natal.
passei o natal na casa dos meus pais. pai, mãe, irmão, irmã e eu. ah, claro, e todos os cachorros. sem familiar distante, sem árvore, sem presente. só nós, ceia, filme na tv aberta e tabuleiro de war. sem escândalo de família, reclamação de presente ruim, inveja de tio mais bem-sucedido, necessidade de conviver com outras pessoas que não gostamos ou de acordar cedo, de exibir a casa mais bonita ou a mesa mais farta e bem decorada.
só um fim de semana normal, com a louça refinada e peru em vez de frango.
foi o melhor natal desde 2000, na época que íamos todos os primos procurar o papai noel na casa da vovó.
26.12.10
1.12.10
Sobre Harry Potter.
Eu já falei sobre isso aqui. Acho que Harry Potter foi o livro mais importante da minha vida. Eu não tinha muitos amigos em nenhuma fase da escola, então era como se os personagens fossem meus amigos. Durante certo tempo da minha vida, eu podia relacionar tudo que acontecia comigo com episódios e passagens dos livros. Era fantasia de forma palpável. Passei anos esperando, inconscientemente, que uma coruja aparecesse com uma carta pra eu ir estudar em Hogwarts. Ficava ansiosa toda vez que via uma. Desisti aos 14 anos. Eu já estava velha demais. Para entrar na escola de bruxos, não para acreditar.
Acho que essas coisas são memórias de toda uma geração. Saber feitiços de cor, querer uma Firebolt de aniversário, comprar chapéus de bruxos em brechós. Quando eu soube que iam sair filmes, sabia que seria uma coisa ruim. Ia popularizar. (Eu sou indie desde criança.) Mas quis ver mesmo assim. Vi A Pedra Filosofal em DVD. Achei muito chato. Mas era Harry Potter. Assisti à Câmara Secreta três vezes no cinema, era legalzinho. Prisioneiro de Azkabam, não fossem todos os furos do roteiro, seria meu filme preferido, assim como tinha sido o livro. Cálice de Fogo já foi meio fraquinho. E eu realmente detestei A Ordem da Fênix. Eu não esperava mais nenhum dos filmes, sabia que destruiriam todos os outros, meus personagens queridos. Sabia que tirariam as melhores passagens dos próximos livros.
Eu não era muito fã dos filmes, eles todos eram mais ou menos. Bons pra ganhar dinheiro. Nenhum dos personagens (salvo Sirius Black, Bellatrix Lestrange, os gêmeos Wesley e, claro, Voldemort) convenciam muito. O único personagem dos três principais que mantinha o carisma dos livros era o Rony. Mesmo ele fazia caretas demais. E eu odiava o Daniel Radcliffe desde o primeiro filme. O que fizeram com meus personagens preferidos? O que fizeram com meus livros??
Há alguns meses atrás, sabendo que eu teria que ver todos os filmes eventualmente, aluguei o DVD do Enigma do Príncipe. E gostei. Foi um bom filme. Bem feito, até o Daniel Radcliffe estava atuando bem. E nem picotaram o livro! Fiquei mais otimista.
Mas eu nem sabia a data de estreia (pela primeira vez) do Relíquias da Morte. Fiquei surpresa (como a pressa de tudo nesse ano tem me surpreendido) que tinha entrado em cartaz agora em Novembro. Todos os outros, seguindo a tradição de blockbusters americanos, tinham saído em Junho. Ainda por cima, prometeram esse filme em 3D. Eu fiquei com medo. Relíquias da Morte é o melhor livro, meu preferido, com os melhores pedaços.
E, então, na data de estreia, vejo meu twitter inundado de pessoas dizendo o quanto gostaram do filme, que era lindo, que choraram quando o Dobby morreu, que a animação da história dos três irmãos era tão boa que nem parecia Harry Potter. Logo eu imaginei que fosse besteira de fãzinho que aceita qualquer coisa.
Mas não. Eu fui ver o filme ontem, numa sessão razoavelmente cheia para uma terça-feira à noite. Eu estava morrendo de enxaqueca e tinha acordado de mal-humor. Nunca nada me fez tão bem na vida. Eu só consigo pensar nele. Nem meus amontoados de trabalhos finais que parecem não estar andando conseguem me deixar menos feliz. Foi maravilhoso. Chorei o filme todo. É exatamente aquilo que eu esperava desde o primeiro filme, desde que anunciaram que fariam filmes de Harry Potter.
Os atores estão TODOS ótimos, os cenários são deslumbrantes, não cortaram nenhum pedacinho do livro. Todas as emoções estão lá. A desolação, o abandono, a falta de esperança do que fazer com Horcruxes que não sabemos onde estão nem como destruir. Beijos de verdade. É idiota, mas acho que isso mostra a mudança pelo qual os filmes passaram. Este está muito mais adulto, mais sóbrio. E, sim, a animação é a melhor parte do filme. De todos os filmes. É fantástico. Tão fluido...
Esse filme foi tão bom. Tão bom que nem lembra os outros. Nem de longe.
Eu já falei sobre isso aqui. Acho que Harry Potter foi o livro mais importante da minha vida. Eu não tinha muitos amigos em nenhuma fase da escola, então era como se os personagens fossem meus amigos. Durante certo tempo da minha vida, eu podia relacionar tudo que acontecia comigo com episódios e passagens dos livros. Era fantasia de forma palpável. Passei anos esperando, inconscientemente, que uma coruja aparecesse com uma carta pra eu ir estudar em Hogwarts. Ficava ansiosa toda vez que via uma. Desisti aos 14 anos. Eu já estava velha demais. Para entrar na escola de bruxos, não para acreditar.
Acho que essas coisas são memórias de toda uma geração. Saber feitiços de cor, querer uma Firebolt de aniversário, comprar chapéus de bruxos em brechós. Quando eu soube que iam sair filmes, sabia que seria uma coisa ruim. Ia popularizar. (Eu sou indie desde criança.) Mas quis ver mesmo assim. Vi A Pedra Filosofal em DVD. Achei muito chato. Mas era Harry Potter. Assisti à Câmara Secreta três vezes no cinema, era legalzinho. Prisioneiro de Azkabam, não fossem todos os furos do roteiro, seria meu filme preferido, assim como tinha sido o livro. Cálice de Fogo já foi meio fraquinho. E eu realmente detestei A Ordem da Fênix. Eu não esperava mais nenhum dos filmes, sabia que destruiriam todos os outros, meus personagens queridos. Sabia que tirariam as melhores passagens dos próximos livros.
