No domingo, chegou em casa o Tarot mais bonito do mundo. É um portal para outro mundo e é meu. Comprei sem ver todas as cartas, na promoção, numa loja que não sabia se entregaria. Chegou. Perfeitinho. Nem acredito que tenho uma coisa tão bonita.
Semana passada comecei a trabalhar num lugar novo. Faço exatamente o que gosto, respeitam meu trabalho e me tratam bem. Eu nem acredito. Fico logo procurando os erros nos contratos, as pegadinhas, os mal entendidos. Até o baralho disse pra eu deixar de ser tonta e aproveitar.
Não estou gorda ou magra demais. As feridas na minha pele estão sarando. Não sinto vontade de beber sozinha, à noite. Pela primeira vez em anos, tenho dinheiro. Fico procurando defeitos nos espelhos pra ver se acordo do transe.
Deveria estar na Alemanha? Deveria estar em Nova Iorque? Deveria ainda estar tentando viver da minha arte? Decidi parar de fugir de mim mesma. Minha história vai me seguir para qualquer lugar. Prefiri fazer as pazes com as entrelinhas, viver com calma, preparar o jantar todos os dias.
Hoje teve queijo. Teve baralho novo. Teve amigos. Não teve espaço para a solidão.
Eu, que quando sou triste, sou Kafka, não sei se me reconheço agora que estou feliz.