férias porque tínhamos primos da nossa idade por lá.

Uma das primeiras vezes que fomos para lá, quando a fazenda era recém-comprada e havia bichos e muuuito mato, minha prima, Julia, minha irmã, Rebecca, e eu resolvemos explorar o terreno. Observação: éramos todas bem pequenas na época. Eu e minha prima devíamos ter lá nossos 6 anos e minha irmã, 8. Assim, o terreno ficou ainda mais gigante, o mato ainda mais alto e os bichos ainda mais selvagens. Não sei de quem foi a brilhante idéia de nos contar que carneiros eram perigosos. Então tínhamos por objetivo principal evitá-los.

Acontece que, àlguma altura do nosso passeio, os carneiros nos alcançaram. Ó! Bestas Peludas do Inferno com seus chifres em forma de caracol! Imagens do Bode em pessoa (no caso, em animal)! Vimos-os lá longe andando uns atrás dos outros, seus olhos aguados famintos por carne de crianças perdidas.

Então, logicamente, saímos correndo o mais rápido que pudemos. E era difícil correr lá porque o chão era irregular e tinha muito mato. E de repente, não mais que de repente, aconteceu o inevitável: Rebecca tropeçou e ficou enroscada em alguma coisa no chão.

Julia e eu continuamos correndo. Caída, Rebecca clamava por ajuda, chorando copiosamente. Os carneiros chegavam cada vez mais perto. Mutilada entre compaixão pela minha irmãzinha querida e minha própria vida, exclamei:

- Julia! Temos que salvar a Rebecca!

Neste momento minha prima me olhou muito séria e disse:

- Ela já está perdida, Deborah. Temos que tentar nos salvar agora.

Não lembro o que ocorreu em seguinte. Se algum adulto foi nos salvar ou se a Rebecca conseguiu se desenroscar sozinha e voltamos sãs e salvas. Mas carneiros me aterrorizaram durante muito tempo depois disso.

Observação que pode não ter muita relevância para a compreensão do texto (ou toda, dependendo do seu ponto de vista): hoje minha prima está no segundo ano de direito. Mas ela é boa pessoa. Juro.

19.10.07

Mulher de fases



Eu passei por taaaantas fases musicais que acho que posso criticar todas, porque gostei de quase todos os estilos.

Quando eu comecei a me considerar gente, eu ouvia Spice Girls (aliás, vocês viram que elas voltaram? Pô, se conseguirem trazê-las pro Brasil, eu vou no show com certeza). Eu tive os dois primeiros CDs e amava. Eu nunca fui uma Spice Girl numa bandinha de criança, porque minhas amigas não gostavam (Na época eu tinha só uma amiga, então nem dava pra montar a bandinha, nem se eu quisesse. Mas a minha irmã era a Baby Spice na bandinha dela, que tinha 7 meninas em vez de 5). Ah, claro, Spice Girls era coisa do demônio no colégio evangélico porque elas dançavam "peladas" atrás de uma cadeira em uma música (Naked, lembram??) e tinham altas mensagens subliminares sobre sexo no meio das músicas (ouvindo hoje eu fico estarrecida, mas isso eu nem percebia porque tinha um coração puro). Depois eu dei o CD, quando cansei delas. Não acredito até hoje que fiz isso. O meu único consolo é que dei para uma amiga da filha da minha empregada (grande amiga, por sinal), então ela deve ter ficado feliz.

Depois delas, eu tive minha fase POP/MTV e eu ouvia tudo que a mídia lançava. Backstreet Boys (tenho 2 CDs) primeiro, depois NSync (2 CDs também)(aliás, o Justin Timberlake era bem mais legal no NSync do que é hoje), Britney Spears na época que ela ainda era virgem (2 CDs), Christina Aguilera antes de virar putona (2 CDs) (Inclusive eu fui num minishow dela de 25 minutos quando ela veio pro Brasil lá por 99. Foi meu primeiro show. Não revelamos as fotos até hoje.), Five (2 CDs) (pra quem não lembra, Five foi uma tentativa mais ou menos frustrada de recriar as Spice Girls numa boy band. Não era tão legal e só um deles era lindo. As músicas eram todas iguais e tinham altas mensagens subliminares sobre sexo. Escabroso.) e até umas bandas menores que eu curtia porque passava na MTV, mas eu não tinha CDs, como Westlife (quem?). E Hanson, claro, não podia faltar (2 CDs). A grande vantagem dessa época é que minha mãe trabalhava muito e ganhava horrores, então era possível comprar todos os CDs (inclusive as trilhas sonoras de todos os filmes da Disney e dos outros desenhos animados da época). Era uma boa época. Eu me achava o máximo porque tinha os CDs que todo mundo queria. Observação básica: eu tinha, inclusive, um CD que a Mattel lançou que era da banda da Barbie, um tal de Beyond Pink, com a capa rosa choque. Eu, minha irmã e a filha da minha empregada tínhamos as três barbies da banda (a minha está até hoje na minha estante - ela brilha no escuro!). Não me zoem, vocês gostavam de É o Tchan que eu sei!

Aí eu me mudei de São Paulo e vim pra Campinas e, aos poucos, ouvir pop não era mais tão pop. Aí eu comecei a ouvir punk rock (isso foi com uns 12 anos), com Blink 182 (2 CDs, um original - que é uma bosta - e outro copiado - que era legalzinho e meu irmão perdeu emprestando para alguém. Pessoalmente, eu prefiro a fase emo do Blink, é mais sonoro) e Avril Lavigne (1 CD - depois me dei conta de que era uma bosta - isso é uma mancha negra no meu histórico musical, mas pelo menos me dá autoridade de odiar muito a Avril hoje).

Mas a fase punk rock durou pouco. Até eu conhecer um amiguinho que curtia metal na oitava série e eu comecei minha fase de odiar tudo que todo mundo adorava. O problema era que era meio difícil conhecer bandas alternativas sem baixar músicas nem comprar CDs (agora minha mãe não ganhava mais horrores, nem nunca mais voltou a ganhar, e os CDs começavam a ficar muito caros), aí eu ouvia o metal que todo mundo ouvia, como Angra, Iron Maiden e Metallica e bandas que eu ouvia na extinta Rádio Rock (bons tempos...). Isso firmou minhas bases pra ouvir majoritariamente bandas de metal estranho de países eslavos que ouço hoje. Mas até o fim do ano passado eu realmente me forçava a odiar MUITO tudo o que todo mundo ouvia.

Hoje eu sou mais livre, leve e solta e ouço tudo o que eu gosto, passando desde música clássica até Pussycat Dolls (mas eu me nego a ouvir Don´tcha, não porque foi muito pop, mas pq é podre, mesmo).

Ah, eu tive minhas fases de funk e axé, da época que eu ia em festinhas (gente! eu era convidada para festas!!) e sabia as coreografias. Isso durou pouco, da 7ª série até o 1º colegial, que foi a minha fase não tão antisocial na escola. Explosão Chacaboom (como escreve essa bagaça??) e Elas Estão Descontroladas ("Ah! Que isso? Elas estão Descontroladas!") marcaram muito. Até o dia que eu fui num axé com uma amiga minha e ela me abandonou pra ficar com um cara, o som tava ruim e eu fiquei traumatizada para sempre.

Além, claro, da fase Mamonas Assassinas que acho que todo mundo teve. Mas eu só ouvia quando os meus primos de Recife estavam aqui (ou seja, quase nunca), porque minha mãe nem minha escola deixavam, por motivos óbvios. "Mãe, o que é uma suruba?" Tinha certeza que era uma espécie de massa.

10.10.07

Quando a gente se abraça no escuro, não faz a escuridão sumir. As coisas ruins continuam ali. Os pesadelos continuam à solta.

Quando a gente se abraça, não se sente seguro, mas se sente melhor. "Está tudo bem", sussurramos. "Estou aqui. Eu te amo." e mentimos: "Nunca vou te abandonar".

Só por um ou dois instantes, parece que a escuridão não é tão ruim. Quando a gente se abraça.


- Niel Gaiman, Me Abraça

2.10.07

Os textos se escrevem. O escritor os inicia, mas eles mesmos seguem seus próprios caminhos, tomando rotas alternativas àquelas que estavam planejados, extendendo alguns caminhos, encurtando outros, tirando outros do papel completamente. E acabam quando querem. Não quando o autor quer. Terminam como e quando querem. Se tentar continuar, vai parecer errado. Têm de terminar com uma frase de impacto - sempre. O final é o que importa, disse Johnny Depp em A Janela Secreta. É mesmo. Se você escrever uma história magnífica e tiver um fim ruim, não será uma boa história. A última frase, por sua vez, tem de ser a mais explendorosa de todas. Tem que haver aquele gostinho de que deveria ter continuado no fim da história. Aquele último suspiro. O "boa noite" da escrita. E, claro, pode tentar se esforçar o quanto quiser para elaborar a boa frase final. Mas ela sempre vem pronta.

É como se os textos estivessem esperando por serem escritos. Me sinto psicografando, às vezes, e, ao reler, me surpreendo com o que escrevi. Eles têm vida própria. Não fui eu quem escreveu. Os personagens seguem seus rumos. O cenário se mostra. As ações ocorrem. Tudo isso independe do escritor. Ele é o historiador: aquele que apenas relata verdades que não presenciou, ocorridas em terras distantes nas quais não acreditamos mais.

25.9.07

sonho

Havia uma pequena caverna que servia de entrada para a sala de reuniões. A sala em si era um lugar sombrio, mal ilumado pela luz amarelada de algumas poucos velas repousando sobre candelabros. Móveis empoeirados. Teias de aranha.

Mas a entrada era muito pequena, mesmo. Tão minúscula, que um dos monges que se dirigiam à sala de reuniões ficou preso nela. Seus ombros não passavam pela passagem. Puxou, puxou, puxou tanto, que seu pescoço ia cedendo aos poucos, cobrindo o chão de sangue enquanto ia se livrando da cabeça - o obstáculo impedindo sua entrada.

Deixando a cabeça para trás, entrou na sala e sentou em uma das cadeiras com costas altas e cabeceiras bem trabalhadas.

Percebendo sua decapitação, a menina menor foi procurar um rosto para substituir aquele que seu superior tinha perdido.

Sujou o vestido rendado, o laço, as meias brancas e os sapatos de verniz dentro da caverna. Olhando ao redor, com a pouco luz proveniente da sala, viu que haviam vários rostos sobre o chão cinza-arroxeado, uns três ou quatro. A cabeça de seu mestre, entretanto, estava enterrado no teto da caverna. Jazia lá, cinzento, com os olhos fechados e a boca aberta, como todas as outras faces. A única coisa que o diferenciava dos outros era que tinha crânio e pescoço e os demais eram apenas rostos: pele morta e globos oculares sobre o solo.

Havia, também e contudo, uma boneca no meio de tudo aquilo. Pensando pelo bem de seu amo, a garotinha resolveu descascar o rosto da boneca - aquele que parecia o mais vivo dentre todos eles - para dar a ele.

Retornando à sala de reuniões, já com seu trabalho finalizado - o rosto de plástico seco e sílios postiços nas mãos, suja da cabeça aos pés - quis entregar o presente ao monge.

- Do que adianta - respondeu ele - ter um rosto se não tenho uma cabeça para sustentá-la?

19.9.07

Festival de Animes, Bancos e Caminhos Desconexos

Em primeiro lugar, este é o 333, em 3 anos de blog. Eu esqueci de comemorar os 3 anos daqui, o 100º, 200º ou 300º post, mas eu prometi pra mim mesma que no post 333 eu ia fazer alguma coisa. Tá aí: ficou avisado.