Eu não era muito fã dos filmes, eles todos eram mais ou menos. Bons pra ganhar dinheiro. Nenhum dos personagens (salvo Sirius Black, Bellatrix Lestrange, os gêmeos Wesley e, claro, Voldemort) convenciam muito. O único personagem dos três principais que mantinha o carisma dos livros era o Rony. Mesmo ele fazia caretas demais. E eu odiava o Daniel Radcliffe desde o primeiro filme. O que fizeram com meus personagens preferidos? O que fizeram com meus livros??
Há alguns meses atrás, sabendo que eu teria que ver todos os filmes eventualmente, aluguei o DVD do Enigma do Príncipe. E gostei. Foi um bom filme. Bem feito, até o Daniel Radcliffe estava atuando bem. E nem picotaram o livro! Fiquei mais otimista.
Mas eu nem sabia a data de estreia (pela primeira vez) do Relíquias da Morte. Fiquei surpresa (como a pressa de tudo nesse ano tem me surpreendido) que tinha entrado em cartaz agora em Novembro. Todos os outros, seguindo a tradição de blockbusters americanos, tinham saído em Junho. Ainda por cima, prometeram esse filme em 3D. Eu fiquei com medo. Relíquias da Morte é o melhor livro, meu preferido, com os melhores pedaços.
E, então, na data de estreia, vejo meu twitter inundado de pessoas dizendo o quanto gostaram do filme, que era lindo, que choraram quando o Dobby morreu, que a animação da história dos três irmãos era tão boa que nem parecia Harry Potter. Logo eu imaginei que fosse besteira de fãzinho que aceita qualquer coisa.
Mas não. Eu fui ver o filme ontem, numa sessão razoavelmente cheia para uma terça-feira à noite. Eu estava morrendo de enxaqueca e tinha acordado de mal-humor. Nunca nada me fez tão bem na vida. Eu só consigo pensar nele. Nem meus amontoados de trabalhos finais que parecem não estar andando conseguem me deixar menos feliz. Foi maravilhoso. Chorei o filme todo. É exatamente aquilo que eu esperava desde o primeiro filme, desde que anunciaram que fariam filmes de Harry Potter.
Os atores estão TODOS ótimos, os cenários são deslumbrantes, não cortaram nenhum pedacinho do livro. Todas as emoções estão lá. A desolação, o abandono, a falta de esperança do que fazer com Horcruxes que não sabemos onde estão nem como destruir. Beijos de verdade. É idiota, mas acho que isso mostra a mudança pelo qual os filmes passaram. Este está muito mais adulto, mais sóbrio. E, sim, a animação é a melhor parte do filme. De todos os filmes. É fantástico. Tão fluido...
Esse filme foi tão bom. Tão bom que nem lembra os outros. Nem de longe.
26.11.10
cupcake.
ontem eu fui trocar um cupom do clube urbano na márcia mello. chegando na loja, vi na vitrine um vestido que eu queria muito. era de festa, preto, curto, de renda e com tule embaixo da saia. perfeito, tudo que eu sempre quis. aí eu entrei pra experimentar, feliz porque era uma das únicas peças bonitas que entrava na promoção.
perguntando pela peça pra vendedora, ela me disse que só tinha em lilás. eu odeio lilás. acho cor de menina fresca, neutra, daquelas que só vestem cores pastéis e nunca entram em discussões polêmicas. mas tudo bem. a maioria das pessoas não sabem o nome exato das cores. pedi pra moça trazer mesmo assim. o vestido não era lilás. era roxo. era quase roxo-escuro-túmulo, do jeito que eu adoro. mas, bem... roxo o vestido se tornava menos perfeito. tudo bem, continuava bonito.
entrei no provador (aquele lugar horroroso, pequeno demais, com espelhos demais e a iluminação certa pra deixar minha pele amarela e todas as estrias aparecerem). o zíper estava emperrado e não queria fechar. segurei o vestido fechado, pra ver se realmente valia a pena. olahndo no espelho, contemplei o horror:
eu parecia um cupcake vestindo aquilo. um doce. de casamento. daqueles cheios de firula. e parecer um bolinho lilás ornamentado de lacinhos, amigas, não é necessariamente a melhor coisa do mundo.
nem me importei em fechar o zíper direito. devolvi o vestido pra atendente. eu queria parecer uma mulher, não um docinho.
ontem eu fui trocar um cupom do clube urbano na márcia mello. chegando na loja, vi na vitrine um vestido que eu queria muito. era de festa, preto, curto, de renda e com tule embaixo da saia. perfeito, tudo que eu sempre quis. aí eu entrei pra experimentar, feliz porque era uma das únicas peças bonitas que entrava na promoção.
perguntando pela peça pra vendedora, ela me disse que só tinha em lilás. eu odeio lilás. acho cor de menina fresca, neutra, daquelas que só vestem cores pastéis e nunca entram em discussões polêmicas. mas tudo bem. a maioria das pessoas não sabem o nome exato das cores. pedi pra moça trazer mesmo assim. o vestido não era lilás. era roxo. era quase roxo-escuro-túmulo, do jeito que eu adoro. mas, bem... roxo o vestido se tornava menos perfeito. tudo bem, continuava bonito.
entrei no provador (aquele lugar horroroso, pequeno demais, com espelhos demais e a iluminação certa pra deixar minha pele amarela e todas as estrias aparecerem). o zíper estava emperrado e não queria fechar. segurei o vestido fechado, pra ver se realmente valia a pena. olahndo no espelho, contemplei o horror:
eu parecia um cupcake vestindo aquilo. um doce. de casamento. daqueles cheios de firula. e parecer um bolinho lilás ornamentado de lacinhos, amigas, não é necessariamente a melhor coisa do mundo.
nem me importei em fechar o zíper direito. devolvi o vestido pra atendente. eu queria parecer uma mulher, não um docinho.
