Eu já devo ter comentado aqui - ou em alguma outra rede social - que eu entro na moda no inverno e saio de novo no verão. A moda de inverno sempre tem uma pegadinha rocker, de preto e branco, renda, tachas, coisas de Londres. E como eu quero muito morar em Londres, acabo me vestindo como se morasse lá. No verão não acho nada que eu goste. Tropical, cores quentes, laranjão, rosa pink, moda praia, hippie chic. Até fica legal em algumas pessoas, mas não em mim. Não combina em nada com a minha personalidade.
Mas aí esse verão aconteceu uma coisa estranha. A pegadinha rocker que veio no inverno continuou. Spikes, crucifixos, tachonas, sapatões pesados, caveiras. Tudo que eu realmente gosto muito e estava começando a parar de usar porque, né?, coisa de adolescente. Mas aí eu vejo mulheres adultas e sérias misturando várias pulseiras de spike e sapatos de tachas em lojas para gente grande. Não preciso mais ir à Galeria do Rock procurar um bom colar com pingente de crucifixo enorme e tem caveirinha em absolutamente tudo, até pulseirinha de feira hippie. Vi na internet que creeper está na moda. Como eu quis um creeper aos 16 anos, quando era gótica-poser que olhava as lojas de roupas de vinil na internet, sonhando com o mundo em que eu pudesse usar todas essas coisas sem vergonha nem me sentir deslocada. Estou até conseguindo usar as bijuterias de adolescente normalmente. E até gente bicho grilo já elogiou meu coturno que vai até o joelho.
A parte legal é que vende colar de spike até na Morana. Comprei uma sandália cheia de tachos e spikes e minha mãe pediu emprestada. Achei um colarzinho lindo com uma caveira fincada numa adaga por R$2,50 na lojinha trash de biju da rodoviária. Posso usar todos os acessórios de adolescente de novo, vestir o que eu realmente acho bonito sem parecer criança. Comprar o mundo dos spikes. Spike na bolsa, no casaco, no sapato, nas bijuterias todas. Só tenho restrições básicas a pulseiras. Sei lá, vou ter que achar uma realmente muito bonita que não me lembre braceletes de Black Metal. Caveiras em tudo também. E crucifixos, claro. E aí eu espero a modinha passar e visto essas coisas pelo resto da vida.
O lado ruim é que é modinha. E vejo pulseira de spike neon. E meninas que não tem a menor idéia de nada usando caveiras em tudo. Bom. Vai passar. Na próxima estação, quando Alexander McQueen ou Valentino inventarem outra coisa e todo mundo for copiar.
Mas mesmo assim, me dá uma sensação meio esquisita de ver todo mundo vestido como eu.
22.11.12
25.10.12
Fluxo
Prometi pra mim mesma que nunca escreveria sobre relacionamentos. Principalmente ex-relacionamentos que deram errado. Parece tão banal, todo mundo faz isso. Mas acho que às 4h30 da manhã, quando você não consegue se concentrar pra estudar e quando não há chocolate o suficiente em casa - e você nem queria que houvesse depois de perder aqueles 10kg, vitoriosa e persistentemente. Mas a gente se sente triste de madrugada. E o motivo de ficar triste é você. É tudo aquilo que você me disse. Que me fez acreditar. Parei de contar histórias por causa de você. Comecei a achar meu português ruim, esqueci como se escreviam as palavras, não consegui dar vida a um personagem. Fantasia pura?, você me dizia, Você deveria escrever realismo fantástico, muito mais interessante. Criticava tudo que eu fazia. Me diminuia até eu acreditar que nunca seria capaz de fazer mais nada. Me fez acreditar que a única coisa válida em mim era meu corpo e mesmo assim insistia em criticá-lo. Me criticar tanto por quê? Medo de quem você é? Medo de ficar ao lado de uma mulher tão ou mais inteligente que você? Medo de as outras pessoas perceberem sua namorada? Medo de que eu escolhesse um deles? E certamente todos eram melhores que você. Cansei de olhar em volta e te comparar a todos os homens da sala e você ser o menos desejável. Olhando para trás, não sei o que vi em você, depois desses anos todos. Acho que gostava da pessoa awkward que você era. Gostava porque fazia eu me sentir melhor também. Alguém tão ou mais estranho que eu. Introspectivo, ruim com as palavras, com dificuldade de se relacionar. E você é assim. Você sabe que é, mas não admite. E não vai admitir nunca. Faz questão de ter milhões de amigos, de mostrar ao mundo o quanto você é melhor que todos eles. Mas enquanto todos os seus amigos foram fazer doutorado no exterior, você continua aqui, na Campinas que você odeia, reclamando que está jogando a vida fora por pesquisar demais e não ter se tornado escritor. Você é bem pior que eu nesse quesito, admita. Eu sempre tentei ser original em tudo, no estilo e tal. Você simplesmente chupava o que gostava, escrevia igualzinho ao João Ubaldo Ribeiro. Que graça tem nisso? Ler o suficiente até decorar e fazer igual. E se dizer gênio em vez de chamar de homenagem. Seus poemas eram ridículos, não queriam dizer nada. No fim acho que foi culpa minha. Me interessei por você porque você gostava de escrever, mas escrevia bem pior que eu, que é a única coisa que eu sei fazer direito. No fim a culpa foi minha por não ter percebido antes. E, mesmo tendo percebido, ter me agarrado a você por medo de não conseguir me sustentar sozinha e de nunca mais encontrar ninguém que gostasse de mim - por mais que você também não gostasse mais de mim. Mas me sinto feliz por eu ter dado um fim a tudo. E, por mais que eu continue com raiva de você e continue sem ter uma pessoa nova, fiz três filmes maravilhosos nesse meio tempo, me reinventei, voltei a usar as roupas que eu gostava e redescobrir minhas músicas favoritas e o tipo de arte mórbida que eu sei que você desprezava. E eu sei que você vai sempre falar de mim pra todas as outras namoradas, do mesmo jeito que você falou da outra pra mim durante 3 anos (Não acredito que perdi tanto tempo.). E no fim eu preferia você mil vezes quando era só um matemático e deixava as divagações sobre a vida e sobre a arte - que, afinal, é minha especialidade - só pra mim.