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Festival de Animes, Bancos e Caminhos Desconexos


Esse fim de semana eu fui num evento de anime, aqui na gloriosa Campinas. Eu nunca tinha ido em um e admito para vocês que fui com um mínimo de receio, porque um amigo meu tinha me incado o contrário, mas as amigas com que fui estavam tão empolgadas que eu não pude me conter a acompanhá-las. Na véspera (porque é de prache deixar tudo pra última hora) pedi dinheiro pros meus pais (porque também é de prache eu nunca ter meu próprio dinheiro) e minha mãe me deu o cartão dela (mal sabia ela do perigo que corria. eu normalmente gasto pouco. creio que ela contava com isso).

Então, depois da aula antes do evento, eu fui com uma das minhas amigas pegar dinheiro no caixa eletrônico do subsolo do shopping (cursinho fica no shopping). Mas justo o que eu precisava estava fora do ar ¬¬ Então decidimos que eu poderia dar uma voltinha quando chegássemos ao local do evento, já que é bem no centro da cidade e achar qualquer coisa por lá é bem fácil.

Depois de nos perdermos de nossa carona, buscarmos a irmã do motorista, chegarmos, encontrar a maior galera e deixar a maioria dessas pessoas comendo yakisoba, decidi que chegara o momento de eu ir em busca do meu banco. Convoquei uma amiga e lá fomos nós.

Paramos numa lanchonete (agradecendo para quem quisesse ouvir por não estarmos fantasiadas) e perguntamos onde teria um banco. Então um senhor tomando sua cerveja nos indicou um caminho, mas recomendava mais irmos até a rodoviária. Então rumamos à rodoviária.

E fomos, e fomos, e fomos. Debaixo do sol das 13h30, ambas trajando preto, carregando bolsas pesadas, eu de salto alto, subíamos várias ladeiras até finalmente chegar ao nosso destino (nesse momento, eu agredeci mais ainda por não ter vindo com o vestido preto longo, o qual eu planejei vestir). Então eu tirei meu dinheiro, tomamos água de um bebedouro de água quente (melhor que nada) e iniciamos a jornada de volta.

Há um quarteirão de lá, encontramos um casal que, com certeza, vinham do mesmo lugar que nós (a menina estava de peruca branca e quimono, e estava tão bem fantaisada que tive que chegar bem perto para perceber que realmente era uma garota). Então resolvemos perguntar se havia um caminho mais fácil até o evento:

- Oi! Você sabe como chega até a Nipo?

- Oh, não! - ela disse, irônica - Me reconheceram! Eu pensei que estava me camuflando tão bem...

E ela nos explicou um caminho bem mais fácil. Tão mais fácil que chegamos na metade do tempo que levamos para ir. Além disso, há umas duas quadras do evento, vimos, grande e reluzente: o meu banco. O banco mesmo, não só o caixa eletrônico.

Poderia jurar que o cara que deu a informação o fez de propósito.

14.9.07

é como se um pedaço de mim tivesse morrido.

será que acabou mesmo? as turbulhências voltarão, claro, na próxima conversa. mas aí serão só coisas da sua cabeça. como sempre.

11.9.07

Há 6 anos atrás aconteceu o que diziam que daqui a muitos anos dirão que foi o início da era do terror. É mesmo? Não é a mesma coisa há cinqüenta anos com a guerra fria? Há cem com a primeira guerra e o neocolonialismo? Há 500 com o colonialismo propriamente dita?

O que mudou, na verdade, foi o centro das atenções. Antes o mundo era eurocêntrico e agora firmou-se norte-americano (mais ou menos, porque alguns anos mais tardes houveram ataques na Inglaterra e na Espanha - haha, pobres americanos, se achando tão especiais pq sua torrinha foi derrubada...). Disso, todo mundo já sabia. Desde a independência, os Estados Unidos queriam ser a nova Europa. Fico imaginando se, por influência deles, 11 de setembro de 2001 vá se tornar o marco que separa a Idade Contemporânea da Idade do Terror (nome bem pretencioso, hein?, levando em consideração que se tem uma coisa que se perpetuou por toda a história, é o terror).

Na real, 11/9 não mudou nada para mim, eu nem lembrava que dia era hoje, além de ser a véspera do aniversário da minha irmã e uma terça-feira, até meu professor falar, fazendo piadinhas, claro. Sinceramente, nem sei porque "comemoramos" todo ano o 11 de setembro. Poderíamos "comemorar" também o Dia D (muito mais importante para a história), o Glope de 64 (bem mais perto de nós, brasileiros) ou a Revolução Francesa. Cá entre nós, bem mais importantes e emocionantes que uns aviões batendo numas torrinhas...

4.9.07

O problema de ler um livro verdadeiramente bom é que você acaba esquecendo de fazer algumas coisas, como estudar, mas isso já era de se esperar. Além disso, esquece algumas outras coisas mais rotineiras, como comer, dormir e tomar banho.

23.8.07

Depois de meses, consegui produzir literatura. Se é que lhe valhe a denominação.

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Passou anos com a máscara. Ela tinha um sorriso débil e olhos dorminhocos, prontos para aceitar qualquer comando - como se fosse uma máquina - e chorar quando as coisas não resultavam como havia planejado. Ficou tanto tempo atrás do disfarce que as pessoas que a conheciam antes da máscara não se lembravam mais de como era sem ela.

Certo dia, por um evento favorável em que não precisava mais usar a máscara, tentou tirá-la.

Desamarrou os fios sob os cabelos e puxou a madeira pelas bordas. Sentiu sua pele esticando como se apertassem suas bochechas. Seus lábios, pálpebras, nariz e testa ardiam com o esforço. Era inútil. Estava grudado. Pensou em usar uma faca para tirá-la à força, mas aquilo só iria machucá-la e ela não queria recomeçar com um rosto coberto por chagas.

Então fabricou uma nova máscara. Aquela que desejava ter e que pensava ser por baixo da máscara antiga. Pintou um sorriso arrogante e olhos perversos. Sabia que não iria se arrepender, então colou a máscara nova sobre a antiga.

Passou a andar com imponência. Suas vontades eram realizadas e ela era, finalmente, respeitada.

As pessoas ao redor perceberam a mudança, claro. Cochichavam entre si que preferiam a máscara antiga. Esse cochichos chegaram até ela, como sempre acontece.

A princípio, ficou furiosa e mandou torturar aquelas pessoas. Depois arrependeu-se, percebendo que aqueles que cochichavam eram os que realmente importavam.

Chorou. E as lágrimas ficaram contidas entte o rosto verdadeira e a primeira máscara. A máscara que todos preferiam. Todos menos ela.

Então esculpiu uma nova máscara, mesclando as duas anteriores e colando-a sobre elas.

Não funcionou, entretanto, porque a nova máscara não apagou a lembrança da tortura. isso fez com que ela fosse obrigada a sair da cidade.

No ambiente novo, confrontou novas situações e, para cada caso, uma nova máscara. Todas coladas uma sobre as outras.

Até que, um dia, pelo peso de todas as máscaras, tombou para frente. Seus disfarces foram se descolando até que o último - aquele do sorriso sonso e olhos dorminhocos - arrancou consigo a sua face verdadeira.

Hemorragia.

Quando perguntaram de quem era o corpo, ninguém soube responder ao certo. Cada um conhecia uma máscara.

19.8.07

Nomes Feios

Dos nomes feios



Você não gosta do seu nome? Vou te contar algumas historinhas que vão te animar.

Há as famosas versões aportuguesadas de nomes ou expressões estrangeiras, como Letisgo ("let´s go"), Madenusa ("made in USA"), Waldisney (Walt Disney) e por aí vai.

Dessas histórias de minha-mãe-leu-errado, ouvi uma, certa vez, de um cara que se chamava Procrep. Como é costume, os pais queriam colocar o nome do santo do dia no filho. Ele tinha nascido no dia 15 de novembro. Então, olhando no calendário, viram que o "santo" do dia era Proc. Rep. Pelo menos é sonoro. Imagina se tivesse nascido em 7 de setembro e se chamasse Indepbra?

Legal mesmo é quando resolvem fazer "anagramas" com os nomes dos pais. Conheci uma pessoa que tinha por apelido Dal uma vez e eu tinha certeza de que seu nome era Dalton. Aí eu descobri que, na verdade, chamava-se Adailson. Não bastasse o nome ser feio, mas seu pai era o Adail. Então ele era o filho do Adail. Muito trsite isso...

Eu tenho um tio que se chama Anfrísio. Não é de família ter nome estranho. Todas as minhas tias e minha mãe têm nomes que vêm do latim, mas que ficaram bons. Acredito que Anfrísio não seja latim. Adivinha o que ele fez? Deu o nome do filho de Anfrísio!! Quando ele teve a segunda filha, nomeou de Aline. Mas não é só Aline. É Anfrísio LIma NEto. Sorte dela que deu em alguma coisa normal...

Mas eu tenho a grande história vencedora de TODAS. E é verdade. Juro. Eu estava lá.

Uma vez, depois que minha mãe me buscou no cursinho, fomos na loja da Claro resolver alguns problemas referentes ao celular do meu irmão e tal. Aí, antes de descer do carro, a minha mãe me disse, muito séria:

- Deborah, não ri, mas o nome da mulher... é Xana.

Assim mesmo. Com X.

Entrando na loja, não consegui me conter quando minha mãe se dirigiu à mulher do balcão dizendo:

- Você que é a Xana?

Tive que sair da loja pra não rir na cara dela. Que mãe cruel, meu Deus! Fico me perguntando se não é indígena.

São nessas horas que eu fico muito, muito feliz por me chamar Deborah. Sem acento e com H no final.

12.8.07

Já que eu estou sem criatividade, estou doente e tenho visto alguns filmes, vou comentá-los. Pq quando vc não tem o que postar, posta sobre filme, certo? (Estive fazendo isso pelas últimas 3 ou 4 semanas.)

Então, Primo Basílio é o clássico do Eça de Queirós (Queiroz?) ambientado na São Paulo da década de 50. Luisa (a sempre linda e meiguinha Débora Falabella) é casada com Jorge (Reinaldo Gianecchini). Eles vivem uma vida confortável, com duas empregadas e talz. A Luísa se diverte com novelas e as histórias de aventuras extraconjugais de sua amiga Leonore (uma atriz boa e bonita que eu lembro de ter visto antes em algum lugar). Tudo anda bem até que Jorge é chamado para trabalhar com Oscar Niemayer na construção de Brasília e surge o primo e ex-namorado de Luisa: Basílio (Fábio Assunção). Aí vocês, fãs de literatura portuguesa, já sabem o que sucedeu: sexo, drogas e rock n roll (mais ou menos).

Assim, no geral é um bom filme, com a Gloria Pirez como uma Juliana meio passiva no início, chiliques hilários da Débora Falabella quase no fim do filme e as roupas bem lindinhas dos anos 50. É legal porque, mesmo mudando o tempo e o espaço orginais, o enredo ainda convence. Um ponto baixo do filme são os efeitos de edição, que são bem ruinzinhos, parece que foram feitos por amadores no Windows Movie Maker.

7.8.07

O Estranho Mundo de Jack (The Nightmare Before Christmas) escrito e produzido pelo Tim Burton em 1994, resolveu fazer sucesso de uns 2 anos pra cá. 13 anos depois. Talvez isso seja só mais um filme retrô que entrou na moda, como O Mágico de Oz e Laranja Mecânica, já que coisas retrôs estão na moda (então eu descobri - muito tristemente, porque eu seria indie não fosse meu gosto musical - que estou na moda). Talvez isso seja uma coisa boa, porque esses filmes muito bons finalmente foram descobertos por jovenzinhos sem muita coisa na cabeça. Talvez eles comecem a pensar.