16.11.10
eu não gosto de crinaças.
toda vez que eu vejo uma criança especialmente bonita, fico imaginando com quantos caras ela vá transar por presentes caros e popularidade daqui uns anos ou com quantos anos ela vai começar a usar aquelas maquiagens com glitter pra atrair a atenção dos meninos ou quanta pornografia com animais aquele garotinho lindo vá ver quando as espinhas começarem a aparecer. fico imaginando com quantos anos aquela criança super educada vá se rebelar dos pais e começar a passar mal por excesso de bebida e cigarros em festinhas de adolescentes. quantos meninos ou meninas ela ou ele vão esnobar para se sentir mais seguras de si. com quantos anos elas vão perder o interesse por quase tudo que as cercam. com quantos anos a etiqueta vai ser mais importante que a estampa da camiseta. quando ela vai deixar de se interessar pelo meio ambiente ou pelos sentimentos dos amigos e mesmo de desconhecidos. com quantos anos vão deixar de ler contos de fadas e vão começar a achar mitos e lendas antigas a coisa mais idiota do mundo. com quantos anos a cor ou a profissão dos pais vai começar a fazer diferença na hora de brincar com o coleguinha. com quantos anos vão deixar de ser crianças bonitas para se tornarem adolescentes horríveis e egoístas.
toda vez que eu vejo uma criança especialmente bonita, fico imaginando com quantos caras ela vá transar por presentes caros e popularidade daqui uns anos ou com quantos anos ela vai começar a usar aquelas maquiagens com glitter pra atrair a atenção dos meninos ou quanta pornografia com animais aquele garotinho lindo vá ver quando as espinhas começarem a aparecer. fico imaginando com quantos anos aquela criança super educada vá se rebelar dos pais e começar a passar mal por excesso de bebida e cigarros em festinhas de adolescentes. quantos meninos ou meninas ela ou ele vão esnobar para se sentir mais seguras de si. com quantos anos elas vão perder o interesse por quase tudo que as cercam. com quantos anos a etiqueta vai ser mais importante que a estampa da camiseta. quando ela vai deixar de se interessar pelo meio ambiente ou pelos sentimentos dos amigos e mesmo de desconhecidos. com quantos anos vão deixar de ler contos de fadas e vão começar a achar mitos e lendas antigas a coisa mais idiota do mundo. com quantos anos a cor ou a profissão dos pais vai começar a fazer diferença na hora de brincar com o coleguinha. com quantos anos vão deixar de ser crianças bonitas para se tornarem adolescentes horríveis e egoístas.
11.11.10
23.10.10
26.9.10
12.9.10
eu não dirijo. mas gostaria de ter um carro só pelo prazer masoquista de deixar as pessoas à mercê do meu gosto musical. eu colocaria um viking folk metal e olharia a reação dos cidadãos caroneiros, franzindo as testas, estremecendo e perguntando, para a garota loirinha de 1,60m que estaria atrás do volante e, por isso, em posse da escolha de som:
"você gosta MESMO disso?"
e eu responderia:
"é claro que sim! você acha que eu sou pedante o suficiente para escolher os cds que deixo no carro só para parecer mais exêntrica para os caroneiros?"
e diria isso com um sorriso indignado no rosto, que esconderia minhas reais motivações: justamente aquelas que acabei de expôr.
"você gosta MESMO disso?"
e eu responderia:
"é claro que sim! você acha que eu sou pedante o suficiente para escolher os cds que deixo no carro só para parecer mais exêntrica para os caroneiros?"
e diria isso com um sorriso indignado no rosto, que esconderia minhas reais motivações: justamente aquelas que acabei de expôr.
7.9.10
6.9.10
eu sempre quis ter uma banda. Ser uma estrela do rock e gritar pras pessoas, num estilo bem roquenrol, transmitir idéias e sentimentos pras pessoas, roupas roquenrol e todo mundo querendo ser eu e querer me conhecer pelo menos só um pouquinho.
e, se eu tivesse uma banda, queria que fosse assim:
pena que não tenho paciência pra aprender a tocar nenhum instrumento...
e, se eu tivesse uma banda, queria que fosse assim:
pena que não tenho paciência pra aprender a tocar nenhum instrumento...
26.8.10
"eu tenho que ir embora", ele disse. "então você continua sozinha."
estavam numa roda de umas quatro pessoas, discutindo qualquer coisa, enquanto o casal se acarinhava. enquanto ela procurava a faca na bolsa, ele tirou o pênis das calças. ela delicadamente cortou a glande para si e segurou-o entre as duas mãos fechadas. a cabeça cresceria novamente mais tarde, não era a primeira vez que faziam isso.
sozinha na festa, beatriz andava procurando um local tranqüilo para degustar do pedaço de seu namorado. sentou em um canto iluminado, pensando em seu objetivo. morder, mastigar, engolir.
logo surgiram duas ou três garotas conversando sobre esmaltes e maquiagens. beatriz apertou seu amor dilacerado mais fortemente entre as mãos. não queria que ninguém visse, que ninguém quisesse o que ela tinha. as garotas riam enquanto começavam a pintar as unhas umas das outras. uma delas sugeriu que beatriz fizesse o mesmo. ela olhou as próprias mãos fechadas, com esmaltes descascados e um vermelho-alaranjado desbotado. quis muito retocar as pontas dos dedos.
mas ela não soltaria a carne que protegia nas mãos por nada de mais bonito no mundo.
estavam numa roda de umas quatro pessoas, discutindo qualquer coisa, enquanto o casal se acarinhava. enquanto ela procurava a faca na bolsa, ele tirou o pênis das calças. ela delicadamente cortou a glande para si e segurou-o entre as duas mãos fechadas. a cabeça cresceria novamente mais tarde, não era a primeira vez que faziam isso.
sozinha na festa, beatriz andava procurando um local tranqüilo para degustar do pedaço de seu namorado. sentou em um canto iluminado, pensando em seu objetivo. morder, mastigar, engolir.
logo surgiram duas ou três garotas conversando sobre esmaltes e maquiagens. beatriz apertou seu amor dilacerado mais fortemente entre as mãos. não queria que ninguém visse, que ninguém quisesse o que ela tinha. as garotas riam enquanto começavam a pintar as unhas umas das outras. uma delas sugeriu que beatriz fizesse o mesmo. ela olhou as próprias mãos fechadas, com esmaltes descascados e um vermelho-alaranjado desbotado. quis muito retocar as pontas dos dedos.
mas ela não soltaria a carne que protegia nas mãos por nada de mais bonito no mundo.
