9.1.13

50 Tons de Mau Gosto


Eu sei, eu sei. Todo mundo já falou sobre isso. Mas eu quero falar também.

Então eu estava estressada fazendo dois filmes ao mesmo tempo e, ainda por cima, escrevendo o projeto de mestrado, tinha acabado de ler Casual Vacancy (que é maravilhoso, depois faço um post só sobre ele) e eu, me desculpem, tive a oportunidade de ler 50 Tons de Cinza. Um livro idiota. Perfeito.

Minha intenção era a de salvar a história, confesso. Dizer que não era tão ruim, que me identifiquei com Anastassia Steele, que há lições de vida e de relacionamentos no livro. Mas não, não há. As únicas coisas que eu aprendi foram que eu divido fantasias sexuais com uma senhora de meia-idade (fazer sexo com um cara podre de rico) e que eu escrevo bem pra caralho.

Enquanto eu estava lendo, fui fazendo uma listinha com algumas dicas do que não fazer contando uma história e, como todo mundo que tem blog ou lê blog é aspirante a escritor, achei legal compartilhar. Bora lá:

1. Stephan King disse uma vez que a estrada para o inferno é pavimentada com advérbios. Absolutamente, completamente, docemente, desnecessariamente. Isso vale também para conjunções adverbiais, por exemplo: “disse de maneira sensual” e, meu preferido do livro inteiro: “com um olhar de como quem diz: ‘não seja ridícula’”.
2. Essa é consequência do item 1, mas vale contar porque é um erro comum, sempre leio autores bons dizendo pra não fazer isso e era uma coisa que eu fazia quando achava que escrevia muito bem, obrigada, aos 15 anos: não descreva a forma como se fala. Até a J K Rowling aprendeu a não fazer isso mais. Sussurou, gritou, disse com voz doce, ordenou, e (só consigo pensar do Marcelinho quando leio isso) urrou. Urrou ¬¬ Pontuação e contexto provavelmente darão conta de explicar o tom de voz dos personagens. Se precisar muito dizer que o personagem gritou, fique à vontade, mas tudo menos “ordenou docemente”. Estou até agora tentando entender que porra quer dizer “ordenou docemente”.
3.Ao se falar de partes íntimas, use a palavra mesmo, nada de “ele encostou ali” (em itálico, durante as quase 400 páginas do livro). Quantos anos você tem, pelo amor de Deus? Parece eu, na escola, falando do “voluminho” dos meninos.
4. E esse é o contrário do anterior. Não descreva exatamente o que as pessoas estão fazendo durante o sexo. Isso não dá tesão, dá nojo. Fica parecendo os contos do Marcelinho. Ou, sei lá, eu que sou fresca e prefiro ler as sensações aos atos mesmo.
5. Não repita frases feitas. A E L James parece que repete mais, quanto pior a expressão. Essa do “um olhar como quem diz ‘não seja ridícula’” aparece várias vezes. A calça de feltro (Christian Grey, um hippie) caída “daquele jeito na cintura”, seja lá o que isso queira dizer. Além da marca registrada do livro (que até virou piada entre meus amigos que nem leram o livro): “Está com fome? Não de comida”.
 6. Não sei vocês, mas acho bem mais legal ler um livro que tem uma história e no meio dela tem cenas de sexo do que o contrário. 50 Tons tenta ter uma historinha, mas os personagens não a sustentam. O primeiro beijo do casal só vem lá pela página 100, quando você não aguenta mais se perguntar por onde anda aquele sexo todo que as editoras venderam porque, francamente, foi pra isso que eu comecei a ler e realmente não me importo pela vida mal desenvolvida dos personagens planos e chatos.
7. "Intumescer" é a palavra mais feia da língua portuguesa. 
Acho que quando a gente critica alguma coisa, a gente tem que ter argumentos de porque não gosta. (“Enlatado norte-americano” não é um argumento bom o suficiente.) Nem acho que a história da menina virgem de 21 anos que se apaixona perdidamente por um milionário sadomaso seja lá tão ruim. Provavelmente um escritor melhor conseguiria contar essa história direito, deixando sexy de verdade, sem clichês absurdos (“Eu não faço amor. Eu fodo. Com força.”). De qualquer forma, pelo menos o primeiro livro, vai agradar apenas dois tipos de pessoas: as que não lêem ou as que não fazem sexo.

