Eu adoro desenhos animados. 2D e stop-motion, de preferência, tendo sido criada assistindo aos filmes da Disney. Aí eu resolvi que queria virar animadora profissionalmente. E aí caiu na minha mão de fazer a abertura para um projeto de conclusão de curso de televisão e eu inventei de animar - no Photoshop, já que tenho um tablet, mas não uma mesa de animação (daquelas de madeira, inclinadas, com lâmpada embaixo, pra poder ver o desenho anterior).
Tendo assistido ao making-of que passava depois do filme no VHS da Branca de Neve e de outros clássicos, eu aprendi que pra fazer um desenho bem legal vc tinha que desenhar o cenário em uma folha, e cada personagem que se mexia em folhas separadas, pra facilitar o trabalho. Lendo livros a respeito, aprendi que se anima cada parte do corpo do personagem de uma vez e que, principalmente, se você não quer ter trabalho, nem comece a animar. Quer dizer, é difícil o suficiente, né?
Mas não, você fez aula de história do cinema I e II, fez de edição, aprendeu tudo sobre movimentos de câmera e enquadramento, tem zilhões de filmes bacanas no repertório e não consegue fazer uma cena com planos parados. Travelling é seu nome do meio. Os personagens precisam dançar ENQUANTO a câmera se aproxima. O olhar do expectador precisa passear pela mesa de buraco.
E sabe a píor parte? A pior parte é que quem escreveu o roteiro foi você mesmo. E enquanto isso, você não consegue fazer uma linha reta com o tablet.
Ainda temos um mês. E 360 quadros pra fazer.
29.4.11
23.4.11
Futebol
Uma das coisas que eu acho mais fascinante no universo masculino é a atitude em relação ao futebol. Claro que não se trata exclusivamente de um problema do sexo oposto, mas eu conheço um número significativamente maior de homens apaixonados por esporte que mulheres. Os motivos sociológicos disso me ultrapassam, mas isso não importa, não por enquanto. Parece que o esporte é para os homens o que a moda é para as mulheres (salvos as devidas proporções): ambos são de uma importância intangível para o outro.
Me espanto com discussões calorosas em mesas de bar ou mesmo em sofás domésticos sobre as posições dos jogadores em campo, as mesas redondas no rádio e na televisão, a quantidade de programas dedicadas exclusivamente a isso em todos os canais de televisão aberta, os canais inteiros na tv fechada apenas sobre este único assunto. Me impressiona a ferocidade dos assuntos comentados, as certezas absolutas, o tempo e, principalmente, o dinheiro dedicado a isso. Tudo isso faz parecer que futebol, em especial, é o assunto mais importante do mundo. Supera a política externa norte-americana, as crises politico-sociais dos países árabes, a economia brasileira e todos os desastres naturais do Japão.
O melhor, na verdade, é o descaso dos jogadores, técnicos, presidentes de clubes em relação ao próprio time. Os jogadores mudam a cada ano, indo para onde lhes pagam mais, como se fosse só outro emprego, escalações para clubes maiores, mais importantes e, claro, com salários mais formosos. Paixão é pelo lado dos torcedores, pelos comentaristas incansáveis. Torcem por um brasão, apenas por um símbolo, enquanto carregam todo o sofrimento de uma equipe inteira nas costas.
Me espanto com discussões calorosas em mesas de bar ou mesmo em sofás domésticos sobre as posições dos jogadores em campo, as mesas redondas no rádio e na televisão, a quantidade de programas dedicadas exclusivamente a isso em todos os canais de televisão aberta, os canais inteiros na tv fechada apenas sobre este único assunto. Me impressiona a ferocidade dos assuntos comentados, as certezas absolutas, o tempo e, principalmente, o dinheiro dedicado a isso. Tudo isso faz parecer que futebol, em especial, é o assunto mais importante do mundo. Supera a política externa norte-americana, as crises politico-sociais dos países árabes, a economia brasileira e todos os desastres naturais do Japão.
O melhor, na verdade, é o descaso dos jogadores, técnicos, presidentes de clubes em relação ao próprio time. Os jogadores mudam a cada ano, indo para onde lhes pagam mais, como se fosse só outro emprego, escalações para clubes maiores, mais importantes e, claro, com salários mais formosos. Paixão é pelo lado dos torcedores, pelos comentaristas incansáveis. Torcem por um brasão, apenas por um símbolo, enquanto carregam todo o sofrimento de uma equipe inteira nas costas.