O problema é que o Jack virou quase um íncone emo e eles têm TUDO dele desde camisetas até bonequinhos carésimos de coleção. Lançou até um mangá da história! Parece que o visual burtoniano do filme (um dos traços mais marcantes do diretor e, tristemente, dos emos) e os personagens simpáticos (principalmente o Jack e a Sally, que até viraram personagens do "I miss you", do Blink 182 ¬¬) fazem o maior sucesso. Isso não é um problema, na verdade, não fosse a inovação que a película trouxe para o mundo do cinema. O Estranho Mundo de Jack foi o primeiro longa-metragem feito em stop-motion (com massinha). Se não fosse tão lindo, seria até meio tosco, porque os personagens não mexem a boca na mesma velocidade com que falam. Além disso, é um filme bastante macabro para crianças. Na época que foi lançado - na verdade até hoje, acho - destaca-se entre as animações da Disney sobre contos de fadas fofinhos, onde a coisa mais assustadora era a madastra da Branca de Neve. Até Noiva Cadáver, do mesmo Burton e com personagens mortas, é mais leve que ele.

Bom, eu só vi a obra inteira uma vez, no cinema, aos 7, 8 anos, com meus irmãos e meu pai. Foi realmente muito diferente de todos os outros filmes que eu tinha visto (eu só assistia a desenhos animados), sobre princesas e coisas alegres. Marcou muito. O que foi mais impactante pra mim é que a animação era meio dark e eu adorei. Senti como se eu estivesse quebrando as regras, de algum jeito.

Na época, eu estudava numa escola evangélica fundamentalista. Tinha aula de religião e talz. Na primeira série, quando lançou Poccahontas (é assim que escreve?), a professora (uma senhora solteirona, que praticamente fundou o colégio) passou uma fita do filme (Na época tinham umas fitas vermelhas que vinham junto com os livros dos filmes da disney. chamavam read-along, eu tenho até hoje o da Pequena Sereia.) e ia parando a história nas cenas dos ritos indígenas, dizendo que aquilo era coisa do demônio. Lavagem cerebral total. E a Disney me fez o favor de lançar Nightmare no mesmo ano :] Ah! Como eu era rebelde!!

Lembro de ter comentado com uma amiga minha (uma das únicas amigas de infância com quem ainda mantenho contato), filha de pastor, sobre Nightmare e ela reagiu da maneira que eu esperava: coisa do demônio. Deixei quieto, não comentei mais. A partir daí eu comecei a assistir os desenhos do Beetlejuice e da Família Addams, que seguiam mais ou menos a mesma linha.

Na verdade eu deveria agradecer à essa onda do Jack, porque eu não lembrava o nome do filme ¬¬

31.7.07

Pensou nele tanto, tanto, quis tanto que ele estivesse aí, que pudesse conversar com ele, que ele a procurasse, que ele simplemente pensasse nela tanto quanto ela pensava nele que ele ligou.

À meia-noite. Quando ela estava dormindo e o celular, desligado.

26.7.07

Semana Harry Potter - parte 2 (juro que acaba aqui)

Harry Potter e a Ordem da Fênix



O filme novo do Harry Potter é essencialmente ruim. A história é mal-contada e toda picotadinha. Acredito que quem não leu o livro não deve ter entendido a história ou pelo menos não entendeu a essência. Sem contar que eles mudaram muuuuita coisa e eu que sou fã chata e fico pensando coisas como não foi assim no livro!!. Eu sei que fica difícil adaptar um livro tão grande quando a Ordem da Fênix, mas, poxa!, eles tinham muuuita grana pra gastar! Não podiam colocar mais uma meia-horinha pra contar melhor a história?? Pra mim esse não foi um filme por si só, é como um complemento do livro. Um guia para os leitores verem: olha, o que vc está lendo era pra ser assm. Parece que o filme inteiro são cenas escolhidas de uma obra bem maior.

Ah, além disso tem o Dan Radcliffe que é sempre detestável. Mal ator, não consegue trazer nenhuma das emoções do Harry pra tela. O Harry nos livros é engraçado, corajoso, tem dúvidas. O dos filmes só tem dúvidas. É impressionante como TODOS os outros atores dão de 10 a 0 nele. Mais impressionante ainda é como a crítica adoooora ele...

Mas o filme também tem coisas boas. É uma obra bem feita, estética, bons efeitos especiais, iluminação boa, trilha sonora excelente. Os atores novos também são muito bons. A Helena Boham Carter (Bellatrix Lestrange) dispensa comentários, como sempre. É engraçado pensar que ela foi a segunda opção da produção... A atriz que fez a Luna Lovegood é perfeita: linda, voz distraída, ótima atriz. Igualzinho ao que eu imaginei, até melhor :] A Dolores Umbridge está perfeita também. Mais perfeita só se tivessem conseguido uma atriz que realmente tivesse cara de sapo. E a Tonks é legal também, bem linda. Bom, ela não aparece muito, então não dá pra comentar muito a respeito dela.

O Ralf Fienze (Voldemort) destrói todo mundo, como sempre. A produção tem que parar de trazer atores tão bons pra fazer os personagens malvados, assim eu vou acabar torcendo por eles. Outra coisa que eu gostei é que o Rony está bem mais parecido com o personagem literário, bem menos boboca e medroso que nos outros filmes. A Hermione também está mais fiel, não sendo a Xena, Princesa Guerreira que sempre tem as idéias na história. E o Gary Oldman (Sirius Black) está muito sexy, hehe.

Resumidamente, a película tem cenas boas e produção boa, mas faltou um pouco da parte do roteirista. Tomara que no Enigma do Príncipe (livro 6) tragam de volta o roteirista dos outros filmes.

24.7.07

Eu não gosto de best-sellers. Não li nada do Dan Brown e provavelmente não vou fazê-lo (inicialmente pq é um best-seller, mas agora pq ele simplesmente não me interessa) nem nada que costuma aparecer naquela listinha dos dez livros mais vendidos na Veja ou qualquer outra revista. Coisa de pseudo-cult-gosto-do-que-ninguém-gosta? Sim. E pq acredito que literatura é uma das coisas que as massas simplesmente não entendem, mas isso é assunto para outro post.

Mas Harry Potter é outra história. É estranho pensar que eu realmente cresci com o Harry. Li o primeiro livro com 12 anos e o 7º com 18 (e se eu estudasse em Hogwarts essas seriam as idades com as quais em começaria e me formaria lá, já que sou do segundo semestre) e ele fez MUITA diferença na minha vida. Eu não gostava de ler antes dele e, depois de lido, tudo começou a se relacionar com ele - piadas e cenas do livros me recorriam constantemente. Os personagens são como amigos pra mim e eu ainda sei o que alguns feitiços significam e outras informações inúteis acerca dos livros de cor.

O estranho mesmo de tudo isso é que sempre que eu acabava um livro, eu sentia um vazio imenso dentro de mim que ficava por dias (sensação que, até hoje, só um outro livro conseguiu causar). Era como me despedir de um amigo que morava muito longe, ficava por poucos dias de imensa alegria e diversão e fosse embora, me deixando para trás, sozinha no escuro. Dessa vez, ao fim do último livro definitivo (que acabei de ler há poucas horas - fantástico e muito, muito revelador), essa sensação está demorando para vir. É como se eu estivesse me conformando aos poucos de que um ente querido tivesse morrido e não quisesse acreditar que ele realmente nunca mais fosse voltar. É estranho não terminar e querer respostas e esperar ansiosa pelo outro lançamento...

Uma das coisas que me deixa meio irritada, no entanto, é que a maioria das pessoas associa Harry Potter a adolescentes idiotas que só lêem best-sellers. Talvez a maioria do público seja, cativado pelas cenas de ação e piadinhas dos livros e até escolhendo seu casal preferido, mas é tão mais do que isso...

Harry Potter não é uma história para crianças sobre um bruxo órfão que tem que vencer o mal. Harry Potter é uma história para crianças e adultos sobre tolerância, principalmente. Como a própria Rowling disse, o fato do Harry ser um bruxo é meio pano de fundo para o enredo e não é tão importante assim. Durante toda a saga, é mostrada a importância do bom relacionamente entre os bruxos e trouxas e entre os bruxos e outros seres fantásticos. Isso é muito frisado no discurso pró-sangue-puro dos Comensais da Morte, o que me pareceu muito com o regime nazista (principalmente nos 6º e 7º livros). No 7º livro, Voldemort consegue tomar poder e seu regime é totalitário, com controle da imprensa e das escolas, patrulhas armadas nas ruas, prisão e tortura daqueles que se opõem a ele. Tem muita política em Harry Potter. Isso foi dito na Folha e no Estadão acerca do 5º filme. Imagino o que dirão a respeito do 7º filme... Em defesa, desde o livro 5, Harry junta-se com os amigos e forma um grupo de resistência dentro da escola, ao mesmo tempo em que os adultos formam um do lado de fora. Esses grupos se parecem muito com grupos de resistência de guerrilha. Tenho certeza de que os métodos de atuação dos dois grupos não foram tirados da imaginação da autora.

Além disso, os personagens do livro são extremamente complexos, como pessoas reais, com várias facetas. É difícil prever as ações de um personagem, a não ser que ele seja muito caricato, ou em situações muito comuns. Isso também mostra claramente que não há maniqueísmo na história. Os lados da batalha não são separados por bruxos totalmente bons e totalmente ruins. Ambos, apesar dos poderes mágicos, são humanos afinal. Até Dumbledore, o símbolo máximo do bem supremo tem seus defeitos e seus escorregões. Bom, o Voldemort realmente é completamente mal, mas ele foi muito bem trabalhado para ser assim, como alguns líderes políticos que possamos imaginar.

Há também, claro, as referências óbvias às verdadeiras virtudades como compaixão, amor, misericórdia, perdão e altruísmo. É como a Bíblia para ateus. Eu acho que mais líderes mundiais deveriam ler Harry Potter. Talvez mais pessoas deveriam ler, ao menos os trechinhos de lição de moral.

É por causa dessas lições de moral e essas referências políticas que eu acho que Harry Potter é bem melhor que Senhor dos Anéis. E é de longe bem mais divertido e agradável de ler.

13.7.07

Ah... Eu nunca postei vídeos do youtube aqui. Sinto a necessidade de fazer isso, porque isso é tão engraçado (e pq não quero contar minha epopéia no Animundi pra vocês. Digo apenas que fiz uns minifilmes bonitinhos e que eu perdi o meu chaveiro de Jack no caminho ardiloso para casa (mas Nightmare Before Christmas está na moda agora, então vai ser fácil arrumar outro).

Isso aí. Este foi uma das melhores curtas que eu vi no festival (que rola até domingo, pra quem quiser ver) e também o único que eu achei no youtube... Enjoy!

9.7.07

sabe quando a sua amiga te conta uma história super clichê da contada liiiinda que ela recebeu na balada e vc fica pensando em como os homens são todos idiotas na balada e falam qualquer coisa pra pegar mulher, mas não fala nada disso pra ela porque ela tá toda feliz porque saiu da seca?

então.

3.7.07

Não faço amigos fácil. Isso tem melhorado de uns tempos pra cá. Tenho mais amigos virtuais que reais (isso deve ser uma constante entre blogueiros, visto que quase nignuém que eu realmente conheço comenta ou sequer lê isso aqui). Só faço amigos se eles me forem apresentados.

Também não cultivo muito bem minhas amizades. Só tenho uma amiga de infância, com quem eu mal converso, e duas da escola. O orkut serve para me lembrar de todo mundo que eu conheci e com quem eu não converso mais. Devem haver umas 15 pessoas, dos meus 200 contatos com quem troco scraps regularmente. No MSN então a situação é ainda mais crítica. Não sei o que me impede de deletar todos essas pessoas de vez da minha vida (ou do meu desktop, que parece ser na prática a mesma coisa).

Tem gente que perdi que faz falta. Lembro dos bons momentos e fico pensando em porque eles - ou mesmo eu mesma - mudaram tanto.

Mas a maioria não faz a mínima diferença.

Isso chega a ser triste. Mas só chega.

