23.10.13

Olá Blog,

Faz tempo, né? Estava morrendo de saudades. Realmente estou me sentindo mal por ter te abandonado por tanto tempo. Estou sentindo falta do tempo que a gente criava junto. Fui dar uma olhada nos nossos arquivos recentemente e me dei conta de como ainda gosto muito de boa parte do que produzimos juntos. E o fizemos por tanto tempo, dá até dó de ter te abandonado. Eu não sei, digo pra mim mesma que estou sem tempo para você, que não tenho inspiração, que você está feio e me deixando sem vontade de fazer as coisas, mas não é verdade. Você sabe que não. É só essa preguiça que de repente tomou conta de mim. Essa impossibilidade de anotar as coisas no papel que eu nunca sentia antes. Antes, quando fazer arte era uma necessidade e vinha a qualquer momento em caderninhos, em pedaços de papel aleatórios, em guarda-napos, em cantos de folhas de exercícios. Engraçado como depois de fazer arte ter se tornado uma obrigação, realmente escrever aqui perdeu um pouco o sentido. E não deveria. Aqui é o único lugar realmente meu, onde não preciso me preocupar com custos, com disponibilidade de horário de ninguém, com disputa de opiniões criativas. Aqui é meu e acabou. É tão egoísta que eu nem preciso esconder minha arrogância, que por sua vez esconde essa insegurança que anda transbordando cada vez mais com a certeza de que não sei fazer nada. Mas eu sei sim. Eu sei sentar aqui e preencher espaços vazios de madrugada, quando estou sozinha no mundo, sem nenhuma distração.

Acredita que ganhei uma câmera profissional novinha, com lente tele, de presente de formatura e não usei pra grandes coisas até agora? Pelo menos consegui fotografar meus cachorros. São umas puta fotos de cachorro. Preciso levar a máquina de volta pra Campinas pra poder fotografar os cachorros agora. Eles estão bem diferentes da última vez que os fotografei. Talvez a idéia do estúdio de foto de cachorro nem seja uma idéia tão ruim. Eu sei lá quem contrataria uma fotógrafa profissional pra tirar foto de cachorro. Provavelmente o mesmo tipo de gente que paga uma fortuna em álbum de casamento e acha lindo todas as madrinhas com o rosto borrado de Liquify e Smart Blur. E eu aqui, desempregada.

Comprei dois caderninhos hoje. Bonitos, mas não bonitos demais a ponto de eu ter dó de usá-los e acabar deixando encostado na gaveta por anos, como aconteceu com os outros dois. Não sei que história começar a contar primeiro. Talvez simplesmente devesse fazer listas, carregar os dois caderninhos pra todo lado e ir preenchendo conforme a inspiração vier, como sempre foi. Preciso voltar a escrever. Pra mim. Pela minha sanidade. Compensando todo o resto de porcaria que tem sido minha vida ultimamente. Não consigo criar coragem nem pra pintar a unha, pra você ver.


O que você quer fazer da vida, Deborah?, andam me perguntando cada vez com mais frequência. E eu sempre respondo que eu não sei ainda. Porque responder a verdade, a verdade incrivelmente infantil e vergonhosa é ridículo demais até pra mim: quero contar histórias. Só isso. Pro resto da vida. Sozinha no canto, preenchendo o papel branco de madrugada, quando estou sozinha, sem ninguém pra incomodar.

24.7.13

Às vezes eu me sinto gorda.

Meu quadril é - e tem sido desde meus 13 ou 14 anos - muito maior que a da maioria das meninas. Eu tenho lordose, então sou um pouquinho projetada pra frente e acho que não perco essa minha barriguinha nem com lipoaspiração. Coxas enormes, quadril cheio de estrias, braços que balançam, bunda que não cabe nem na sarjeta nem em quase nenhuma calcinha, uma barriga que teima em aparecer em todos os vestidos e uns sessenta e poucos quilos. Quando você tem um metro e meio e todas as modelos e atrizes e sex symbols com vinte centímetros a mais que você pesam dez quilos a menos, você começa a se achar, invariavelmente, gorda. E eu sempre me achei gorda, desde uns 12 ou 13 anos.

Depois de muitas lágrimas, um pouco de academia, uma dieta hardcore que eu não quero repetir jamais e muito feminismo, finalmente aceitei meu corpo. Sempre pesei sessenta e poucos quilos, sempre tive esse corpo e eu nunca tive colesterol alto ou pressão alta ou nenhum desses problemas. Se eu fosse uns cinco quilos mais magra provavelmente os ossos do meu quadril ou da minha costela apareceriam e isso não é tão glamouroso quanto parece na Vogue.

Mas, de vez em quando,  principalmente quando estou inchada de TPM ou quando como carboidrato demais vários dias seguidos, ou quando assisto filmes da Sophia Coppola cheia de atrizes adolescentes magrinhas, ou quando olho o tumblr repleto de meninas pequenas com vestidos levinhos e flores no cabelo que eu nunca conseguiria usar, às vezes me sinto gorda.