15.4.11
Sobre coleções
Eu sou uma pessoa muito prática, ao contrário do que tudo indicaria. Acho que as únicas coisas inúteis que deveríamos cultivar são as histórias - e nem elas considero inúteis. Daí tenho horror a arte só para ser bonitinha, a peças de roupa que só servem de adereço e demais tranqueiras que poluem o ambiente. Decoração é válido, mas só se tiver valores sentimentais. Minha mãe e minha irmã, por outro lado, virginianas, são pessoas bem apegadas às coisas e guardam todas as bugigangas como lembrancinhas de todas as coisas do mundo. Aí, por algum motivo, aprendi que era certo guardar as coisas. E comecei a guardar, mesmo sem querer muito, agendas de outros ano, cartazes de exposições em que eu fui, convites de coisas, aqueles cartões postais com propagandas bacanas, agendas antigas, tudo.
Tive uma coleção bem grande de entradas de cinema. Eu gostava bastante, mas parei de juntar de uns anos pra cá quando começaram a imprimi-los em rolo de papel de recibo de cartão de crédito, o que faz com que a tinta saia com facilidade e percamos a recordação de qual ingresso é de que filme, tirando totalmente o sentido deles. Maldita modernidade.
Já colecionei ímãs, papel de fichário, papel de carta, adesivos, chaveiros, coisas de girafas, tive compulsão por brincos, esmaltes, essas coisas pequenas e baratas que usamos uma única vez. Mas parei. Chega uma hora que perde o sentido. Mais fácil só consumir o que se gosta e o que se vai usar em vez de só ir tentando juntar mais e mais coisas.
"O DVD é bom?"
"Não, só comprei pra completar a coleção."
Capitalismo selvagem. A parte boa de juntar coisa inútil é depois poder jogar tudo fora. E eu adoro jogar coisas fora.
Tive uma coleção bem grande de entradas de cinema. Eu gostava bastante, mas parei de juntar de uns anos pra cá quando começaram a imprimi-los em rolo de papel de recibo de cartão de crédito, o que faz com que a tinta saia com facilidade e percamos a recordação de qual ingresso é de que filme, tirando totalmente o sentido deles. Maldita modernidade.
Já colecionei ímãs, papel de fichário, papel de carta, adesivos, chaveiros, coisas de girafas, tive compulsão por brincos, esmaltes, essas coisas pequenas e baratas que usamos uma única vez. Mas parei. Chega uma hora que perde o sentido. Mais fácil só consumir o que se gosta e o que se vai usar em vez de só ir tentando juntar mais e mais coisas.
"O DVD é bom?"
"Não, só comprei pra completar a coleção."
Capitalismo selvagem. A parte boa de juntar coisa inútil é depois poder jogar tudo fora. E eu adoro jogar coisas fora.
2.4.11
Havia uma ruína no meu bairro da qual eu gostava muito. Eram os escombros de uma antiga fábrica de qualquer coisa, abandonada há anos. Haviam buracos nas paredes, em certos lugares não havia mais nem sinal do telhado, estava sujo e havia mofo nas paredes. A vegetação crescia solta por onde havia espaço, conquistando novamente o seu lugar, depois de perdê-lo, em outro tempo, para os homens e seu mundo de concreto. Era maravilhoso. Apesar de despedaçado, parecia um símbolo de resistência à chuva, ao vento, ao tempo. Era como um corpo, resistindo para manter-se em pé apesar das adversidades.
Resolvi fotografá-lo em um dia de sol em meio a semanas de muita chuva. Dei sorte por encontrar o céu aberto, perfeito para cores bonitas. Fotografei minha musa, com um filme de 36 poses coloridas e uma câmera analógica da universidade. Gostei de algumas fotos, outras não.
Um mês depois, descobri que finalmente o homem e seu mundo de concreto venceu. Derrubaram tudo que tinha sobrado da construção. Agora só há um grande terreno baldio, onde nem a grama sobrevive. Me entristeci, mas sinto que isso serve para deixar minhas fotografias - e aquele momento - muito mais especiais.
Resolvi fotografá-lo em um dia de sol em meio a semanas de muita chuva. Dei sorte por encontrar o céu aberto, perfeito para cores bonitas. Fotografei minha musa, com um filme de 36 poses coloridas e uma câmera analógica da universidade. Gostei de algumas fotos, outras não.
Um mês depois, descobri que finalmente o homem e seu mundo de concreto venceu. Derrubaram tudo que tinha sobrado da construção. Agora só há um grande terreno baldio, onde nem a grama sobrevive. Me entristeci, mas sinto que isso serve para deixar minhas fotografias - e aquele momento - muito mais especiais.
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