Pecado Capital
O céu estava nublado, como deveria estar em todos os dias tristes. Acendi um cigarro.
Na época que conheci Luizinho, ele era um sujeito agradável, cercado de amigos. Gostava de mulheres e de bebidas. Não gostava muito de trabalhar. Parecia feliz. Isso era na época em que éramos jovens e a vida era fácil.
Ao passar do tempo, todos arrumamos empregos, formamos famílias e seguimos a vida, como ela tinha de ser. Menos Luizinho, claro, que ainda gostava de mulheres e bebidas e nunca se preocupou muito com dinheiro. Foi fácil ele perder o controle da situação, monetariamente falando. Começou pedindo dinheiro para um amigo aqui, comprando a prazo ali e quando se deu conta, já devia para metade dos amigos e alguns agiotas. Contraia dívidas para pagar outras dívidas.
Nisso, as mulheres – meretrizes de sua “casa de tolerâncias” – começaram a esvair-se, junto com suas promessas de prazer e bons sonhos. Seus amigos tornaram-se temidos credores e o banco já lhe batia à porta. A bebida (deve ter deixado de pagar algumas contas para financiar tais extravagâncias) era sua única companheira. Com ela não sentia dor ou culpa ou vergonha. Acho que era a única coisa que o detinha de pular da janela do apartamento alugado.
Certo dia, o capanga de um agiota foi procurá-lo. Luizinho pediu que voltasse mais tarde. Arrumaria dinheiro. Prometeu para mês que vem.
— Não há mês que vem para você.
Só o encontraram quando alguns vizinhos notaram o cheiro. Tinha sido apunhalado com sua própria garrafa. Aquela, sua amiga.
O céu está nublado, como deveria estar em todos os dias tristes. Jogo a bituca do meu cigarro no chão e a amasso com o pé. Olho para a lápide: “Luiz Braga, 1975 – 2006”.
Não sei quem pagou pelo funeral. Nem sei porque há um funeral.
Começa a garoar. Levanto o colarinho do sobretudo e deixo tudo aquilo para trás.
Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Devia ter corrido, Luiz, como todos nós corremos.
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