7.9.15

Fome

Quando eu ia almoçar na época do meu primeiro estágio, aos 16 anos, percebi que eu gastava uns 25 reais no quilo. Minha chefe, que era bem magrinha e reclamava que não parava de emagrecer, gastava 7. Me perguntava diariamente se ela não estava com fome e - pior - se eu é que não deveria comer daquele jeito e ver se não emagrecia logo.

Li uma teoria feminista uma vez de que a necessidade da magreza feminina não é apenas estética, mas política, já que mulheres sempre preocupadas com o peso são mais facilmente controladas. Começa com a necessidade de diminuir o açúcar, depois com não poder mandar mensagem pro crush para não demonstrar fraqueza, não andar sozinha à noite para não ser estuprada, até nunca poder pedir um aumento para não incomodar ninguém.

Não lido muito bem com restrições. Quero do meu jeito, o máximo possível, extravagante, intenso. Principalmente - mas não somente - com minha comida. Passei tempo demais achando que menina boa abaixa a cabeça, fica quieta, se anula na presença dos outros. Come pouquinho, é discreta, espera que venham até ela. Tem que esconder as formas do corpo para não parecer a puta da TV, substitui a manteiga por margarina, nunca fala dos sentimentos para não incomodar e não se humilhar.

Vou colocar a quantidade de azeite que eu quiser. Meu brownie leva uma lata inteira de manteiga. Vou mandar mensagem até que eu perca o interesse. Se eu estiver triste ou cansada, quero que todo mundo saiba.

Não vou me anular por causa da porra das suas regras.

Um comentário:

Rafael disse...

margarina jamais!!