Aí encontrei vários blogs legais de look do dia de meninas normais, "gordinhas" como eu e comecei a ver que existem jeitos de usar roupa bonita sem precisar esconder o corpo ou fingir que é magrinha como as meninas da TV e das revistas. Mas o mais legal mesmo foi esse blog aqui. Contradizendo a norma de meninas normais que usam legging "sem poder" ou roupas justas porque são gordas que se acham gostosas, esse é um blog dedicadas às meninas lindas que se acham gordas. É legal porque tem vários tipos de corpos, a maioria se parecendo comigo ou com minhas amigas. E várias meninas têm estrias. Estrias! E eu sempre paro, chocada, pensando que essas meninas nem são gordas.

E nem eu.




Fonte das imagens: http://gostosa.tumblr.com/

11.7.13

Se não fossem os desenhos animados



Se não fosse meu sonho de viajar o mundo atrás de ímãs de geladeiras e souvenirs de lugares diferentes, ou o medo tão grande da rotina que me impede de me decidir profissionalmente, ou a vontade enorme de encher a prateleira de livros lindos e lidos. Se não fossem os caderninhos de anotações de todas as coisas, desde telefones importantes a nomes de artistas em exposições a listas do que preciso fazer naquele dia a desenhos aleatórios, sempre junto a uma ou duas canetas, caso uma se perca ou acabe a tinta, que carrego sem falta na bolsa. Se não fosse minha obsessão por álcool em gel e minha necessidade de ter sempre a mão um alicate de cutícula para não mutilar os dedos nas horas de tédio.

Se não fosse meu cabelo amarelo que nunca está do jeito que eu quero ou meus olhos castanhos que insistiram em não ser azuis ou meu nariz grande demais ou minha coluna completamente torta. Se não fosse meu óculos igual ao de todo mundo ou minhas roupas - quase sempre pretas - e acessórios que entram na moda todo inverno e saem todo verão. Se não fosse a preferência por vampiros a zumbis, por terror a fantasia, pelo silêncio ao barulho.

Se não fossem meus amigos de mil anos atrás ou àqueles novos que parece que conheço há anos, ou os personagens dos meus livros e desenhos preferidos, todos os cachorros que passaram pela minha vida, meus pais e meus irmãos. Se não fossem as milhões de idéias de feitos grandiosos que eu poderia realizar por segundo, e a certeza absoluta de que alguma delas virá a se tornar realidade, me trazendo fortuna e fama, definitivamente,


não seria eu.


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O meme do Capitão Gancho foi passado pra mim pela Gabi, lá no comecinho de junho e eu só consegui responder agora. Inspirado na música da Clarice Falcão, foi inventado pela Analu. Eu não sei quem indicar. Fica pra quem quiser responder :D

7.6.13

Interrupção

Nunca quis ter filhos. Sempre imaginei uma vida meio solitária, com livros, projetos artísticos ou acadêmicos, viagens a lugares maravilhosos e amigos antigos e novos. Talvez seja minha irresponsabilidade e minha juventude dizendo isso. Talvez em alguns anos eu sinta muita falta de alguém para cuidar de mim e do meu legado.

Não gosto muito de crianças. Não sei o que as pessoas vêem em bebês com menos de 2 anos. E depois dos 2 anos, quando eles começam a correr e pegar e jogar as coisas e a falar e falar e falar, se tornam ainda mais irritantes. Não sei lidar com crianças. Tenho nojo de trocar fralda e de limpar regurgitações. Mas só tenho 24 anos. Talvez quando tiver 30 eu mude de idéia.

Eu tive a sorte de nunca ter engravidado sem querer, nem ter atrasado muito a menstruação e ficado desesperada. Mas eu tive um namorado que quis muito ter filhos. E isso era um problema sério entre a gente. Ficava imaginando cenários fictícios de um futuro não muito distante, onde nosso suposto futuro filho se rebelasse e eu jogaria na cara do outro que era culpa dele, que eu nunca quis ter filhos, mesmo.

Fico imaginando o que aconteceria na minha vida se eu engravidar agora. Agora, aos 24 anos, sem namorado, sem emprego, sem bolsa de estudos, morando de favor na casa de uma tia. Teria que arrumar um emprego, largar o mestrado, desistir de viajar pelo mundo dividindo quartos com mais 7 estranhos de países diferentes. Teria uma responsabilidade enorme pelo resto da minha vida. Não dá pra doar um filho pra outra pessoa porque você vai se mudar pra um apartamento menor e não tem espaço pra ele. Não dá pra deixar num hotel enquanto você viaja por uma semana. Não dá pra contratar adestrador. Não dá pra devolver caso vocês não se dêem bem. 

Sempre penso nisso. E se eu não gostar do meu filho? E se eu deixar de fazer um monte de coisa legal por alguém que eu não gosto? Que só está na minha vida pela impossibilidade absoluta de sair dela? Como eu vou cuidar de outra pessoa se eu nem sei cuidar de mim?