22.8.10
feminismo
uma vez minha tia me deu um creme maravilhoso da victoria secret de presente de natal. tinha a melhor textura do mundo. dava vontade de se mergulhar no pote, usar tudo de uma vez. ele só tinha um defeito: cheirava fortemente à chiclete. de tutti fruti. daqueles que vêm com figurinha da barbie em volta. e o maldito do cheiro ficava desde a noite anterior, antes de dormir, até a noite seguinte, quando eu tomava banho. eu não queria cheirar a tutti fruti. eu queria cheirar a mim mesma.
essa historinha toda é só um preâmbulo para o que eu realmente queria contar.
de uns tempos pra cá, uns dois meses, parei de depilar as pernas. no começo era pura preguiça, mas depois que os pêlos já ficaram suficientemente longos para que eu começasse a me identificar com uma-daquelas-meninas-da-faculdade-de-artes-que-não-depilam-as-pernas, eu resolvi procurar uma pregorrativa melhor. e eu tinha mesmo. não esixte mesmo uma explicação razoável além do estético e cultural para as mulheres precisarem fazer isso. eu demoro a me incomodar com pêlos e tenho a distinta impressão de que ninguém mais se incomoda com isso. meu namorado, pelo menos, nunca reparava quando eu deixava de depilar e as outras pessoas - bem, elas simplesmente não me importam.
decidi que nunca mais depilaria as pernas, nem para eventos formais em que isso fosse exigido. faria disso um símbolo de protesto. algo que dissesse "se não ME incomoda, também não me importo se faz diferença para outras pessoas".
mas, sabe, é inverno. tem ficado bastante mais quente e seco ultimamente no deserto do interior paulista. pêlos dificultam a aplicação de hidratantes (que eu realmente só uso quando sinto minha pele rachando. e esse inverno tem sido uma dessas épocas.), além de, meu deus!, tornar o simples ato de enxugar as pernas com uma toalha terrivelmente mais penoso.
me depilei mais cedo. só do joelho para baixo.
que feminista de merda que eu sou.
uma vez minha tia me deu um creme maravilhoso da victoria secret de presente de natal. tinha a melhor textura do mundo. dava vontade de se mergulhar no pote, usar tudo de uma vez. ele só tinha um defeito: cheirava fortemente à chiclete. de tutti fruti. daqueles que vêm com figurinha da barbie em volta. e o maldito do cheiro ficava desde a noite anterior, antes de dormir, até a noite seguinte, quando eu tomava banho. eu não queria cheirar a tutti fruti. eu queria cheirar a mim mesma.
essa historinha toda é só um preâmbulo para o que eu realmente queria contar.
de uns tempos pra cá, uns dois meses, parei de depilar as pernas. no começo era pura preguiça, mas depois que os pêlos já ficaram suficientemente longos para que eu começasse a me identificar com uma-daquelas-meninas-da-faculdade-de-artes-que-não-depilam-as-pernas, eu resolvi procurar uma pregorrativa melhor. e eu tinha mesmo. não esixte mesmo uma explicação razoável além do estético e cultural para as mulheres precisarem fazer isso. eu demoro a me incomodar com pêlos e tenho a distinta impressão de que ninguém mais se incomoda com isso. meu namorado, pelo menos, nunca reparava quando eu deixava de depilar e as outras pessoas - bem, elas simplesmente não me importam.
decidi que nunca mais depilaria as pernas, nem para eventos formais em que isso fosse exigido. faria disso um símbolo de protesto. algo que dissesse "se não ME incomoda, também não me importo se faz diferença para outras pessoas".
mas, sabe, é inverno. tem ficado bastante mais quente e seco ultimamente no deserto do interior paulista. pêlos dificultam a aplicação de hidratantes (que eu realmente só uso quando sinto minha pele rachando. e esse inverno tem sido uma dessas épocas.), além de, meu deus!, tornar o simples ato de enxugar as pernas com uma toalha terrivelmente mais penoso.
me depilei mais cedo. só do joelho para baixo.
que feminista de merda que eu sou.
30.7.10
Falando sobre o clima
Na quarta-feira eu voltei de uma estadia de 13 dias em Salvador. Esta foi a minha segunda visita à cidade dos meus sogros. Da última vez, viajei no Ano Novo. Estava quente e turístico. A cidade linda e cheia, repleta de coisas para fazer de dia e de noite. Mas, como todos sabemos pelos noticiários de desastres, nessa época do ano chove muito no nordeste. O clima me lembrava São Paulo: céu nublado, dias escuros e calçadas molhadas. Era difícil sair de casa por causa da chuva que persistia com intervalos curtos demais. Até os bares noturnos, todos a céu aberto, tornaram-se inviáveis. Salvador virou São Paulo: shopping centers, cinemas, filmes em casa, museus e, por vezes, até mesmo o tédio fazia questão de aparecer. É engraçado um clima paulistano em uma cidade que faz questão de inferiorizar os paulistas.
Na quarta-feira eu voltei de uma estadia de 13 dias em Salvador. Esta foi a minha segunda visita à cidade dos meus sogros. Da última vez, viajei no Ano Novo. Estava quente e turístico. A cidade linda e cheia, repleta de coisas para fazer de dia e de noite. Mas, como todos sabemos pelos noticiários de desastres, nessa época do ano chove muito no nordeste. O clima me lembrava São Paulo: céu nublado, dias escuros e calçadas molhadas. Era difícil sair de casa por causa da chuva que persistia com intervalos curtos demais. Até os bares noturnos, todos a céu aberto, tornaram-se inviáveis. Salvador virou São Paulo: shopping centers, cinemas, filmes em casa, museus e, por vezes, até mesmo o tédio fazia questão de aparecer. É engraçado um clima paulistano em uma cidade que faz questão de inferiorizar os paulistas.
3.7.10
pret-a-porté
você leva anos pra aceitar o corpo com medidas bem maiores que as das outras meninas, até achar roupas que lhe sirvam bem e lhe valorizem, até decidir que não adianta se enganar com calcinhas 2 números menor, com sutiãs que cobrem só metade dos seios, que botas de cano alto nunca vão fechar o zíper quando chegam na pantorrilha.
e então você percebe que, além de tudo isso, calçaria 35 pelo comprimento do pé, mas 36 pela largura, o que faz todos os sapatos - TODOS - ficarem desconfortáveis. e nem adianta mandar apertar no sapateiro.
que mané que inventou que todas as pessoas são do mesmo formato, viu?, até parece que fomos todos feitos de molde de massinha de tamanhos diferentes.
você leva anos pra aceitar o corpo com medidas bem maiores que as das outras meninas, até achar roupas que lhe sirvam bem e lhe valorizem, até decidir que não adianta se enganar com calcinhas 2 números menor, com sutiãs que cobrem só metade dos seios, que botas de cano alto nunca vão fechar o zíper quando chegam na pantorrilha.
e então você percebe que, além de tudo isso, calçaria 35 pelo comprimento do pé, mas 36 pela largura, o que faz todos os sapatos - TODOS - ficarem desconfortáveis. e nem adianta mandar apertar no sapateiro.
que mané que inventou que todas as pessoas são do mesmo formato, viu?, até parece que fomos todos feitos de molde de massinha de tamanhos diferentes.