27.6.07

Passei seis meses sem fazer absolutamente nada (salvo por um cineminha aqui e acolá, um churrasco e uma mísera festa no início do ano). Agora que finalmente apareceu um churrasco de despedida de uma amigo meu, surgiu uma pizzada de uma amiga minha no mesmo dia e um casamento no Rio de uma prima distante. E tudo isso na véspera de um simulado. E depois do simulado ainda tem outro churrasco.

Impressionante como TUDO sempre acontece ao mesmo tempo.

24.6.07

Eu sou meio suspeita pra falar de filmes fantasiosos, mas O Labirinto do Fauno é realmente espetacular. A fotografia é ótima, pra começar. Os efeitos especiais também (se bem que hoje, depois de Narnia ou Star Wars mesmo, onde seres em animação gráfica nunca destoam do resto do cenário, é inútil falar de animação). O fauno, as fadas e outros seres fantásticos são incrivelmente bem feitos e belos. O cenário místico é fabuloso, o real idem.


O enredo se passa em 1944, durante a ditaduta do General Franco, na Espanha. A história trata de Ofélia, uma menina de 13 anos (com cara e corpo de 11, diga-se de passagem), apaixonada por contos de fadas, que vai viver com sua mãe na casa de campo do General Vidal (Darth Vader), um militar franquista inescrupuloso e muito cruel. Apesar de tudo isso, o general é segundo marido da mãe da protagonista e pai de seu irmãozinho, que está prestes a nascer.

Certo noite, Ofélia é levada por uma fada para um labirinto nas redondezas da casa de campo de seu padrasto, onde encontra um fauno que lhe revela que ela é uma princesa esperada por todos do reino subterrâneo, onde não existe dor ou enfermidades ou morte. Mas, para provar que ela é digna de sua magestade, é preciso que ela realize três tarefas antes da lua cheia (dali a pouco tempo).

Enquanto isso, no lustre do castelo, a empregada do general e amiga de Ofélia e o médico de sua mãe, tramam contra o general, ajudando rebeldes refugiados (Aliança Rebelde) na floresta. Além disso, a mãe de Ofélia fica muito doente por conta da gravidez. O mundo real é marcado por crueldade extrema e muita dor.

Um dos pontos altos é como a película consegue balançar cenas muito cruéis com as fantasiosas, fazendo com que nada se torne forte demais, ao mesmo tempo que nada perca o sentido. Ainda fica no ar, ao final do filme, se o fauno e todo o reino mágico de Ofélia realmente existiu e foi impossível de ser visto por adultos sem inocência ou se foi tudo somente um delírio. Acho que este foi um dos melhores dramas polítocs que já assisti.

20.6.07

Tem várias coisas que eu odeio. Principalmente tipos de pessoas.

Antes eu odiava os emos, mas agora eles estão diminuindo, então eles não me encomodam mais. Hoje me divirto mais rindo deles. Passei então a odiar pseudo-intelectuais, que são simplesmente detestáveis por tudo o que são e respresentam, com suas roupas retrôs, seus livros do Jorge Saramago, seus filmes do Walter Salles e outros diretores alternativos ganhadores de Oscars e suas bandas alternativas de gravadoras milhonárias.

Também odeio vegetarianos que tentam converncer todo mundo a parar de comer carne com suas fotos de açogues no orkut, dizendo que "se vc estudasse fisiologia humana vc saberia que não deveríamos comer carne assim" (na verdade se vc estudasse fisiologia, vc saberia que não deveríamos comer tanto assim). Esses vegans nunca pensam que, se fôssemos herbívoros, o cérebro humano nunca teria se desenvolvido tanto. Aposto que esses chatos me responderiam, por orkut, que tecnologia não é importante.

Há os comunistas também. Odeio comunista. Deveríamos fazer uma fogueira com todos eles e celebrar o imperialismo, capitalismo e consumismo norte-americano yanke. Eu entendo que o socialismo utópico, o científico e o anarquismo são idéias bonitas e tal e seria realmente bom se fosse possível. Mas não é. Por isso aquele livro do Thomas Morus se chama A Utopia. Eu aceito comunistas pré-guerra fria, mas continuar acreditando nesses ideais depois do fracasso da URSS, de Cuba, da China, da Coréia do Norte, etc, etc, etc... (Favor não colocar a culpa disso na corrida armamentista e espacial da União Soviética e dos EUA. Se a URSS fosse realmente tão boa, nem teria entrado na briga e realmente ficaria investindo para melhorar a edução, a saúde e blá, blá, blá...)

Odeio anti-americanos que deixam de comprar McDonald´s, mas comem no Burger King. Isso serve para os comunistas também, que na maioria das vezes deixam de usar Nike para usar All Star e carregam seus IPods por todos os lados. Detestáveis...

Odeio feminista também. Mas isso eu odeio simplesmente pelo gosto de odiar, porque feministas são muito chatas. Até parece que conseguimos matar baratas, trocar pneus sem nos importarmos em nos sujarmos e abrir latas de picles sozinhas... E eu nunca vi uma feminista reclamar de não ter que servir o exército ou de desconto para mulheres na balada.

E eu odeio pessoas que são pseudo-intelectuais, vegetarianos chatos, comunistas, antiamericanos (que costumam ser a mesma coisa) e feminista tudo ao mesmo tempo. E ainda por cima politicamente correto. Odeio pessoas politicamente corretas, ecológicas, que não comem gordura trans... O mundo seria tão mais divertido se fôssemos todos impoliticamente corretos...

15.6.07

Tem 3 soníferos infalíveis: 2001: Uma Odisséia no Espaço, O Senhor dos Anéis em cenas de descrição de cenário (75% do livro) e história do Brasil.

Ai, como eu preciso estudar história do Brasil...

9.6.07

Tá certo. Admito que é grande. Mas é agradável. Juro!
Bom, esse é o capítulo final da minha epopéia. (viu, Leo, vc vai poder imprimi-lo agora. Quero saber o que achou depois.) Depois disso voltaremos aos posts pequenos.
Aliás, eu sei que tem umas incoerências externas absurdas, mas quando eu escrevi isso eu tinha só 14 anos e se eu corrigir agora, vai perder toda a graça.

Rosas de Prata
CAPÍTULO 4
Rosas de Prata

Darwin sorriu, completamente realizado, seu ego mais inflado que nunca. Sabia que Nacademus, lá longe no Reino das Fadas (seu futuro reino), assistia orgulhoso pela sua bola de cristal. Olhou para a espada e para a armadura coberta de sangue e riu. Pensar que tinha realmente escapado da boca do Dragão...

Estava lá, à porta do quarto que obviamente continha a princesa. Tirou o elmo e os cabelos dos olhos. Respirou fundo, pôs a mão sobre a maçaneta, virou-a e abriu a porta.

Estranhamente, o quarto era incrivelmente limpo, todo arrumadinho e muito bonito. O quarto inteiro era de marfim: as paredes, o piso, o teto... E este cômodo possuía até uma janela. Uma janela média, de onde dava para enxergar o sol, ainda alto no céu.

Aquela claridade toda fez bem a Darwin, que estivera cerca de três horas no escuro. Seus olhos haviam ardido no vermelho e laranja do fogo, suas narinas e garganta queimaram com a fuligem. Mas aquela claridade, aquele branco, o sol no céu, aquela paz... Darwin andou em direção à janela. Olhou para fora e viu a Floresta de Iridis lá longe. Tão bonita, tudo tão verde visto daqui de cima... Mais perto, estava Black. O cavalo negro pastava tranqüilamente, exatamente como seu cavaleiro havia o deixado, algumas horas atrás. Logo, logo, porém, estaria cavalgando de volta para casa, para o Reino das Fadas, para ser coroado e... E...

Havia esquecido daquele tão simples detalhe, o motivo pelo qual estava lá, pelo qual este quarto estava tão decorado. Olhou para a parede que ainda não tinha observado e viu uma espécie de velório altamente sofisticado. Três degraus cresciam do solo e, no alto, jazia uma cama. Era mais uma cápsula de vidro, mas o importante é que lá estava a princesa. Ao todo seu redor haviam deslumbrantes rosas prateadas. Aquelas rosas não morriam, pareciam florescer ainda mais a cada dia que passava. Perdiam as pétalas, mas novas nasciam em seus lugares. Eram flores enigmáticas, certamente mágicas.

—Bonito, disse Darwin, aproximando-se da princesa.

Talvez o beijo não seria tão ruim. Havia lido em alguns livros de Nacademus que o beijo era “como uma rápida passagem pelo paraíso”, não só um ato de amor. Bom, Darwin abriu um sorriso maroto, se fosse assim, como os outros haviam descrito, não seria nada mal.

Chegou ainda mais perto, o coração batendo com ansiedade. Seria o último obstáculo até o trono, até a coroa, até o poder...

Esticou a mão, a fim de retirar o vidro cobrindo a princesa. Ela era realmente linda. Os cachos pretos emoldurando sua bela face, branca como a lua, os olhos fechados com longos cílios, sob sobrancelhas finas e bem feitas. O nariz arrebitado bem no centro do rosto, uma boca pequena, o lábio inferior mais carnudo que o superior, de um rosa pálido. Tinha um pescoço fino, o vestido do mesmo prateado das rosas era solto e deixava seus ombros à mostra. Todo o seu corpo a partir da cintura estava coberto por pétalas caídas. Mesmo com tamanha beleza, a princesa parecia distante, congelada de um modo muito bizarro, parecia morbidamente morta: um fantasma colorido.

Darwin recuou, puxando a mão, deslizando-a bruscamente sobre o vidro. Quando sua mão esquerda tocou uma das rosas laterais, sentiu uma imensa dor na palma. Fora tudo muito rápido, mas Darwin ainda sentia a perfuração do espinho rasgando sua pele, atravessando sua carne e abrindo sua armadura como se rasga uma folha de papel alumínio.

Ainda com a mão sobre a cápsula de vidro, o cavaleiro, gritando de dor, puxou o braço para trás, arrancando a rosa de seu buquê. Em seu lugar, nasceram outras três flores. Enfurecido, Darwin arrancou a planta amaldiçoada, sem cor e sem cheiro, de seu punho, separando-a, violentamente, do espinho grosso. Jogou a flor desgraçada no chão e ficou algum tempo olhando-a caída, o sangue borbulhando em desgosto.

Quando retornou sua atenção à mão ferida, viu que ela sangrava um pouco. Um rastro vermelho e fino de sangue novo ia do espinho até a ponta do dedo indicador, donde escorriam pequenas gotas que caíam ao chão manchando aquele mármore puro com uma pequena poça vermelha. O espinho cinza azulado como a manhã antes do sol, fincado bem no centro da palma recoberta de ferro, saindo por ambos os lados. Com a mão desocupada, tratou de retirar o “invasor” cuidadosamente, mergulhado em profunda comiseração.

Resolveu tirar a armadura das mãos para ver o estrago que o espinho fizera. Puxou a mesma da mão machucada como se fosse uma luva. Sim, presumiu Darwin com os lábios tremendo de ódio contra a flor maldita, o estrago havia sido grande. A palma estava completamente furada como se tivesse levado um tiro. O buraco tinha um diâmetro de mais ou menos um centímetro e o círculo que a formava parecia ter sido queimada ao seu lugar. Não sangrava muito. Até agora.

De repente, Darwin tornou-se uma nascente de um verdadeiro rio de sangue. Horror e fúria prevaleceram e o garoto correu até a porta, onde havia deixado sua espada, pegou-a com as duas mãos, foi em direção das flores e—

—AHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!

Com a garganta solta, livre, o humor pior que nunca, a mão sangrando muito tingindo a armadura, a espada, o chão... Cortava frenética e furiosamente contra as rosas: pétalas e espinhos voavam pelo cômodo, como penas numa guerra de travesseiros. Essa batalha continuou por vários minutos, até que todas as flores foram despedaçadas e jaziam caídas no solo parecendo uma estátua de pedra estatelada. Satisfeito, mas não se sentindo ainda vingado, jogou a espada ao chão com a mão boa, agora coberta pelo sangue que continuava saindo da outra. Ergueu a mesma, macabramente regando as rosas cortadas e mortas.