Não é uma questão apenas de estupro ou de falta de condições materiais ou psicológicas. O que as pessoas precisam entender é que para muitas mulheres um feto não é uma criança fofinha. É uma ameaça.

5.5.13

Lagarta autômata

Acho que decidi investir mesmo no mundo acadêmico quando me vi incrivelmente fascinada por descobrir coisas novas e divulgá-las, pelo simples prazer de saber as coisas, porque quase tudo é fascinante.

Esses dias me apaixonei por um lindo autômato suíço em forma de lagarta. Uma jóia, feita de ouro, pérolas e outras pedras preciosas, datada de 1820.


Fabricada por Henri Maillardet, funciona a partir de minúsculos mecanismos de relojoaria. Tão incrível que quase vira uma borboleta:



Para que serve? Para ser mágico. O século XIX era mesmo incrível, com suas coisinhas que não serviam para absolutamente nada a não ser maravilhar e serem lindas.



Fontes: Retronaut e Altgadget

20.4.13

Meio que saí de casa

Mais ou menos.

Comecei a fazer pós-graduação na USP. Campinas fica a duas horas de São Paulo, em um dia normal, com um pouco de trânsito. O fretado leva duas horas e meia para chegar, o que quer dizer que não valeria a pena fazer bate e volta todos os dias, seria cansativo demais. Além disso, tenho uma tia que mora em São Paulo, a uma hora de metrô da USP.

Essa tia costumava morar numa casona enorme na zona sul, onde eu facilmente teria um quarto e um banheiro só pra mim, além de, possivelmente, uma cômoda. Mas então ela teve que se mudar e foi, provisoriamente, para um apartamento pequeno para duas pessoas. Ontem meu sofá-cama chegou, então tenho um quarto, mas até então, estava dormindo no sofá da sala. Até que era legal.

O que eu realmente sinto falta, na verdade, é de um armário. Chato de ficar mudando de cidade é ter que levar pouca roupa. E fazer malas pequenas pra não ficar muito pesado, além de ter que ficar levando o notebook nas costas. Descolei uns cinco cabides e uma gavetinha no armário e tento levar o menor número possível de sapatos. O que quer dizer que eu acabo sempre com uma saia, uma calça e um monte de blusas. Mas sempre sinto falta de alguma coisa que ficou na casa dos meus pais. Uma saia, um par de sapatos, um casaco, um batom. Ainda por cima o clima das duas cidades é completamente diferente. Sinto que preciso refazer meu armário inteiro.

Outra coisa são os livros. Se eu não tenho espaço pra roupas, imagine para pastas e pastas de todos os xerox que já tirei na graduação. Sim, elas fazem falta - e muita. As pastas e os cadernos e os poucos livros teóricos que tenho, além dos lápis de cor e das canetinhas - mesmo que eu ande grifando super pouco.

Pelo menos levei a câmera fotográfica que é muito mais útil em São Paulo do que em Campinas.

6.4.13

Sorteio

Ganhei um sorteio do facebook. Desses que ninguém nunca ganha. Mas eu ganhei. E foi muito louco porque eu nem queria muito, nem me esforcei, nem conhecia a marca direito, nem nada.

Um dia vi que uma amiga minha, de infância - dessas que a gente têm nas redes sociais e promete que algum dia vai reencontrar, mas nunca marca de fazer nada - tinha entrado em uma promoção de pincéis para maquiagem. Era um estojão cheio de pincéis chineses, com hastes coloridas. Achei bonito, tenho poucos pincéis. Me inscrevi no sorteio. Nunca ganho nada mesmo.

Aí uns dias depois, outra amiga com quem também não falo há muito tempo, me avisou por mensagem que eu tinha ganhado uma promoção, "aquele da maquiagem lá". Eu tinha bloqueado a página do meu feed de notícias, então não tinha visto. Mas era verdade, eu tinha ganho!

Pedi pra entregarem na casa de uma amiga, porque nada chega aqui em casa. Passaram-se dois meses e eu já tinha desistido. Achei chato reclamar com a empresa, já que eu nem estava pagando. Minha amiga perguntou se eles já tinham enviado. Disse que sim.

Mas semana passada chegou. E o envelope veio da China, com mais pincéis que eu sei a utilidade. Acho que eu nem tenho maquiagem o suficiente pra usar com tudo aquilo. Não sei se os pincéis são bons. Ainda não tive tempo de testar. Não são tão macios quanto os que eu já tinha (que doei para minha irmã, depois de muita insistência da parte dela), mas são um montão. E vieram perfeitinhos, com plástico cobrindo cada pincel separadamente. O estojo inteiro (que fecha com ímã) veio dentro de um saquinho de pano e tudo veio num envelopão revestido de plástico bolha, com mais plástico bolha dentro, uma maravilha. E ainda foram de graça.

Sparky aprova!