30.6.10
7.6.10
4.6.10
tem um acúmulo sobrenatural de sujeira na torneira do meu chuveiro. todas as noites em que tomo banho, fico esperando ansiosamente para que a empregada o limpe. e isso nunca acontece. por algum motivo subliminar, eu não consigo simplesmente pegar a escova de dentes rosa que está sobrando na pia e limpar a torneira eu mesma. acho que é força do hábito de esperar que a pessoa para a qual pagamos para fazer esses serviços baixos realize sua função. e elas nunca o fazem. não com sujeiras na torneira do chuveiro. tampouco com a sujeira que acumula entre os ladrilhos cor de rosa do chão do chuveiro.
eu não tenho uma esponja do bob esponja. eu sempre quis uma, simplesmente pelo pleonasmo da coisa, apesar de odiar o personagem. mas eu tive, recentemente, uma esponja cor de rosa em forma de coração das princesas da disney que tive de jogar fora por risco de contaminação pela sujeira. essa esponja - juntamente com os shampoos (que sempre andam em bando e nunca são jogados fora despeito o seu término), cremes para cabelo, esfoliantes, sabonetes, saboneteiras em forma de banheiras, sabonetes líquidos (que seguem a mesma regra do shampoo), sabonetes íntimos, giletes e lixas para pés - ficava em cima da pequena cômoda de ferro cor de rosa que me acompanha desde a infância com origens distantes e incertas. sim, a mesa, friso, de ferro, fica dentro do box, que é razoavelmente grande. e, sim, friso novamente, ele é muito velho. antiga, com a tinta descasacada em alguns lugares e enferrujada, ela fica dentro do box, mantendo toda a parafernalha feminina - que só não conta com itens como máscara para cabelos e loções pós-banhos pelo fato de eu não saber para que servem - distante da água. mesmo assim, enferrujou devido ao tempo e ao vapor da água. e suja tudo que toca nele, deixando tudo com cor de óxido de ferro e, molhado, preto. minha fiel cômoda enferrujou minhas princesas.
tive que comprar uma esponja nova, daquelas que parecem bolinhas e não têm desenhos. mas pelo menos ela continua cor de rosa, para combinar com todo o resto da indumentária do banheiro. ela fica pendurada na torneira, pela cordinha especificamente colocada pelo fabricante para esse tipo de situação. e todos os dias, após usar a esponja, eu a enxáguo, enquanto me enxáguo, para que ela não fique suja, para que ela também não me suje da próxima vez que eu for me limpar.
---x---
roubei a idéia daqui. visitem-no. :]
eu não tenho uma esponja do bob esponja. eu sempre quis uma, simplesmente pelo pleonasmo da coisa, apesar de odiar o personagem. mas eu tive, recentemente, uma esponja cor de rosa em forma de coração das princesas da disney que tive de jogar fora por risco de contaminação pela sujeira. essa esponja - juntamente com os shampoos (que sempre andam em bando e nunca são jogados fora despeito o seu término), cremes para cabelo, esfoliantes, sabonetes, saboneteiras em forma de banheiras, sabonetes líquidos (que seguem a mesma regra do shampoo), sabonetes íntimos, giletes e lixas para pés - ficava em cima da pequena cômoda de ferro cor de rosa que me acompanha desde a infância com origens distantes e incertas. sim, a mesa, friso, de ferro, fica dentro do box, que é razoavelmente grande. e, sim, friso novamente, ele é muito velho. antiga, com a tinta descasacada em alguns lugares e enferrujada, ela fica dentro do box, mantendo toda a parafernalha feminina - que só não conta com itens como máscara para cabelos e loções pós-banhos pelo fato de eu não saber para que servem - distante da água. mesmo assim, enferrujou devido ao tempo e ao vapor da água. e suja tudo que toca nele, deixando tudo com cor de óxido de ferro e, molhado, preto. minha fiel cômoda enferrujou minhas princesas.
tive que comprar uma esponja nova, daquelas que parecem bolinhas e não têm desenhos. mas pelo menos ela continua cor de rosa, para combinar com todo o resto da indumentária do banheiro. ela fica pendurada na torneira, pela cordinha especificamente colocada pelo fabricante para esse tipo de situação. e todos os dias, após usar a esponja, eu a enxáguo, enquanto me enxáguo, para que ela não fique suja, para que ela também não me suje da próxima vez que eu for me limpar.
roubei a idéia daqui. visitem-no. :]
1.6.10
No prédio velho onde eu morava, havia uma garota no apartamente ao lado. Descobri logo, pelo barulho, que ela era prostituta. Me identificava bastante com ela: ela vendia seu corpo e eu vendia minha alma em minhas histórias. A diferença era que ela não se entregava. Tratava o trabalho, todo aqule contato físico, suor e gemidos falsos ou não, com o distanciamento que alguém trata formulários de exportação ou planilhas de uma grande empresa.
Quando ela não estava trepando, gostava de me convidar para tomar chá com biscotinhos e conversar. Chá só fica bom com bastante açúcar e as bolachinhas, olha que gracinha!, eram mandadas pela avó todas as semanas. Ela se interessava tanto pelo que eu fazia quanto eu pela profissão dela.
"Nunca te faltam idéias?" ela me perguntou uma vez, impressionada.
"É claro que faltam," eu respondi rindo. "E então eu converso com gente interessante como você."
Ela era uma fonte inesgotável de boas histórias. Me dizia como era honroso transar com garotos virgens. Se sentia uma professora, ensinando tudo. Que parecia um presente para todas as outras garotas que aqueles meninos comeriam. Era quase filantropia.
Perguntei-lhe uma vez se ela sentia falta de um namorado.
"Para quê? Trepo o dia inteiro!" disse rindo. "E ainda recebo por isso." completou.
"Mas namorados não são só para trepar," retruquei, romântica incurável que sou. "Eles são aquela pessoa que te ouve, que te faz companhia sempre, que te apóia..."
"Ah!" ela sempre ria quando falava dessas coisas. "Pra isso eu tenho meus amigos, como você."
Quando ela não estava trepando, gostava de me convidar para tomar chá com biscotinhos e conversar. Chá só fica bom com bastante açúcar e as bolachinhas, olha que gracinha!, eram mandadas pela avó todas as semanas. Ela se interessava tanto pelo que eu fazia quanto eu pela profissão dela.
"Nunca te faltam idéias?" ela me perguntou uma vez, impressionada.
"É claro que faltam," eu respondi rindo. "E então eu converso com gente interessante como você."
Ela era uma fonte inesgotável de boas histórias. Me dizia como era honroso transar com garotos virgens. Se sentia uma professora, ensinando tudo. Que parecia um presente para todas as outras garotas que aqueles meninos comeriam. Era quase filantropia.
Perguntei-lhe uma vez se ela sentia falta de um namorado.