—Vinguei-me de vocês, flora infernal! São idênticas à princesa que guardam: bonitas por fora, mas detestáveis e pontudas por dentro! Tal qual a princesa que matou meu pai! – falou Darwin num tom alto e claro, ganhava coragem, orgulho, à medida que
falava.

Era ele quem mandava, aquele que tinha o poder no quarto. Aquelas rosas eram vegetais de pedra, a princesa estava tão morta quanto o dragão a muitos andares abaixo deles. Darwin dominava neste momento. Sua ferida já não doía mais, mas o sangue persistia em jorrar. Respirou fundo, não por medo, não por nervosismo, mas em um ato de soberania. E continuou:

—Sangro por vocês! Vocês não têm sangue em seus vasos de pedra, suas flores
prateadas do inferno! Rego-vos em um ato de misericórdia!

Sangue desaguava nas pétalas caídas e nos galhos nus da palma da mão erguida do cavaleiro, tingindo tudo de vermelho. Gotas salpicavam também sobre a cápsula da princesa, manchando-a aos pouquinhos.

As trevas finalmente baixaram do espírito de Darwin e sua ferida parou de jorrar, pingando só um pouco. Sentou-se ao chão, em um dos únicos cantos que não estavam sujos de seu próprio sangue, onde sua fúria não havia interrompido a paz do mármore. Tirou um lenço do interior da bota de ferro e amarrou-o em torno do machucado, esse ganhou umas gotas vermelhas no início. Darwin assistiu-as nascer e crescer com grande interesse e um pouco de dó por si mesmo. Mais calmo, despiu-se da luva de ferro da mão direita. Flexionou os dedos, todos os dez. Aquele ferro apertava e impedia-lhe do uso correto de suas mãos.

—Ai! – exclamou aliviado, massageando a mão boa com a ferida. Era tão bom tirar toda aquela tensão dentre os dedos.

Lembrou-se de uma vez ter recebido uma massagem nos ombros de uma garota. Havia sido gostoso. Darwin tinha 15 anos na época e a garota era uma camponesa bonitinha. O garoto lembrava-se de suas tranças cor de mel e de seus grandes olhos castanhos. Tinha mãos hábeis, dois anos a mais que Darwin e um papo ousado.

—A única coisa que faço em casa é costurar, cuidar dos animais e da casa – ela havia dito a Darwin enquanto massageava-o. E num tom mais provocante revelou o que realmente queria:

—Agora eu só preciso de um homem para me dar uma vida.

Mas ela havia se enganado ao procurar o cavaleiro. Este não queria garotas e (nessa ela havia se enganado mesmo) nunca dividiria o poder – a verdadeira vida, o significado e a essência da vida – com ninguém, muita menos com uma camponesinha qualquer.

Todavia gostaria que ela – como era mesmo seu nome? – estivesse aqui para massagear seus pés dolorosos. Tirou a bota de ferro do outro pé e esticou seus dedos, separando-os, depois os flexionou algumas vezes. Cruzando a perna sobre a outra, começou a massageá-la. Ainda fazendo isso, olhou para cima, encarando o quarto.

—Pelas barbas de Merlin!

Espantado, viu que o chão continuava repleto de sangue, mas as pétalas haviam sugado aquilo que o manchou, tal como os galhos da roseira. Esta estava crescendo numa velocidade fora do comum cobrindo a princesa por completo. Pelo que deu para Darwin ver, a cápsula também estava limpa. Com passos de mágica, as pétalas levitavam do chão, juntavam-se aos galhos e formavam novas rosas. A roseira nova era mais alta, mais grossa e tinha mais espinhos.

Darwin abaixou a cabeça. Entendera tudo. Teria sido fácil demais... Não podia lutar contra as rosas, contra os arbustos, contra os espinhos. Isto só faria com que crescessem mais... Havia um segredo. E Darwin sabia o que tinha que fazer. Teria que amar a princesa, amá-la de verdade, para poder chegar perto dela. As rosas a protegiam de alguém que a usaria, exatamente como Darwin planejava fazer.

Enterrou o rosto nas mãos. E agora? Ninguém ama por obrigação, isto não é amor.
Aos sete anos Darwin havia perguntado à sua mãe o que era amor. Nesta época ela ainda era apaixonada por seu marido, e este ainda era fiel, então respondera, enquanto cozinhava:

—Amor é sentir calor nas mãos e no rosto, frio na barriga, mas não sentir os pés no chão.

Aquilo era bonito, mas o garoto já afastava os sentimentos quando chegava à primeira etapa: calor nas mãos. Lembrava de ter sentido calor excessivo quando Virgínia – isso! Este era o nome da camponesa – falava com ele. Nacademus havia dito que ela não servia, que nada jamais seria sério com ela. E quem disse que Darwin queria algo sério? Ele queria era se divertir, depois largava a garota em qualquer canto. Ao pensar nisso, o cavaleiro tinha certeza de que novos espinhos cresciam no arbusto.
Apertou os olhos fechados. Por que o amor tinha de ser tão complicado? Na verdade não é, dissera o Mago Stein em visita a Nacademus, o amor é muito simples, nós é que a tornamos complexa. Darwin concordava com isso. Bastava arrancar o coração, expô-lo ao vento e esperar o primeiro bonitão tocá-lo. No caso de Nemo, era mais fácil ainda, bastava alguém olhar para ele que já entregaria o mundo a ela. Mas Darwin era diferente. Costumava se isolar e esconder-se emocionalmente. Era fechado.

Parcialmente por causa da mãe que, depois do incidente da princesa, chamava todo e qualquer apaixonado de tolo cego. Darwin também tinha medo de se machucar, assim como sua mãe havia sido machucada.

Na verdade, ele não tinha nada contra mulheres. Sempre apreciou as curvas e delicadeza das moças, raciocínio e visão de mundo diferentes dos homens. Até levaria a camponesa Virgínia para algum lugar distante para reiniciar sua vida com ela. O problema maior eram as princesas, como esta pirralha dentro da cápsula. Uma havia destruído sua família e a mãe de Darwin, que sempre fora alegre e amável, tornou-se fechada e triste, morrera de tristeza. Desde então, Darwin jurou que nunca se relacionaria com princesa alguma para vingar a morte e a solidão de sua mãe.
***

Haviam passado horas. A roseira prateada continuava a florescer à medida que Darwin detestava mais a princesa de pedra.

A luz da lua cheia, pendurada lá no céu negro estrelado, entrava pela janela, iluminando o quarto, tornando-o ainda mais morto e pedroso. Darwin deitava-se no chão, olhando para o teto, a cabeça apoiada nos braços dobrados, pensando.

Nacademus o estaria observando agora? Deixaria sua bola de cristal pela noite? Por esta noite? Teria ele, conhecendo Darwin como conhecia, perdido as esperanças de que ele algum dia viria a amar? Como será que o Mago, lá longe, em seu simples e pequeno chalé na periferia calma do Reino das Fadas, estaria?

Reino das Fadas... Tão perto e ao mesmo tempo tão longe... Estava a 3 metros e a dois anos e Darwin tinha a impressão de que a distância aumentaria à medida que o tempo passasse.

Darwin virou-se para olhar a lua. Viu nela o rosto da mãe: envelhecida em demasia para sua idade, os olhos eram a única coisa que pareciam vivos. Sua expressão era de dor. Como ela estaria orgulhosa do filho que não caíra nas garras do amor.

Mas seria todo amor maldito? Os Magos acreditavam que os sentimentos mais bonitos eram a coragem e o amor. Por isso, quem os tinha seria um bom rei. Darwin leu, também, muitos livros de amores bonitos. Seria capaz de realizar tal ato? E Zaphira? Havia a morte da Fada do Amor sido em vão? Era inevitável pensar em amor sem fazer o mesmo com sua Fada. Darwin fechou os olhos e, no escuro, viu o aspecto meigo da amiga reaparecer. Seus olhos brilhantes, sorriso que iluminaria até a breu torre lá embaixo.

Uma lágrima formou-se nos olhos de Darwin e, sem perceber, deixou que ela caísse. Como sentia saudades da amiga... Havia convivido com ela por tão pouco tempo, mas ela havia o ensinado tanto...

Enquanto subiam a íngreme serra, Zaphira havia contado uma história sobre o início da humanidade e o verdadeiro significado do amor.

No início, ela havia dito, não existiam homens nem mulheres. Existiam seres de duas cabeças, quatro pernas, quatro braços, mas apenas um coração, uma alma. O sangue era o mesmo, assim como o ar que respiravam. Estes seres eram muito felizes, mas os Deuses divertiam-se atirando raios nessas criaturas, separando-as. Desde então, a sina do ser humano é encontrar seu parceiro, aquele que tem a mesma alma, o mesmo coração. Aquele que voltará a dividir o ar e, algum dia, o mesmo sangue.

O cavaleiro não tinha prestado muita atenção ao conto, mas agora entendia... Olhando a cápsula que se livrava aos poucos dos espinhos que a envolviam, que a protegiam. Despia-se da armadura do anti-social, dos mitos, das mentiras.

Darwin ficou de pé. Alto, forte, os cabelos curtos, cor de areia, caídas sobre os olhos verde-água, como o mar. Seria possível? Sim, seria sim. Ah! Zaphira ficaria tão feliz, Nacademus provavelmente estava tão orgulhoso...

Deu dois passos e pôs-se a correr. O quarto se transformava em um comprido corredor, num túnel escuro. Mas nada disso importava, tinha a luz do olhar da princesa para lhe guiar, seus batimentos cardíacos aumentavam à medida que a adrenalina infiltrava em suas artérias. Correndo... Não pensava mais no Reino das Fadas. Bobagem! Nemo seria, certamente, um Rei melhor. Seria mais sábio, teria mais compaixão. Darwin nunca tinha pensado na tristeza de acordar todo dia sozinho, dia após dia, não ter ninguém para dividir as alegrias, para passar noites chuvosas abraçados no divã em frente à fogueira. Isso sim era ser feliz.

Como você estava errada, mãe.

Parou de correr, cessando em frente à cama de pedra. Puxou a cobertura para esquerda, livrando os membros superiores. A respiração acelerada, o coração à mil, pôs a sua mão sobre a delicada mão da princesa, com dedos compridos e finos, unhas bem cuidadas. Como a natureza era gentil com algumas pessoas, como ela conseguia manter, sem o menor esforço, algumas coisas tão belas; tal qual as rosas prateadas e a princesa Alka. Esta agora parecia apenas adormecida, não morta, como estava anteriormente, com sua pele macia e suave... O rapaz passou a mão pelos cabelos negros, macios e sedosos. Como ela conseguia ser tão incrivelmente perfeita...

Sorriu. Darwin abaixou-se e, um pouco nervoso, roçou seus lábios contra a boca da garota. Ela ainda estava fria. Beijou-a mais humanamente desta vez, soprando vida e calor para dentro do corpo à sua frente. Sentiu-se renascer ao toque.

Afastou um pouco o rosto para olhar profundamente nos olhos de seu amor. E surpreendeu-se olhando para dois grandes olhos de íris cor-de-rosa berrante. Por algum tempo, Darwin ficou paralisado, em transe, em favor desta tão bem vinda surpresa. Mas seria mesmo?

—Oizinho, Darwin!

Não era a voz profunda, suave, que era de se esperar de uma princesa. Era aguda demais para os lábios de veludo que a proferiam. Seria até desagradável se não fosse a coincidência...

—P-princesa Alka?!

—Darwin, me chame pelo nome.

Epílogo

Darwin não sabia, Nacademus nunca o havia ensinado que, se uma Fada gostasse realmente da pessoa de quem ajudasse, poderia transformar-se num humano e conviver com ela por mais tempo. Foi isso que Zaphira fez. Ela e Darwin se casaram e foram muito felizes juntos. Seu filho fora treinado por Nacademus, também, para competir o próximo trono.

