Eu comecei saindo de um emprego que eu odiava para ir para outro em que eu ganharia melhor. Acabou que o emprego novo era bem ruim também, mas conheci pessoas incríveis, aprendi meus limites e consegui juntar algum dinheiro. Terminei meu mestrado enquanto trabalhava no segundo emprego que sugava minha alma, publiquei minha dissertação que tem capa e tudo como um primeiro livro. Chorei igual uma idiota na gráfica.
Defendi meu mestrado e descobri que deveria ter seguido com minhas ideias originais. Peguei meu diploma semana passada. Entrei para um curso de escrita criativa que era uma coisa que eu sempre quis fazer. Aprendi a seguir minha intuição e a confiar mais em mim mesma. Aprendi a ter coragem de finalmente me assumir como artista em vez de só dizer que às vezes eu escrevo umas coisas e faço uns filmes de vez em quando. Conheci pessoas incríveis que vou levar pra vida inteira. Finalmente encontrei minha turma.
Depois de decepções desde 2014, lancei minha primeira websérie com amigos incrivelmente talentosos. Nunca tive tanto orgulho de uma direção de arte que eu mesma fiz. O Dilemas de Gente Branca ficou melhor do que imaginava que ficaria e isso nunca acontece. Sobrevivemos por 6 meses e ainda temos episódios arquivados. 26 fucking episódios. Vinte e seis. É uma temporada inteira de Friends.
Comecei a escrever uma newsletter das coisas que eu fiz e das coisas que encontrei por aí. Escrevi muitas matérias sobre mulheres incríveis no Minas Nerds. Fiz dois zines. Um meio bosta com um conto antigo, outro dobradinho e mais lindinho de poesias. Fiz dois lambes com poemas meus. Vendi minhas coisas em feiras de publicações independentes. Quis abraçar todo mundo que comprou minhas coisas. Colaborei com muita gente talentosa. Tive coragem de mandar minhas histórias para revistas e concursos e editoras.
Viajei para Nova Iorque com minha irmã. Fez muito calor, fomos nos museus dos meus sonhos, vimos um musical na Broadway, comi um montão de bagels, fomos no maior museu de miniaturas de trem do mundo, passamos Shabbat em uma sinagoga, assistimos uma luta de UFC em um sportsbar kosher no Brooklyn, vimos uma cantora lírica cantando no Central Park, fugimos de um bêbado no metrô, nos perdemos muito porque eu não sei ler mapas, agradeci aos céus porque minha irmã sabe ler mapas, conheci o bebê mais lindo do mundo, fiquei com vontade de ter uma sobrinha e andamos até ficarmos exaustas.
Me apaixonei, tive meu coração partido. Chorei por quase dois meses. Tive o melhor relacionamento da minha vida, o mais honesto, o mais carinhoso, o mais livre, o mais estimulante.
Tirei os sisos, tirei os pólipos de dentro do nariz, não tive que fazer a terceira cirurgia por um milagre da natureza. Minha cabeça parou de doer, consigo abrir bastante a boca agora, consigo respirar melhor, minha voz está mais bonita. Parece que deixei tudo que me segurava para trás.
Escrevi um livro. Escrevi um fucking livro de 95 páginas. Um livro de 95 páginas que fez as pessoas chorarem e terem pesadelos e me adicionarem no Facebook sem saber quem eu sou. Finalmente acredito que sou, sim, boa o suficiente.
Comprei um sem número de roseiras. Algumas caíram da janela, outras morreram. A última, da cor certa, do tamanho certo, finalmente pegou. Só falta voltar a dar flores.
Comprei uma caralhada de livros novos. Peguei outros emprestados. Li vários autores novo. Alguns entraram na lista de preferidos.
Vi meu primo casar depois de 12 anos, vi minha irmã experimentar seu vestido de noiva, vi meu irmão se tornar médico.
Aprendi a pedir e a aceitar ajuda. Sempre que eu precisei de dinheiro, o dinheiro veio.
Voltei a gostar de fotografia.
Ontem fiz o meu primeiro esfoliante caseiro.
Foi um ano do caralho.