6 comentários:

Ana Paula disse...

1. Adorei. Acabei de aprender várias coisas sobre linguagem, redação e contexto.
2. Confesso! Eu tenho vergonha alheia quando vejo alguém lendo esse livro no busão!! Ainda mais quando a pessoa está vidrada de tal forma que não há NADA, nem lotação, nem freadas bruscas e nem o fato de estar em pé no meio de tudo isso, que a impeça de continuar lendo (acredite em mim, acontece muito)!!

Andreia disse...

Eu li o livro porque a) toda a gente nao falava de outra coisa e b) cometi o pior erro de todos: pensei que como tinha uma capa tao linda (não ha como a gravata nos 'enfeitiça' :D), a historia ia ser ainda melhor. Que ia valer a 'perda de tempo'. Há livros que merecem perder o tempo a ler ne? *-*

Pensei que fosse ser um daqueles livros que nos faz ficar a sonhar acordada e a pensar naquilo que lemos durante... uma semana?

Confesso que tive MUITA dificuldade em "engolir" a história. Ela nao é assim essa coisa maravilhosa que tanto dizem que é. Não muda em nada a nossa, não há lições de vida porque o livro carece de qualquer sitio. J+a li fanfics muito melhores escritos e que deveria virar livros.

O pior disto tudo +e que esta a adaptar a saga para o cinema. Então meninas de 12-15 anos vão ao cinema não para verem uma historia de amor mas pornografia pura. :X

Nem falemos da maneira como ela escreve, proque isso entao nunca mais sairia daqui. mas acho que para uma autora que quer falar de um tema tao serio como BDSM até que fugiu muito do Quarto Vermelho da Dor. xP

Desculpa se me excedi no comentário. Acho que me entusiasmei com o tema. :P

Aline disse...

HAHAHAHAHA, adorei a sua crítica, embora não possa falar com muita prioridade sobre se concordo ou discordo, já que boicotei o livro por causa de tanta crítica assim, negativa, e também por não ter tempo de ler algo que dá preguiça, pelo supracitado. Tou com uma lista imensa que comprei no Natal e 50 tons etc e tal não estão ali de forma alguma.

Gostei muito do teu jeito de escrever, haha. Massa teu blog. Tem algum livro do gênero pra indicar? Um que seja bom?

Beijo, espero voltar mais aqui (:

Emilaine Vieira disse...

Juro que terminei o livro pensando que se fossem só as cenas de sexo ele seria bem melhor.

E eu também muito tive abuso da repetição de expressões!
Sem contar aquele "deusa interior". Mas nisso eu joguei a culpa na tradução, mesmo não sabendo como é no original, porque né.

Sarah disse...

Não li o livro e não pretendo. Minha melhor amiga leu e me deu um conselho que mais parecia uma ordem, ela disse pra não ler. Claro que há aquele vontade de ler pra saber por que todo mundo critica, mas a vontade de ficar sem ler e ir ler algo que preste é bem maior. Parabéns pelo texto. Vou até mandar o link pra minha amiga.

Jaqueline Ferreira disse...

Não li o livro, mas como você disse tem palavra/expressão que...literalmente, "não dá pra engolir. Também prefiro que as sensações deixem que nós imaginemos a cena (livros bons automaticamente nos transportam pra dentro dele e nos fazem construir os personagens na nossa cabeça, adoro!)Um livro interessante nesse "aspecto sexual"... é "Lavoura arcaica" de Raduan Nassar, conta a história de dois irmãos que praticam um incesto..o livro é repleto de insinuações perfeitas...maravilhoso.
Na minha opinião, o melhor livro que li nos últimos tempos. Sem contar na brilhante genialidade com que o autor escreveu o livro.... e sim, como Emi falou aí, muitas vezes a tradução faz "merda" pelo pouco tempo que tem pra fazer o trabalho!