É, você já adivinhou, mas vou dizer de novo: Nemo surpreendeu a todos (menos ao leitor) com suas habilidades e bravura e reinou por muitos anos até que a morte finalmente o levou.

3.6.07

Preguiça de ler, gente? É isso??

Rosas de Prata

CAPÍTULO 3
Duelo com o Dragão


O sol nascia radiante, enquanto nossos heróis subiam o morro para definirem de uma vez por todas seus destinos incertos. Uma risca de luz cobria vagamente as montanhas mais altas, aquelas do fim do mundo que parecem nunca acabar. O horizonte era um palco iluminado para a grande estrela laranja florescente que aparecia aos poucos para dominar o dia, aquecendo e trazendo vida às criaturas que haviam ficado imóveis durante a noite.

À medida que Darwin subia, o sol parecia fazer o mesmo movimento, movendo-se na mesma lenta velocidade, naquele fantasioso nado sincronizado pela vida. Tudo começou a aquecer-se. Pareciam estar andando em direção ao sol. Ou era apenas o suor da exaustão? Pouco importava.

Agora estavam em um chão nivelado com a Torre da Escuridão, que estava mais monstruosa que nunca. Não. Não era o sol, a exaustão, o suor. Era a fumaça vinda do Dragão que proporcionava tal calor aos seus mais novos visitantes.

Darwin respirou fundo, engasgando com a fumaça, mesmo vinda de tão longe. Apertou fortemente as rédeas e liderou Black em direção à Torre. Deram alguns passos, mas o cavaleiro parou o animal de repente ao perceber que não mais ouvia o bater das asas próximo à sua orelha. Olhou para trás. A fada era quase invisível à luz do dia, mas dava para perceber o leve contorno cor-de-rosa à distância.

O garoto chamou-a com um movimento de sua mão coberta por aço. O pequeno movimento negativo da cabeça de Zaphira era perceptível demais, já que estava totalmente imóvel, sem contar pelo movimento das asas que a mantinha flutuando. O cavaleiro nunca recebia um não como resposta, e esta não seria a primeira vez. Desceu do cavalo e andou até ela rapidamente e fez a pergunta, como se fosse um desafio à morte:

—Por quê?

—Porque você deve prosseguir sem minha presença. Eu já lhe acompanhei por tempo suficiente e já lhe despertei tudo o que tinha a despertar. Por isso, jovem Darwin, deve ir e salvar a princesa sozinho. Temo que tenho que ficar aqui, não posso ir contigo.

A fada pousou sobre o ombro do cavaleiro e inclinou-se para frente (naquela pose que só as fadas sabem sustentar), beijando sua face coberta de metal. Voou para frente do rosto de seu companheiro, dando-lhe um último sorriso e um aceno de adeus. Com estes últimos atos, o campo energético ao redor da fada inflou até chegar ao tamanho de um prato grande. Duas fendas de luz cor-de-rosa brotaram da parte superior e inferior do globo, abriram como um leque e, numa explosão de luz muito florescente, cegou Darwin, que gritou.

Entretanto, o mesmo não gritou porque tudo ao seu redor tinha escurecido em relação e por efeito da explosão, mas porque Darwin sabia o que aquilo havia significado. O Mago Nacademus tinha ensinado ao seu aprendiz que, quando o trabalho de uma fada terminava, ela explodia de prazer de ver seu trabalho feito. Por isso, podia-se dizer que as fadas sempre morriam felizes, já que não se podia matar uma fada. Nunca, nada consegue afetar a enorme energia sempre positiva das fadas.

Zaphira poderia ter explodido de felicidade, contudo o coração de Darwin parecia pesar uma tonelada, mesmo com o enorme vácuo que começava a se formar. Andou até o cavalo, deu um tapinha no seu pescoço, suspirando, e falou:

—Acho que estou totalmente só nessa, não é mesmo? Cavalos morrem de medo de fogo... E isto inclui você, Black. Acho que não vou demorar muito, então, se eu não voltar daqui a cinco dias, volte para o Reino, volte para Nacademus e vá conhecer seu novo cavaleiro.

O animal expirou fortemente. Darwin deu novo tapinha em seu pescoço, olhando fixamente à Torre da Escuridão. Afastou-se de Black, enquanto este começava a pastar pela grama rala, e foi em direção à sua meta.

O sol estava alto durante o meio-dia, e o calor e a fome tomaram conta de Darwin, mas esta não era hora de pensar com o estômago. Estava em frente à nebulosa Torre da Escuridão. Por algum motivo, sozinho e de tão perto, a Torre parecia bem maior e muito mais tétrica. Tirou a espada da bolsa em seu cinto e, respirando fundo, quebrou facilmente o trinco de ferro desgastada daquela imensa porta de madeira descascada e queimada.

Com o primeiro passo para o interior da Torre, nosso jovem herói já percebeu que o tão esperado resgate à princesa não seria nada fácil. Estava muito escuro, porque a Torre não possuía janelas, e a única luz que havia era aquela do fogo do Dragão, expelidos pelos roncos sonolentos vindos da próxima cela à direita do corredor. Este fogo iluminava mal o interior da Torre (talvez daí seu nome), contudo mostrava bem os destroços de outros cavaleiros, aqueles que vieram antes de Darwin, pelo mesmo motivo, jogados por todo lugar. Alguns com os esqueletos totalmente destorcidos, outros simplesmente haviam morrido de queimadura, pois suas carcassas estendiam-se perfeitamente atrás de armaduras enferrujadas, outros ossos enlaçados entre alumínio que um dia fora derretido.

Darwin olhou para cima. Com certeza a princesa estaria no quarto mais alto e mais longe. A escadaria única de pedra que crescia circularmente do chão até o mais alto ponto da torre era o único meio para chegar até a princesa. Andou até o primeiro degrau. Estes eram altos e espessos. Darwin subiu alguns degraus cautelosamente, sem fazer ruído. Enquanto caminhava lentamente, olhou para o monstro mostrado com o brilho de suas próprias chamas. O Dragão era enorme. Coberto por uma couraça negra, possuía um corpanzil com o abdômen gordo, de onde saía aquela cauda grossa como uma jibóia depois de engolir um boi, com espinhos grossos e pontudos que eram ramos de seus ossos interiores e cortavam a própria carne da besta. Das costas saíam asas, não como as delicadas asas de Zaphira, mas como horrorosas e imensas asas de morcegos. Pernas e braços curtos, todavia musculosos, com dedos cujas unhas pontudas eram de amedrontar o mais valente guerreiro. Sua cabeça era horrível: parecia o fuço de um cavalo cujas narinas, orelhas e dentes caninos haviam crescidos em demasia. As chamas expelidas por aquelas narinas terrivelmente imensas iluminavam horrivelmente a cara daquela criatura das trevas. Havia mais fumaça e fuligem aqui do que em qualquer outro lugar da Torre.

O coração apertado e a cabeça doendo com a fumaça, Darwin continuou a andar, espiando o bicho de longe, rezando para que o Dragão não percebesse sua presença. Mas era impossível que ele não percebesse. Dragões tinham os cinco sentidos muito bons. O cheiro de carne fresca e o ruído de metal na pedra eram de acordá-lo – sem contar, alegrá-lo. E, proferido o pensamento, o dragão inspirou, roncando com tal grandeza que Darwin, distraído, errou o passo, escorregou e rolou vários degraus abaixo, fazendo uma barulheira de perturbar um surdo. E perturbou a fera, que não era nada surda.

A criatura abriu os olhos amarelos, uma mistura entre olhos de gato e de cobra. Logo avistou o garoto estatelado aos pés da escada. Darwin estremeceu. Sentia ainda mais calor no pescoço. Ao assistir ao dragão erguer-se (primeiro o corpo, depois a cabeça, rosnando de um jeito que suas narinas expelissem fumaça), o cavaleiro ergueu-se também e pôs-se a correr escada acima, a fim de ficar nivelado à garganta da fera. Parando, tirou a espada novamente e (por alguma razão desconhecida, mas certamente idiota) começou a fazer movimentos ameaçadores, balançando a arma pesada a sua frente, de um lado para o outro.

Se estava tentando hipnotizar o dragão ou não, nada funcionou, mesmo que a fera continuasse olhando fixamente ao seu alvo. Seus olhos brilhavam maliciosamente. Certamente estava com fome. Havia 50 anos que não aparecia nada vivo por lá e dragões não se alimentam de fumaça, você sabe. Lambeu seus beiços de couro escamado com aquela língua cor de sangue, a ponta bifurcada como a de uma cobra. Fixou seu olhar em sua presa. Para Darwin, aquele pequeno intervalo de tempo parecia demorar muito mais do que realmente existia no mundo.

Desfocou o olhar, abriu a boca exibindo uma fileira de dentes semelhantes aos espinhos de sua calda. Do fundo de sua garganta saiu um fogaréu em direção a Darwin, que fugiu, correndo alguns degraus acima, sentindo o calor desconfortável misturado ao bafo fedorento do dragão. A besta tomou fôlego outra vez e metralhou contra aquele bichinho que subia deseperadamente, o grande escudo pulando em suas costas como se estivesse num touro mecânico.

Darwin tropeçou nos próprios pés e estava agora de quatro, os membros superiores num degrau, os inferiores na de baixo. De alguma maneira extraordinária e sobrenaturalmente azarada conseguiu prender o pé esquerdo num buraco entre os degraus. Quanto mais esforço fazia para sair daquela posição infeliz, mais preso parecia ficar.

Dragões não comem fumaça, como já disse, mas bebem desespero e o sangue em suas artérias corre por causa do sofrimento alheio. Por isso, a criatura logo sentiu o odor do ódio e seguiu até lá. Seus olhos brilharam ao verem Darwin se contorcendo e, assim, sua boca encheu-se de saliva, que escorregou do beiço e pingou na escada, criando uma poça gosmenta perto de Darwin. O dragão inclinou-se para frente, abocanhando o inseto.

Tudo escureceu.

Por algum tempo Darwin pensou que estivesse morto e tinha ido ao inferno. Respirava com dificuldade o ar quente e fedido daquele lugar escuro e percebeu que o coração batia com severidade. Concluiu então que ainda estava vivo. Tomando consciência de sua posição percebeu que estava pendurado no ar pelo pescoço. Então lembrou de onde estava: jazia dentro da boca do Dragão, o escudo, que se prendia por um cinto de couro ao redor do pescoço, preso entre dois dentes afiados e amarelados. A armadura do pé provavelmente estava ainda presa no buraco, já que agora seu pé estava nu e, felizmente, ainda no fim da perna.

Darwin agradeceu ao Criador por ter dado aos dragões um vácuo tão grande dentro da boca e jurou montar uma banda Gospel assim que saísse de lá. Ei! Não! Quando saísse de lá seria Rei do grandioso Reino das Fadas. Com seu plano já arquitetado, a espada firme em sua mão direita, quase engasgando até a morte, o desejo por poder como sua única ponte de volta para a vida. Pôs a mão esquerda também na espada, agora voltada para cima, e, num gesto rápido, afundou a lâmina no céu-da-boca da fera, onde (esperava Darwin) era o cérebro. Veio uma vibração do fundo da garganta da besta, sacudindo um Darwin pendurado pela espada e pelo escudo: um grito de dor. Darwin puxou a espada de volta para si deixando uma nascente de um rio de sangue, cortou o cinto do escudo e pulou pela boca aberta da estridente criatura. Fora levado com a correnteza de sangue até o chão, de onde assistiu a besta espernear e sangrar por algum tempo. Quando se deu conta de que o dragão ia cair, Darwin subiu alguns degraus e viu, finalmente, a queda do grande dragão da Torre da Escuridão de camarote.

