Observação: o primeiro parágrafo não é meu.
Vou aumentar a letra para vocês lerem melhor.
Foi na última chuvarada do ano, e a noite estava preta. O homem estava em casa, chegara tarde, exausto e molhado, depois de uma viagem de ônibus mortificante, e comera, sem prazer, uma comida fria. Vestiu o pijama e ligou o rádio, mas o rádio estava ruim, roncando e estalando.
Já passara por dias piores, mas nem as recordações de alguns tristes momentos em seu passado eram capazes de iludi-lo suficientemente para imaginar que o dia fosse bom.
Desligou o rádio, a luz do quarto e foi deitar-se à cama. Nada o que lhe ocorreu fora bom. Nada! Adormeceu mergulhado em pensamentos pessimistas.
Mas havia uma luz. Sim, a luz em meio à floresta negra. Amanhã, seria um novo dia.
E o amanhã chegou. Naceu e morreu, no mesmo dia, no mesmo instante. Tinha acordado para procurar um novo emprego, nova vida, até uma nova mulher, talvez, já que essa o deixara. Mas saiu-se mal.
Por que, raios, não havia cursado informática quando era jovem? Todos os empregos decentes que achara nos jornais exigiam o domínio de um teclado e mause. Isso Luciano não possuía. Nem isso, nem o dinheiro para pagar o curso.
Nem Natasha estava! Natasha, sua musa inspiradora, que sempre estava lá, confortando-o quando algo ia mal. Natasha, sua fantasia em carne e osso, única razão de viver, seu sonho, seu espanto, seu único desejo carnal como homem, como ser humano. E agora Natasha o deixara. Natasha deixara Luciano.
Mas como? Completavam-se perfeitamente, como ying-yang. Sim, exatamente como ying-yang. Ela era o positivo e ele o negativo. Por isso tudo resultara em obsessiva busca por ela, pela perfeição, otimismo, positivismo, felicidade.
Amor? Não. Nunca se sentira apaixonado por Natasha. Apenas, gostava de sua companhia e transavam de vez em quando.
Pegou o telefone para discar a sua companheira, mas este estava mudo. Ótimo! Mais essa! Sua única distração para ficar feliz por um mísero momento foi-se embora, dissolveu-se friamente. Tomado pelo medo de ficar eternamente sozinho e ainda mais infeliz, sentiu as paredes rindo. E riam, riam, ah!, como riam!
Estava ficando louco. Arremessou o aparelho, que ainda jazia em suas mãos, contra a parede, essa segunda insistindo com sua risada maléfica.
Saiu, desesperado, de casa, mas não fugiu dos risos. As pessoas nas ruas davam gargalhadas de sua triste situação.
Em meio a tanto riso maléfico, lembrou-se de que nunca foi positivo e otimista como Natasha. Nunca foi batalhador e de bem com a vida, por isso perdeu o emprego, por isso perdeu a mulher, por isso sempre foi tão infeliz, por isso nada deu certo.
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