"Para quê? Trepo o dia inteiro!" disse rindo. "E ainda recebo por isso." completou.
"Mas namorados não são só para trepar," retruquei, romântica incurável que sou. "Eles são aquela pessoa que te ouve, que te faz companhia sempre, que te apóia..."
"Ah!" ela sempre ria quando falava dessas coisas. "Pra isso eu tenho meus amigos, como você."
23.5.10
catarse/caverna
o ônibus deveria ter saído há 5 minutos. eu tenho um só cd no ipod que já ouvi vezes demais. estou sem disposição para ler os dois livros teóricos que estão na bolsa. tem gente demais no ônibus. conversando. tem crianças demais no ônibus. conversando, gritando e chorando. tudo agudo demais. elas são feias demais, parecem todas bonecas mal-feitas de cerâmica barata ou adultos que não cresceram o suficiente. odeio crianças. de verdade. são incompletas e incorruptas pelo mundo. ou são corruptas demais, escondendo consumismo aceletado atrás de ingenuidade. queria trancar as trompas para não correr o risco de ter meus próprios filhos. meus filhos são meus projetos. todos eles, que insistem em não sair do papel. por falta de tempo, de dinheiro, de esforço, de vontade. queria ter idéias mais fáceis de serem executadas. um gramado. um casal. falando sobre amor e sobre outros temas fundamentais. singelo. simples. absolutamente sem graça.
se eu tivesse continuado a desenhar desde os 9 anos, se eu ouvisse as recomentações da família inteira e nunca parasse de desenhar, eu poderia ter desenvolvido habilidades manuais melhores e fazer minhas próprias animações sozinha, sem depender da porra da disponibilidade de ninguém. minha cabeça tá doendo de tanto chorar. não aguento mais adiar as coisas por falta de tempo - alheia.
o ônibus deveria ter saído há 5 minutos. eu tenho um só cd no ipod que já ouvi vezes demais. estou sem disposição para ler os dois livros teóricos que estão na bolsa. tem gente demais no ônibus. conversando. tem crianças demais no ônibus. conversando, gritando e chorando. tudo agudo demais. elas são feias demais, parecem todas bonecas mal-feitas de cerâmica barata ou adultos que não cresceram o suficiente. odeio crianças. de verdade. são incompletas e incorruptas pelo mundo. ou são corruptas demais, escondendo consumismo aceletado atrás de ingenuidade. queria trancar as trompas para não correr o risco de ter meus próprios filhos. meus filhos são meus projetos. todos eles, que insistem em não sair do papel. por falta de tempo, de dinheiro, de esforço, de vontade. queria ter idéias mais fáceis de serem executadas. um gramado. um casal. falando sobre amor e sobre outros temas fundamentais. singelo. simples. absolutamente sem graça.
se eu tivesse continuado a desenhar desde os 9 anos, se eu ouvisse as recomentações da família inteira e nunca parasse de desenhar, eu poderia ter desenvolvido habilidades manuais melhores e fazer minhas próprias animações sozinha, sem depender da porra da disponibilidade de ninguém. minha cabeça tá doendo de tanto chorar. não aguento mais adiar as coisas por falta de tempo - alheia.
17.5.10
era uma cidade de monstros. monstros grandes e fofos como aqueles que encontramos em desenhos animados japoneses ou em lojas de brinquedos. apesar das aparências, os monstros detestavam-se e cometiam maldades uns contra os outros frequentemente, destruindo a cidade enquanto se auto-destruíam (já que é impossível destruir alguma outra coisa, principalmente um par, sem se destruir pelo menos um pouquinho a si próprio).
um dia, no entanto, apareceu uma besta feroz na cidade. azul petróleo com gigantescos espinhos seguindo em fila indiana de sua cabeça até a ponta de sua grossa cauda. observando todo aquele ódio e toda aquela destruição, o monstro azul petróleo decidiu que precisava fazer alguma coisa, sendo ele, por definição, o monstro do amor.
saiu pela cidade fincando seus espinhos nas costas de todos os monstros que via pela frente, a fim de espalhar o amor pela cidade. algumas criaturas sentiam-se tocadas pelo veneno do inimigo horrendo e começavam a amar furiosamente a todos os monstros ao redor.
outros, no entanto, ficaram bastante irritados com a atitude intrometida do novato da cidade. como ousava ele impôr o amor sobre as pessoas? levantaram um motim e, todos juntos, concordaram em expulsar o pior dos monstros da cidade.
enquanto voava baixo pelo portão da cidade, o monstro do amor ria baixinho, para si mesmo, feliz em ter cumprido sua função.
um dia, no entanto, apareceu uma besta feroz na cidade. azul petróleo com gigantescos espinhos seguindo em fila indiana de sua cabeça até a ponta de sua grossa cauda. observando todo aquele ódio e toda aquela destruição, o monstro azul petróleo decidiu que precisava fazer alguma coisa, sendo ele, por definição, o monstro do amor.
saiu pela cidade fincando seus espinhos nas costas de todos os monstros que via pela frente, a fim de espalhar o amor pela cidade. algumas criaturas sentiam-se tocadas pelo veneno do inimigo horrendo e começavam a amar furiosamente a todos os monstros ao redor.
outros, no entanto, ficaram bastante irritados com a atitude intrometida do novato da cidade. como ousava ele impôr o amor sobre as pessoas? levantaram um motim e, todos juntos, concordaram em expulsar o pior dos monstros da cidade.
enquanto voava baixo pelo portão da cidade, o monstro do amor ria baixinho, para si mesmo, feliz em ter cumprido sua função.
11.5.10
3.5.10
27.4.10
classe média
aprendi com meu pai que lugar de bandido é na cadeia.
aprendi com minha mãe que se tratarmos empregados bem demais eles montam em cima da gente.
aprendi com meu tio que a corrupção do governo é uma vergonha e que sonegar imposto de renda é só um meio para impedir que outras pessoas roubem nosso dinheiro.
aprendi com minha tia que uma massagem linfática e um jeito no cabelo - preferencialmente com descoloração - são a solução para quase todos os problemas. o álcool, combinado com alimentos ricos em fibras e pobres em calorias, solucionam todo o resto.
aprendi com os professores do colégio particular com a maior mensalidade da região que o comunismo é a única saída para o mundo.
já meu tio diz que é a pena de morte.
meu primo mais velho, por outro lado, acredita que é a portabilidade e as tecnologias wi-fi.
minha tia mais velha prega que o ofício não é uma fonte de prazer e que é preciso trabalhar muito e ser muito bem remunerado.