25.5.07

Rosas de Prata

CAPÍTULO 2
Fadas

Semana que vem chegou, finalmente, pela felicidade de todos os jovens cavaleiros, menos Nemo (aquele vagabundo de bom coração, aprendiz do Mago Arquimedes), e seus respectivos mestres. Cada cavaleiro tinha uma dama em apuros para salvar (é, havia várias damas em apuros e seus respectivos dragões), portanto, não se encontrariam no meio do caminho.

—Tenha uma boa jornada, Darwin! E faça-me orgulhoso!

—Eu o farei, Mestre!

Darwin, de armadura, sobre seu cavalo preto, acenava um adeus orgulhoso e ambicioso para o Mago Nacademus. Iniciou sua jornada, a caminho do sol poente.

Deixou o Reino das Fadas num galope rápido. O céu estava laranja e vermelho, as flores soltavam um odor adocicado pelo ar morno, os pássaros cantavam num último suspiro de dia, mas enquanto penetrava pela Floresta de Íridis, tudo escurecia. O cheiro era de terra e o chão estava molhado e coberto de folhas úmidas. O início da jornada foi até prazerosa, todavia a tal da Torre estava muito longe ainda e demoraria alguns dias para chegar até lá.

Passando algumas horas, Darwin começou a sentir-se cansado daquilo. Por que a Torre tinha de ser tão longe? Apostava que a do pobre e indefeso Nemo estava a quilômetros mais perto do ponto de partida, aquele queridinho do Mago Arquimedes sempre se dava bem...

Mas não desta vez! Agora era diferente: sua vida dependia disso. Imagine a humilhação de voltar para casa e perder a coroa para alguém como Nemo? Ah! Seria demais. Mas isso era um sonho a realizar. Sim, um sonho... Era o desfecho perfeito para seu esforço suado, o “e viveram felizes para sempre” de um conto de fadas. Fadas... Sim, como estas criaturinhas de Deus sobrevoando as flores...

Agora ele entendia o porquê de seu futuro reino ter aquele nome. Darwin nunca havia antes percebido, mas as flores estavam sendo iluminadas por estranhas luzes que variavam de tons de verde, amarelo e cor-de-rosa berrantes. Talvez fosse porque estava tão exausto, ou porque elas realmente se sobressaltavam no escuro, esta foi a primeira vez que Darwin viu fadas – e tantas delas juntas. Eram centenas de luzinhas (que não podiam ser vaga-lumes) voando sobre as flores exóticas e entre as árvores da floresta.

—Fadas...

—Sim! Fadinhas! – disse uma vozinha aguda de perto de sua orelha. Com uma batida forte de suas asas, a fada revelou-se em frente ao rosto do cavaleiro.

Esta era uma fada cor-de-rosa. Era uma moça minúscula, seus cabelos lisos e vermelhos batendo na altura da cinturinha, olhos redondos de íris rosada, nariz arrebitado e boca em forma de coração. Vestia um traje curtíssimo branco. Possuía um par de asas de borboletas, simétricas e perfeitas que saíam de suas costas. A luz era uma espécie de brilho bizarro que formava um estranho campo energético circular em volta do corpo delicado da fadinha.

Darwin, mesmo atrás do elmo, não conseguiu esconder o espanto. Manteve-se quieto em surpresa. Evitando um silêncio constrangedor e desnecessário entre os dois, a fada começou a falar, com sua voz aguda:

—Bom, eu sou Zaphira, caso você queira saber. Vim aqui porque seu tutor, o Mago Nacademus, mandou-me vir checar seu comportamento.

Com aquelas palavras, Darwin voltou à realidade. Checar seu comportamento?

—Eu não preciso de ninguém cuidando do meu comportamento, ouviu, fadinha?

—Ah! São todos iguais, corajosos quando chega a fadinha, mas todos perdem a cabeça quando vêem o Dragão. Viram churrasco, todos eles, viram churrasquinho! Você sabe, não é, cavaleiro? Que foram muitos os outros aprendizes que foram atrás da Princesa Alka, mas nem unzinho conseguiu sair de lá com vida.

—E como é que um exame de etiqueta vai me ajudar a passar pelo Dragão? Com certeza não terei de dizer: “por favor, seu Dragão, posso passar para salvar a princesa?”.

—Não era bem isso que euzinha quis dizer...

—Ahah, essa foi a primeira vez que você usou o diminutivo no lugar certo! – gozou Darwin. Talvez irritando a fada, ela iria embora.

Mas pareceu não dar certo, ao contrário, Zaphira parecia ler seus pensamentos:

—Eu não vou me irritar com você, sabe? Nós, fadas, não nos irritamos facilmente e, admita, você estava clamando por companhia.

—O Black é ótima companhia.

—O cavalinho? Sabe, eu o sigo desde sua casa sem que você percebesse e não o vi conversar com seu animal nem uma vezinha.

Darwin começou a irritar-se com aquela voz aguda que não parava de falar. Puxou as rédeas do cavalo Black e continuou a subir a trilha, tendo cuidado em dizer:

—Vamos, Black, aventura nos espera!

Atrás dele, o sorriso da fada não morria. Na verdade, seu sorriso só se alargava.


As fadas classificavam-se em três cores, Nacademus havia ensinado a Darwin. Cada cor significava uma bênção: a verde era para a saúde, a amarela para fortura e a cor-de-rosa para o amor. As fadas iam atrás de pessoas que necessitavam de suas bênçãos e, irradiando sua energia, transmitiam aquilo que poderia melhorar a vida do perseguido.

***

Darwin continuava cavalgando, agora mais vagarosamente, até a Torre. Começava a se preocupar, a noite já estava escura, ainda mais naquela densa floresta, onde a luz da lua nunca penetraria. As Fadas, felizmente, já haviam sumido faziam algumas horas. Levariam ainda quantos dias? Seria melhor acampar? Não, tinha que continuar andando.
Mas o que acharia no final da trilha? Uma torre alta mal-assombrada por um dragão enorme e feio expirando fogo pelas grossas narinas? E a princesa? Como havia ela de ser? Certamente bela, com seus longos cabelos que refletiriam a luz do sol, olhos puxados, cheios de mistério, lábios carnudos que expeliriam vida com seus beijos, mão delicadas, unhas compridas e sempre bem arrumadas... Sim, seria bela. É pré-requisito para qualquer princesa ser bela. Bela, dona da verdade e chata.

Cavalgava agora mais rapidamente, devido às árvores que se separavam aos poucos, dando espaço para a luz da lua penetrar. A noite estava estrelada e a lua cheia iluminava bem tudo ao seu redor. Nosso herói estava galopando agora na pradaria coberta apenas de grama e outras vegetações rasteiras, seus olhos pregados na torre que avistou assim que deixara a floresta.

Reconheceu sua meta imediatamente como a Torre da Escuridão. Já havia visto gravuras em livros e ouvido histórias de parentes de cavaleiros que morreram tentando matar aquele maldito Dragão, mas Darwin nunca imaginou que a Torre seria tão imensamente sombria. Era altíssima e tinha um diâmetro de dar inveja às outras torrinhas. Mas seu tamanho não era o pior: havia nuvens de fumaça ao seu redor (sem dúvida nenhuma, expelidos pelo monstro que habitava lá) dando um ar sinistro e medonho em demasia. Nada parecia estar vivo atrás daquelas grossas paredes de pedra.

Galopou ainda mais rapidamente, não vendo nada a seu redor, apenas a Torre da Escuridão que se aproximava cada vez mais e mais. À medida que cavalgava, suas batidas cardíacas aceleravam e a pressão em suas artérias aumentava. Ambição, sede e desejo por poder eram as únicas coisas que dirigiam aquele cavaleiro, com as rédeas apertadas firmemente entre seus dedos.

O tiling-tiling da armadura, somada ao som das patadas do cavalo contra o chão era música aos ouvidos de Darwin. Galope, galope, galope... A subida parecia-lhe não muito íngreme, não desta distância...

Então um barulho novo se juntou à melodia da glória. E não era um som agradável: era o som do bater de um par de asas, depressa como o pulsar do coração, próximo à orelha do cavaleiro. Este espiou a luminosa criatura cor-de-rosa com o rabo do olho, atrás da venda do elmo e bateu as rédeas fazendo com que o cavalo acelerasse ainda mais para tentar perder a fadinha.

“Pare, Darwin, você não sabe o que pode enfrentar na Torre da Escuridão”. Darwin ouviu a voz aguda e irritante dentro de sua mente. Puxou as rédeas com excessiva força, fazendo com que o animal se erguesse nas patas traseiras e, relinchando de dor, derrubasse seu cavaleiro no chão.

Mas a dor do impacto não fora tanto quanto a dor da humilhação que sentiu ao ver a fada sobrevoando sua cabeça com um largo sorriso de indiscutível vitória.

—Está bem, fadinha, vai me alertar novamente do Dragão? – perguntou o cavaleiro, desistindo e até um pouco curioso.

—Não – respondeu – E me chame pelo nome, não gosto de ser tratada como bichinho – completou.

—Então é sobre o quê, Zaphira?

—Sobre a princesinha.

Darwin rolou no chão até ficar de barriga para baixo em desdém e falou com desgosto:

—O que tem de tão importante nessa princesa?

—É o prêmio –

—Prêmio?! – cortou Darwin sentando-se de olhos arregalados.

—Que você não quer. Agora me diga: por que você odeia tanto princesas?

—Porque elas são chatas e bobas.

Darwin havia dito isso da boca para fora, só para não parecer que não tinha o que responder. Na verdade, a razão era algo maior, bem maior, que a fada nunca entenderia... Mas ela parecia entender, seus olhos estavam cheios de pena e, num modo maternal, falou carinhosamente:

—Eu não quero entrar na sua mente de novo, Darwin, pode falar para a Zaphira, ela é acostumada a ouvir. Ela vem cheia de amor, ela é amor.

Amor... Amor não era importante. Amor havia acabado com sua família...

—Amor não interessa!

—Tenho certeza de que você também ama - continuou Zaphira, no seu tom maternal –, mas não sabe o significado desta palavrinha. Amor pode ser de mãe para filho, de amigos e de apaixonados. Você teme este último, não é? Por que você o teme?

—Não te interessa...

Aquela fada enxerida não o humilharia novamente...

—Você pediu, Darwin...

A cabeça de Darwin poderia ter explodido de dor naquele momento e foi cegado por luz cor-de-rosa.


Poucos segundos mais tarde encontrou-se de volta àquele corredor de marfim frio sem fim do enorme palácio do Reino das Fadas.

Estava olhando para um homem alto, forte, de barba e cabelos médios, vestido com roupas de um simples camponês e com uma expressão indiferente. Este era o pai de Darwin, que, pelo que o mesmo se lembrava, havia tido um pequeno caso com a rainha do Reino das Fadas. O rei havia descoberto e mandado ambos para a guilhotina e hoje, especificamente, o pai de Darwin estava sendo levado, junto à rainha, para seu triste destino.

Enquanto andavam lado a lado, os amantes, em direção à porta, a rainha cochichou:

—Mas morreremos em nome do amor...

Darwin, de oito anos, não fora levado para longe da guilhotina naquele dia. Sua mãe, angustiada, acabou por deixar escapar para ele e seus seis irmãos:

—Quero que vejam quem realmente é o pai de vocês, e aprendam a não fazer igual. Eu fui tola por me apaixonar...

Darwin assistiu à mãe jogar legumes no marido e sua amante junto com o resto do povo. Naquele dia o Reino das Fadas não fora feliz. Naquele dia, enquanto o casal estava preso à guilhotina, o sangue fora derramado e Darwin viu a cabeça de seu pai rolar no Reino das Fadas, onde as Fadas do Amor não conseguiram suportar o ódio e tiveram que partir.


Com uma dor de cabeça ainda maior que a primeira, Darwin voltou à realidade, sentado no chão naquele meio do nada, cabisbaixo e triste. Ele não viu, mas Zaphira também estava triste.