2.3.13

Sobre Arte


Eu queria ter coragem de largar tudo e viver só de arte. Para a arte e pela arte. Ser uma dessas pessoas incrivelmente interessantes que adicionam valor na vida das pessoas. Que fazem coisas que duram ou que mudam o dia das pessoas por apenas alguns instantes importantes. Queria fazer coisas especiais e dignas. Coisas que importassem.

Mas o que eu queria mesmo era ter algo especial a dizer.

1.3.13

Eu sou Colombina, eu sou Pierrot

Ganhei uma câmera profissional de presente de formatura. A formatura foi há seis meses e a máquina chegou agora. Aproveitei pra levá-la comigo à Florianópolis, no Carnaval. É verdade que a câmera não faz o fotógrafo, mas que uma DSLR - e esta é a minha primeira - facilita muita coisa, facilita. Por exemplo, ela tira fotos excelentes no escuro, sem flash. Então provavelmente virão muitas outras fotos aqui no blog de agora em diante.

E eu fotografei o Carnaval de rua no lugar mais simpático de Floripa, Santo Antônio de Lisboa, me sentindo o Brassai do digital colorido.


27.2.13

C is for Cookie

Achei uma receita de biscoito na internet que era tão fácil, mas tão fácil que eu decorei. Eu não costumo cozinhar, não tenho paciência, mas acho que cozinho razoavelmente bem e, de uns anos pra cá, nada que eu fiz foi catastrófico. Além disso, o biscoito era de Nutella.

Se você quiser fazer também, pegue o caderninho de receitas e anote como fazer. Cuidado pra não perder nada.


  • 1 ovo
  • 1 copo de farinha de trigo
  • 1 copo de Nutella

Aí é só misturar bem misturadinho, fazer formato de biscoito e colocar no forno a 180º por 5 a 10 minutos, dependendo se você gosta dos seus cookies mais durinhos ou mais maciozinhos. Servir com leite.


E é só isso!  Eu deixei por 8 minutos e ficou perfeito. Não precisa nem untar a forma por causa do óleo de amêndoas da Nutella. A primeira fornada que eu fiz ficou mais gordinha, com recheio molinho. A segunda, com cookies mais fininhos, ficou mais crocante. Gostei das duas.

O problema é que tem que ser rico (ou morar com os pais), porque um copo de Nutella é uma embalagem de Nutella quase inteira. Da próxima vez vou ver se coloco macadâmias e fazer o cookie mais caro do mundo!

Receita original, além de outras nove dicas de comidas muito fáceis, aqui. Aliás, o Messy Nessy Chic é um blog super legal cheio de curiosidades histórias e coisas interessantes.

22.2.13

Pitiníase Rósea

Tenho médicos demais na família. Quando fico com um problema de saúde, minha mãe resolve, principalmente porque ela raramente erra um diagnóstico (a menos que eu esteja resfriada, quando ela sempre diz que eu estou com pneumonia e que vou morrer - porque pneumonia é muito perigoso nessa idade). Se ela não souber o que é, uma das minhas tias resolve. Senão, meu primo resolve e em breve meu irmão vai conseguir resolver também. Eu raramente vou em outros médicos. Infelizmente, nenhum dos meus parentes é dermatologista.

E eu, que puxei todos os genes ruins do lado alemão do meu pai, pego alguma coisa estranha na pele todo verão. Minha mãe, que nunca erra diagnósticos, diz que é o calor, que eu sou sensível demais. Me sinto o Harry protestando contra a Madam Pomfrey na ala hospitalar "I'm not delicate!" Pelo menos tenho uma desculpa maravilhosa para me mudar algum dia para um lugar mais fresco: meu organismo simplesmente não aguenta esse calor. Já estou planejando todas as coisas legais que vou fazer em Oslo.

E então que em Dezembro apareceu um coiso estranho na minha barriga. Mostrei pra minha mãe, que já sabia o que era, mas não tinha certeza, então mostrou pra um amigo dermatologista. Ele me receitou a pomada que cura todos os problemas de pele que já tive na vida. Começou a melhorar. No entanto, um tempo depois, começaram a aparecer mais coisos parecidos, menores, em outros lugares do corpo. Todo mundo me disse que era normal, então continuei passando a pomada.

Até que no Carnaval resolvi ir pra Florianópolis e eu sabia que resolveria todos os meus problemas. O mar sempre cura todas as doenças. Corte? Feridas? Espinhas? Enfia na água salgada que passa. Quando eu entrei no Mar Morto, o supermar, todas as minhas feridas cicatrizaram, inclusive uma queimadura horrível que eu tinha feito dias antes, que insistia em não melhorar, mesmo com remédio. Parei de passar a pomada só na menção de ir à praia.

Mas é claro que nada deu certo do jeito que eu queria. Fiquei doente e as feridas só pioraram e aumentaram de tamanho. Entrei em desespero, estava virando um monstro. Pior: o mar tinha me traído!

Marquei consulta na dermatologista. A última vez que eu tinha ido foi ano passado, também no verão, quando eu tinha virado um monstro pela primeira vez. Foi só telefonar que as lesões começaram a melhorar de novo, estavam bem menos vermelhas. Me senti uma idiota.

