na colina mais alta, isolada do resto do vilarejo, morava o poeta, distanciado e indiferente a todas as outras almas. sentava sozinho dentro do castelo construído por ele mesmo, pedra sobre pedra, colocadas em seus lugares com suas próprias mãos. as pedras pareciam ser grandes demais para serem garregadas pelo poeta - ele, tão miúdo e fraco -, mas era capaz de levantar até construções inteiras apenas para se isolar.
gostava de ficar sozinho. pessoas não o atraíam. era chatas e todas iguais. tudo fora do castelo era chato e monótono. sempre era tudo igual e sempre ruim. pensava ser auto-suficiente. gostava de ficar pensando, ter suas próprias idéias. funcionava. produzia muito. não somente poemas, mas realizava gravuras e pinturas. às vezes, até esculpia.
o problema do isolamento é que, àlguma hora, o lado de dentro se esvazia. como osmose que chegou ao fim do equilíbrio. simplesmente, não havia mais o que dizer.
torturado pela necessidade de produzir - o seu único meio de entrar em contato com o que o cercava - e pela agonia de não conseguir fazê-lo, deitou a cabeça sobre a escrivaninha com o intuito de pensar, apenas. a cabeça apoiava-se sobre um dos braços. o outro, esticado à sua frente, segurava uma pena entre os dedos finos e pálidos.
não havia saído do castelo em muito tempo. nunca mais sairia. nunca mais deixaria a posição do pensador - aquele que pensa e não chega a nada.
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