quem é você?
há duas semanas a professora de direção de arte passou um trabalho de trazer ou fazer alguma coisa que nos representasse. o legal dessa matéria é que é uma optativa pra vários cursos, então tem gente da artes plásticas, cênicas, dança, letras, arquitetura, midialogia* e afins. eu fiz uma "escultura" de algo que eu achava que me representava, baseado no que meus amigos me disseram sobre mim. e qual não foi minha surpresa ao descobrir uma sala de uns 30 artistas cheia de gente que se representa através de seus gostos e suas ocupações. fiquei nauseada. saí da sala chocada. artistas pensando desse jeito. ARTISTAS!!
uma coisa que eu acho impressionante é como as pessoas não sabem se representar. ao perguntar para alguém "quem é você?" ela se esconde atrás das grades dos gostos e da profissão. como se uma banda vá dizer quem ela é... pode dizer o tipo de ambiente que ela freqüenta ou a maneira como ela se veste - se isso -, mas isso nunca vai traduzir atitudes, aspirações, traumas, visões de mundo. eu gosto de maquiagem, histórias de realismo fantástico, sorvete, in extremo e crucifixos. o que isso diz sobre mim? o que isso REALMENTE diz sobre mim? eu também sei fazer bijuterias um pouquinho, sei desenhar um pouquinho, sei mexer no photoshop um pouco mais, sei tirar fotos bonitas e escrevo razoavelmente bem. o que as coisas que sei fazer dizem de mim? eu quero trabalhar com cinema. o que você me diz agora? o que você sabe sobre mim agora?
outra coisa nauseante é como as pessoas tentam se mostrar. ao fazer um trabalho "representando" si mesmas, elas logicamente vão atrás das suas melhores características, aquelas que querem exibir. elas se moldam do jeito que gostariam de ser, do jeito que se planejaram, que construíram. elas mostram esse lado moldado e novo e falso para as pessoas. elas vendem um produto podre - carne em decomposição das feridas e traumas de anos e anos -, revestido do papel colorido e cintilante que é a máscara fabricada calculadamente por décadas observando a melhor maneira de se apresentar ao público.
acho que ninguém pode ser completamente honesto falando de si mesmo. eu não sou. eu omito muitas coisas que prefiro que ninguém saiba. e tenho certeza absoluta de que todo mundo é assim. depois de conviver consigo mesmo durante toda a vida, o tempo todo, conhecendo todos os seus podres, todos os seus erros, acho bastante improvável que as pessoas se gostem por completo.
mas isso é post pra outro dia. no dia que eu vou convencer todo mundo a se matar - ou, mais provavelmente, a me matar.
*midialogia é o curso que eu faço. perguntem ao google, não a mim.