Chegando lá, ouvi a melhor coisa que é possível ouvir de um médico. Estava tudo bem, poderia ser bem pior, que era assim mesmo e que eu iria melhorar sozinha. Realmente não há nada no mundo como se recuperar de doenças sem precisar de nenhum remédio.

8.2.13

Nostalgia

A gente faz 20 e poucos anos, começa a se achar velho e a sentir saudade do jeito que as coisas eram quando a gente era criança e não tinha responsabilidades ou dores no coração. Aí a gente fica se convencendo de como era legal fita K7 e disquete (que só quem nunca teve que usar pra achar que era bacana), de como os desenhos animados que a gente assistia eram tão mais educativos (sendo que tinha um diabo travesti como um dos maiores vilões das Meninas Super Poderosas) e de como eram gostosas as comidas que a gente comia quando era pequeno. Até trouxeram o chocolate Lolla de volta. Juro que eu não lembro desse, vai ver não era da minha época.

E então que eu precisava perder umas horas em São Paulo. E eu decidi ir pra Liberdade porque é lá que se perde tempo comprando adesivos e doces, comendo comida japonesa por um valor razoável e fingindo que a gente tá em Tokyo. Entrei numa loja maravilhosa só de doces, bem pertinho da saída do metrô. Lá vende doces importados e nacionais por preços módicos. Uma das coisas mais baratas era uma barra de chocolate branco com pistache, importada da Turquia. Diz Beyaz Çikolata Antep Fistikli na caixa. Agora eu sei como se diz chocolate em turco. E custava só R$2,90. Eu adoro pistache. Não gosto muito de chocolate branco. Se fosse uma merda, pelo menos teria perdido só dois e noventa.

A outra coisa que eu achei foi Tortuguita. Tinha de todos os tipos: chocolate branco com recheio de chocolate preto, brigadeiro e chocolate preto com recheio de baunilha. Escolhi o último, o mais gostoso. Adorava Tortuguita. O ritual de comer a cabeça primeiro, igual na propaganda, depois as perninhas, depois ir pro casco. Saudade de todas essas comidas que a gente comia com ritual: chocolate da Mônica, bolachinha Foffys. Tenho certeza que as crianças de hoje têm rituais diferentes pra comer as comidas deles e que nossos pais tinham outros costumes semelhantes.

Sentei na escada do metrô pra comer meu chocolate, que reservei pra depois do almoço. Tinha um grupo de amigas conversando na escada abaixo de mim, dois casais namorando logo na frente do metrô, um de adolescentes bem novinhos, outro mais velho.

Abri minha Tortuguita. Mordi a cabecinha. Gosto de chocolate hidrogenado. Mordi as perninhas. Mordi o corpinho, tomando cuidado pra não encostar o chocolate nas minhas mãos sujas de escada de metrô (quando a gente é criança, não tinha essas preocupações), a baunilha era doce demais. A única coisa que salvava eram as bolinhas crocantes do recheio. Terminei a tartaruga, bem maior do que eu lembrava, por orgulho, por saudade aos velhos tempos. E ainda tinha um casal da minha idade que realmente deveria parar de se pegar no meio da rua e ir a um motel.

Espero que nunca voltem a fazer o chocolate da Mônica. Existem coisas, como fitas K7, disquetes e desenhos animados homofóbicos, que só são boas mesmo no passado.

24.1.13

Eutanásia

Ganhamos nosso primeiro cachorrinho quando eu era bem pequena, uns 4, 5 anos. Era uma pastora alemã, filhote de cruzamento de pastor preto com pastor branco da vizinha. Absolutamente linda, meio brava, latia pra todo mundo de fora. Na primeira cria, alguns anos depois, ficou frágil e nos deixou. Mas ainda ficaram o Rover e a Nala, dessa gestação. Eu tinha uns 8 ou 9 anos. Eram os filhotes mais lindos do mundo.

O Rover era super carente. A gente não podia sentar pra ler no quintal que ele ficava horas pedindo carinho. Era super fofo ver um pastor alemão enorme e preto como ele, carente daquele jeito. A Nala era mais independente. Sempre foi. Não gostava de carinho. Não fazia cerimônia pra gente. Só gostava do meu pai. Nunca fomos muito próximas. Ela ficava rondando a casa, majestosa, preta e dourada, um pouquinho menor que o irmão.

O Rover morreu há uns anos atrás. Foi horrível, fizemos tudo que pudemos, mas não foi o suficiente. A Nala ficou bem mais triste depois disso. Adotamos outros cachorros pra fazer companhia a ela. Já tínhamos o Tom, mas ele era metido demais pra ficar lá fora com ela. Eram dois velhos juntos. Adotamos o Einstein, que não para quieto, e o Simba, que foi o melhor cachorro do mundo. Os dois são vira-latas, o Simba era maiorzinho. Finalmente me dei conta de como a Nala era grande.

