- Você mora com sua mãe? Que fofo! - ela disse, levemente embriagada.
- É ela que mora comigo.
Os dois riram. Antonio indicou o caminho para o seu quarto no porão. Melina tropeçou. Os dois voltaram a rir, mais alto dessa vez. Ele nunca se importava em fazer pouco barulho. Dona Bete nunca tinha reclamado, embora ele soubesse do seu sono leve.
- Tá um cheiro esquisito aqui. - ela disse, logo que entrou no porão - Você tá precisando mesmo de uma mulher, né?
- Tô, sim.
Antonio a puxou pela braço. Mais tarde, ela perceberia a mancha roxa. Ele puxou o cabelo da nuca de Melina, forçando seu rosto para cima. Se beijaram violentamente, um beijo cheio de dentes. Melina gostava de amores brutos. Gostava de sentir o poder apertando seus braços e seus seios, a fúria de ter suas roupas quase rasgadas para fora do corpo, o desejo entre as pernas. Por alguns momentos, se sentia insubstituível, perseguida por um animal morto de fome.
Mas Melina também precisava muito usar o banheiro. Rindo, se desculpou e perguntou onde era. Antonio a abraçou mais forte, acariciou seu sexo para que ela não fosse embora. Mas Melina realmente precisava ir ao banheiro. Tinha ficado tempo demais no bar. Desvencilhou-se de Antonio e se dirigiu para a única outra porta do recinto. Antonio começou a ir atrás dela, rindo. Ela chegou mais rápido e fechou a porta atrás dela.
O cheiro era ainda mais forte dentro do banheiro. Ele realmente precisava que alguém limpasse aquele lugar. Será que ele não tinha mãe?
Melina fez xixi e limpou o lápis do olho que sempre borrava no cantinho. De sutiã, começou a arrumar o cabelo. Percebeu a cortina da banheira. Será que o cheiro vinha de lá?
- Meliii-na!
Desde o bar, Antonio tinha adquirido o costume de chamá-la cantando.
- Por que você tá demorando tanto, Meliii-na?
Melina andou até a cortina. O cheiro era nauseante. Com certeza vinha de lá. Puxou a cortina.
- Meliiii-naaa! Tô aqui de pau duro te esperando, Meliii-naaa!
Melina abriu a porta com força, empurrou Antonio. A adrenalina tinha cancelado o efeito do álcool.
- Tem uma mulher morta na banheira, seu monstro!
Ela correu pelo quarto catando suas roupas pelo chão.
- Ela não tá morta, linda, ela tá só dormindo!
Melina subiu as escadas com passos pesados. Colocou o vestido enquanto andava.
Antonio correu atrás dela, segurou a porta da frente com a mão.
- Fica, Melina. Que isso? Não tem ninguém na banheira!
- Me deixa sair a-go-ra!
- Não grita que você acorda minha mãe.
- Me deixa sair. Eu não vou ser o próximo corpo na sua banheira.
Ela bateu no braço dele, destrancou a porta e saiu.
Na escuridão, Antonio viu que ela discava qualquer coisa no celular. Torceu para ser um táxi, mesmo sabendo que era pouco provável. Pelo menos ele tinha beijado uma menina de olhos verdes.
Voltou para o quarto, entrou no banheiro e viu a cortina escancarada. Ana continuava boiando lá dentro, esquelética, agora sem um dos pés.
- Porra, Ana. - disse Antonio, sem se preocupar em acordar a mãe. - Você sempre estraga tudo.
Esse capítulo faz parte de Carregue meu Cadáver, o livro que estou escrevendo sobre relacionamentos abusivos. Vou postar um capítulo por dia até acabar.
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Obrigada!
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