10.2.08

Olhos de Topázio - parte III


Passaram-se meses, anos de pesadelos. Pesadelos para a Princesa que assistia a recordações de outros, com um horror que teimava em não se tornar curiosidade. Pesadelos para a bruxa Hecate que sofria não a pior perseguição de sua vida (iniciada pelo Diabo em pessoa, mas isso é assunto para outra história), mas uma caçada persistente e deveras cansativa. Pesadelos, principalmente, para os Reis, a Corte e o Exército Real, que sofriam cada vez mais perdas.

À medida que a batalha se alongava, era cada vez mais difícil recrutar pessoas para os exércitos ou mercenários. Mesmo os heróis mais valentes e com mais histórias fugiam da missão, temendo mortes terríveis. Os prêmios pela captura do monstro aumentavam de forma que quase todo o tesouro real seria entregue à boa alma que a matasse. Apesar disso, ninguém nem nada aparecia.

E o tempo continuava passando até que a própria bruxa assentou-se no interior da Floresta Negra, distante dos homens e das criaturas da luz. O mundo se acalmou. Acabaram as mortes e os feitiços mandados pela bruxa durante as caçadas desvaneciam vagarosamente. A população local podia dormir em paz.

A Princesa, no entanto, continuava sofrendo com suas visões tenebrosas, causando medo do sono, ficando para sempre com seus olhos abertos. Ela chorava baixinho todos os dias, até que suas lágrimas secaram e ela podia apenas suspirar.

O Rei, movido por compaixão, mas com seu exército já destruído, prometeu uma recompensa avassaladora para quem quer que conseguisse capturar a bruxa.

Enquanto isso, no outro lado do mundo, em uma diminuta aldeia, o arqueiro Conde de Le Fruit observava um cartaz – pergaminho com letras góticas, rebuscadas em vermelho – que anunciava a necessidade da captura da bruxa.

— Veja, Deborendorane – ele disse com sua entonação característica: calma em qualquer situação e profunda – um desafio! A bruxa Hecate está sendo caçada!

Deborendorane, a menestrel que acompanhava o conde em todas as suas aventuras, abaixou o triângulo de latão que tocava melodicamente e perguntou, apática:

— Hecate, Aquela Que Destrói Reinos E Mundos Inteiros Com Um Movimento Rápido Da Mão?

— Sim! – sorriu, entusiasmo – E estão oferecendo um prêmio muuuuito alto!

— É claro que estão – seu tom era de professora reprimindo alunos bagunceiros – Eles nunca irão pagar o prêmio. Todo mundo que desafia a bruxa morre. Afinal, ela destrói reinos e mundos com um movimento rápido da mãe!

— Ah, minha cara, você se apega muito a títulos...

— Títulos?! São fatos, Conde. Fatos! – enfurecia-se.

— E se formos destruídos? O que perderíamos?

— Nossas vidas?

— Vidas... Você é muito apegada a coisas materiais – nisso, Deborendorane bufou sem acreditar – Se morrermos, viraremos pó e voltaremos a ser pessoas – mais cedo ou mais tarde. Você tem família? Não? Nem eu! Para que ser tão egoísta? Temos que matar essa bruxa e trazer paz ao reino que ela assombra!

— Tá bom, Le Fruit... Não sei porque acredito em você, mas eu vou. Se nada der certo, pelo menos poderei escrever uma linda canção sobre sua morte.

— Por favor! Quero que todos saibam!

Então o Conde Le Fruit montou seu alazão marrom e Deborendorane subiu em seu pônei preto e cavalgaram, o Conde liderando o caminho, até o longínquo reino da Princesa dos Olhos de Topázio.

[continua...]
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Obs: Os personagens Deborendorane e Conde Le Fruit foram importados de outra história, ainda não publicado aqui, escrito por mim e pelo meu querido amigo Rafael.

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