A Nala ficou melhor, um pouco mais carente depois de velha, mas não muito. Engordou, ficou engraçadinha, virou filhote de novo. Morria de medo de trovão e fogos de artifício. Queria entrar em casa. Estragou todas as portas de casa tentando entrar em tempestades e jogos de futebol.

Seis meses atrás o Simba fugiu. Todos os cachorros ficaram tristes. A Nala ficou um pouco pior. Mais teimosa, queria ficar dentro de casa o tempo todo. Todos sabíamos que ela ia nos deixar em breve. Mas continuava ali, cada vez mais carente, coisa que ela nunca tinha sido antes. Ela começou a ter dificuldade pra levantar, tinha um machucado na perna que não sarava nunca, perdeu o controle da bixiga, fazia a maior sujeira dentro de casa.

Tínhamos que arrumar um companheirinho pra ela. Logo antes do Natal, meu irmão arrumou o Raí, o pitbullzinho mais lindo e alegre do mundo. Tentamos mostrar pra Nala, que estava cada vez com mais dificuldade de andar, mas ela não se animou muito.

De umas duas semanas pra cá, as patas de trás definitivamente cederam. Ficava parada no canto, tínhamos que empurrá-la para andar, chorava pedindo comida e água. Criou uma ferida enorme na lombar. Demos vitaminas e analgésicos, demos atenção e tudo que ela queria. Na chuva era bem pior. Ficava triste e visivelmente sentia mais dor. Pensamos em marcar uma eutanásia. Ninguém sabia se era melhor acabar logo com tudo ou se, por acaso, talvez ela melhorasse. Perguntamos pra veterinária como funcionava, mas ninguém teve coragem de marcar.

Parou de chover na semana passada. Ela ficou mais contente. Mais viva, latia em vez de gemer por comida. Brincava com as plantas da minha mãe. Interagia com o Raí e os outros cachorros, um pouco. Mas as feridas ficavam cada vez maiores, cheias de berne. Parou de andar de vez, se arrastava pela grama. Latia a noite inteira pedindo água, querendo atenção. Continuamos sem saber o que fazer. Coitada da Nala, mas parecia estar um pouco melhor.

Ontem de manhã dei comida e água pra ela. Ela tinha destruído o potinho de ração, a gente tinha que encaixar as coisas. Troquei a água dela. Fiquei morrendo de dó porque estava muito quente e o potinho de água, de metal, estava fervendo. Lavei o potinho, pus água nova. Fiz um pouco de carinho. Quando fui sair de casa, dei tchau pro Tom, pro Einstein, levei o Raí até o portão. Não passei por ela, que estava quietinha.

Quando voltei com a minha mãe algumas horas depois, ela estava coberta por moscas. Foi horrível. Ligamos na veterinária, que deu o telefone do crematório. R$200 pela cremação coletiva, R$480 a individual, onde nos devolveriam as cinzas. Eu não sei o que faria nem com as cinzas dos meus pais. Esperamos uma hora, ligamos pra todo mundo que não estava em casa. Meu pai que estava vindo do trabalho, meu irmão, em Minas, e entrei na internet pra falar com minha irmã, passeando em Nova Iorque.

A Nala nunca pareceu tão pequena, encolhida pelo sofrimento. Deu um certo alívio, na verdade. Estava de olhos fechados. Deve ter morrido dormindo. Que bom. Era o que todo mundo queria.

Quando o moço da funerária trouxe o saco branco pra colocar ela dentro, decidi não ver. Me escondi dentro de casa e comecei a chorar.

Nunca fomos muito próximas. Deu muita dor de cabeça no final, mas, depois de 16 anos (que ela faria em fevereiro), mesmo com mais três cachorros, a casa parece tão vazia.

22.1.13

Agridoce

Eu adoro o tumblr. Tenho algumas contas, mas o que eu mais gosto é do dashboard, que deixa todos os blogs que eu sigo organizadinhos. Nunca consegui usar um leitor de rss (parece até que isso já saiu de moda), mas o tumblr é tão fácil! Aprendi com a Emi e não consigo mais voltar atrás. E, lógico, lá tem blogs incríveis. Pensei, inclusive, em migrar meu blog pra lá, como a Lolla e a Aline fizeram, já que lá é mil vezes mais organizado e bonito que aqui, mas, sabem como é, força do hábito. Talvez quando eu tiver um felimpropano.com eu mude, só pra ser mais fácil.

Mas, parando de enrolar, encontrei um dos meus webcomics favoritos por lá. Não sei se se qualifica como webcomic, não sei o que qualifica um webcomic, mas é uma série de quadrinhos que são publicados na internet. O moço que faz (acho que é um moço) faz colagens bem simples com papel colorido e desenha por cima a caneta. A série chama Crimes Against Hugh's Manatees (bem por cima, crimes contra a humanidade), em que o Hugh em questão é um urso solitário. Há dramas, inclusive, de unicórnios, polvos, coelhos e esquilos. Todos eles com dilemas bem parecidos com os nossos.


