8.1.14

Punk de Boutique

Nas férias eu decidi limpar meu armário e me reencontrei com todas as minhas roupas de adolescente. Sabe aquelas que têm buracos, manchas de desodorante, que eram pretas e ficaram cinzas de tanto serem lavadas, mas que mesmo assim, elas têm um pedacinho tão importante de você que é simplesmente impossível jogar fora?

Ahhhh, a adolescência...

Essa do Batman comprei da primeira vez que fui na Galeria do Rock, lá por 2005, junto com um cinto de rebite, de couro sintético (aparentemente sintético é cyberpunk demais pras pessoas hoje que preferem que tudo seja "ecológico"), uso até hoje, evidentemente sem a mesma ginga adolescente. Os dois juntos custaram uns 30 reais. A do Nightwish é da segunda ida. A do Fantasma da Ópera foi de quando fui assistir ao musical com minha irmã e minha tia. A camiseta custou uma fortuna (o que era considerado uma fortuna na época), mas tinha que ter. Lembro que nessa época eu tava saindo da escola e eu simplesmente não tinha roupas para o dia a dia. Eu vestia pijama, uniforme e roupa de sair. Não havia nada intermediário e, longe das pressões do colégio incrivelmente conservador, consegui formar meu próprio senso de estilo. Parei de usar as camisetas de tanto que minha mãe brigou comigo.

A camiseta do Jack comprei num evento de anime. Ela era incrível, cheia de ilhoses, fitas e alfinetes. Tá melhorzinha que as outras porque eu tinha dó de usar. A de caveiras é uma história interessante. Comprei na internet, de uma vendedora que fazia as roupas e vendia pelo Fotolog e pelo Orkut (ê, saudade), junto com uma blusa de manga longa listrada (que eu amo e ainda uso no frio). A moça que vendia sempre tirava as fotos das roupas nela e ela tinha pouco peito. Eu esqueci de calcular esse detalhe e em mim a blusa fica absurdamente obsena, tanto que só tive coragem de usar 3 vezes: um foi na choppada quando entrei na faculdade, onde causei frisson, a outra foi na festa onde fiquei pela primeira vez com meu primeiro namorado e a outra foi pra tirar 10 num seminário de um professor tarado. Alcancei meus objetivos todas as vezes.

Meu primeiro crucifixo comprei de um hippie, por acaso no meio da rua. Meu coturno era uma bota preta com saltinho e cadarço herdado da minha tia. O único esmalte preto era o preto da Colorama, super difícil de achar. Tinha colegas que faziam com bic preta e base, mas eu nunca me aventurei tão longe porque sou medrosa, mesmo motivo que nunca pintei o cabelo, apesar de saber o passo a passo certinho e todas as marcas de tintura boa até hoje, porque lia todos os poucos blogs a respeito. Usava as saias fluídas da minha mãe. Os lápis de olho que eu conseguia comprar eram todos ruins. Não usava espartilho porque achava caro demais e, né?, ser rebelde com dinheiro dos pais não faz muito sentido. Quer dizer, era muito difícil achar roupa alternativa naquela época. A gente se virava como podia.

Eu sou tipo a tiazona do metal que fica reclamando que hoje em dia só tem poser que usa as camisetas de banda porque tá na moda. Já escrevi sobre isso aqui em outra oportunidade. Mas esbarrei em três textos tão maravilhosos do Moda de Subculturas que tive que vir falar mais um pouquinho sobre isso. Recentemente a quantidade de bijuterias que eu tenho dobrou porque finalmente estou encontrando as coisas que eu gosto com facilidade. Comprei um colar de aranha na loja de bijuterias xexelenta da rodoviária e um colar majestoso com um crucifixo enorme na promoção da Acessorize. Acho que a Deborah adolescente ia odiar tudo isso, provavelmente, mas adolescentes odeiam tudo. É legal ter tudo à mão e compro bastante com medo de que na próxima estação tudo fique florido e fluor de novo.

Aí tem as calças listradas preto e branco. Teve um momento tenebroso da minha vida que eu comecei a seguir o Lookbook no Tumblr. Era um problema porque tinham várias meninas estilosas e eu ficava com vontade de me montar todos os dias. E eu não sou assim, sempre repito roupa, só uso coisa confortável, foi complicado. Mas uma coisa ficou. Uma estação antes, eu vi dezenas de meninas estilosas usando leggings com listras verticais em preto e branco. Meu deus, a calça do Beetlejuice. Quando eu era mais nova e pensei em fazer minha próprias roupas (feito que nunca realizei porque não sei pregar uma lantejoula), eu sonhava com uma jaquela do beetlejuice, com umas correntes e uns ilhoses e umas rendas. E eu nunca achava nada preto e branco em lugar nenhum. Contava os dias pra tendência chegar aqui. Eu sabia todas as combinações que eu faria. Comprei a minha na Marisa, assim que chegou. Servia certinho, o que é incrível, porque calças nunca servem. Logo em seguida, o Brasil inteiro comprou.

E eu, que sempre fiz tanta questão de ser diferente vi o país inteiro zombando do meu estilo construído meticulosamente em todos os detalhes durante anos. E junto com isso veio o medo eterno que rondam as meninas alternativas naturalmente loiras (ou pelo menos, o medo que sempre me rondou): será que as pessoas vão me confundir com uma patricinha agora? Que usa as coisas só porque estão na moda? O horror, o horror.

De qualquer forma, recentemente comprei uma outra blusa do batman na José Paulino. Ela tem gola canoa e um corte legal, bem diferente da baby look barata da adolescência. Também tem a estampa bem maior e, minha parte preferida, tem glitter. Tenho uma camiseta nova do batman pra substituir a antiga, tão querido.

Espero que os adolescentes de hoje consigam apreciar a facilidade que é conseguir essas coisas e construir seu próprio estilo de maneira tão simples.

Mas aí meio que perde a maior parte da graça de ser underground, né?

Um comentário:

Kamilla Barcelos disse...

Eu vivo me lembrando de umas roupas que eu vestia sempre: uma blusa do Che Guevara (sou apaixonada até hoje, mas não me serve). E na adolescência eu só usava calça jeans e tênis. Era tipo você: pijama, uniforme da escola e roupa de sair.
Só que eu andei sentindo vergonha de mim ao ver fotos antigas. Não pelas roupas, mas pelo o conjunto todo. Sério, com a minha mãe me deixava ser assim tão... apagada? hahaha
Eu adoro o seu estilo!