Ganhamos nosso primeiro cachorrinho quando eu era bem pequena, uns 4, 5 anos. Era uma pastora alemã, filhote de cruzamento de pastor preto com pastor branco da vizinha. Absolutamente linda, meio brava, latia pra todo mundo de fora. Na primeira cria, alguns anos depois, ficou frágil e nos deixou. Mas ainda ficaram o Rover e a Nala, dessa gestação. Eu tinha uns 8 ou 9 anos. Eram os filhotes mais lindos do mundo.
O Rover era super carente. A gente não podia sentar pra ler no quintal que ele ficava horas pedindo carinho. Era super fofo ver um pastor alemão enorme e preto como ele, carente daquele jeito. A Nala era mais independente. Sempre foi. Não gostava de carinho. Não fazia cerimônia pra gente. Só gostava do meu pai. Nunca fomos muito próximas. Ela ficava rondando a casa, majestosa, preta e dourada, um pouquinho menor que o irmão.
O Rover morreu há uns anos atrás. Foi horrível, fizemos tudo que pudemos, mas não foi o suficiente. A Nala ficou bem mais triste depois disso. Adotamos outros cachorros pra fazer companhia a ela. Já tínhamos o Tom, mas ele era metido demais pra ficar lá fora com ela. Eram dois velhos juntos. Adotamos o Einstein, que não para quieto, e o Simba, que foi o melhor cachorro do mundo. Os dois são vira-latas, o Simba era maiorzinho. Finalmente me dei conta de como a Nala era grande.
A Nala ficou melhor, um pouco mais carente depois de velha, mas não muito. Engordou, ficou engraçadinha, virou filhote de novo. Morria de medo de trovão e fogos de artifício. Queria entrar em casa. Estragou todas as portas de casa tentando entrar em tempestades e jogos de futebol.
Seis meses atrás o Simba fugiu. Todos os cachorros ficaram tristes. A Nala ficou um pouco pior. Mais teimosa, queria ficar dentro de casa o tempo todo. Todos sabíamos que ela ia nos deixar em breve. Mas continuava ali, cada vez mais carente, coisa que ela nunca tinha sido antes. Ela começou a ter dificuldade pra levantar, tinha um machucado na perna que não sarava nunca, perdeu o controle da bixiga, fazia a maior sujeira dentro de casa.
Tínhamos que arrumar um companheirinho pra ela. Logo antes do Natal, meu irmão arrumou o Raí, o pitbullzinho mais lindo e alegre do mundo. Tentamos mostrar pra Nala, que estava cada vez com mais dificuldade de andar, mas ela não se animou muito.
De umas duas semanas pra cá, as patas de trás definitivamente cederam. Ficava parada no canto, tínhamos que empurrá-la para andar, chorava pedindo comida e água. Criou uma ferida enorme na lombar. Demos vitaminas e analgésicos, demos atenção e tudo que ela queria. Na chuva era bem pior. Ficava triste e visivelmente sentia mais dor. Pensamos em marcar uma eutanásia. Ninguém sabia se era melhor acabar logo com tudo ou se, por acaso, talvez ela melhorasse. Perguntamos pra veterinária como funcionava, mas ninguém teve coragem de marcar.
Parou de chover na semana passada. Ela ficou mais contente. Mais viva, latia em vez de gemer por comida. Brincava com as plantas da minha mãe. Interagia com o Raí e os outros cachorros, um pouco. Mas as feridas ficavam cada vez maiores, cheias de berne. Parou de andar de vez, se arrastava pela grama. Latia a noite inteira pedindo água, querendo atenção. Continuamos sem saber o que fazer. Coitada da Nala, mas parecia estar um pouco melhor.
Ontem de manhã dei comida e água pra ela. Ela tinha destruído o potinho de ração, a gente tinha que encaixar as coisas. Troquei a água dela. Fiquei morrendo de dó porque estava muito quente e o potinho de água, de metal, estava fervendo. Lavei o potinho, pus água nova. Fiz um pouco de carinho. Quando fui sair de casa, dei tchau pro Tom, pro Einstein, levei o Raí até o portão. Não passei por ela, que estava quietinha.
Quando voltei com a minha mãe algumas horas depois, ela estava coberta por moscas. Foi horrível. Ligamos na veterinária, que deu o telefone do crematório. R$200 pela cremação coletiva, R$480 a individual, onde nos devolveriam as cinzas. Eu não sei o que faria nem com as cinzas dos meus pais. Esperamos uma hora, ligamos pra todo mundo que não estava em casa. Meu pai que estava vindo do trabalho, meu irmão, em Minas, e entrei na internet pra falar com minha irmã, passeando em Nova Iorque.
A Nala nunca pareceu tão pequena, encolhida pelo sofrimento. Deu um certo alívio, na verdade. Estava de olhos fechados. Deve ter morrido dormindo. Que bom. Era o que todo mundo queria.
Quando o moço da funerária trouxe o saco branco pra colocar ela dentro, decidi não ver. Me escondi dentro de casa e comecei a chorar.
Nunca fomos muito próximas. Deu muita dor de cabeça no final, mas, depois de 16 anos (que ela faria em fevereiro), mesmo com mais três cachorros, a casa parece tão vazia.
10 comentários:
=/
Com os olhos rasos d'água por isso.
=(
Já passei por isso tantas vezes, mas nunca sei o que dizer.
</3
Me deu uma dor no coração ao ler isso. Coração pequenininho... que a Nala descanse em paz agora. E vc fique bem tá?
Um beijo!
A história da Nala me lembrou a do meu gato, Pixano. Ele nos seguiu na rua e trouxemos ele para casa.Banhos, remédios e rações depois ele estava lindo. Olhos extremamente azuis e um pelo branco e cinza. Ele tinha os "quartos quebrados", minha mãe disse que deviam ter batido nele. Ele morreu e só percebi dias depois. Só que sabia que ele iria morrer. Ele era lindo e vivia por aí. Vinha em casa só pra comer e pronto. Ai ai :(
Quase não consegui ler seu texto, as lágrimas apareciam toda hora! Deve ser muito difícil perder um animal querido... já tive alguns quando criança, mas não consigo me lembrar como foi a separação. Temos dois cachorrinhos aqui em casa e nem quero pensar nisso, me dói o peito só de levantar a hipótese! =/
Que dó, meu Deus! ): Eu sou muito apegada ao meu bebê, é como se fosse gente, pra mim. Não sei o que faria sem ele, me dói só de imaginar a sua situação. Meus sentimentos.
Sim, eu chorei...faz 2 anos que meu Pupinho se foi..nunca troquei o wallpaper do meu computador...que estampa a face feliz daquele "sorriso" tão sincero que me fazia tão feliz...e não ouço "Do you remember" (jack johnson) sem chorar ou me lembrar dele...
Não importa quantos cachorros ou pessoas a gente tenha dentro de casa, cada um é único e o vazio é sempre inevitável...
:(((
Passei muitas muitas, incontáveis, noites em claro dando comida e água para o Tatau. Ele andava, mas não conseguia se levantar sozinho, e dormia em cima daquelas fraldas veterinárias. Passava a noite trocando ele de lado, em cima da fralda, para não criar escara, e nem ele ficar molhado... O bichinho. Foi em seu tempo.
Sinto muito pela Nala :~~
Postar um comentário