21.2.07

Toda vez que conto às pessoas que não passei no vestibular e que vou tentar novamente este ano, elas me perguntam se eu ainda quero o que queria ano passado. E a resposta é sempre sim, claro. Alguns dizem que talvez eu mude de idéia no cursinho. Acontece que eu sabia o que queria fazer desde os 12 anos e isso não vai mudar agora. Escolhi o que queria para a vida sozinha, sem influência de pais, escola ou mentores de qualquer tipo. Nunca dei muitos ouvidos a quem me dissesse o que eu deveria fazer ou o que dava mais dinheiro.

Em primeiro lugar, eu deveria lhes contar um pouco da minha infância traumática numa escola americana evangélica fundamentalista (alguém já viu “Turma do Mal” com o Makaulie Caulkin, ou seja lá como se escreve? Era quase igual.). Apesar de eu ter algumas boas recordações e dever coisas como alguns bons amigos (uma única com quem ainda converso raramente), boas leituras, uma infância sem palavrões e obscenidades e um inglês fluente, a escola era meio do mal. Além de extremamente fundamentalista, a ponto de não darem educação sexual ou a teoria da evolução, também discriminavam alunos cuja tendência religiosa não fosse a evangélica (nem os católicos escapavam). Lembro de um colega muito, muito discriminado porque seus pais eram muçulmanos, foi taxado de burro durante todos os 6 anos em que estudei lá. Os americanos filhos de missionários, apesar de não pagarem a mensalidade, sempre eram postos em destaque. Além de sempre serem os preferidos dos professores, sempre tinham os melhores papéis em peças teatrais e cantatas de Natal (o meu melhor papel foi o de uma boneca que ficava sentada o teatro inteiro).

Nessa história, porque eu sou filha de brasileiros, apesar da cidadania americana, e – horror! – filha de um judeu, eu sempre fui absurdamente discriminada. Fui taxada de burra e problemática desde sempre. Lembro de ter tentado ser engraçada e sociável às vezes, mas era tão reprimida que acabei me tornando cada vez mais anti-social e cada vez menos auto-confiante. Me apoiava tão e somente em desenhos fajutos que todos insistiam em elogiar, provavelmente porque era a única coisa a que eu demonstrava interesse. Curiosamente, minha mãe era ginecologista de todas as professoras (a maioria solteiras e virgens, com mais de 25 anos) do colégio.

Então eu finalmente mudei de escola! Os meus colegas falam muito mal do Porto Seguro, que é colégio de filhinho de papai, que não dá autonomia aos alunos, mas eles não têm a mínima idéia do que é ser reprimido.

Então lá pelos meus 12 anos, na 6ª série, eu tive um projeto muito interessante na aula de português: a Hora da Música e da Poesia. Nela, escolhia-se um poeta e uma música e falava-se sobre eles. Eram duas partes: a primeira escrita e a segunda oral. Na parte oral, podia-se usar de todo e qualquer recurso midiático que se desejasse, além de poder escolher se quisesse falar sobre o poeta ou sobre a música. E o trabalho era individual, o que era a melhor parte. Na época, recém-saída de um colégio americano e ainda na minha fase MTV/pop music, eu não conhecia muitos músicos brasileiros, então fiz a minha apresentação sobre a Christina Aguilera, de quem eu gostava muito, e da música “Reflexions”, que foi trilha sonora do filme Mulan, da Disney (lembram?).

Essa foi a primeira – e uma das únicas – oportunidade que tive para fazer o que eu quisesse num trabalho, tendo sempre minhas idéias descartadas pelos outros colegas, principalmente pelo fato de eu ser uma aluna nova e muito anti-social, o que fazia com que eu não me impusesse muito em trabalhos em grupo. Então nesse trabalho eu me empenhei muito, principalmente na parte oral, porque fiquei muito empolgada com a idéia de poder fazer qualquer coisa. Aí resolvi pôr fundo musical, exibir o pedaço do filme onde a Mulan cantava a música, pus a letra no reto-projetor, fiz a festa com tudo a que tinha direito. E a professora ficou muito, muito, muito feliz com o que eu fiz. Ela me elogiou na frente da classe inteira e todo mundo bateu palmas! Ela disse que eu era a luz dela, numa classe onde ninguém tinha se empenhado suficientemente. Ninguém além dos meus parentes jamais tinham me elogiado daquela maneira. Provavelmente ninguém nunca mais me elogiou daquele jeito. E aquela foi a primeira vez que eu senti que sabia fazer alguma coisa bem, que eu fui reconhecida por alguma coisa e por alguém que não fosse da minha família.

Naquele dia, eu percebi que queria organizar apresentações e coisas do tipo pela minha vida inteira. Depois eu percebi que esta era a única coisa que eu quero fazer a minha vida toda.

Midialogia UNICAMP 2008, aí vou eu!!!

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A quem se interessar: eu ainda desenho, mas bem pouco e só quando estou muito, mas muito inspirada. E, mesmo assim, desenho só menininhas e coisa do tipo. Na real é a mesma coisa que desenhava antes, só que mais sofisticadamente. Parei de desenhar quando comecei a escrever, isso foi aos 12, 13 anos, mas isso é história de outros carnavais.

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