E você dizia que eu deveria escrever em fluxos, como o Jack Kerouac e sua trupe de beatniks babacas. Cá estou eu escrevendo, mas não consigo deixar de voltar e corrigir. É assim que se escreve, é assim que eu aprendi a escrever e sempre funcionou.
E você dizia que eu deveria escrever em fluxos, como o Jack Kerouac e sua trupe de beatniks babacas. Cá estou eu escrevendo, mas não consigo deixar de voltar e corrigir. É assim que se escreve, é assim que eu aprendi a escrever e sempre funcionou.
21.9.12
Fico pensando o que é que vai acontecer primeiro. Se são meus olhos que vão estourar ou minha traquéia que vai pular pra fora. Traquéia, levando brônquios, bronquíolos, pulmões. Tudo que aprendi na aula de biologia há tantos anos atrás. Sinto, além dos arranhões doloridos na garganta, que minha cabeça de repente dobrou de volume. Não apenas de volume, mas de massa. Não, duplicar seria muito pouco. Sinto nele o peso do mundo. Todo o espaço que sobra entre o cérebro e as paredes do crânio devem estar cheios de ranho. Apertando os olhos para fora, por cima e por baixo, forçando saída pelas narinas e pelos ouvidos. Empurram caminho garganta acima, entalando na base, fazendo fila pra sair. Me sinto toda suja, um poço de secreção gosmenta e amarela. Em breve, vai querer sair por debaixo das minhas unhas.
Tosse, tosse, tosse.
E não sei o que é pior. O pó ou a lama. Faziam 63 dias que não chovia. É isso mesmo? 63 dias de poeira, secura, dor de cabeça, necessidade de cremes hidratantes grudentos, com cheiros excessivamente doces, necessidade de água, água, água. Agora a água chegou. Choveu um pouquinho na quarta, na quinta... Eu gosto de chuvisco, de garoa. Não gosto quando chove demais. Parece que a natureza está contra a gente. Água, granizo, relâmpago, trovão que encomoda os cachorros, que insistem em entrar dentro de casa, que sujam a casa porque têm medo de sair, ventania que levanta as telhas, que derruba árvores e paredes de tijolos, tempestade. E tudo parece mais sujo, quando a poiera vira lama, muito mais difícil de limpar dos sapatos, do chão da cozinha, das calçadas.
Tosse, tosse, tosse.
Me recuso a fazer referências a pneumotórax. Mas assumo que tossir desse jeito, há 6 dias sem parar, cansa. Cansa muito.
Tosse, tosse, tosse.
E não sei o que é pior. O pó ou a lama. Faziam 63 dias que não chovia. É isso mesmo? 63 dias de poeira, secura, dor de cabeça, necessidade de cremes hidratantes grudentos, com cheiros excessivamente doces, necessidade de água, água, água. Agora a água chegou. Choveu um pouquinho na quarta, na quinta... Eu gosto de chuvisco, de garoa. Não gosto quando chove demais. Parece que a natureza está contra a gente. Água, granizo, relâmpago, trovão que encomoda os cachorros, que insistem em entrar dentro de casa, que sujam a casa porque têm medo de sair, ventania que levanta as telhas, que derruba árvores e paredes de tijolos, tempestade. E tudo parece mais sujo, quando a poiera vira lama, muito mais difícil de limpar dos sapatos, do chão da cozinha, das calçadas.
Tosse, tosse, tosse.
Me recuso a fazer referências a pneumotórax. Mas assumo que tossir desse jeito, há 6 dias sem parar, cansa. Cansa muito.
7.6.12
Ray Bradbury
O único livro que lembro de ter lido do Bradbury, que morreu ontem, aos 91 anos, foi Fahrenheit 451. Eu sabia que havia um filme do Troufaut, mas queria ler o livro antes. Li recentemente e foi maravilhoso. Uma obra de arte fantástica que reflete tanto os anos 60 quanto continua incrivelmente atual nos dias de hoje. Ainda mais atual. Li, na obra onde os livros não precisam mais existir, o retrato da sociedade contemporânea, mostrando ou que nosso querido autor norte-americano fosse mesmo um visionário ou que a sociedade nunca muda. Pendo mais para a segunda hipótese.
A sociedade retratada é um mundo onde ninguém lê, onde a imagem substitui completamente a palavra, traduzido, em um dos únicos acertos do diretor francês, em um jornal feito inteiramente em quadrinhos. Não sei se jornal de quadrinhos seria um passo para trás, mas notícias feitos inteiramente de fotografias, fotomontagens e infográficos, deixando cada vez menos espaço para a interpretação, talvez o sejam. As casas possuem televisões gigantes. A esposa do personagem principal (de cujos nomes jamais me lembrarei) é uma personagem nouvelle vague absolutamente maravilhosa em seu descaso completo com o mundo, sua paixão pela "família" da TV, seus fones de ouvido constantes e seus remédios para dormir (que Troufaut reciclou, da pior maneira possível, como uma pessoa simplesmente blasé, mas amável e preocupada com o marido de qualquer modo). Ela insiste em instalar a quarta parede, cobrindo todo o espaço possível com realidade artificial. Em tempos de aparelhos televisivos cada vez maiores e menos perceptíveis, transformando salas de estar em pequenos cinemas particulares, perfeitos para a evasão para mundos fantásticos sem o menor esforço, nada é mais atual.
Há alguns anos, fiz uma matéria de Sociologia da Comunição, uma disciplina das Ciências Sociais. Fiz meu trabalho final acerca da televisão 3D, novidade tecnológica máxima na época. Apesar de a maioria dos alunos ter entendido plenamente quando o professor, curador da Bienal de Arte de São Paulo, afirmou só gostar de "arte contemporânea boa", seja lá o que isso queira dizer, os alunos do lado de lá, tão engajados em rádios livres e mostras de cinema "de luta", ficaram bastante intrigados com o meu desconforto em relação à novidade do mercado, provavelmente porque vivem ainda nos anos 60 e não fazem questão nem de ler seus próprios e-mails.
Eu tenho medo da TV 3D - e continuo militando contra aparelhos em HD até que eles se tornem abosultamente necessários como padrão de mercado - porque acredito, indo contra a escola de Chicago, que as pessoas realmente não sabem distinguir realidade de ficção. Se está na TV, no Brasil, principalmente, é verdade. Que podemos dizer de hologramas que nos falam? Parece tão real, não é mesmo? É tão convincente. O Eduardo Coutinho mostrou as pessoas falando tão bem, sem cortes, como poderíamos negar? O Michael Moore me mostrou todo o horror dos Estados Unidos, como eu poderia sonhar em ir para a Disney agora?