O humor é ácido, chegando até a ser triste. Mas eu acho tudo isso lindo. Encontrei esse blog em um dia que eu estava especialmente desolada e essa foi a única coisa que fez eu me sentir melhor, por mais bizarro que isso possa parecer.










11.1.13

Como Organizar Bijuterias


Então eu decidi que para usar as coisas diferentes que eu tenho, é preciso vê-los. Todas as minhas bijuterias estavam amontoadas em uma caixinha, de modo que eu sempre usava o colar que estava em cima, repetindo-o com frequência. Minha irmã teve a idéia de comprar um chaveiro e pendurá-los na parede, de modo que parecesse uma loja. E, realmente, fica muito mais organizado.

No Natal viajei com a minha família pra Gramado e, em meio a chocolates e malhas, achamos uma lojinha de artesanato (acho que chamava Casa do Artesão, ao lado do Lago Negro) com o chaveiro perfeito:




Me perdoem a foto torta, ela foi tirada, como você podem ver, já pregada na porta do quarto com coisas penduradas. A parte de madeira tem uns 20cm e tem esses ganchinhos de metal, bons pra separar os colares por tipos. Então consegui separar os modelos de correntinha fininha dos de cordão e dos ~maxicolares~. Claro que os zilhões de crucifixos da adolescência ganharam um gancinho só pra eles, junto com o brasão de Hogwarts e um coração costurado da Emme.

Ficou assim:




Outra coisa que eu fiz foi arrumar os brincos. Antigamente eu prendia um brinco no outro pela tarrachinha para eles não se perderem, mas aí vieram as tarrachinhas de plástico/silicone e os brincos desses de pendurar e eu sempre perdia um tempão procurando o par na caixinha.

Eu já tinha pensado em recortar pedaços de papel cartão, por exemplo, pra prender os brincos, do jeito que eles ficam na loja (inclusive guardo os comprados mais recentemente desse jeito), mas aí tive uma inspiração genial:



Comprei esse brinco maravilhoso num dos bazares organizados pela minha turma da faculdade pra arrecadar dinheiro pros projetos de conclusão de curso. E ele veio assim, em um retângulo de EVA vermelho. Resolvi fazer igual.



Minha irmã estava jogando fora umas letras de EVA que tinham sido usados há muito tempo atrás num chá de lingerie e me deu pra eu usar. Por isso tá tudo torto e não, obviamente, porque não sei fazer nada direito.

Assim não perco mais o parzinho, principalmente porque tenho muito brinco pequeno. A caixinha de bijuteria fica mais cheia, mas acho que vale a pena. Inclusive fiz um para os brincos sem par:


9.1.13

50 Tons de Mau Gosto


Eu sei, eu sei. Todo mundo já falou sobre isso. Mas eu quero falar também.

Então eu estava estressada fazendo dois filmes ao mesmo tempo e, ainda por cima, escrevendo o projeto de mestrado, tinha acabado de ler Casual Vacancy (que é maravilhoso, depois faço um post só sobre ele) e eu, me desculpem, tive a oportunidade de ler 50 Tons de Cinza. Um livro idiota. Perfeito.

Minha intenção era a de salvar a história, confesso. Dizer que não era tão ruim, que me identifiquei com Anastassia Steele, que há lições de vida e de relacionamentos no livro. Mas não, não há. As únicas coisas que eu aprendi foram que eu divido fantasias sexuais com uma senhora de meia-idade (fazer sexo com um cara podre de rico) e que eu escrevo bem pra caralho.

Enquanto eu estava lendo, fui fazendo uma listinha com algumas dicas do que não fazer contando uma história e, como todo mundo que tem blog ou lê blog é aspirante a escritor, achei legal compartilhar. Bora lá:

