7.8.05

Rosas de Prata



CAPÍTULO 1
O Início de Tudo


Numa mesa redonda de madeira tosca, cercada por 12 cadeiras do mesmo material, sentavam 12 magos. Todos com suas longas barbas brancas, longas vestes e pontudos chapéus, variando na cor e no estilo. Todos sábios, que treinavam seus aprendizes cavaleiros, estes competindo pelo trono do Reino das Fadas.

Timóteo, o dono do bar, trazia 12 canecões, todos com o mesmo quentão, quando o Mago-mor falava. Este tinha a barba mais comprida, as vestes mais negras, o chapéu mais pontudo e, claro, o aprendiz mais vagabundo com o melhor coração (aquele que, com certeza, surpreenderia no final da história, como sendo o cavaleiro mais bravo).

—Temo em dizer, irmãos, que o nosso tempo está se esgotando. O Rei já está ficando decrépito e precisamos substituí-lo, quanto mais rápido possível, afinal, o Reino das Fadas não pode ficar sem Rei. – pronunciava Arquimedes, sua voz grave e penetrante.

Todos concordavam, é claro, que os Magos não podiam dominar o Reino das Fadas, por mais que seu nome dizia isso. Magos não são feitos para dominar nada, apenas serem sábios e ensinarem os menores a serem bravos e de bom coração. Mas como decidir qual era o melhor cavaleiro? Ora, quem não lê contos de fadas? A saída óbvia é, certamente, pôr a coroa sobre a cabeça daquele que trouxer uma princesa da torre mais longe, cercada pelo maior dragão, protegido pelo maior número de feitiços malignos.

A reunião terminou-se quando decidiram que liberariam os jovens aprendizes daqui a uma semana, quando os Magos ficariam observando suas bolas de cristal, vendo quem morreria. Todos deixaram o bar ansiosos. Todos menos um: Nacademus.

Nacademus temia essa sentença desde o princípio. Não que seu querido aprendiz morreria no primeiro dia, longe disso: Darwin era um cavaleiro forte, bravo e talvez até um pouco egoísta demais. O garoto vinha de família simples, mas nunca conseguira sê-lo realmente, sempre quisera ser grande, o maior de todos. Desejava tanto aquele trono que provavelmente sonhava com ele. Nacademus, mesmo com as vestes de um azul calmo e o chapéu combinando, estava muito aflito. Sabia que Darwin sairia naquela mesma noite se fosse preciso, mas não possuía coração e, mesmo se o tivesse, seria de gelo.

O caminho para casa nunca fora tão demorada. Mesmo sendo Mago, Nacademus gostava de exercitar-se, então caminhava sempre para casa, sem Ter que usar magia. A lua cheia iluminava seu caminho e brilhava sobre a porta de madeira caída aos pedaços quando chegou próximo o suficiente para observá-la. Não escutou nada quando entrou dentro de casa e foi a procura de Darwin. Achou-o em seu quarto, dormindo sobre a escrivaninha. Com um toque de sua varinha, Nacademus fez seu aprendiz levitar da mesa e cair delicadamente sobre a cama. O Mago sorriu, por mais frio que era o garoto, gostava dele. Este tinha verdadeiro potencial e seria um bravo guerreiro, mesmo se não tivesse a alma de um Rei e um coração para tomar decisões. O sorriso era também pela felicidade de ter tempo ainda para pensar em um bom modo de contar a notícia ao ambicioso.

***

De manhã, quando o Mago despertou, encontrou a casa cheia de fumaça, anunciando que o café da manhã já estava sendo servido(Darwin era bom cozinheiro e sempre acordava cedo para preparar o café). Nacademus desceu preguiçosamente da cama, vestiu longas vestes roxas claras e seu chapéu de sempre, encantado para trocar de cor, calçou suas pantufas de coelhos cor-de-rosa e seguiu para a cozinha.

—Bom dia, Nacademus! – disse Darwin, servindo panquecas com mel ao mestre.

—Bom dia, Darwin. Dormiu bem? – respondeu o Mago, sentando-se à mesa e começando a alimentar-se. – Dormiu sobre a escrivaninha, não é? O que fazia lá?

—Traçava meu mapa para fora deste lugar, para salvar a Princesa Alka daquele dragão. – o garoto olhava pela janela do balcão onde sentava, abraçando uma das pernas, com desejo de aventura no olhar, o mesmo com que falava.

Nacademus aproveitou a situação, pigarreou e declarou:

—Daqui a uma semana, Darwin, você estará na estrada prestes a resgatar a princesa.

—O quê? – perguntou o rapaz incrédulo, quase caindo do balcão.

—Isso mesmo! Nós, do Conselho Mágico, decidimos que está na hora de deixarmos nossos aprendizes mostrarem o que aprenderam e disputarem o trono do Rei, já que este está morrendo e não consegue mais tomar decisões.

A mandíbula de Darwin caiu, estava felicíssimo. Pulou do balcão e correu para o quarto fazer as malas.

—É só semana que vem, hein! – gritou Nacademus, em vão.

Em seu quarto, Darwin juntava todas as suas poucas posses sobre a cama e escolhia aquilo que levaria. A jornada certamente seria longa, por isso a mala teria que ser leve. Ei! Por que razão estranha um cavaleiro levaria uma mala para resgatar uma princesa em apuros? Guardou tudo novamente, sentou-se na cama e começou a pensar.

Se resgatarei mesmo a princesinha, ela terá que voltar comigo? Terá que ser minha esposa? Pensou Por que não posso simplesmente matar o dragão e deixar a garota na torre? Ela que se vire.

Com seus plenos 17 anos, não pensava em garotas, queria apenas o trono, o poder, e nada mais. Conhecia o regulamento, sim, e sabia plenamente que teria que matar o dragão, chegar até a princesa, beijá-la, e traze-la de volta para ser sua esposa. Dividir o Reino das Fadas com qualquer princesinha que chegasse pelo caminho? Não. O Reino era seu por direito, por ter se esforçado, por ter treinado sua vida toda. Ora, por que não matar a moça assim que conseguisse chegar até onde queria? Matava-a envenenada e diria que morreu de doença. Ou podia armar a maior cena, fingindo que se suicidou.

Nacademus haveria de entender, sempre entendia, por isso gostava dele. Se virasse, aliás, quando virasse Rei, Nacademus seria promovido a conselheiro real. Ah! O sonho da realeza, que agora estava tão perto de se tornar realidade...

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Ontem eu fui num churrasco da igreja, foi legal.

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