Minha parte preferida, no entanto, foi o discurso do policial chefe de que os livros começaram a ser queimados porque as pessoas queriam. As pessoas pararam de ler por vontade própria, para não se aborrecerem. Livros ofensivos contra negros, mulheres, judeus, etc, eram aos poucos sendo censurados. Livros ofensivos contra diversos estilos de vida eram censurados, até que todos os livros, já que todas as pessoas possuem pontos de vistas distintas umas das outras, foram censuradas. Para que se lembrar do ódio? É muito mais fácil fingir que nada disso aconteceu. Retratos de épocas piores não deveriam existir. Não vivemos em uma utopia maravilhosa sem preconceitos? Para que ler "O Grande Gatsby" com seu antissemitismo pulgente se podemos simplesmente imaginar que a culpa do Holocausto estava toda em um homem do outro lado do Oceano?
Restringe-se a comunicação e, consequentemente, as idéias, simplesmente censurando-as. É preciso ler. Ler livros, ler filmes, ler obras de arte, ler a televisão. É preciso lembrar. Bradbury nos mostra uma época onde as pessoas preferem não pensar. O Alckim é um monstro totalitário, o PSDB quer matar todos os pobres do Brasil, mas o PT é maravilhoso, elegendo sempre minorias para nos governar com competência e sem falha alguma.
Dizem que a TV é a vida, ao passo que o cinema é a morte, sendo que a TV continua para sempre, em seus fluxos infindáveis, mesmo às madrugadas onde vemos jóias à venda ou aos domingos onde assistimos casais de celebridades se superando em competições físicas ou programas de namoro. A TV estará sempre lá, com excesso de informação e barulhos o suficiente para impedir que consigamos pensar.
No finalzinho do livro, completamente ignorado por Troufaut (o que me fez perder a vontade de ver qualquer um de seus outros filmes), quando a cidade é destruída por uma guerra nuclear, somos apresentados a um delírio do personagem principal que vê sua esposa, sozinha em casa, quando as emissoras de TV param de funcionar. Apagadas, as enormes telas em todas as paredes tornam-se espelhos, revelando o que a gente esquecia. Ela se olha, pela primeira vez em anos. Forçada a se ver, sem o advento maravilhoso do fluxo de imagens e sons para se distrair, ela se vê, finalmente. Morre gritando, horrorizada pelo que finalmente consegue enxergar.
Ela sou eu. Ela é você. Ela é todos nós que nos escondemos atrás de uma tela de uma máquina, ignorando o dia em que a internet vai cair e não teremos seriados da HBO ou filmes europeus ou livros de poesia ou papel e caneta o suficiente para nos distrair enquanto ela não voltar.
A sociedade retratada é um mundo onde ninguém lê, onde a imagem substitui completamente a palavra, traduzido, em um dos únicos acertos do diretor francês, em um jornal feito inteiramente em quadrinhos. Não sei se jornal de quadrinhos seria um passo para trás, mas notícias feitos inteiramente de fotografias, fotomontagens e infográficos, deixando cada vez menos espaço para a interpretação, talvez o sejam. As casas possuem televisões gigantes. A esposa do personagem principal (de cujos nomes jamais me lembrarei) é uma personagem nouvelle vague absolutamente maravilhosa em seu descaso completo com o mundo, sua paixão pela "família" da TV, seus fones de ouvido constantes e seus remédios para dormir (que Troufaut reciclou, da pior maneira possível, como uma pessoa simplesmente blasé, mas amável e preocupada com o marido de qualquer modo). Ela insiste em instalar a quarta parede, cobrindo todo o espaço possível com realidade artificial. Em tempos de aparelhos televisivos cada vez maiores e menos perceptíveis, transformando salas de estar em pequenos cinemas particulares, perfeitos para a evasão para mundos fantásticos sem o menor esforço, nada é mais atual.
Há alguns anos, fiz uma matéria de Sociologia da Comunição, uma disciplina das Ciências Sociais. Fiz meu trabalho final acerca da televisão 3D, novidade tecnológica máxima na época. Apesar de a maioria dos alunos ter entendido plenamente quando o professor, curador da Bienal de Arte de São Paulo, afirmou só gostar de "arte contemporânea boa", seja lá o que isso queira dizer, os alunos do lado de lá, tão engajados em rádios livres e mostras de cinema "de luta", ficaram bastante intrigados com o meu desconforto em relação à novidade do mercado, provavelmente porque vivem ainda nos anos 60 e não fazem questão nem de ler seus próprios e-mails.
Eu tenho medo da TV 3D - e continuo militando contra aparelhos em HD até que eles se tornem abosultamente necessários como padrão de mercado - porque acredito, indo contra a escola de Chicago, que as pessoas realmente não sabem distinguir realidade de ficção. Se está na TV, no Brasil, principalmente, é verdade. Que podemos dizer de hologramas que nos falam? Parece tão real, não é mesmo? É tão convincente. O Eduardo Coutinho mostrou as pessoas falando tão bem, sem cortes, como poderíamos negar? O Michael Moore me mostrou todo o horror dos Estados Unidos, como eu poderia sonhar em ir para a Disney agora?
Minha parte preferida, no entanto, foi o discurso do policial chefe de que os livros começaram a ser queimados porque as pessoas queriam. As pessoas pararam de ler por vontade própria, para não se aborrecerem. Livros ofensivos contra negros, mulheres, judeus, etc, eram aos poucos sendo censurados. Livros ofensivos contra diversos estilos de vida eram censurados, até que todos os livros, já que todas as pessoas possuem pontos de vistas distintas umas das outras, foram censuradas. Para que se lembrar do ódio? É muito mais fácil fingir que nada disso aconteceu. Retratos de épocas piores não deveriam existir. Não vivemos em uma utopia maravilhosa sem preconceitos? Para que ler "O Grande Gatsby" com seu antissemitismo pulgente se podemos simplesmente imaginar que a culpa do Holocausto estava toda em um homem do outro lado do Oceano?