1. Stephan King disse uma vez que a estrada para o inferno é pavimentada com advérbios. Absolutamente, completamente, docemente, desnecessariamente. Isso vale também para conjunções adverbiais, por exemplo: “disse de maneira sensual” e, meu preferido do livro inteiro: “com um olhar de como quem diz: ‘não seja ridícula’”.
2. Essa é consequência do item 1, mas vale contar porque é um erro comum, sempre leio autores bons dizendo pra não fazer isso e era uma coisa que eu fazia quando achava que escrevia muito bem, obrigada, aos 15 anos: não descreva a forma como se fala. Até a J K Rowling aprendeu a não fazer isso mais. Sussurou, gritou, disse com voz doce, ordenou, e (só consigo pensar do Marcelinho quando leio isso) urrou. Urrou ¬¬ Pontuação e contexto provavelmente darão conta de explicar o tom de voz dos personagens. Se precisar muito dizer que o personagem gritou, fique à vontade, mas tudo menos “ordenou docemente”. Estou até agora tentando entender que porra quer dizer “ordenou docemente”.
3.Ao se falar de partes íntimas, use a palavra mesmo, nada de “ele encostou ali” (em itálico, durante as quase 400 páginas do livro). Quantos anos você tem, pelo amor de Deus? Parece eu, na escola, falando do “voluminho” dos meninos.
4. E esse é o contrário do anterior. Não descreva exatamente o que as pessoas estão fazendo durante o sexo. Isso não dá tesão, dá nojo. Fica parecendo os contos do Marcelinho. Ou, sei lá, eu que sou fresca e prefiro ler as sensações aos atos mesmo.
5. Não repita frases feitas. A E L James parece que repete mais, quanto pior a expressão. Essa do “um olhar como quem diz ‘não seja ridícula’” aparece várias vezes. A calça de feltro (Christian Grey, um hippie) caída “daquele jeito na cintura”, seja lá o que isso queira dizer. Além da marca registrada do livro (que até virou piada entre meus amigos que nem leram o livro): “Está com fome? Não de comida”.
 6. Não sei vocês, mas acho bem mais legal ler um livro que tem uma história e no meio dela tem cenas de sexo do que o contrário. 50 Tons tenta ter uma historinha, mas os personagens não a sustentam. O primeiro beijo do casal só vem lá pela página 100, quando você não aguenta mais se perguntar por onde anda aquele sexo todo que as editoras venderam porque, francamente, foi pra isso que eu comecei a ler e realmente não me importo pela vida mal desenvolvida dos personagens planos e chatos.
7. "Intumescer" é a palavra mais feia da língua portuguesa. 
Acho que quando a gente critica alguma coisa, a gente tem que ter argumentos de porque não gosta. (“Enlatado norte-americano” não é um argumento bom o suficiente.) Nem acho que a história da menina virgem de 21 anos que se apaixona perdidamente por um milionário sadomaso seja lá tão ruim. Provavelmente um escritor melhor conseguiria contar essa história direito, deixando sexy de verdade, sem clichês absurdos (“Eu não faço amor. Eu fodo. Com força.”). De qualquer forma, pelo menos o primeiro livro, vai agradar apenas dois tipos de pessoas: as que não lêem ou as que não fazem sexo.

2.1.13

Automutilação

Gosto de pintar as unhas em casa. Não sou a melhor manicure do mundo, mas pelo menos não gasto dinheiro com o serviço de outra pessoa que faria os mesmos erros que eu. E eu tiro as cutículas. Todos os blogs de beleza e revistas de moda e até minha mãe me dizem que eu não deveria tirar as cutículas. Elas protegem as unhas de infecções, não deixando as bactérias entrarem. Além disso, se eu tirar a cutícula, ela volta maior e mais grossa, como um sistema de defesa do corpo. Influsive é por isso que não é aconselhável lixar a pele morta dos pés, a pele só vai voltar mais grossa e mais áspera. O jeito é hidratar: a cutícula, o pé e o cotovelo.

Comprei mil creminhos para os dedos. O pé não me incomoda muito, nem o cotovelo. Um tônico mágico da Avon que diminui a cutícula, uma beleza. Funciona mesmo, mas tem que passar todo dia. Uma cerinha maravilhosa da Granado que, além de tudo, tem um cheirinho gostoso. Mas tem que passar duas vezes ao dia. Aí a pele morta desaparece, as beiradinhas grossas dos cantinhos das unhas ficam macias, os fiapinhos de pele cortada nem aparecem tanto. Mas em meia hora a pele seca. De qualquer jeito, odeio a sensação de mãos pegajosas. Melam o teclado do computador, a telinha do celular, fica difícil manusear as chaves, separar o dinheiro e abrir sacolinhas plásticas e virar páginas de livros se tornam tarefas quase impossíveis.

Minhas cutículas vivem ressecadas. E eu, perfeccionista que sou (apesar de nunca conseguir terminar nada), teimo em levar aquele alicate cego à pele morte. Estes são os dias bons. Alicate deixa tudo certinho. Quando estou longe dele, puxo a pele com as outras unhas, com os dentes. Não consigo me conter. Faço isso quando estou entediada e sem o que fazer com as mãos, no ônibus, em palestras e aulas, vendo TV.

Gosto de ocupar as mãos enquanto preciso pestar atenção em alguma coisa. Fazer duas coisas ao mesmo tempo, principalmente se a segunda ação for completamente automática e livre de pensamento, faz com que a segunda se faça com mais atenção. Me disperso com facilidade. Sempre tive que tomar notas em aulas, senão acabava presa em um delírio qualquer por horas a fio. Acontece a mesma coisa conversando com pessoas, preciso me policiar o tempo todo. E, nessas, arranco pedacinhos da pele das pontinhas dos dedos.

Costumava roer as unhas quando era mais nova. Pegue nojo do pozinho que se acumulava embaixo e parei. Aí comecei o novo vício. Quando comecei a realmente cuidar dos dedos, com todos os produtinhos de que falei mais cedo, comecei a arrancar cabelo e pele do couro cabeludo. Fiquei com medo de que o cabelo começasse a cair. Realmente gosto do meu cabelo. É dourado e ondulado e todo mundo acha bonito. Não quero que ele caia. Voltei a comer a cutícula.