não gosto de falar de amor
é engraçado que eu sempre tive a impressão de que as melhores histórias de amor eram aquelas que não aconteciam. as unilaterais, distanciadas, impossíveis. a histórias tornar-se-iam intensas, justamente por serem platônicas. perfeitas em sua falta de substância e, portanto, sem meio de serem destruídas. escritos calmamente por corações feridos, imaginativos, dispostos a não serem usados. o outro seria perfeitamente tudo que sempre foi querido, endeusaria os defeitos que sempre foram escondidos, completaria a solidão.
é engraçado que quando o amor não se realiza, o outro sempre se torna cada vez mais perfeito. distante, sem muito contato, pode-se imaginar qualidades infinitas, histórias paralelas que nunca aconteceriam. solitariamente, todos os defeitos se apagam, rabiscam-se qualidades inventadas. perfeição de uma maneira que nunca seria possível de acontecer.
quando eu era criança, eu tinha a impressão que o relacinamento em si não teria a menor graça perto da conquista. o legal era sofrer, sonhar acordado, escrever cartas apaixonadas sem respostas, esperar pela retribuição. e depois? depois seria tudo muito chato. o feliz pra sempre dos contos de fadas deveria ser demasiadamente enfadonho.
mas depois de um tempo a gente cresce. percebe que escrever cartas sem resposta é muito chato. ficar esperando é muito chato. sonhar acordado é perda de tempo.
depois de um tempo, a gente só quer alguém pra chamar de nosso. e que nos chame de seu em troca. independente de perfeições.
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