uma amiga minha dos tempos de colégio adorava carros tunados e achava um absurdo quem ia buscar o filho na escola com a BMW da empresa.
meu tio acha que a eleição do PT foi a melhor coisa que já aconteceu com o Brasil. e ele só viaja para trazer souvenirs.
e eu parei de ler jornal para não ter mais alguém me dizendo o que pensar.
aprendi com meu pai que lugar de bandido é na cadeia.
aprendi com minha mãe que se tratarmos empregados bem demais eles montam em cima da gente.
aprendi com meu tio que a corrupção do governo é uma vergonha e que sonegar imposto de renda é só um meio para impedir que outras pessoas roubem nosso dinheiro.
aprendi com minha tia que uma massagem linfática e um jeito no cabelo - preferencialmente com descoloração - são a solução para quase todos os problemas. o álcool, combinado com alimentos ricos em fibras e pobres em calorias, solucionam todo o resto.
aprendi com os professores do colégio particular com a maior mensalidade da região que o comunismo é a única saída para o mundo.
já meu tio diz que é a pena de morte.
meu primo mais velho, por outro lado, acredita que é a portabilidade e as tecnologias wi-fi.
minha tia mais velha prega que o ofício não é uma fonte de prazer e que é preciso trabalhar muito e ser muito bem remunerado.
uma amiga minha dos tempos de colégio adorava carros tunados e achava um absurdo quem ia buscar o filho na escola com a BMW da empresa.
meu tio acha que a eleição do PT foi a melhor coisa que já aconteceu com o Brasil. e ele só viaja para trazer souvenirs.
e eu parei de ler jornal para não ter mais alguém me dizendo o que pensar.
3.4.10
expressionismo alemão
vestidos de preto, eram três. entraram devagar pela porta, tomando cuidado para não fazer barulho. debruçaram-se sobre a cama, observando o homem enorme e gordo roncando. fazia as paredes tremer, o lustre sacudir e toda a casa vibrar. entreolharam-se. com dor no coração, sabiam o que deveria ser feito. ergueram a rede e jogaram-na sobre o homem.
imediatamente ele acordou, gritando, gerando sobressaltos nos três. a mulher ao seu lado despertou igualmente e, furiosa, indagou:
- kinder! was machts du?!
abaixaram a cabeça. os três. já eram grandinhos. deveriam ter se acostumado com isso.
- mutter... - começou um deles.
- é que não conseguimos dormir... - disse o outro.
- papai ronca demais... - completou o terceiro.
- e queremos expulsá-lo de casa. - terminou aquele que falara primeiro.
vestidos de preto, eram três. entraram devagar pela porta, tomando cuidado para não fazer barulho. debruçaram-se sobre a cama, observando o homem enorme e gordo roncando. fazia as paredes tremer, o lustre sacudir e toda a casa vibrar. entreolharam-se. com dor no coração, sabiam o que deveria ser feito. ergueram a rede e jogaram-na sobre o homem.
imediatamente ele acordou, gritando, gerando sobressaltos nos três. a mulher ao seu lado despertou igualmente e, furiosa, indagou:
- kinder! was machts du?!
abaixaram a cabeça. os três. já eram grandinhos. deveriam ter se acostumado com isso.
- mutter... - começou um deles.
- é que não conseguimos dormir... - disse o outro.
- papai ronca demais... - completou o terceiro.
- e queremos expulsá-lo de casa. - terminou aquele que falara primeiro.
16.3.10
o inferno tinha ar condicionado. disso ele já sabia, desde sempre. daquele ar excessivamente gelado e úmido em salas fechadas de dias frios e úmidos, que conserva as gotículas de chuva e - pior - suor depois de ter andado para chegar até lá. além disso, o terno era exatamente da expessura certa para sentir um pouco de frio. daquele que sobe pela coluna, pelos pêlos dos braços, congela os pés.
sentado de terno, sentindo o frio o espetar como agulhas, ocupava-se de seu serviço eterno: catalogar. carros e pessoas e livros e filmes e eletrodomésticos e material escolar e alimentos e roupas e calçados e acessórios esportivos e ônibus e todas as coisas do mundo.
dia após dia, catalogava, sentindo um frio fraco e incômodo, sentado na mesma posição, para todo o sempre. era triste perceber que a vida após a morte era exatamente como a morte em vida.
e morrer de nada adiantaria.
sentado de terno, sentindo o frio o espetar como agulhas, ocupava-se de seu serviço eterno: catalogar. carros e pessoas e livros e filmes e eletrodomésticos e material escolar e alimentos e roupas e calçados e acessórios esportivos e ônibus e todas as coisas do mundo.
dia após dia, catalogava, sentindo um frio fraco e incômodo, sentado na mesma posição, para todo o sempre. era triste perceber que a vida após a morte era exatamente como a morte em vida.
e morrer de nada adiantaria.
24.2.10
aristocrata. grã-fina. daquelas tão finas e demodês que usam estolas de pele com cabeças de animaizinhos mortos penduradas em seus ombros e penachos nas cabeças. gorda de ostentação. viveu todos os seus dias de seus sessenta e poucos anos parasitando a fortuna conquistada ainda pelo avô. pouco ligava para o politicamente correto, afinal, o dinheiro comprava todas as suas facilidades e não era questionada por ninguém.
em seu enorme palácio cercado de empregados, havia um cômodo dedicado unicamente para seu pequeno schnauzer cinzento que a acompanhava desde a terceira viuvês. chamava seu nome com sua voz de soprano lírico dramático adquirida nas aulas de canto da adolescência:
- trotskiiii!!
e o cachorro vinha feliz, saltitante e com a língua para fora, pronto para receber biscoitos de sabores artificiais, banhos de perfumes franceses ou simplesmente afagos infinitos.
não conhecia a origem do nome do cachorro. achava que era um tipo de biscoito delicioso que experimentou certa vez no maravilhosamente lindo museu de tesouro do czar em são petesburgo. e gostou da forma como o nome soava.
em seu enorme palácio cercado de empregados, havia um cômodo dedicado unicamente para seu pequeno schnauzer cinzento que a acompanhava desde a terceira viuvês. chamava seu nome com sua voz de soprano lírico dramático adquirida nas aulas de canto da adolescência:
- trotskiiii!!
e o cachorro vinha feliz, saltitante e com a língua para fora, pronto para receber biscoitos de sabores artificiais, banhos de perfumes franceses ou simplesmente afagos infinitos.
não conhecia a origem do nome do cachorro. achava que era um tipo de biscoito delicioso que experimentou certa vez no maravilhosamente lindo museu de tesouro do czar em são petesburgo. e gostou da forma como o nome soava.
