Havia uma pequena caverna que servia de entrada para a sala de reuniões. A sala em si era um lugar sombrio, mal ilumado pela luz amarelada de algumas poucos velas repousando sobre candelabros. Móveis empoeirados. Teias de aranha.
Mas a entrada era muito pequena, mesmo. Tão minúscula, que um dos monges que se dirigiam à sala de reuniões ficou preso nela. Seus ombros não passavam pela passagem. Puxou, puxou, puxou tanto, que seu pescoço ia cedendo aos poucos, cobrindo o chão de sangue enquanto ia se livrando da cabeça - o obstáculo impedindo sua entrada.
Deixando a cabeça para trás, entrou na sala e sentou em uma das cadeiras com costas altas e cabeceiras bem trabalhadas.
Percebendo sua decapitação, a menina menor foi procurar um rosto para substituir aquele que seu superior tinha perdido.
Sujou o vestido rendado, o laço, as meias brancas e os sapatos de verniz dentro da caverna. Olhando ao redor, com a pouco luz proveniente da sala, viu que haviam vários rostos sobre o chão cinza-arroxeado, uns três ou quatro. A cabeça de seu mestre, entretanto, estava enterrado no teto da caverna. Jazia lá, cinzento, com os olhos fechados e a boca aberta, como todas as outras faces. A única coisa que o diferenciava dos outros era que tinha crânio e pescoço e os demais eram apenas rostos: pele morta e globos oculares sobre o solo.
Havia, também e contudo, uma boneca no meio de tudo aquilo. Pensando pelo bem de seu amo, a garotinha resolveu descascar o rosto da boneca - aquele que parecia o mais vivo dentre todos eles - para dar a ele.
Retornando à sala de reuniões, já com seu trabalho finalizado - o rosto de plástico seco e sílios postiços nas mãos, suja da cabeça aos pés - quis entregar o presente ao monge.
- Do que adianta - respondeu ele - ter um rosto se não tenho uma cabeça para sustentá-la?
Nenhum comentário:
Postar um comentário