Eu moro na zona rural do interior paulista. Claro que Campinas, sendo uma cidade relativamente grande, não se compara à zona rural de cidades do interior de verdade de São Paulo ou do interior de Minas, por exemplo. Então eu moro a 20 minutos de carro da Unicamp e a 30 de qualquer lugar. E tem internet e sinal de celular. Coisa que não tem na zona rural de Sorocaba, por exemplo, que é pertinho daqui. Mas mesmo assim, água encanada chegou faz pouco tempo - e não chega na minha casa -, não temos esgoto nem asfalto e só passa ônibus aqui de meia em meia hora, o que já é um avanção perto das 1h10 de intervalo de uns 5 anos atrás. Pelo menos não pagamos IPTU. E, ah, a melhor padaria da região vende pão de manhã e no resto do dia é um botecão. Sem contar que é possível, sim, ficar preso no trânsito atrás de carroças. Isso quando não tem uma boiada atravessando a rua. Sério.
Então, tirando as pessoas de classes mais baixas que moram aqui - justamente por ser bem mais barato que os bairros de classe média alta ao redor -, aqui também se tornou um recanto para professores universitários, aposentados e gente que adora um bom contato com a natureza. Gente bem alternativa, de um modo geral: que curte acordar com os passarinhos e às vezes com galos dos vizinhos, medicina homeopática, ter um pomar gigante com árvores frutíferas e um jardim com ervinhas para o chá caseiro. E tudo isso combina com casas de tijolos à vista, madeira, sapê e vime, um pouco distante do portão da casa, feito de bambu decorado com uma placa de madeira esculpido por fogo com os dizeres "Recanto da Alegria". Uns três ou quatro cachorros vira-latas e pelo menos duas árvores em flor. Isso só à primeira vista.
Pois bem. Há uns anos atrás comecei a acompanhar a construção de uma casinha num terreninho modesto à beira da rua principal do bairro. Demorou um pouco para ficar pronto. Como vocês devem saber, construir casas custa caro. Acho que o que mais tem aqui é gente que juntou todo o dinheiro e disse: "Vamos ter uma fazenda! Nossa casa dos sonhos longe do barulho da cidade!" E, então, depois de construir alguns cômodos, percebem que ficou caro demais. Como aconteceu com meus pais. Mas enfim a construção dessa casinha chegou em algum lugar.
Mas eu achava estranho porque a casa não tinha telhado. Até aí, poderia estar fazendo uma lage ou algo do tipo. Mas aí o dono pintou a casa. Ela é toda branca, mas uma das colunas é azul e a outra, amarela. É tão estranho que eu nem sei descrever. Não há árvores em volta, só mato seco. Olhando por fora, a casa tem dois andares, mas poucos cômodos. E não tem telhado. E poucas janelas. É uma dessas construções modernas com tetos retos que aculumam água quando chove e ficam em bairros modernos de gente rica e moderna que compra carros por mais de 60 mil reais sem nem correr o risco de ficar atolado na lama, nem nas férias. Pela casa dele, fico imaginando que o dono adora tecnologia, deve ter uma TVzona com TV à cabo e wifi pela casa inteira, pra poder cozinhar vendo a receita do IPad. O que um cara desses está fazendo morando aqui? Ou isso ou é um escritório de arquitetura ou advogacacia, uma clínica de dentista ou de estética. Várias coisas que não combinam nada com os arredores.
Olha eu julgando o cara. Vai ver ele só ficou sem dinheiro mesmo e o próximo passo é plantar um pomarzinho de cogumelos comestíveis e colocar uma luneta naquela laje dele, pra poder olhar as estrelas do céu mais impressionante da região.
11.9.11
6.9.11
Sobre livros antes de dormir
Eu tenho o hábito, desde criança - ou pelo menos depois de Harry Potter -, de sempre ler antes de dormir. Se eu não estiver bem cansada, preciso de alguma historinha pra me colocar pra dormir. Prefiro prosa de ficção, mas pode ser qualquer coisa. Eu não sei quantos livros em média eu leio por ano. Devo contar os textos da faculdade como livros? E se eles tiverem mais de 60 páginas, sem figuras? Quadrinhos contam como livros? Livros teóricos são mais livros que livros de ficção fantástica? E antologias? Preciso lê-los inteiros para serem considerados um livro? E os contos que leio na internet, estes contam como livros?
Enfim. Ler antes de dormir. Nos Estados Unidos eu dividia quarto com mais duas meninas que não gostavam de ler. A chinesa ficava impressionada com como eu gostava dessas coisas de museu e livros e arte. Ela só gostava de ler revistas e se recusou veementemente a me acompanhar nas minhas poucas excursões culturais. E eu achava impossível imaginar a francesa num museu, olhando obras silenciosamente. Ela dizia que só gostava de ler livros sobre o que ela estudava. Mas eu gostava de ler antes de dormir. E lia à luz do celular até meus olhos ficarem cansados ou, às vezes, se eu estava em um pedaço particularmente instigante da história, até depois disso.
E agora eu estou sem ter o que ler. Acho que passei por todas as prosas e todos os quadrinhos interessantes da casa e fui à livraria. Achei um Freud na sessão de livros de bolso da LP&M e resolvi que estou lendo prosa fantástica demais. Além disso, algum professor alguma vez deve ter insinuado que O mal-estar na cultura combinava bem com o curso e eu tinha esbarrado por ele e por Tabu e totem uma dúzia de vezes em referências na minha iniciação científica, então decidi pegar.
Mas, senhoras e senhores, ler teoria de psicanálise antes de dormir não é tão simples quanto parece. Acho que é por isso que as pessoas fazem cursos inteiros de 4 anos para entender o que ele quis dizer. Li umas 4 ou 5 páginas e, depois de constatar que nada daquilo estava se tornando conhecimento na minha cabecinha cansada de antes de dormir, coloquei-o na prateleira do quarto, onde ele será lido, eventualmente, quando eu tiver tempo e disposição para ele.
Enfim. Ler antes de dormir. Nos Estados Unidos eu dividia quarto com mais duas meninas que não gostavam de ler. A chinesa ficava impressionada com como eu gostava dessas coisas de museu e livros e arte. Ela só gostava de ler revistas e se recusou veementemente a me acompanhar nas minhas poucas excursões culturais. E eu achava impossível imaginar a francesa num museu, olhando obras silenciosamente. Ela dizia que só gostava de ler livros sobre o que ela estudava. Mas eu gostava de ler antes de dormir. E lia à luz do celular até meus olhos ficarem cansados ou, às vezes, se eu estava em um pedaço particularmente instigante da história, até depois disso.
E agora eu estou sem ter o que ler. Acho que passei por todas as prosas e todos os quadrinhos interessantes da casa e fui à livraria. Achei um Freud na sessão de livros de bolso da LP&M e resolvi que estou lendo prosa fantástica demais. Além disso, algum professor alguma vez deve ter insinuado que O mal-estar na cultura combinava bem com o curso e eu tinha esbarrado por ele e por Tabu e totem uma dúzia de vezes em referências na minha iniciação científica, então decidi pegar.
Mas, senhoras e senhores, ler teoria de psicanálise antes de dormir não é tão simples quanto parece. Acho que é por isso que as pessoas fazem cursos inteiros de 4 anos para entender o que ele quis dizer. Li umas 4 ou 5 páginas e, depois de constatar que nada daquilo estava se tornando conhecimento na minha cabecinha cansada de antes de dormir, coloquei-o na prateleira do quarto, onde ele será lido, eventualmente, quando eu tiver tempo e disposição para ele.
Assinar:
Postagens (Atom)