—E é por isso que eu também odeio você. Fadas do amor, princesas e amor por si só. É tudo uma memória terrível que não quero reviver – explicou Darwin, aquele caroço em sua garganta parecia não querer sair fazendo com que engasgasse para falar.

—E tem todo o direito de odiar. Mas estas são águas passadas. E temos que pôr um fim nisso. Este ódio tem que morrer. É por isso que estou aqui.

E ela se sentou sobre o joelho dobrado de Darwin, agora com um sorriso triste. Darwin levantou o rosto e sorriu também. A magia da fada havia começado a funcionar. Darwin levantou-se, espantando a fada. Dirigindo-se a ela, falou, num tom amigo e determinado:

—Vamos, Zaphira. Temos um Reino em jogo.

Montou o cavalo e os três começaram a subir a perigosa serra.

20.5.07

Rosas de Prata


CAPÍTULO 1

O Início de Tudo


Numa mesa redonda de madeira tosca, cercada por 12 cadeiras do mesmo material, sentavam 12 magos. Todos com suas longas barbas brancas, longas vestes e pontudos chapéus, variando na cor e no estilo. Todos sábios, que treinavam seus aprendizes cavaleiros, estes competindo pelo trono do Reino das Fadas.

Timóteo, o dono do bar, trazia 12 canecões, todos com o mesmo quentão, quando o Mago-mor falava. Este tinha a barba mais comprida, as vestes mais negras, o chapéu mais pontudo e, claro, o aprendiz mais vagabundo com o melhor coração (aquele que, com certeza, surpreenderia no final da história, como sendo o cavaleiro mais bravo).

— Temo em dizer, irmãos, que o nosso tempo está se esgotando. O Rei já está ficando decrépito e precisamos substitui-lo quanto mais rápido possível. O Reino das Fadas não pode ficar sem Rei. – pronunciava Arquimedes, sua voz grave e penetrante.

Todos concordavam, é claro, que os Magos não poderiam dominar o Reino das Fadas, por mais que seu nome dissesse isso. Magos não são feitos para dominar nada, apenas serem sábios e ensinarem os menores a serem bravos e de bom coração.

Mas como decidir qual era o melhor cavaleiro? Ora, quem não lê contos de fadas? A saída óbvia era, certamente, pôr a coroa sobre a cabeça daquele que trouxesse uma princesa da torre mais longe, cercada pelo maior dragão, protegido pelo maior número de feitiços malignos.

A reunião terminou quando decidiram que liberariam os jovens aprendizes daqui a uma semana, quando os Magos ficariam observando suas bolas de cristal, vendo quem morreria. Todos deixaram o bar ansiosos. Todos menos um: Nacademus.

Nacademus temia esta sentença desde o princípio. Não que seu querido aprendiz morreria no primeiro dia, longe disso: Darwin era um cavaleiro forte, bravo e talvez até um pouco egoísta demais. O garoto vinha de família simples, mas nunca conseguira sê-lo realmente, sempre quisera ser grande, o maior de todos. Desejava tanto aquele trono que provavelmente sonhava com ele. Nacademus, mesmo com as vestes de um azul calmo e o chapéu combinando, estava muito aflito. Sabia que Darwin sairia naquela mesma noite se fosse preciso, mas não possuía coração e, mesmo se o tivesse, seria de gelo.

O caminho para casa nunca fora tão demorado. Mesmo sendo Mago, Nacademus gostava de exercitar-se, então caminhava sempre para casa, sem ter que usar magia. A lua cheia iluminava seu caminho e brilhava sobre a porta de madeira caída aos pedaços quando chegou próximo o suficiente para observá-la. Não escutou nada quando entrou dentro de casa e foi à procura de Darwin. Achou-o em seu quarto, dormindo sobre a mesa de estudos. Com um toque de sua varinha, Nacademus fez seu aprendiz levitar da mesa e cair delicadamente sobre a cama. O Mago sorriu. Por mais frio que fosse o garoto, gostava dele. Ele tinha verdadeiro potencial e seria um bravo guerreiro, mesmo se não tivesse a alma de um Rei e um coração para tomar decisões. O sorriso era também pela felicidade de ter tempo ainda para pensar em um bom modo de contar a notícia ao ambicioso.
***

De manhã, quando o Mago despertou, encontrou a casa cheia de fumaça, anunciando que o café da manhã já estava sendo servido (Darwin era bom cozinheiro e sempre acordava cedo para preparar o café). Nacademus desceu preguiçosamente da cama, vestiu longas vestes roxas claras e seu chapéu de sempre, encantado para trocar de cor, calçou suas pantufas de coelhos cor-de-rosa e seguiu para a cozinha.

— Bom dia, Nacademus! – disse Darwin, servindo panquecas com mel ao mestre.

— Bom dia, Darwin. Dormiu bem? – respondeu o Mago, sentando-se à mesa e começando a alimentar-se. – Dormiu sobre a escrivaninha, não é? O que fazia lá?

— Traçava meu mapa para fora deste lugar e salvar a Princesa Alka daquele dragão – o garoto olhava pela janela do balcão onde sentava, abraçando uma das pernas, com desejo de aventura no olhar, o mesmo com que falava.

Nacademus aproveitou a situação. Pigarreou e declarou:

— Daqui a uma semana você estará na estrada prestes a resgatar a princesa.

— O quê?! – perguntou o rapaz incrédulo, quase caindo do balcão.

— Isso mesmo! Nós, do Conselho Mágico, decidimos que está na hora de deixarmos nossos aprendizes mostrarem o que aprenderam e disputarem o trono do Rei, já que ele está morrendo e não consegue mais tomar decisões.

A mandíbula de Darwin caiu. Estava felicíssimo. Pulou do balcão e correu para o quarto para fazer as malas.

— É só semana que vem, hein! – gritou Nacademus, em vão.

Em seu quarto, Darwin juntava todas as suas poucas posses sobre a cama e escolhia aquilo que levaria. A jornada certamente seria longa, por isso a mala teria que ser leve. Ei! Por que razão estranha um cavaleiro levaria uma mala para resgatar uma princesa em apuros? Guardou tudo novamente, sentou-se na cama e começou a pensar.

Se resgatar mesmo a princesinha, ela terá que voltar comigo? Terá que ser minha esposa? pensou Por que não posso simplesmente matar o dragão e deixar a garota na torre? Ela que se vire.

Com seus plenos 17 anos, não pensava em garotas, queria apenas o trono, o poder e nada mais. Conhecia o regulamento, sim, e sabia plenamente que teria que matar o dragão, chegar até a princesa, beijá-la, e trazê-la de volta para ser sua esposa. Dividir o Reino das Fadas com qualquer princesinha que chegasse pelo caminho? Não. O Reino era seu por direito, por ter se esforçado, por ter treinado sua vida toda. Ora, por que não matar a moça assim que conseguisse chegar até onde queria? Matava-a envenenada e diria que morreu de doença. Ou podia armar a maior cena, fingindo que se suicidou.

Nacademus haveria de entender. Sempre entendia, por isso gostava dele. Se virasse – aliás, quando virasse Rei – Nacademus seria promovido a conselheiro real. Ah! O sonho da realeza, que agora estava tão perto de se tornar realidade...
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Nota do Autor: Pois é, o primeiro capítulo é bem fuleiro. Mas tudo tem que começar de algum lugar, né? Depois fica melhor. É estranho como, depois de uns 4 anos, eu ainda me orgulho dessa historinha.

17.5.07

Quando tudo parou de funcionar, eu baixei o Firefox. Em italiano. As coisas voltaram a funcionar, mas eu não conseguia fazer nada pq não entendia nada.

Então eu joguei o programa fora.

Aí as coisas começaram a dar pau de novo. Então eu baixei o Firefox de novo. Desta vez em espanhol.

Por sorte, meu espanhol é bem melhor que meu italiano.


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Obs: Tenho um épico de 15 páginas separado em uns 4 ou 5 capítulos escritos há uns 3 ou 4 anos, que nunca publiquei aqui. Querem ler?

11.5.07

Meus dois irmãos são músicos. Minha irmã mais velha canta em coral, sozinha, no backing-vocal da igreja, até fez uma participação especial em uma pseudo banda de black-metal. Além disso tudo, ela ainda começou a aprender piano. Não levou muito pra frente, mas tudo bem. Meu irmão mais novo toca violão. Já fazem uns... hun... 5 anos acho. Com o primeiro professor, aprendeu punk, compatível com a idade (uns 10 anos). Hoje tá aprendendo violão clássico com um cara quase formado em violão clássico pela UNICAMP (isso não é pouca coisa). Minha avó cantava igual a Tarja Turunen (ex-vocalista do Nightwish) no coral da Sinagoga. Meu tio avô (um dos vários, espalhados pelo mundo) tocava no piano o que ele lia nos livros de medicina. Minha mãe começou a aprender violino e acordeon quando era bem novinha, mas minha avó fez ela parar (fanatismo religioso). Um dos meus primos toca bateria, outros dois tocam guitarra (um deles improvisa jazz e blues, só isso).

E eu? Não toco nem pandeiro. Cheguei à conclusão de que eu preciso aprender a tocar alguma coisa. Qualquer coisa. Então, fuxicando os instrumentos por aí, decidi: TRIÂNGULO!! Sim, sim! E eu ainda vou montar uma mandar de folk viking metal com meu triângulo e ganhar o mundo com meus solos de triângulo, vocês (e todos os meus parentes músicos) vão ver só!!

Aí apareceu um amigo meu que toca guitarra (e mais uma penca de instrumentos estranhos, tipo reco-reco, xilofone, gaita e triângulo) e me diz que tocar triângulo é difícil. Ah!! Triângulo é o meu instrumento!!

Alguém me dá um triângulo? E um livro de teoria musical?

9.5.07

Então a Escotilha me amaldiçoou. Vamos lá...

7 coisas que eu tenho que fazer antes de morrer:
1. viagem de mochila pela Europa
2. adaptar "Alice no País das Maravilhas" para o cinema
3. aprender a tirar fotos direito
4. estudar na UNICAMP
5. escrever um livro
6. eprender a tocar triângulo
7. rever amigos de infância que não vejo há anos

7 coisas que mais digo:
1. "poutz!"
2. "nooossa..."
3. "ui!"
4. "isso é, no mínimo, inusitado." (e suas variações)
5. "aaaai, delííícia!" (normalmente em tom irônico)
6. "ownnnnnn!"
7. "tadinho dele(a)..." (normalmente em tom irônico)

7 coisas que faço bem:
1. suco!
2. dizem que escrevo bem
3. esquecer de dar recados
4. me queimar no sol
5. resumir coisas
6. ouvir música
7. dormir!

7 coisas que não faço:
1. ir em rodeios, micaretas e coisas do gênero
2. fumar
3. tocar qualquer instrumento (infelizmente)
4. ser vulgar
5. ficar bêbada
6. vandalizar patrimônio público
7. tornar-me adepta do vegetarianismo

7 coisas que me encantam:
1. dias de frio com sol
2. pipoca doce
3. meias :]
4. filmes bem feitos (com boa fotografia)
5. fotografias bem tiradas
6. músicas boas
7. meninos com cabelo comrpido (ui!)

7 coisas que odeio:
1. filmes de ação
2. hip hop e rap
3. a avril lavigne
4. livros de auto-ajuda
5. pessoas vegetarianas, comunistas ou feministas (ou os três) que ficam impondo sua filosofia de vida sobre mim
6. adolescentes idiotas metidos a adultos
7. dias muito quentes

7 pessoas para fazerem o jogo:
hum... tô sem imaginação. quem quiser fazer, à vontade!


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Lembram do texto da menina que morria porque era esculachada na escola? Pois é, aquilo era uma redação pro cursinho. E eu tirei 30 \o/ (de 30)