Restringe-se a comunicação e, consequentemente, as idéias, simplesmente censurando-as. É preciso ler. Ler livros, ler filmes, ler obras de arte, ler a televisão. É preciso lembrar. Bradbury nos mostra uma época onde as pessoas preferem não pensar. O Alckim é um monstro totalitário, o PSDB quer matar todos os pobres do Brasil, mas o PT é maravilhoso, elegendo sempre minorias para nos governar com competência e sem falha alguma.
Dizem que a TV é a vida, ao passo que o cinema é a morte, sendo que a TV continua para sempre, em seus fluxos infindáveis, mesmo às madrugadas onde vemos jóias à venda ou aos domingos onde assistimos casais de celebridades se superando em competições físicas ou programas de namoro. A TV estará sempre lá, com excesso de informação e barulhos o suficiente para impedir que consigamos pensar.
No finalzinho do livro, completamente ignorado por Troufaut (o que me fez perder a vontade de ver qualquer um de seus outros filmes), quando a cidade é destruída por uma guerra nuclear, somos apresentados a um delírio do personagem principal que vê sua esposa, sozinha em casa, quando as emissoras de TV param de funcionar. Apagadas, as enormes telas em todas as paredes tornam-se espelhos, revelando o que a gente esquecia. Ela se olha, pela primeira vez em anos. Forçada a se ver, sem o advento maravilhoso do fluxo de imagens e sons para se distrair, ela se vê, finalmente. Morre gritando, horrorizada pelo que finalmente consegue enxergar.
Ela sou eu. Ela é você. Ela é todos nós que nos escondemos atrás de uma tela de uma máquina, ignorando o dia em que a internet vai cair e não teremos seriados da HBO ou filmes europeus ou livros de poesia ou papel e caneta o suficiente para nos distrair enquanto ela não voltar.
4.6.12
Cellistas finlandeses
Eu estava meio desacreditada que ia acontecer. Comprei o ingresso do show do Apocalyptica em Abril e mandei entregar na casa da minha tia em São Paulo, que era mais garantido de o correio entregar que na roça daqui de casa. Esperei o mês inteiro e não chegou. Me mandaram pegar o convite na porta. Fui com medo de não conseguir entrar. Ia de carona, acabei indo com ônibus de excursão. Combinei de encontrar uma amiga minha da internet de muitos anos, super fã, por lá. Descobri que ela havia chegado às oito horas da manhã, viu a banda chegar de van e estava na grade. Eu cheguei às cinco, sendo que o show começaria às sete, consegui pegar meu convite depois de minutos de apreensão em que ninguém aparecia na bilheteria (ganhei um convite de cortesia, que era vermelho em vez de azul), fiquei uns minutos tentando me comunicar com a amiga e consegui me espremer até chegar pertinho da grade. Estava morrendo de sede, mas não queria sair de lá e perder meu lugar.
O Carioca Club é uma casa de shows engraçada. Entrando no site deles vi que tinha show do Calcinha Preta em um dia e do Dimmu Borgir no outro fim de semana. O logo é todo colorido e o cabeçalho do site tem fotos de bandas de forró. Mesmo assim, vi uma dúzia de dias reservados para bandas de metal do leste europeu bem pesado. Depois descobri que um amigo meu tinha ido em um show do Curumim no mesmo lugar. Ah!, as casas de eventos pequenas que aceitam qualquer coisa. Mas é legal, é bonito, vende bebida, o palco é grande, cabe muita gente, a pista é curta, então todo mundo assiste o show igual, até quem está no camarote. Então, depois de duas horas em pé esperando e ouvindo o adolescente atrás de mim descobrir ser muito mais daltônico do que ele pensava (o que me divertiu, já que a amiga da grade estava meio longe e não dava pra conversar), eles chegaram.
E foi lindo. E mágico. E eles são de verdade. E lindos. E o som é muito mais pesado e maravilhoso ao vivo. Quero vê-los sempre, sempre, sempre. E quero levar todo mundo que eu conheço porque a experiência é maravilhosa. Foi quase sexual. Vocês não têm idéia de como 3 cellos são sexies. Como uma guitarra nunca vai ser. E quando eles tocaram Nothing Else Matters e o público todo começou a cantar, até chorei um pouquinho. Aparte de eles não terem tocado Somewhere Around Nothing, minha música preferida, eu ter confundido as música tudo, a noite foi perfeita.
O coturno, ainda novo, deixou meus tornozelos em carne viva. Fiquei surda por alguns instantes por ter ficado muito perto das caixas de som, minha garganta está raspando de tanto gritar e meu pescoço está doendo até agora porque o palco era quase do meu tamanho e eles tocaram Refuse/Resist. Mas ver show da grade em ambientes pequenos é fantástico.
Percebi, no meio do show, que eu, gênia, tinha esquecido o cartão de memória da câmera enfiado no notebook que estava lindamente em cima da minha escrivaninha. Tudo bem, me contentei com as 10 fotos que tirei, de qualidade terrível, mostrando os caras de pertinho - sem zoom! De Perttinho, né? (hihihi) Curti o resto do show numa boa. Chegando em casa, resolvi passar as fotos da memória da câmera pro cartão. Porque eu comprei a câmera no freeshop do Chile, todas as opções estavam em espanhol. Eu juro que não tinha percebido isso até ontem. Bem que eu vi que tudo estava muito mais difícil de achar que o normal. E aí, fuçando, achei uma função que parecia querer dizer o que eu queria. Quando fui ver as fotos, a câmera me disse que não tinha nenhuma. Não entendi. Passei a língua para o português.
Vocês sabem o que eu fiz, senhoras e senhores, com as fotos dos músicas de pertinho para fazer inveja a todos os meus amiguinhos? Vocês sabem?
Eu formatei. Formatei a porra da câmera.
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Mas eu já consegui recuperar as fotos. Então ficam só os 15 minutos de pânico.
O Carioca Club é uma casa de shows engraçada. Entrando no site deles vi que tinha show do Calcinha Preta em um dia e do Dimmu Borgir no outro fim de semana. O logo é todo colorido e o cabeçalho do site tem fotos de bandas de forró. Mesmo assim, vi uma dúzia de dias reservados para bandas de metal do leste europeu bem pesado. Depois descobri que um amigo meu tinha ido em um show do Curumim no mesmo lugar. Ah!, as casas de eventos pequenas que aceitam qualquer coisa. Mas é legal, é bonito, vende bebida, o palco é grande, cabe muita gente, a pista é curta, então todo mundo assiste o show igual, até quem está no camarote. Então, depois de duas horas em pé esperando e ouvindo o adolescente atrás de mim descobrir ser muito mais daltônico do que ele pensava (o que me divertiu, já que a amiga da grade estava meio longe e não dava pra conversar), eles chegaram.
