Suas vestes rasgadas, sujas, arrastando no chão. Deslizava sobre o deserto, a terra rachada, o sol escaldante. Seus pés machucados, embebidos tanto pelo seu quanto pelo sangue dos outros, latejavam cansados.
Os corpos espalhados, recém-mutilados, seriam, daqui a pouco, símbolo de vitória para outras nações, distantes e ricas, onde a terra é frutífera e o sol agradável. E logo mais os "heróis" de guerra serão empilhados e seus corpos, sem identificação, incinerados.
Ele, cabelos engrenhados, cheios do pó, que flutuava em todo lugar, andava lentamente, rondando os cadáveres, como um urubu. Apalpava aos poucos, sentindo os bolsos, as jaquetas ensangüentadas, à procura de algo de valor. Medalhas, relógios, óculos, sapatos... Às vezes achava algo inútil, como cartas de amor, livros velhos ou fotografias. Levava para a filha, que gostava de sonhar.
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Texto originalmente publicado aqui em 10/09/05. Na verdade é vontade louca de postar e falta do que postar. Aproveitei pra pôr isso porque é um dos meus textos favoritos e acho que ninguém que lê o blog atualmente tenha o lido na sua primeira publicação. Não que eu ache que realmente valha a pena, só pra não ficar cansativo.
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