15.2.10
era perfeito. simpático, inteligente, o primeiro da turma e podia conversar sobre qualquer coisa com qualquer pessoa. bem informado, bem educado. lindíssimo. tocava violão e guitarra numa banda de free jazz. tinha muitos amigos, alguns muito bons e outros muito especiais. boa relação com os pais. adorava animais e crianças. gostava de cinema e lia bons livros. tinha uma namorada bonita e simpática. era um amigo presente, um filho carinhoso e um namorado solícito. tinha todas as qualidades do mundo. e quando chegava em casa sozinho se masturbava olhando fotos de sapatos de bico fino.
10.2.10
saudável. esse era seu lema. preservar-se para a velhice. folhas verdes, frutas, chá antioxidante. açúcar? nunca. aspartame? jamais. vivia do amargo. não ingerie chocolate de qualquer espécie desde os 12 anos. dois litros de água por dia. álcool apenas em produtos de limpeza. mantinha-se longe do cigarro ou de fumaça de qualquer tipo. tinha que manter a pele. filtro solar fator 15 todos os dias no rosto, nos braços e no colo, dependendo do que ia mostrar. desta maneira mantinha-sebronzeada e protegida dos raios ultra-violtera simultaneamente. um creme anti-rugas ao acordar e outro antes de dormir, a partir dos 15 anos. creme hidrantante no corpo todo, todos os dias. drenagem linfática uma vez por mês. limpeza de pele caseira com mel e açúcar uma vez por semana. academia três vezes por semana. Não cruzava as pernas para não causar varizes. só tomava banho em água fria. mesmo no inverno. dormia cedo e acordava cedo - sempre - para impedir olheiras. shampoo, condicionador e creme nos cabelos todos os dias. passava longe da tintura. sob hipótese alguma dormia maquiada. não usava salto alto ou bolsa pendurada em apenas um ombro para manter a postura. evitava trabalhos manuais que ressecassem as mãos. ou aqueles que dão calos. chorava ao perceber uma nova cicatriz.
se cuida tanto para quê?, perguntavam. para a velhice, respondia, orgulhosa.
parecia uma boneca. daquelas de porcelana. que ficam sempre na prateleira, penduradas na parede.
se cuida tanto para quê?, perguntavam. para a velhice, respondia, orgulhosa.
parecia uma boneca. daquelas de porcelana. que ficam sempre na prateleira, penduradas na parede.
21.1.10
do caprincho.
levou dois dias esquematizando o convite ideal. fez frente e verso combinando, lindos, uma obra de arte grafica. pin-ups, combinação de texturas vitorianas e tipografia escolhida a dedo. comprou um bloco inteiro de papel texturizado para fazer quantas impressões fossem precisas até que ficasse perfeito. foi à gráfica próxima de casa. detestou o primeiro resultado. foi procurar outro estabelecimento mais distante. a primeiro cópia ficou perfeita. da segunda em diante, a tinta falhava cada vez mais. depois de horas brigando com a impressora, até que saísse qualquer coisa melhor que aceitável, descobriu que seu querido cartão magnético não seria aceito na loja. teve que rodar a cidade atrás de um banco. encontrou, pagou, foi embora. comprou lindos envelopes cor de vinho, quase da mesma cor do fundo do convite. um tom sobre tom. envelopes pequenos, delicados. adquiriu adesivinhos redondinhos, prateados, combinando com a caneta prateada para escrever endereços. treinou a caligafria antes de anotar os nomes das convidadas. tomou muito cuidado para não ceder à fraqueza habitual do tremor das mãos. percebeu que o adesivo lindo era pequena demais para assegurar que o envelope ficasse fechado por todo o seu trajeto. decidiu fazer bom uso da goma colante disponpivel nas agências dos correios.
à primeira pincelada, percebeu como aquilo havia sido uma péssima idéia. litros de cola escorriam dos lugares delimitados, enrrugando a superfície do envelope, colando um envelope ao outro, tirando toda a beleza de tudo que havia sido trabalhado com tanta calma até então. não tinha envelopes o suficiente para trocá-los. teve medo de os envelopes agora estarem grudados aos convites. realmente não queria que os convites fossem estragados.
com dor no coração, humilhada pela simples existência da goma, entregou à funcionária dos correios os convites de pin-ups e texturas vitorianas, envoltos de lindos envelopes cor de vinho, lacrados com delicados adesivos prateados, que combinavam com a caligrafia caprichada em tinta prateada. tudo isso embrutecido pela goma colante em excesso.
levou dois dias esquematizando o convite ideal. fez frente e verso combinando, lindos, uma obra de arte grafica. pin-ups, combinação de texturas vitorianas e tipografia escolhida a dedo. comprou um bloco inteiro de papel texturizado para fazer quantas impressões fossem precisas até que ficasse perfeito. foi à gráfica próxima de casa. detestou o primeiro resultado. foi procurar outro estabelecimento mais distante. a primeiro cópia ficou perfeita. da segunda em diante, a tinta falhava cada vez mais. depois de horas brigando com a impressora, até que saísse qualquer coisa melhor que aceitável, descobriu que seu querido cartão magnético não seria aceito na loja. teve que rodar a cidade atrás de um banco. encontrou, pagou, foi embora. comprou lindos envelopes cor de vinho, quase da mesma cor do fundo do convite. um tom sobre tom. envelopes pequenos, delicados. adquiriu adesivinhos redondinhos, prateados, combinando com a caneta prateada para escrever endereços. treinou a caligafria antes de anotar os nomes das convidadas. tomou muito cuidado para não ceder à fraqueza habitual do tremor das mãos. percebeu que o adesivo lindo era pequena demais para assegurar que o envelope ficasse fechado por todo o seu trajeto. decidiu fazer bom uso da goma colante disponpivel nas agências dos correios.
à primeira pincelada, percebeu como aquilo havia sido uma péssima idéia. litros de cola escorriam dos lugares delimitados, enrrugando a superfície do envelope, colando um envelope ao outro, tirando toda a beleza de tudo que havia sido trabalhado com tanta calma até então. não tinha envelopes o suficiente para trocá-los. teve medo de os envelopes agora estarem grudados aos convites. realmente não queria que os convites fossem estragados.
com dor no coração, humilhada pela simples existência da goma, entregou à funcionária dos correios os convites de pin-ups e texturas vitorianas, envoltos de lindos envelopes cor de vinho, lacrados com delicados adesivos prateados, que combinavam com a caligrafia caprichada em tinta prateada. tudo isso embrutecido pela goma colante em excesso.
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