E foi lindo. E mágico. E eles são de verdade. E lindos. E o som é muito mais pesado e maravilhoso ao vivo. Quero vê-los sempre, sempre, sempre. E quero levar todo mundo que eu conheço porque a experiência é maravilhosa. Foi quase sexual. Vocês não têm idéia de como 3 cellos são sexies. Como uma guitarra nunca vai ser. E quando eles tocaram Nothing Else Matters e o público todo começou a cantar, até chorei um pouquinho. Aparte de eles não terem tocado Somewhere Around Nothing, minha música preferida, eu ter confundido as música tudo, a noite foi perfeita.
O coturno, ainda novo, deixou meus tornozelos em carne viva. Fiquei surda por alguns instantes por ter ficado muito perto das caixas de som, minha garganta está raspando de tanto gritar e meu pescoço está doendo até agora porque o palco era quase do meu tamanho e eles tocaram Refuse/Resist. Mas ver show da grade em ambientes pequenos é fantástico.
Percebi, no meio do show, que eu, gênia, tinha esquecido o cartão de memória da câmera enfiado no notebook que estava lindamente em cima da minha escrivaninha. Tudo bem, me contentei com as 10 fotos que tirei, de qualidade terrível, mostrando os caras de pertinho - sem zoom! De Perttinho, né? (hihihi) Curti o resto do show numa boa. Chegando em casa, resolvi passar as fotos da memória da câmera pro cartão. Porque eu comprei a câmera no freeshop do Chile, todas as opções estavam em espanhol. Eu juro que não tinha percebido isso até ontem. Bem que eu vi que tudo estava muito mais difícil de achar que o normal. E aí, fuçando, achei uma função que parecia querer dizer o que eu queria. Quando fui ver as fotos, a câmera me disse que não tinha nenhuma. Não entendi. Passei a língua para o português.
Vocês sabem o que eu fiz, senhoras e senhores, com as fotos dos músicas de pertinho para fazer inveja a todos os meus amiguinhos? Vocês sabem?
Eu formatei. Formatei a porra da câmera.
5.5.12
DIY Porta-coisas de Cerveja
Vejo as pessoas postando tutoriais e fico com vontade também. Fui pra um bar chique, pedi um cerveja chique e decidi que queria guardar a lata porque era bonita. Pra não ficar acumulando lixo aqui em casa (afinal, tive que tirar a foto na cama porque minha escrivaninha está coberta de tranqueira), resolvi fazer um porta-coisas dele. Não tirei fotos do processo porque foi muito simples. Voilá:
Tentei abrir com abridor de latas, um desses, mas entortou tudo. Como o alumínio era muito fininho, decidi abrir com faca de cozinha. E eu, burra, tirei foto do único lado onde eu furei a lata. Foi razoavelmente fácil, tirando que eu me cortei um pouco (na lata, não com a faca, incrivelmente) e que ficou todo irregular. Pra eu não me cortar mais, dobrei o que sobrou pra dentro com um alicate. Foi meu pai, o homem mais prático do mundo, que deu a idéia, na verdade. Ele pegou um alicatão e um alicatinho e foi moldando até ficar mais ou menos certo. Minha idéia inicial era cortar com uma tesoura de metal (tem no Departamento de Artes Plásticas da universidade) pra ficar certinho, mas desse jeito ficou mais... hun... élfico, para combinar com o resto da lata.
E vocês viram minha caneta do Pato Donald? Eu gosto da minha caneta do Pato Donald.
Aliás, a cerveja da lata é uma delícia. É irlandesa, escura e cremosa. É forte, mas não tanto como Guinnes. Chama Wexford.
Tentei abrir com abridor de latas, um desses, mas entortou tudo. Como o alumínio era muito fininho, decidi abrir com faca de cozinha. E eu, burra, tirei foto do único lado onde eu furei a lata. Foi razoavelmente fácil, tirando que eu me cortei um pouco (na lata, não com a faca, incrivelmente) e que ficou todo irregular. Pra eu não me cortar mais, dobrei o que sobrou pra dentro com um alicate. Foi meu pai, o homem mais prático do mundo, que deu a idéia, na verdade. Ele pegou um alicatão e um alicatinho e foi moldando até ficar mais ou menos certo. Minha idéia inicial era cortar com uma tesoura de metal (tem no Departamento de Artes Plásticas da universidade) pra ficar certinho, mas desse jeito ficou mais... hun... élfico, para combinar com o resto da lata.
E vocês viram minha caneta do Pato Donald? Eu gosto da minha caneta do Pato Donald.
Aliás, a cerveja da lata é uma delícia. É irlandesa, escura e cremosa. É forte, mas não tanto como Guinnes. Chama Wexford.
18.4.12
Coisas que todo mundo gosta menos eu
Eu já tava pensando em fazer um post sobre isso. Aí a Mia me passou em meme, então casou direitinho.
Eu já fui mais do contra na adolescência. Não gostava de nada que todo mundo gostava, escolhia as minhas bandas favoritas pela quantidade de integrantes das comunidades do orkut - quanto menos, melhor -, e adorava, principalmente, dizer isso. Proclamar, batendo no peito, "eu só gosto do que ninguém gosta!", com a minha camiseta desbotada e furada do Batman (guardada, hoje, com todo o amor no fundo do armário).
Mas a gente cresce e aprende que não gostar das coisas só porque é "modinha", porque "todo mundo faz" ou porque "todo mundo que eu odeio gosta" são motivos meio bestas de desgostar de coisas legais e/ou boas. Se bem que esse último motivo continua forte o suficiente até hoje.
Cuidado com o vocabulário chulo porque estou falando de coisas que eu odeio. Tirem as crianças da sala e vamos nessa! *gira o boné para trás*
4. Brigadeiro
Não é que eu não goste. Eu só não acho maravilhoso. Todo mundo chega na festa infantil e vai direto na mesa de docinho roubar brigadeiros sem a mãe do aniversariante ou alguma criança ver, mas eu acho brigadeiro enjoativo. Poxa, gente, é leite condensado, chocolate em pó e margarina - tudo junto! Doce demais. Sempre preferi beijinho. Tudo de côco é melhor. Tudo.
