As luzes se apagaram. Aviso de emergência.
Rodrigo se aconchegou melhor à poltrona e apoiou os pés sobre a cadeira vazia à sua frente.
O filme já tinha começado quando o casal da frente chegou. O cheiro forte de damas da noite trazia lembranças das flores da escola e de Maria, que Rodrigo ia espiar toda semana no vestiário da piscina. Uma silhueta de gêmeos siameses em frente à tela. O estranho empurrou o pé de Rodrigo para fora do banco. Não houve sinais de arrependimento. Rodrigo decidiu que não valia a pena perder ainda mais tempo do filme discutindo. Acomodou-se melhor na cadeira.
Rodrigo adorava essa franquia. Era um reboot de uma série que ele assistia quando era criança. Praticamente o mesmo roteiro, com atores piores e efeitos especiais mais modernos.
As cabeças do casal da frente ficavam se mexendo e atrapalhando o filme. Olhando direito, só a cabeça dele se mexia. Para frente e para trás, para cima e para baixo. Ela estava quietinha, como se nem estivesse ali. O movimento ritmado se tornou mais irritante quando gemidos abafados começaram a acompanhar.
A alguns bancos a frente, Ligia se virou para ver de onde vinha o barulho. Ela tinha vindo ao cinema com Simone e Clarisse e agora as três estavam de costas em suas cadeiras e tentavam abafar risinhos.
Os ninjas da tela atravessavam uma nevasca, que iluminava toda a sala.
– Meu, olha a cara de tédio dela! - disse Simone, não se importando em manter a voz baixa.
Ela estava com a cabeça tombada levemente para a esquerda, a boca entre-aberta e o olhar perdido em algum lugar da neve da tela. Ela estava absolutamente estática, exceto pelo pulso que subia e descia sob os comandos do homem ao lado.
– E ela realmente precisa aprender a comprar base, né, amiga? - disse Clarisse.
– Esse cinza é cigarro. Quem fuma muito fica assim. - disse Ligia.
Ligia tinha uma tia que fumava quatro maços por dia. Ela tinha a pele meio esverdeada e tinha cheiro de gato morto. Ligia tinha muito medo de ficar verde algum dia.
Do outro lado do cinema, Dona Irene arrastava o neto pelo braço para fora do cinema.
– Mas eu quero acabar de ver os ninjas, vó! - disse Pedrinho.
– Não tem nada nesse cinema além de pouca vergonha. - disse Dona Irene.
As meninas passaram o resto da sessão dando risadinhas.
Rodrigo fez muito esforço para se concentrar no restante do filme e não na sua ereção.
Esse é o quinto capítulo de Carregue meu Cadáver, o livro que estou escrevendo sobre relacionamentos abusivos. Vou postar um capítulo por dia até acabar.
Adoraria saber sua opinião, então deixe um comentário me dizendo o que achou, divida com quem você acha que vai gostar e me cobre se eu parar de postar.
Obrigada!
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