22.8.17

A cidade de São Paulo desaba sobre a gente

O Memorial da Resistência deve ser o pior lugar de São Paulo.

Talvez até seja do mundo inteiro. Antes mesmo de entrar no museu vemos os monstros. Eu moro no centro há três anos e nunca tinha visto ninguém fumando crack. Nem à noite, quando desço do ônibus no Anhangabaú. Devo ser mesmo tapada pra caralho. Os zumbis, enfim, continuam populando os arredores do museu, sentam nas beiradas, são a vista das janelas que insistimos em não ver.

O Memorial da Resistência deve ser o pior lugar de São Paulo.

Do lado de dentro, a memória de uma centena de presos políticos de outros tempos. Suas palavras estão inscritas nas paredes e sua energia continua pesando no ar. Tudo lá dentro é insuportável. No quarto andar, uma exposição do Mauro Restiffe retratava o cotidiano do tempo dos presos políticos. Achei uma merda todas aquelas fotos de grávidas granuladas e mal enquadradas. Fotos de outros tempos que não somam nada, não dizem nada.

O Memorial da Resistência deve ser o pior lugar de São Paulo.

Estudar artes me deu o privilégio de admitir que não gosto de coisas consagradas. Não gostou, por quê, Deborah? Porque tenho mestrado na USP, porra. O mestrado na USP na verdade só serviu mesmo pra criar essas casca grossa e reiterar toda essa presunção. Fez bem, até. Bons frutos. O Mauro Restiffe, por outro lado, deveria é sentir vergonha de ser exposto no antigo prédio do DOPS. Eu teria.

O Memorial da Resistência deve ser o pior lugar de São Paulo.

A gente tenta, tenta, tenta ressignificar as coisas e não consegue. Os fantasmas ainda estão lá. Os fantasmas, independentemente de quantos exorcismos fizermos, os fantasmas talvez fiquem para sempre. Talvez eu mesma nem goste mais de fotografia.

Um comentário:

Bruna Matos disse...

Não conheço, nunca fui, mas creio que deve ser uma experiência e tanto. Os piores lugares tem um efeito transformador.

http://umavidaemandamento.blogspot.com.br//