Aliás, já que é pra reclamar, docinhos de festa chique, tipo casamento, costumam ser muito enjoativos. Deviam ter mais côco.
3. Fotos "vintage"
Sabe as fotos da sua tia com os amigos hippies dos anos 70? Ou os polaroids perdidos no grande armário das fotos? E as fotos de quando você era criança com aquelas calças moletom e aqueles casacos com estampas duvidosas dos anos 80/90? Compara com o Instagram. Compara com os tutoriais de efeito "vintage" da internet. Percebeu que não têm nada a ver? Não sei porque as pessoas querem amarelar as coisas. Foto antiga não fica amarela desse jeito.
E outra: fotos em tons pastéis. Galera tira foto da porra do pôr do sol e deixa em tons pastéis. Já deu, né? Cor pastel é coisa de menina fresca sem personalidade, sinto muito.
2. Dança de salão
Eu não gosto de dançar em dupla. Me sinto oprimida. Só gosto de dançar sozinha. Ou com alguém com quem eu queria *cof cof* sair depois. Dançar é muito íntimo, assim como massagens. Além disso, ritmos latinos são chatos. E andam tocando em todos os lugares. Do mundo.
1. Pink Floyd
Mas coooooomo assiiiiiiim você não gosta de Pink Floydi??? É que eu gosto de chocar as pessoas. Todas as pessoas que gastam fortunas pra ir ver o Roger Waters todos os anos. Engraçado é que esses dias eu fui fazer essa confissão pra um amigo meu e ele me disse que ele achava que ninguém gosta de Pink Floyd de verdade. Que era mais questão de status, que as pessoas nem ouviam. E deve ser verdade. Não só é chato e sonolento o suficiente, como ainda me lembra algumas pessoas insuportáveis.
Eu já fui mais do contra na adolescência. Não gostava de nada que todo mundo gostava, escolhia as minhas bandas favoritas pela quantidade de integrantes das comunidades do orkut - quanto menos, melhor -, e adorava, principalmente, dizer isso. Proclamar, batendo no peito, "eu só gosto do que ninguém gosta!", com a minha camiseta desbotada e furada do Batman (guardada, hoje, com todo o amor no fundo do armário).
Mas a gente cresce e aprende que não gostar das coisas só porque é "modinha", porque "todo mundo faz" ou porque "todo mundo que eu odeio gosta" são motivos meio bestas de desgostar de coisas legais e/ou boas. Se bem que esse último motivo continua forte o suficiente até hoje.
Cuidado com o vocabulário chulo porque estou falando de coisas que eu odeio. Tirem as crianças da sala e vamos nessa! *gira o boné para trás*
4. Brigadeiro
Não é que eu não goste. Eu só não acho maravilhoso. Todo mundo chega na festa infantil e vai direto na mesa de docinho roubar brigadeiros sem a mãe do aniversariante ou alguma criança ver, mas eu acho brigadeiro enjoativo. Poxa, gente, é leite condensado, chocolate em pó e margarina - tudo junto! Doce demais. Sempre preferi beijinho. Tudo de côco é melhor. Tudo.
Aliás, já que é pra reclamar, docinhos de festa chique, tipo casamento, costumam ser muito enjoativos. Deviam ter mais côco.
3. Fotos "vintage"
Sabe as fotos da sua tia com os amigos hippies dos anos 70? Ou os polaroids perdidos no grande armário das fotos? E as fotos de quando você era criança com aquelas calças moletom e aqueles casacos com estampas duvidosas dos anos 80/90? Compara com o Instagram. Compara com os tutoriais de efeito "vintage" da internet. Percebeu que não têm nada a ver? Não sei porque as pessoas querem amarelar as coisas. Foto antiga não fica amarela desse jeito.
E outra: fotos em tons pastéis. Galera tira foto da porra do pôr do sol e deixa em tons pastéis. Já deu, né? Cor pastel é coisa de menina fresca sem personalidade, sinto muito.
2. Dança de salão
Eu não gosto de dançar em dupla. Me sinto oprimida. Só gosto de dançar sozinha. Ou com alguém com quem eu queria *cof cof* sair depois. Dançar é muito íntimo, assim como massagens. Além disso, ritmos latinos são chatos. E andam tocando em todos os lugares. Do mundo.
1. Pink Floyd
Mas coooooomo assiiiiiiim você não gosta de Pink Floydi??? É que eu gosto de chocar as pessoas. Todas as pessoas que gastam fortunas pra ir ver o Roger Waters todos os anos. Engraçado é que esses dias eu fui fazer essa confissão pra um amigo meu e ele me disse que ele achava que ninguém gosta de Pink Floyd de verdade. Que era mais questão de status, que as pessoas nem ouviam. E deve ser verdade. Não só é chato e sonolento o suficiente, como ainda me lembra algumas pessoas insuportáveis.
18.3.12
Underground
Comecei a ler um estudo antropológico sobre o metal extremo underground no Brasil. E mais: é uma dissertação de mestrado pela UFRJ. Não, eu não estou brincando. É verdade. Vocês não têm noção das coisas que se acha na biblioteca de teses da Unicamp, por exemplo.
Enfim. Black metal. O livro cita muitos exemplos de pessoas que vivem pelo metal extremo e transformam a música e a cultura underground em suas vidas. Eles todos têm empregos considerados baixos ou moram com os pais. Ganham o suficiente para pagar as contas e gastam tudo que ganham pra gravar CDs de suas bandas ou continuar escrevendo seus zines. Eles falam orgulhosamente de como não fazem aquilo para ganhar dinheiro, aliás, desprezam o lucro. Movem-se e gravam seus discos e fazem seus shows pelo simples amor ao mundo underground, pelo que sentem pela música.
E eu achei tudo isso muito engraçado. O modo como falam, como se a música pesada fosse assim tão importante. Afinal, há contas para pagar, há lugares distantes do mundo para conhecer, há comidas diferentes para comer, há, Deus!, eletrônicos e livors e sapatos novos para consumir.
