Nunca tinham-na visto sem maquiagem. Nunca. Ninguém. Podia ser o mais cedo da manhã ou o mais tardar da noite, ela continuava lá, firme e forte, com todos os seus pózinhos.
E era alegre, também. Sempre muito alegre, de bem com a vida. E sorria sempre, para todos. Cumprimentava-os, todos, como se os conhecesse, todos. E todos a queriam bem. Não a conheciam, mas gostavam dela. Sempre alegre, sempre maquiada.
Certo dia apareceu uma feminista por lá. Mulher grosseira, mal arrumada, viva descabelada, de cara lavada e revoltada.
A primeira pessoa com quem implicou foi a maquiada, porque, lógico, se pintava. Chamava-a de vendida. Tinha certeza de que não se gostava assim, urg!, maquiada. Gostava, sim! Ela é que tinha inveja, porque era feia.
- Feia?! Eu??
- Mal arrumada! Se pelo menos passasse um batonzinho...
- Sou o que sou, com minha própria cara. Não uso disfarces como você, só para agradar aos outros.
- Desde quando uso disfarces?
E caiu na gargalhada. Riu tanto, tanto, que o pó começou a endurecer-lhe as covinhas, a pele do rosto. Aos poucos ficava paralisada. Olhos fechados, boca aberta, n um riso que aos poucos emudecia.
Ao final daqui, a feminista saiu dali, horrorizada, triunfante.
A maquiada finalmente foi feliz. Virou estátua. E pôde ser bonita sempre e sorrir para todos, mesmo que não os conhecesse.
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