19.3.07

Pesadelos e Trincheiras

Eram tempo de guerra. Passavam-se noites nas trincheiras, esperando ataques. Há dias não dormiam. Estavam todos exaustos. Tudo cheirava à carne podre dos cadáveres que adubavam a terra. Estavam cobertos de poeira, lama endurecida, sangue e suor. Lamentavam a perda de muitos. Alguns pensavam em se perder, só para fugir dali.

- Max, eu quero morrer.

-Eu só queria sonhar de novo, Leo. Há dias que não durmo, tenho pesadelos acordado.

- Isso tudo é um pesadelo.

- Só queria dormir...

O desejo de um era o mesmo de muitos.

Sonhar...

Cadáveres levantavam-se ao longe, deixavam escorrer a poeira como se fossem livros velhos tirados das prateleiras pela primeira vez em muitos anos, e marchavam em direção à trincheira. Max foi em direção à sua arma, pensando em como conseguiria matar um morto. Funcionava nos videogames.

- O que está fazendo? - indagou Leo Confuso.

Mas não era Leo. Ele tinha se transformado. Eram seus traços, mas seus olhos estavam saltados, sem pálpebras, seus dentes arreganhados, suas pele podre, descascando sore o rosto.

- Você é um deles! - gritou em terror.

- Max! O que está dizendo?!

Max olhou ao redor. Os outros soldados agora os observavam. Eles também estavam putrefeitos. Suas fardas rasgadas mostravam ossos entrelaçados à carne de seus braços, cabelos ralos e terríveis olhos sem pálpebras. Totalmente redondos, prontos para saltarem da face. Lábios soltos mostrando dentes amarelados. Era horrível. tudo era asqueroso.

Max permanecia estático com as mãos segurando a arma como se fosse seu filho primogênito. Tremia todo, olhava para todos os cantos. Seus colegas soldados mortos vinham cada vez mais para perto. Lá fora, os cadáveres caminhavam lentamente em sua direção, derrubando terra e sangue endurecido a cada passo pesado. Leo o olhava nos olhos, tentando o acalmar. Aqueles terríveis olhos...

A arma estava carregada. Em quem deveria atirar? Não tinha balas o suficiente para todos os seus inimigos. E se não morressem, mortos como estavam?

Olhou para as próprias mãos. Estavam sujas, cobertas de sangue alheio, machucadas, mas inteiras. Ainda estava vivo.

E fácil de matar.

Leo ficou atônito quando os miolos de seus companheiro o atingiram no rosto. Os demais soldados também cessaram sua aproximação, horrorizados.

Por um intante, mantiveram-se quietos.

No instante seguinte, após fazerem o sinal da cruz, atiraram-no para fora da trincheira. Mais um defunto vítima da guerra.

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