Eu vou me formar em Julho. Eu ia me formar em Dezembro, mas fiquei com medo do mercado de trabalho. Eu não tinha um estágio e não queria ficar desempregada. Trabalhar é bom, não é mesmo? A gente faz alguma coisa com o nosso tempo, se sente útil, move o mercado e a sociedade. Mas o que eu sei fazer? O que eu sei fazer melhor que as outras pessoas, que se traduza no meu currículo - que já tem 2 páginas de bobagens universitárias - e que me pague o suficiente para eu poder viajar pra um lugar legal no final do ano? Tudo que eu gostaria de fazer paga extremamente mal. E o que paga bem é incrivelmente tedioso.
Uma vez um amigo meu que deve ser a pessoa mais inteligente que eu conheço me disse que não devemos fugir do mercado, que o mercado é uma coisa boa. Ele é hacker, vegetariano e tem um filho para criar. Meu pai me disse uma vez que se tornar um milionário é muito fácil. É só você poupar o suficiente e que poupar não é tão difícil assim. Antes de ter filhos grandes ele e minha mãe juntaram dinheiro suficiente para construir a nossa casa. Quer dizer, é tudo uma questão de escolhas.
E meus pais sempre disseram para eu ser feliz. Uma vez eu contei para uma amiga que minha mãe era médica e meu pai, engenheiro. E ela me perguntou como no mundo eles me deixaram fazer midialogia. Eu respondi que eles sempre me deram liberdade. E canetinhas e papel e lápis e os livros que eu quisesse.
Sempre me espelhei na minha mãe. Não porque ela ganha muito bem, mas porque ela trabalha de segunda a segunda e continua amando o que faz. Porque ela tem quase 60 anos, estaciona na vaga de idosos e não pensa em se aposentar tão cedo.
E enquanto isso eu vejo a lista de empregos e freelas disponíveis e não quero fazer nenhum deles.
E eu lembro dos black metaleiros em suas lojas de discos e suas distribuidoras underground, trabalhando simplesmente pela música. E a vozinha dentro de mim sussurra baixinho.
...Talvez eles estejam certos.
Enfim. Black metal. O livro cita muitos exemplos de pessoas que vivem pelo metal extremo e transformam a música e a cultura underground em suas vidas. Eles todos têm empregos considerados baixos ou moram com os pais. Ganham o suficiente para pagar as contas e gastam tudo que ganham pra gravar CDs de suas bandas ou continuar escrevendo seus zines. Eles falam orgulhosamente de como não fazem aquilo para ganhar dinheiro, aliás, desprezam o lucro. Movem-se e gravam seus discos e fazem seus shows pelo simples amor ao mundo underground, pelo que sentem pela música.
E eu achei tudo isso muito engraçado. O modo como falam, como se a música pesada fosse assim tão importante. Afinal, há contas para pagar, há lugares distantes do mundo para conhecer, há comidas diferentes para comer, há, Deus!, eletrônicos e livors e sapatos novos para consumir.
Eu vou me formar em Julho. Eu ia me formar em Dezembro, mas fiquei com medo do mercado de trabalho. Eu não tinha um estágio e não queria ficar desempregada. Trabalhar é bom, não é mesmo? A gente faz alguma coisa com o nosso tempo, se sente útil, move o mercado e a sociedade. Mas o que eu sei fazer? O que eu sei fazer melhor que as outras pessoas, que se traduza no meu currículo - que já tem 2 páginas de bobagens universitárias - e que me pague o suficiente para eu poder viajar pra um lugar legal no final do ano? Tudo que eu gostaria de fazer paga extremamente mal. E o que paga bem é incrivelmente tedioso.
Uma vez um amigo meu que deve ser a pessoa mais inteligente que eu conheço me disse que não devemos fugir do mercado, que o mercado é uma coisa boa. Ele é hacker, vegetariano e tem um filho para criar. Meu pai me disse uma vez que se tornar um milionário é muito fácil. É só você poupar o suficiente e que poupar não é tão difícil assim. Antes de ter filhos grandes ele e minha mãe juntaram dinheiro suficiente para construir a nossa casa. Quer dizer, é tudo uma questão de escolhas.
E meus pais sempre disseram para eu ser feliz. Uma vez eu contei para uma amiga que minha mãe era médica e meu pai, engenheiro. E ela me perguntou como no mundo eles me deixaram fazer midialogia. Eu respondi que eles sempre me deram liberdade. E canetinhas e papel e lápis e os livros que eu quisesse.
Sempre me espelhei na minha mãe. Não porque ela ganha muito bem, mas porque ela trabalha de segunda a segunda e continua amando o que faz. Porque ela tem quase 60 anos, estaciona na vaga de idosos e não pensa em se aposentar tão cedo.
E enquanto isso eu vejo a lista de empregos e freelas disponíveis e não quero fazer nenhum deles.
E eu lembro dos black metaleiros em suas lojas de discos e suas distribuidoras underground, trabalhando simplesmente pela música. E a vozinha dentro de mim sussurra baixinho.
...Talvez eles estejam certos.
25.2.12
Antropofagia
A primeira coisa que se percebia era a piscina vermelha que envolvia a todos. Mergulhados até a cintura, os personagens de longos trajes e máscaras diversas. A figura central, aparentemente uma mulher, com máscara lisa branca com detalhes ao redor dos olhos em negro, mergulhou o dedo indicador na água. O mexeu em movimentos circulares por alguns instantes e, então, submergiu o restante da mão. Puxou um naco de carne para si: esponjoso, cru, sangrando. O sangue escorria pelo braço, para dentro da manga das vestes. Com o outro membro livre, gesticulou grandemente que abrissem os portões.
Do outro lado da porta, a princesa recém-saída do banho, acompanhada pela irmã menor, chegava com ansiedade:
- A rainha pediu que eu a viesse ver.
- Sim, princesa. Pode entrar.
A outra, de pele branquinha, magra, recém-saída da puberdade, de cabelos amarelos e lisos, puxou a toalha em que estava enrolada um pouco mais para cima.
- Eu não deveria estar mais bem-vestida?
- Ela não vai se importar...
A porteira retorceu seu rosto de velha em um sorriso maldoso e estendeu a mão nodoosa para trás de si enquanto os portões se abriam.
Gabrielle, a irmã menor da princesa, andou o mais rápido que pôde para longe dali. Correr levantaria suspeitas. Passou por assassinos e gangues de fuzileiros e grandes trupes criminosas. Precisava de um abraço e alguns instantes para chorar sozinha, mas não em frente a todos estes homens armados. Levantaria suspeitas.
