24.7.07

Eu não gosto de best-sellers. Não li nada do Dan Brown e provavelmente não vou fazê-lo (inicialmente pq é um best-seller, mas agora pq ele simplesmente não me interessa) nem nada que costuma aparecer naquela listinha dos dez livros mais vendidos na Veja ou qualquer outra revista. Coisa de pseudo-cult-gosto-do-que-ninguém-gosta? Sim. E pq acredito que literatura é uma das coisas que as massas simplesmente não entendem, mas isso é assunto para outro post.

Mas Harry Potter é outra história. É estranho pensar que eu realmente cresci com o Harry. Li o primeiro livro com 12 anos e o 7º com 18 (e se eu estudasse em Hogwarts essas seriam as idades com as quais em começaria e me formaria lá, já que sou do segundo semestre) e ele fez MUITA diferença na minha vida. Eu não gostava de ler antes dele e, depois de lido, tudo começou a se relacionar com ele - piadas e cenas do livros me recorriam constantemente. Os personagens são como amigos pra mim e eu ainda sei o que alguns feitiços significam e outras informações inúteis acerca dos livros de cor.

O estranho mesmo de tudo isso é que sempre que eu acabava um livro, eu sentia um vazio imenso dentro de mim que ficava por dias (sensação que, até hoje, só um outro livro conseguiu causar). Era como me despedir de um amigo que morava muito longe, ficava por poucos dias de imensa alegria e diversão e fosse embora, me deixando para trás, sozinha no escuro. Dessa vez, ao fim do último livro definitivo (que acabei de ler há poucas horas - fantástico e muito, muito revelador), essa sensação está demorando para vir. É como se eu estivesse me conformando aos poucos de que um ente querido tivesse morrido e não quisesse acreditar que ele realmente nunca mais fosse voltar. É estranho não terminar e querer respostas e esperar ansiosa pelo outro lançamento...

Uma das coisas que me deixa meio irritada, no entanto, é que a maioria das pessoas associa Harry Potter a adolescentes idiotas que só lêem best-sellers. Talvez a maioria do público seja, cativado pelas cenas de ação e piadinhas dos livros e até escolhendo seu casal preferido, mas é tão mais do que isso...

Harry Potter não é uma história para crianças sobre um bruxo órfão que tem que vencer o mal. Harry Potter é uma história para crianças e adultos sobre tolerância, principalmente. Como a própria Rowling disse, o fato do Harry ser um bruxo é meio pano de fundo para o enredo e não é tão importante assim. Durante toda a saga, é mostrada a importância do bom relacionamente entre os bruxos e trouxas e entre os bruxos e outros seres fantásticos. Isso é muito frisado no discurso pró-sangue-puro dos Comensais da Morte, o que me pareceu muito com o regime nazista (principalmente nos 6º e 7º livros). No 7º livro, Voldemort consegue tomar poder e seu regime é totalitário, com controle da imprensa e das escolas, patrulhas armadas nas ruas, prisão e tortura daqueles que se opõem a ele. Tem muita política em Harry Potter. Isso foi dito na Folha e no Estadão acerca do 5º filme. Imagino o que dirão a respeito do 7º filme... Em defesa, desde o livro 5, Harry junta-se com os amigos e forma um grupo de resistência dentro da escola, ao mesmo tempo em que os adultos formam um do lado de fora. Esses grupos se parecem muito com grupos de resistência de guerrilha. Tenho certeza de que os métodos de atuação dos dois grupos não foram tirados da imaginação da autora.

Além disso, os personagens do livro são extremamente complexos, como pessoas reais, com várias facetas. É difícil prever as ações de um personagem, a não ser que ele seja muito caricato, ou em situações muito comuns. Isso também mostra claramente que não há maniqueísmo na história. Os lados da batalha não são separados por bruxos totalmente bons e totalmente ruins. Ambos, apesar dos poderes mágicos, são humanos afinal. Até Dumbledore, o símbolo máximo do bem supremo tem seus defeitos e seus escorregões. Bom, o Voldemort realmente é completamente mal, mas ele foi muito bem trabalhado para ser assim, como alguns líderes políticos que possamos imaginar.

Há também, claro, as referências óbvias às verdadeiras virtudades como compaixão, amor, misericórdia, perdão e altruísmo. É como a Bíblia para ateus. Eu acho que mais líderes mundiais deveriam ler Harry Potter. Talvez mais pessoas deveriam ler, ao menos os trechinhos de lição de moral.

É por causa dessas lições de moral e essas referências políticas que eu acho que Harry Potter é bem melhor que Senhor dos Anéis. E é de longe bem mais divertido e agradável de ler.

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