Tenho médicos demais na família. Quando fico com um problema de saúde, minha mãe resolve, principalmente porque ela raramente erra um diagnóstico (a menos que eu esteja resfriada, quando ela sempre diz que eu estou com pneumonia e que vou morrer - porque pneumonia é muito perigoso nessa idade). Se ela não souber o que é, uma das minhas tias resolve. Senão, meu primo resolve e em breve meu irmão vai conseguir resolver também. Eu raramente vou em outros médicos. Infelizmente, nenhum dos meus parentes é dermatologista.
E eu, que puxei todos os genes ruins do lado alemão do meu pai, pego alguma coisa estranha na pele todo verão. Minha mãe, que nunca erra diagnósticos, diz que é o calor, que eu sou sensível demais. Me sinto o Harry protestando contra a Madam Pomfrey na ala hospitalar "I'm not delicate!" Pelo menos tenho uma desculpa maravilhosa para me mudar algum dia para um lugar mais fresco: meu organismo simplesmente não aguenta esse calor. Já estou planejando todas as coisas legais que vou fazer em Oslo.
E então que em Dezembro apareceu um coiso estranho na minha barriga. Mostrei pra minha mãe, que já sabia o que era, mas não tinha certeza, então mostrou pra um amigo dermatologista. Ele me receitou a pomada que cura todos os problemas de pele que já tive na vida. Começou a melhorar. No entanto, um tempo depois, começaram a aparecer mais coisos parecidos, menores, em outros lugares do corpo. Todo mundo me disse que era normal, então continuei passando a pomada.
Até que no Carnaval resolvi ir pra Florianópolis e eu sabia que resolveria todos os meus problemas. O mar sempre cura todas as doenças. Corte? Feridas? Espinhas? Enfia na água salgada que passa. Quando eu entrei no Mar Morto, o supermar, todas as minhas feridas cicatrizaram, inclusive uma queimadura horrível que eu tinha feito dias antes, que insistia em não melhorar, mesmo com remédio. Parei de passar a pomada só na menção de ir à praia.
Mas é claro que nada deu certo do jeito que eu queria. Fiquei doente e as feridas só pioraram e aumentaram de tamanho. Entrei em desespero, estava virando um monstro. Pior: o mar tinha me traído!
Marquei consulta na dermatologista. A última vez que eu tinha ido foi ano passado, também no verão, quando eu tinha virado um monstro pela primeira vez. Foi só telefonar que as lesões começaram a melhorar de novo, estavam bem menos vermelhas. Me senti uma idiota.
Chegando lá, ouvi a melhor coisa que é possível ouvir de um médico. Estava tudo bem, poderia ser bem pior, que era assim mesmo e que eu iria melhorar sozinha. Realmente não há nada no mundo como se recuperar de doenças sem precisar de nenhum remédio.