Um lacaio do castelo alcancou a princesinha:
- Não precisa se preocupar, criança. Nada vai acontecer a você.
- Não, - ela disse, enxugando a primeira lágrima do canto dos grandes olhos azuis. - A rainha só se alimenta de primogênitos.
Do outro lado da porta, a princesa recém-saída do banho, acompanhada pela irmã menor, chegava com ansiedade:
- A rainha pediu que eu a viesse ver.
- Sim, princesa. Pode entrar.
A outra, de pele branquinha, magra, recém-saída da puberdade, de cabelos amarelos e lisos, puxou a toalha em que estava enrolada um pouco mais para cima.
- Eu não deveria estar mais bem-vestida?
- Ela não vai se importar...
A porteira retorceu seu rosto de velha em um sorriso maldoso e estendeu a mão nodoosa para trás de si enquanto os portões se abriam.
Gabrielle, a irmã menor da princesa, andou o mais rápido que pôde para longe dali. Correr levantaria suspeitas. Passou por assassinos e gangues de fuzileiros e grandes trupes criminosas. Precisava de um abraço e alguns instantes para chorar sozinha, mas não em frente a todos estes homens armados. Levantaria suspeitas.
Um lacaio do castelo alcancou a princesinha:
- Não precisa se preocupar, criança. Nada vai acontecer a você.
- Não, - ela disse, enxugando a primeira lágrima do canto dos grandes olhos azuis. - A rainha só se alimenta de primogênitos.
26.1.12
Todo o amor que houver nessa vida.
Sonhei que eu era uma fada e estava dando uma festa cheia de gente. Apareceu um bruxo gatinho e eu me apaixonei por ele. Mas a casa estava cheia de gente e eu estava procurando um quarto vazio pra podermos ficar sozinhos. Quando me dei conta, a festa tinha acabado e todo mundo tinha ido embora. Sobraram apenas duas moças que começaram a discutir a possibilidade de eu morrer, sendo intríseco ao meu poder de fada, caso eu dormisse com o bruxo. Elas ficaram discutindo um tempão e eu decidi ignorá-las. Eu não morri no final. E foi um dos melhores sonhos dos últimos tempos. Daqueles que a gente sente, sabe?
Estou solteira há um tempo considerável. Desde que terminei o namoro de três anos resolvi me dedicar à faculdade, desenhar, escrever, ler livros, sair mais com meus amigos, reatar amizades antigas. Enfim, fazer coisas para mim. Ouvir as músicas que eu ouvia antes, procurar conhecer artistas novos, reestabelecer meu estilo pessoal, que tinha se perdido. Não tenho saído muito. Não para conhecer gente nova. Não para me prender a uma pessoa nova. Mas de vez em quando eu pergunto se meus amigos têm um amigo para me apresentar. Sabe, acho mais seguro.
Uma amiga minha tinha quatro nomes em mente, mas descartou três deles por não achá-los bons o suficiente. Dois eram egoístas demais e namoraram, ambos, uma mesma outra amiga minha. O outro só pensava na banda dele. Se ele ficar famoso no futuro, vamos todas ficar arrependidas. O quarto - o mais bonito e interessante, diga-se de passagem - não é íntimo dela ao ponto de apresentar para uma amiga. Quis morrer. Fiquei tentada a adicionar no facebook, mas tenho medo de brincar de mulher fatal e não conseguir segurar o ato. Segurança é meu nome do meio.
Pedi pra minha irmã me apresentar àlguém. Ela acabou de arrumar um emprego novo e sempre conhece gente nova. Mas ela só tinha um cara meio gordinho, mas que era legalzinho. Conversamos no facebook algumas vezes, mas não deu certo. E três meses depois, ele está namorando outra pessoa! Olha só. Dou a maior sorte para as pessoas. Ele nem era tão legal assim, acho que vou desamigá-lo.
Essa mesma amiga pediu sugestão pro namorado dela e depois pra um amigo em comum. Ninguém conhecia ninguém que fosse solteiro e apresentável, que prestasse um pouquinho. O pior foi quando uma amiga minha pediu para eu apresentá-la aos meus amigos, também não consegui pensar em ninguém decente. O que me dá mais medo de sair pra conhecer pessoas aleatórias sozinha é que todas essas pessoas sejam os amigos não apresentáveis de alguém.
Estou solteira há um tempo considerável. Desde que terminei o namoro de três anos resolvi me dedicar à faculdade, desenhar, escrever, ler livros, sair mais com meus amigos, reatar amizades antigas. Enfim, fazer coisas para mim. Ouvir as músicas que eu ouvia antes, procurar conhecer artistas novos, reestabelecer meu estilo pessoal, que tinha se perdido. Não tenho saído muito. Não para conhecer gente nova. Não para me prender a uma pessoa nova. Mas de vez em quando eu pergunto se meus amigos têm um amigo para me apresentar. Sabe, acho mais seguro.
Uma amiga minha tinha quatro nomes em mente, mas descartou três deles por não achá-los bons o suficiente. Dois eram egoístas demais e namoraram, ambos, uma mesma outra amiga minha. O outro só pensava na banda dele. Se ele ficar famoso no futuro, vamos todas ficar arrependidas. O quarto - o mais bonito e interessante, diga-se de passagem - não é íntimo dela ao ponto de apresentar para uma amiga. Quis morrer. Fiquei tentada a adicionar no facebook, mas tenho medo de brincar de mulher fatal e não conseguir segurar o ato. Segurança é meu nome do meio.
Pedi pra minha irmã me apresentar àlguém. Ela acabou de arrumar um emprego novo e sempre conhece gente nova. Mas ela só tinha um cara meio gordinho, mas que era legalzinho. Conversamos no facebook algumas vezes, mas não deu certo. E três meses depois, ele está namorando outra pessoa! Olha só. Dou a maior sorte para as pessoas. Ele nem era tão legal assim, acho que vou desamigá-lo.
Essa mesma amiga pediu sugestão pro namorado dela e depois pra um amigo em comum. Ninguém conhecia ninguém que fosse solteiro e apresentável, que prestasse um pouquinho. O pior foi quando uma amiga minha pediu para eu apresentá-la aos meus amigos, também não consegui pensar em ninguém decente. O que me dá mais medo de sair pra conhecer pessoas aleatórias sozinha é que todas essas pessoas sejam os amigos não apresentáveis de alguém.
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