Ela era jovem, pálida, de cabelos escuros e muito atraente. Estendeu-me a mão para que pudesse me pôr de pé. Sua mão teria sido gelado se eu ainda tivesse a capacidade de sentir. olhamos para o meu corpo roliço estendidosobre a grama. Em minha mão uma arma. Abaixo da minha cabeça uma pouça vermelho-escura crescia.
- Deveríamos sair daqui - ela disse com aquela voc paradozal que ao mesmo tempo repelia e atraia - Já está escuro, pode ser perigoso.
- Do que adianta? Estamos mortos.
- Você está morta. Eu nunca nasci.
Morte impeliu-me para que a seguisse até um riacho de cuja existência nunca me dei conta. Ela abriu um gigante guarda-chuva preto e jogou-o na água, de cabo para cima. Com sua ajuda, subi nele. Ela entrou logo atrás.
- Quer me contar o que houve?
- Como se você não soubesse...
- Sim, eu sei. Pensei apenas que você quisesse me contar.
Nossa distinta embarcação desceu o riacho sem ruídos, vargarosamente.
- Eu desisti. De tudo.
"No início, bem no início, eram os professores que me rebaixavam. Eu me sentia muito burra e inferior em tudo. Depois de alguns anos mudei de escola e senti que poderia me reinventar. Como toda criança, eu extrapolei um pouco e acabei sendo ridicularizada por isso. Passei dois anos tentando me adaptar. Qaundo finalmente consegui fazer alguns amigos, estes mesmo caçoavam de mim. Me chamavam de gorda e diziam que eu não tinha jeito com meninos. isso era muito forte porque naquela época todo mundo já tinha beijado uma ou duas pessoas. Os anos foram passando e eu fui ficando para trás. Fiquei muito encanada com minha parência por algum tempo.
"Quando eu pensei que nada poderia piorar, eu tive a notícia de que teria que usar um colete que corrigisse minha postura. A coisa aparecia por baixo por baixo da roupa, era desconfortável e eu me sentia muito humilhada. Usei aquilo por quase dois anos inteiros.
"Assim, decidi que eu nunca seria bonita e resolvi tentar outro método para chamar a atenção: a inteligência. É claro que o complexo baixinha, gordinha, óculos, colete e nerd não deu muito certo. As pessoas passaram a me ridicularizar ainda mais. Crianças são horríveis. Adolescentes são monstros. Tiravam sarro de tudo que eu falava, que eu fazia. Inventavam histórias sobre mim...
"Carreguei as chagas durante muito tempo. Decidi que foi demais. Eu chorava todas as noites por ser feia, gorda e inútil. Como se não bastasse isso, nem meus professores me levavam muito a sério."
- E então você se matou?
- Sim.
Ela segurou minha mão.
- Você é bonita. E especial.
Sorri, forçosamente, como eras meu costume ao receber as tão conhecidas chacotas. Ácida, perguntei:
- Do que adianta agora?
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